25 de Novembro
Os mais de trinta anos que se passaram, encarregram-se de retirar muita ingenuidade à memória. E alguma beleza. Coisas da vida. E da História.
Mas, do vivido naquele dia, o que a memória me fala é do fim de um sonho. Fica-se sempre nostálgica e algo triste quando não se consegue nunca voltar aos sonhos perdidos. A minha incapacidade de hoje o fazer não é apenas resultado de o tempo se ter encarregue de fazer esquecer muitos pormenores. E alguns sentires. É, sobretudo, o resultado de ao sonho interrompido, a História se ter encarregue de ter juntado tantos "não sonhos". Traições. Mentiras. Perdas. E de teimar em colocá-los nesse tempo, mesmo. E de os acarretar, vivos, durante estas mais de três décadas.
......
O sonho que acabou nesse dia até pode não ter sido tão lindo como eu o imaginei, então. Mas foi o meu. E ninguém mo tira.
Nesse dia, eu e alguns camaradas, fomos expulsos da sede do PCP da nossa terra. De repente, a aliança que se tinha formado durante os últimos tempos e que, apesar de o PCP ter rompido, ainda permitiu, nas bases, momentos de entendimento e de partilha, foi interrompida com um telefonema recebido da sede central em Lisboa.
Na memória, também ficou que o sonho também não foi possível, porque houve quem com ele fizesse batota. E dele se tivesse querido apropriar.
Mas, mesmo assim, tê-lo vivido ninguém me tira.
Mas, mesmo assim, tê-lo vivido ninguém me tira.
Etiquetas: Isabel Faria
5Comenta Este Post
Isabel, sinto um sabor tão amargo ainda, que nem escrevi nada hoje sobre esta data. Desta vez não foi esquecimento, foi talvez cansaço. Estamos muito mais velhos, o mundo girou tanto...
Não. Não me apeteceu dizer nada hoje. Disseste tu, e disseste muito bem. Subscrevo.
Penso que já o disse aqui , eu era militar no 25 de Novembro, e ainda hoje estou para perceber, o que é que realmente se passou.
Quero no entanto lembrar o nome do Albertino Bagagem militar como eu, e morto pelos para-militares comandos, que tentaram assaltar o regimento da Policia Militar na, Calçada da Ajuda.
Lembrar o Albertino Bagagem é uma responsabilidade daqueles que como eu , sentem que a história desse periodo ,ainda terá de ser escrita, e que aqueles que se fazem passar por heróis da democracia, se calhar nem são assim tão herois nem tão democratas.....
O que escreveste somado aos depoimentos da emiéle e do a.pacheco, somado ao meu descontentamento, impedem-me de ir mais alé da comunhão do momento e do sentimento.
Isabel, eu nem te digo nada sobre o 25 de Novembro de 75, que foi um dos dias mais estranhos da minha vida. Exactamente um mês antes, na manifestação dos SUV que eu encabecei, tudo parecia diferente, possível, promissor e futuro.
O 25 de Novembro ficou como: "-- não precisas de fazer, está tudo sob controlo. Depois és avisado." e não havia ninguém a controlar (do nosso lado), não havia directiva nenhuma, só a espera...
Mas não se esperaram 48 anos?
HOje, 31 anos depois, estamos`ainda à espera? De quem?
Só se for de nós próprios!
Também mantive essa sensação , Contra. Foi um dia estranho. Ainda hoje o é.
Sinto essa estranheza, tantos anos depois. E que como diz o A.Pacheco falta tanto da história para contar... continuamos á espera. Até da verdadeira história ainda esperamos.
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