Eu vim de longe...eu vou para longe !!!
Terminou hoje a marcha pelo Emprego, organizada pelo Bloco de Esquerda.
Quem me conhece, e ao longo destes meses todos, já deve dar para conhecer um bocadito, sabe que não sei fazer campanha eleitoral. Não sei vir dizer que foi uma iniciativa política de extrema importância. Apesar de o sentir. Não sei vir dissertar sobre o passo em frente que a nível de capacidade de organização se conseguiu. Mas também o sinto.
Da marcha, ficaram-me momentos. Os meus. Algumas vezes me questiono se fui talhada para a militância. Não sou egoísta e não me parece que me sobreponha facilmente ao colectivo. Sei respeitar a vontade da maioria. Sei trabalhar em prol do bem-estar dos outros. Mas o que me fica destes empreendimentos, não é a quantidade de pessoas num comício, é o olhar de uma jovem de lágrima marota no olho, quando se falava na impossibilidade de se construir uma vida, de pegar na trouxa e de zarpar de casa dos pais, em Portugal em 2006.
Não me fica os discursos por mais que me agrade ouvir palavras que eu diria, ou que, pelo menos, subscrevo, fica-me a alegria de ver uma roda, mãos nos ombros em fila indiana, a cantar o Eu vim de longe, do Zé Mário…e de, à minha frente ter um senhor com idade para ser o meu pai, que, quem sabe, o Tramagal fica ali tão perto, algum dia encontrou o meu pai noutras lutas e atrás de mim, um jovem com pouco mais que a idade do meu filho.
Não me ficaram as dores dos pés, ficaram-me as palavras de uma senhora que, logo no início, quando tivemos que subir umas escadas em Coimbra, eu a ficar para trás, que escadas nunca foram o meu forte, me disse com uma voz triste e serena…se o meu filho cá estivesse acho que estaria aí, convosco…e por um qualquer brilho no olhar ou embargo na voz, entendi que o cá estivesse…era mesmo cá estivesse.
Guardo momentos de cansaço. Momentos em que me questionei se vale a pena. Leva-nos aonde? Estamos com quem? Quem está connosco? As bolhas dos pés, algumas dores na alma, terão capacidade, força, para tornar menos inevitável a inevitabilidade de quererem fazer vidas sem vida, sem futuro, sem presente, sem alegria. Sem trabalho.
Mas guardo, e esses vencem claramente os momentos de cansaço, aqueles em que num olhar de um camarada ou de alguém que à porta nos via passar, se via uma vontade enorme de chegar. A um qualquer lugar, onde, tal como cantava o Zé Mário, enquanto fazíamos a roda no mercado do Tramagal, nos havemos de encontrar.
Nessa noite do mercado (haveria de ser marcante essa noite, que a vida tem destas coisas…), enquanto o Fanhais cantava a canção que escolhemos para colocar aqui no Troll, esta semana, ao meu lado alguém me dizia, lágrimas nos olhos, que esta coisa de beber algum vinho tinto, agravada pelo cansaço e pelo peso das memórias, puxa-nos mesmo para alguma lamechice, “da quantidade de sonhos que perdemos, Isabel”…esta tarde, na Estufa Fria, depois de tantos quilómetros, quase sem ainda sentir os pés, com a certeza que a seguir temos a investida do Governo contra a Segurança Social, e logo depois a luta decisiva pela dignidade que é a despenalização da IVG e pelo caminho aquelas lutas todas, que passam por mudar mentalidades, formas de estar, de fazer politica, combater passividades, descriminações, intolerâncias, alheamentos, desistências, recuos, mágoas, desencantos, tristezas, perdas, começar tanta coisa de novo, fazer sindicatos de trabalhadores e não de empregados, como dizia ontem Luís Fazenda, em Oeiras. Esta tarde na Estufa Fria, dizia, a certeza da quantidade de sonhos que entretanto ganhámos. E a certeza que como cantava Fanhais (de novo e sempre a noite do Tramagal…), We shall over come, some day.
A gente até pode não saber onde. Muito menos quando. Mas havemos de chegar. Um dia, a gente há-de voltar do exílio. E viver. Como na canção do Zé Mário.
Quem me conhece, e ao longo destes meses todos, já deve dar para conhecer um bocadito, sabe que não sei fazer campanha eleitoral. Não sei vir dizer que foi uma iniciativa política de extrema importância. Apesar de o sentir. Não sei vir dissertar sobre o passo em frente que a nível de capacidade de organização se conseguiu. Mas também o sinto.
Da marcha, ficaram-me momentos. Os meus. Algumas vezes me questiono se fui talhada para a militância. Não sou egoísta e não me parece que me sobreponha facilmente ao colectivo. Sei respeitar a vontade da maioria. Sei trabalhar em prol do bem-estar dos outros. Mas o que me fica destes empreendimentos, não é a quantidade de pessoas num comício, é o olhar de uma jovem de lágrima marota no olho, quando se falava na impossibilidade de se construir uma vida, de pegar na trouxa e de zarpar de casa dos pais, em Portugal em 2006.
