Faltou-nos tempo
A sensação de que não se fez tudo o que se devia ou podia ter feito é uma sensação dolorosa. Especialmente dolorosa, perante o irreversível.
Recordo que da última vez que me ligou, eu ainda não tinha sido capaz de resolver um assunto que lhe tinha prometido resolver. Não dependia de mim, ambas o sabiamos, eu tentei, também ambas o sabiamos, mas a última resposta que ficou, foi "não estou a conseguir, Z., Mas não vou desistir. Tem calma".
Afinal, possivelmente, ela teve calma. Faltou-lhe tempo. Partiu na semana passada.Também eu fiquei sem tempo.
O pior é que a sensação de que não se fez tudo, acaba por ser totalitária e ofusca a recordação da mulher bonita, cheia de vida, que adorava mudar o corte e a côr do cabelo, que, em tempos, conheci.
A vida e a doença já se tinham encarregue de apagar essa Z. A morte acabou por, estúpida e prematuramente, levar a outra.
Queria ter a certeza que ela sabe que eu tentei. Para isso, sei que tenho que a recuperar antes dos óculos escuros e da bengala. E muito antes de não a poder ver na cama do hospital. Preciso da certeza.
Etiquetas: Isabel Faria
2Comenta Este Post
É verdade.E nós aqui a olhar para um vazio de ganancias.Paz à sua alma.
A porra, é que pensamos no tempo que perdemos, cada vez que se perde alguém...depois, de novo e sempre, voltamos a esquecer. Até à próxima perda.
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