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quarta-feira, outubro 11, 2006

Paradise Now


Quando o Troll esteve na casa de campo da WordPress, publiquei este post. Foi um tempo curto e atrevo-me a pensar que passou despercebido. Não o repito aqui pela importância do post, é apenas um post com a minha visão de um filme, mas pela importância do filme. Pelo período que os filmes costumam estar no King, receio que saia brevemente de exibição. E eu acho que é um crime não ser visto. O post aqui fica. Repito, como pretexto par vos pedir que não deixem de ir ver o filme.


É um filme duma imensa tristeza. Mesmo antes da morte anunciada, quando os dois escolhidos, ainda eram jovens iguais a todos os jovens, de todos os mundos, já na oficina de carros velhos e na cidade de Nablus se respirava a tristeza dos lugares sem futuro e com presente sempre adiado.
É um filme de dúvidas. O próprio realizador falaria dessas dúvidas que ultrapassaram o próprio guião. Para os israelitas, um filme em que se humaniza os terroristas. Para os Palestinianos, um filme onde as dúvidas não são bem vindas. Nem bem vistas.
Quando são escolhidos para uma operação suicida numa rua de Telavive, aqueles dois jovens iniciam, sobretudo, uma viagem pelo caminho das não certezas.
Ao drama da morte anunciada, junta-se a quase comédia de que é de morte de homens que se trata. Trapalhadas, máquinas de filmar que não funcionam quando um deles faz o discurso de despedida, atrasos, desencontros, procuras. Coisas de gente, portanto. Coisas de gente, igual a nós.
A presença da filha dum herói da causa pelestiniana, que chega de fora cheia de dúvidas se aquele é o caminho, a postura fria e “profissional” dos controleiros (poderia ser de outra forma? é possível criar laços e mandar morrer?), a cidade destruída, a paixão que parece querer sobrepôr-se à morte, os recuos, enchem o filme e fazem os últimos dias dos dois jovens palestinianos. Quando pela segunda vez partem, Said sente que é ele que tem que cumprir a sua missão. Quando chama o carro que os traria de volta à vida, e nele mete o amigo e fecha a porta ficando sozinho na cidade e na missão, é, para mim, a certeza que o que leva aqueles jovens a morrer não é a fé. É a humilhação. Saíd decide morrer para redimir o passado colaboracionista de seu pai ( a amiga regressada do estrangeiro, ficaria chocada quando na loja de videos lhe dizem que vendem mais os videos dos fuzilamentos dos “colaboracionistas” que os das despedidas dos “mártires”) e por não suportar a memória do campo de refugiados onde viveu…não deixa o seu amigo morrer porque sabe que o futuro pode (quem sabe se deve?) não passar pela redenção do passado. Nem, apenas, pela sua recusa.
A última cena é de uma sobriedade quase chocante. Depois de ter recuado num autocarro onde uma criança israelita brincava com o motorista, Said tem a sua missão naquele autocarro. Se fosse por fé, tanto faria morrer num ou noutro lugar…o que Saíd ali tem é a imagem personalizada da humilhação do seu povo. Ela dá-lhe a força para ir até ao fim. Um fim que não se vê. Não se ouve. Apenas se sente, Um fim em forma de dois olhos, diria, sem nenhum olhar. Nem de desespero. Nem de vida. Nem de medo. Nem de convicção. Nem de busca de que paraíso fôr. Agora, ou não. Nem de raiva. Nem de dor. Nem de morte. Um fim em forma de olhos sem nenhum olhar (ou com todos eles?). De cuja força apenas somos libertos quando, enfim, começa a passar a ficha técnica.

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