Não me fica os discursos por mais que me agrade ouvir palavras que eu diria, ou que, pelo menos, subscrevo, fica-me a alegria de ver uma roda, mãos nos ombros em fila indiana, a cantar o Eu vim de longe, do Zé Mário…e de, à minha frente ter um senhor com idade para ser o meu pai, que, quem sabe, o Tramagal fica ali tão perto, algum dia encontrou o meu pai noutras lutas e atrás de mim, um jovem com pouco mais que a idade do meu filho.
Não me ficaram as dores dos pés, ficaram-me as palavras de uma senhora que, logo no início, quando tivemos que subir umas escadas em Coimbra, eu a ficar para trás, que escadas nunca foram o meu forte, me disse com uma voz triste e serena…se o meu filho cá estivesse acho que estaria aí, convosco…e por um qualquer brilho no olhar ou embargo na voz, entendi que o cá estivesse…era mesmo cá estivesse.
Guardo momentos de cansaço. Momentos em que me questionei se vale a pena. Leva-nos aonde? Estamos com quem? Quem está connosco? As bolhas dos pés, algumas dores na alma, terão capacidade, força, para tornar menos inevitável a inevitabilidade de quererem fazer vidas sem vida, sem futuro, sem presente, sem alegria. Sem trabalho.
Mas guardo, e esses vencem claramente os momentos de cansaço, aqueles em que num olhar de um camarada ou de alguém que à porta nos via passar, se via uma vontade enorme de chegar. A um qualquer lugar, onde, tal como cantava o Zé Mário, enquanto fazíamos a roda no mercado do Tramagal, nos havemos de encontrar.
Nessa noite do mercado (haveria de ser marcante essa noite, que a vida tem destas coisas…), enquanto o Fanhais cantava a canção que escolhemos para colocar aqui no Troll, esta semana, ao meu lado alguém me dizia, lágrimas nos olhos, que esta coisa de beber algum vinho tinto, agravada pelo cansaço e pelo peso das memórias, puxa-nos mesmo para alguma lamechice, “da quantidade de sonhos que perdemos, Isabel”…esta tarde, na Estufa Fria, depois de tantos quilómetros, quase sem ainda sentir os pés, com a certeza que a seguir temos a investida do Governo contra a Segurança Social, e logo depois a luta decisiva pela dignidade que é a despenalização da IVG e pelo caminho aquelas lutas todas, que passam por mudar mentalidades, formas de estar, de fazer politica, combater passividades, descriminações, intolerâncias, alheamentos, desistências, recuos, mágoas, desencantos, tristezas, perdas, começar tanta coisa de novo, fazer sindicatos de trabalhadores e não de empregados, como dizia ontem Luís Fazenda, em Oeiras. Esta tarde na Estufa Fria, dizia, a certeza da quantidade de sonhos que entretanto ganhámos. E a certeza que como cantava Fanhais (de novo e sempre a noite do Tramagal…), We shall over come, some day.
A gente até pode não saber onde. Muito menos quando. Mas havemos de chegar. Um dia, a gente há-de voltar do exílio. E viver. Como na canção do Zé Mário.
Nota final: Ao reler este post, parece que da Marcha me fica alguma tristeza. Que os momentos que relembro são os que, em mim, alguma tristeza, ou pelo menos, alguma nostalgia provocaram. Não é a realidade. Mas há que reconhecer que numa marcha que fale de desemprego, que relate a precariedade, que lembre os nomes das fábricas que ao longo dos tempos foram fechando, há alguma tristeza que se instala. A constatação do que é viver sem trabalho. Sem pão. Sem dignidade e, sobretudo, sem futuro, não traz, mesmo, grandes motivos para alegria. Não fosse a tal luzita de esperança que por algusn lugares se vai deixando ver...e o tom seria mais negro. Assim, creio que pode ser triste. Mas é de uma tristeza serena. Aquela tristeza que é prenuncio de novas lutas. E vontades.
( A foto mostra a Marcha pelo Emprego, na Madeira. Em terras de Alberto João, também se luta pelo direito ao trabalho).
Etiquetas: Isabel Faria
11Comenta Este Post
Tá muito bonito.
A marcha foi como um espelho da revolta que tantas vezes calamos.
Deixa-me dizer-te sem lamechas as lágrimas que quase sairam hoje à chegada a Cacilhas um cabo-verdiano sózinho na rua nos aplaudia e cerrava o punho, e quando eu passei por ele (era o último) ele olhou-me e disse obrigado companheiros.
Foi essa a imagem que nunca mais se esquece. e foi lindo esta gente e todos os sonhos que ainda partilhamos.
Compartilho inteiramente esses teus sentimentos. Eu sou tal qual te descreves, por isso os teus escritos tanto me dizem.
A marcha foi uma iniciativa, diferente, nunca poderia ser feita por qualquer das outras organizações políticas que ocupam o nosso território. Sem estar, fisicamente, estive sempre nela por isso o meu total apoio. Faço a minha marcha todos os dias ao conviver e opinar com dezenas de desempregados que por aqui existem.
