Lutas trocadas

Este post rápido não pretende ser uma análise da questão do aumento da área dos contentores em Alcântara. Essa tentá-la-ei fazer mais tarde. Este é, apenas, um post sobre a incredibilidade. Ontem, um cidadão, que acha que esse aumento maltratará a cidade de Lisboa, que para além da cidade de Lisboa é a capital do País, foi insultado e ameaçado por exercer o seu direito a indignar-se e em questionar-se. Não me interessa muito quem foi esse cidadão. Poderia ter sido um dos 5000 que já assinaram o abaixo-assinado que, para tal, foi posto a circular. Ou alguém que, apenas, tivesse dúvidas sobre um negócio e sobre as consequências de uma opção e as quisesse esclarecer.

O que me entristece é que tivesse sido insultado por trabalhadores que também são cidadãos e também têm direito à indignação. O que me entristece é que os trabalhadores que insultaram Miguel Sousa Tavares, porque, supostamente, o não alargamente do depósito de contentores impedirá a criação de 4 ou 5 centenas de postos de trabalho, não se indignem da mesma forma em relação àqueles que todos os dias despedem trabalhadores, aqueles que criam leis que retiram aos trabalhadores todo o seu direito ao trabalho com direitos, aqueles que ameaçam despedir dezenas de milhares se os "obrigarem" a aumentar o salário mínimo em 20 Euros. O que me entristece é que não tenham aproveitado a mobilização para se deslocarem à AR, não era preciso ameaçar, apenas para mostrarem a sua indignação por quem aprova hoje o que recusou há 4 anos ou recusa hoje o que defendeu há 4 anos, e que são precisamente os mesmos que suportam o Governo que concede a exploração de um negócio sem recurso a concurso público à empresa do "camarada Jorge Coelho". O que me entristece é que os trabalhadores não se questionem como pode, sem concurso público, ser dado a uma empresa a concessão de um negócio até...2042. O que me entristece é que os trabalhadores, em vez de gritarem pelo seu direito ao trabalho, usem frases do género: "Vai mas é escrever livros para o Porto". O que me entristece é que o dirigente sindical que foi ouvido, insinue ligações e não se questione sobre certezas.

Até posso ter dúvidas se os contentores retiram ou não retiram o meu direito ao Tejo. Até posso ter dúvidas se deveria ou não ser colocado do outro lado. Noutro lado. Até posso ter dúvidas se o negócio permite ou não criar postos de trabalho. Do que não tenho dúvidas é que a luta dos trabalhadores não pode ser esta. Nem o inimigo do trabalho com direitos pode ser quem quer uma cidade com direitos. E quem quer ser cidadão com direitos.