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quinta-feira, dezembro 11, 2008

Apeteceu-me esta reposição (uma posta non sense)

Em Junho de 2006 escrevi esta barbaridade para publicar no Troll. Hoje a propósito de outra coisa que nada tem a ver com isto recuperei-o e gostei tanto de o reler que resolvi partilhá-lo com vocês. Considerem-no uma 1ª homenagem ao grande Mestre Manoel de Oliveira só para o caso de não ter tempo para voltar ao tema.
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Havia em tempos, numa floresta longe daqui um ovo. Um ovo especial, pois era cozido. Não era estrelado nem escalfado, era cozido, daqueles de têmpera rija, bem cozido, amarelado por fora devido à sua companheira de fervura, a casca de cebola. Não havia quem lhe fizesse frente. Até certo dia. Os habitantes da floresta lembram-se como se fosse hoje. Depois de passados os tormentos do Natal, do Carnaval, dos Santos Populares nada parecia meter medo ao ovo. Mas eis que aparece o Coelhinho da Páscoa. Todas as nozes, framboesas, chocolates, gomas, chupas de Coca Cola e até mesmo os rebuçados de mentol pressentiram que tinha chegado o momento. Aquele que todos temiam. O Duelo imprevisto.
As árvores tremeram num sussurro que só a floresta pode compreender e depois fez-se um silêncio. O Ovo, esse, sabia que tinha chegado o seu momento. O do tudo ou nada. Era por este momento que ele tinha esperado a vida toda, mesmo sem o desejar, mas com a certeza que ele iria chegar. Por isso a decisão estava tomada há muito. Não iria acabar como as amêndoas envolto numa camada de açúcar ou como o chocolate envolto em papel prata. Não. Ele, já tinha visto demasiados ovos acabarem dentro de um qualquer folar reles ou, pior, pintado à mão numa qualquer cesta. Sabia que ia ter de lutar. Sabia também que não faria sentido esconder-se. Ainda um ano antes o seu primo tinha-se camuflado num gigante ninho de tartaruga e acabou comido pelo Splinter depois de denunciado pelo Donatello, o tal que se diz ninja ou um outro primo, ainda que afastado em 3º grau que confiou no lobo mau e por isso mesmo acabou por ser vendido à avózinha que fez dele moeda de troca para a libertação do capuchinho vermelho. Foi por isso para o centro da floresta, para uma clareira onde havia uma rocha, que ele usou para se sentar. De perna cruzada com um olhar profundo. Tinha visto o mesmo num filme com o John Wayne e foi um ver se te avias de Índios cheios de medo a fugir. Mas nem ele era John Wayne nem o Coelho era indio, mas confiava na sua sorte. Que mais lhe poderia valer?
Foi então que o Coelho chegou com a sua enorme cesta, nada amedrontado com a pose do Ovo, avançando até ao meio da clareira. Foi então que tudo aconteceu. Robin Hood saíu da copa das árvores e pondo-se à frente do Coelho exclamou: -Onde vais tu? O Coelho surpreso e vendo-se rodeado de uma enorme tribo de pessoas, tocando jambé e abanando alucinados ao sabor da música, balbuciou: - Ve... Venh... Venho buscar o Ovo pois é quase Páscoa e o Xerife de Nothingam quer alegrar a festa das crianças da cidade. - Nunca!!!! Só por cima do meu cadáver pois o meu rei nunca faria um cruel acto destes. Respondeu Robin. Foi neste momento que apareceram mais de 100 coelhinhos que rodearam e cercaram a tribo do jambé que de tão tripados que estavam nem se apreceberam da companhia, continuando a dançar. Os coelhinhos que estavam equipados com pilhas duracel rapidamente entraram na festa e depois de duas cachimbadas já estavam a fazer tranças no pêlo e a venderem produtos artesanais. Foi assim que embora rodeados de gente o Coelho e Robin se encontraram novamente sós. Frente a Frente. Sós?!?!?!?!? Então e o Ovo. O Ovo que se tinha borrado todo pela casca abaixo, fugiu, convencido que nunca mais poderia passaear de cabeça erguida pela floresta. Achava que afinal não passava de um reles Ovo de tasca. Daqueles que estão em cima do balcão e a quem se parte o rabo para descascar para depois espalhar o belo do sal fino. Sal fino não, pensou ele. Isso nunca. Partirem-me o rabo ainda vá que não vá mas sal fino????? Isso era demais. Mais valia o suicidio. Nesta altura já o Coelho e Robin se tinham entendido e iam a caminho da Roulote para comerem um cachorro e beber uma fresca. Neste caminho passaram por uma cana de pesca, o local escolhido pelo ovo para pôr fim à sua existência e ao verem o Ovo, já em cima de um banco com o fio de pesca preso á casca tremeram. Olharam-se por breves instantes e ambos sabiam que não podiam permitir semelhante acto. Foi então que se lançaram. O Robin ao Ovo e o Coelho à cana e num gesto simultaneo e não estudado, para virarem o estendal do avesso estatelando com isso o Ovo no chão. Acabaram os 3 embrulhados, naquilo que parecia uma luta fraticida pela sobrevivência e quando se levantaram toda a floresta temeu que o fim de algum dos heróis estava próximo. Mas não. Uma vez de pé eles abraçaram-se com a certeza que estavam felizes por estarem juntos, livres e salvos. Decidiram ir todos para a roulotte e nunca mais deixaram de ser amigos.
Consta a lenda que ainda hoje vivem na floresta, que os jambés ainda tocam e que os coelhinhos duracel ainda não perderam a pedalada.
Vitória, Vitória, acabou-se a história.

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4Comenta Este Post

At 12/11/2008 10:11 da tarde, Blogger Fernando escreveu...

Daniel quando comecei a ler pensava que estava a ler a Isabel. Fazia o estilo. Ao melhor estilo. Ao estilo que só ela sabe escrever quando escreve sobre emoções, sentimentos, paixões. Depois à medida que ia descendo no texto, senti umas pequenas, ligeirissimas diferenças, mesmo assim nunca supondo que era um Daniel Arruda, a assinar por baixo. Fiquei surpreendido. Não pensei que sabias expressar, na forma escrita, a criatividade, a inteligência e humor, que reconheci na forma falada, da primeira vez e única vez que nos encontramos. Parabéns. Lindo texto.

 
At 12/11/2008 10:23 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Tens razão Fernando (não, estou a falar nas coisas simpáticas que escreves sobre a minha escrita, obviamente, pois essas só agradeço), mas na parte em que escreves que é um texto extraordinário do Daniel.
Creio que o Daniel escreveu este texto antes de eu vir para o Troll (ou se já o fez depois acho que é um crime não me recordar dele).

Daniel, é muito bonito!!! Vá lá não sejas preguiçoso e escreve mais coisas bonitas assim

 
At 12/11/2008 10:44 da tarde, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Tenho estado a tentar-me lembrar do porque de ter escrito este texto mas de facto não me recordo.
Claro que agradeço as palavras bonitas mas o non sense é mais estados de alma que saber escrever. Se eu quisesse não o escreveria outra vez.
Baixinho que ninguém ouve. Estou todo babado :)

 
At 12/12/2008 9:07 da manhã, Blogger cereja escreveu...

Olhem que vinha dizer o mesmo.
Pensei que era a Isabel.
Mas Daniel, olha que é um elogio, sabes que bem ela escreve. E gostei do teu texto, não me lembrava nada de o ter lido!

 

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