A luta, como dizes, vai ser difícil e dura e a denúncia antecipada do que está para vir é uma forma correcta, de luta. Quanto ao resto, "a cantiga é uma arma"!
Excelente narrativa, Isabel, muito ao teu modo. Aquilo que têm dito tantas vezes ressalta aqui com muita força: falas de pessoas e não de números.
Isabel é um prazer ler-te.Só ultrapassado pelo prazer de ver o brilho no teu olhar quando ao almoço cantavas a tal canção do José Mário Branco.Obrigado por me teres dado a conhecer o vosso Blog vou passando mesmo que seja calado.
E eu a insistir nos outros dois endereços... e nada!
Antes assim. Que sejam mais "felizes" nesta nova morada. Mais cedo ou mais tarde, quem sabe, ainda nos tornamos vizinhos. :))
Anonymous (eu acho um piadão a este termo...), obrigado por gostares. Subscrevo totalmente o teu psegundo parágrafo.E retenho também eu, imagens dessas que não se esquecem nunca.
José, foi uma iniciativa arriscada. sabes que sou um pouco pesssimista por natureza...chegeui a ter alguns receios. wera muito tempo. Implicava muita coisa. resultou. E concordo contigo, só o Bloco a poderia ter feito.Porque tem aquela dose de ousadia que nos tem que continuar a tornar diferentes. E de organização que nos tem que continuar a tornar "viáveis".
A festa foi linda, pá!!!
Émiéle, obrigado. Ainda bem que gostaste.
Anonymous, nº 2 (que treta!!!), ter dado o endereço do Troll a muita gente nestes dias de marcha, torna díficil identificar os amigos que por aqui passam. mas, ok, sejas quem fores...obrigado pelas palavras. E ainda bem que consegui transmitir esse brilho no olhar, de que falas. Afinal, às vezes, sinto um certo receio, que ele, com o tempo e com outras maleitas, se vá desvanecendo...mas se ainda dá para ver ao longe ( ao longe?), nada mau.
Volta sempre. mesmo calado. Mas de preferência, não calado.:)))
Karla, ainda bem que nos descobriste aqui...tinha que ser. E acredito que um dia destes te terermos como vizinha...afinal, já não há paci~encia para lutar por causas perdidas.E aquele condomínio é uma desgraça!!!
A marcha do emprego foi uma idéia bonita, interessante. Mas se a idéia era arranjar mais votos não conseguiu o objectivo. Se era arranjar mais militantes também falhou do meu ponto de vista pois nem mais um só apareceu.
Porém se era para que alguns camaradas burocratas encartados mecherem o rabinho e ver alguma realidade em outdoor então acho que isso foi conseguido. Agora resta é ver até que ponto esses burocratas se vão comportart no futuro: se vão deixar de ser burocratas ou se vão passar a ser simplesmentes intratáveis por estarem convencidos que já percebem da poda porque fizeram umas férias originais!
De qualquer modo parabéns ao Xico pois só mesmo ele é que conseguia fazer levantar os rabinhos a tanta gente.
Anonymous, é muito complicado discutir com alguém com tantas certezas. Quem sou eu, simples cidadã, nem sequer bruxa, muito menos telepata, para conseguir contapôr algo ás tuas certezas. Nem mais um voto. Nem mais um militante. Como te posso dizer que estás enganado? Ou concordar contigo? Como posso saber como chegas a essas comnclusões? De qualquer foram, apenas te posso garantir que não creio que o Bloco pretendesse ganhar votos ou militantes. O Bloco pretendeu denunciar a situação de milhares de homens e mulheres que não têm emprego ou têm emprego sem direitos. que não têm direito a ter presente nem direito a ter futuro. E, meu amigo, parece-me algo de tão mais importante, de tão mais profundo e de tão mais ético, do que fazer contabilidades dessas...
Quanto ao resto...não sei de quem estás a falar. Logo, incapacidade minha, não me posso pronunciar. Apenas dizer-te que o meu rabinho se costuma levantar diariamente 8 horas, cinco dias por semana para trabalhar...fora o resto...e que lá estive. Assim como muitos camaradas que tiraram férias desseas 8 horas por dia, cinco dias por semana (sim, porque os precários, esses não puderam lá estar...)para lá estar. Se o Burocrta era para nós...sugiro-te um dicionário qualquer. Há-os online, que para o caso servem.
Isabel
Não eras tu a visada nos meus comentários. Tu até és duma Comissão de Trabalhadores.
Falei de outros mas tomara eu não ter razão...
Anonymous, eu também presumi que não falavas comigo...mas as generalizações nunca são boas conselheiras.A certeza que nem um voto...nem um militante, é demasiadi redutora...e cabe-me a mim, a nós,a quem acredita que na Esquerda, e nesta Esquerda está a aleternativa, apesar dos burocratas que até possamos encontrar, criar um Partido em que a força esteja no "levantar" rabinhos das cadeiras. Eu acredito. E não me considero ingénua.
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