quarta-feira, janeiro 17, 2007

Atitude





Éramos três, eu o Bruno e o David. Jogar à bola era uma maravilha… a escola acabava, os deveres estavam feitos, saíamos para a rua e só voltávamos ao ouvir a “chamada” para jantar! Num desses fins de tarde o David aproximava-se a toda a velocidade da baliza improvisada com pedras, se ele marcasse aquele golo ganhava, rematou… e que grande remate!! Enquanto nós os dois “discutíamos” se a bola tinha passado por cima da trave imaginária ou não, o Bruno foi à procura da bola… quando ele regressou vinha a correr e a dizer para fugirmos, a bola tinha partido o vidro da garagem do Sr. Mário!! Desatámos a correr para o bairro e fomos logo para casa... ufa! Foi por um triz, escapámos por pouco!!

À hora de jantar aparece a mãe do David para falar com a minha… o motivo? Simples… nós tínhamos a nossa bola assinada para quando a perdêssemos nos fosse devolvida! Boas e más notícias! A boa notícia é que realmente funcionou, devolveram-nos a bola, a má notícia é que nos tiraram logo a seguir como castigo… O Sr Mário não quis que lhe pagássemos o vidro, nem sequer o chegou a trocar, continuou a fazer o mesmo uso da garagem, no fundo aquela rachadela no vidro nem era assim tão importante…

…esta semana passei por lá, o vidro continua rachado e o Sr. Mário continua a usá-la! Eu? Eu cresci, hoje teria continuado a discutir com o David porque achava que a bola tinha sido alta, mas tinha ido buscar a bola.

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segunda-feira, janeiro 08, 2007

Desejos

Um convite.
Irrecusável mas embaraçoso. A malta do Troll convidou-me a escrever uma coisinha, aqui no estaminé deles. Um post. Não se pode dizer que não a um convite destes, não é? Esta é a parte «irrecusável» da coisa. Mas escrever sobre o quê? Vem agora a parte «embaraçosa». A minha opinião sobre a política aqui da nossa terra e do resto do mundo não difere grandemente do que aqui eles escrevem todos os dias, pelo que não tem grande interesse repeti-lo. Por outro lado não só eu e a Isabel temos um modo de ver as coisas mais pessoais muito semelhante (é sabido por quem nos lê) como ela tem uma escrita intimista que dispensa adjectivos, portanto não devo também escolher esse campo. E assim, eu que falo imenso e despachada, vejo-me muito, mas mesmo muito atrapalhada, para redigir um ou dois parágrafos que ‘encaixem’ no Toll Urbano. Mas, OK, cá vai:
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Desejos
Eu não sou saudosista. Enfim, quero dizer, claro que gosto de algumas coisas do passado mas, de uma forma geral, não me considero saudosista porque não só aprecio viver no presente como acredito que o futuro ainda será melhor. É evidente que sei reconhecer que este ‘presente’ tem umas ondulações digamos assim, onde por vezes a vida parece mais escura e nos sentimos numa montanha-russa demasiado agitada… Contudo, olhando mais ao longe, a vida é melhor hoje do que era há uns séculos atrás e, quero acreditar, que será melhor no futuro.
Dito isto, tenho agora espaço para lamentar que na vida moderna, ocidental, primeiro-mundo, se esteja a perder algo que era bom, que era um bem: a capacidade de apreciar o tempo do desejo. Eu comecei a notar isso primeiro nas crianças e adolescentes, mas cada vez mais reparo que alastra para os adultos e ‘apanha’ toda a gente. Vou explicar melhor o que quero dizer quando falo em «tempo do desejo».
Uma criança pessoa quer qualquer coisa. Pode ser um brinquedo objecto, pode ser um passeio, pode ser ouvir uma música ou ver um filme, não interessa o quê. O tempo que medeia entre essa vontade e a sua realização, é o que chamo o «tempo do desejo». Imagina-se como ‘isso’ vai ser bom, saboreia-se esse momento, cria-se na nossa imaginação um cenário ou até vários onde esse desejo entra. Na minha opinião, essa «espera» é um valor acrescido àquilo que se deseja.
Mas, verifico que esse período vai sendo encurtado até quase desaparecer. Mesmo entre adultos, essa capacidade de esperar com prazer, está a evaporar-se. Encontro muitas pessoas que me dizem que ou aquilo que querem vem logo, ou já nem vale a pena. Como a criança a quem se dá um jogo e no dia seguinte quer outro porque já se fartou daquele.
Esta «civilização do descartável», fenómeno recente, não creio que nos torne mais felizes. Porque acredito que é o tempo que se espera por uma coisa que muitas vezes nos faz apreciá-la mais. O tempo certo, justo, não demais é claro, mas também não de menos.

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