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sexta-feira, janeiro 26, 2007

Referendo ao aborto - Reflexões sobre o fundamentalismo e fanatismo (2)

O início de qualquer fanatismo consiste, em primeiro, reconhecermos um sujeito ou grupo estarem convictos, quando se julgam de posse de uma certeza que recusa o teste da realidade. Nietzsche dizia que "as convicções são piores inimigas da verdade do que as mentiras", porque quem mente sabe que está mentindo, mas quem está convicto não se dá conta do seu engano. "O convicto sempre pensa que sua baboseira é sabedoria" . Até no campo científico, há cientistas correndo o perigo de se tornarem convictos de suas teses. Edgar Morin analisa que quando algumas idéias se tornam supervalorizadas e adquirem um caráter de grandiosidade e absolutismo tendem a levar os seus sujeitos a abdicarem de seu raciocínio crítico e se tornarem meros objetos dessas idéias. Indivíduos assim submetidos a tão grandes idéias, fazem qualquer coisa para "salvá-las" de um possível furo de morte; elas funcionam como muleta existencial. Isso acontece principalmente no meio religioso, mas também pode ocorrer nos meios político, filosófico e científico.
O segundo sinal do fanatismo é quando alguém quer impor a todos de modo tirânico a "verdade" única extraída de sua inspiração ou crença absoluta. Pretende assim a uniformização via linguagem, através de aparência física, rituais e slogans do tipo: "O único Deus é Allah", "só Cristo salva", "Jesus Cristo é o Senhor", "somos o Bem contra o Mal", "Em nome do Senhor Jesus ...". São expressões de caráter estereotipado, sustentado por uma "estrutura de alienação do saber", onde o discurso passa a falar sozinho, é uma resposta que está no gatilho, pronta para qualquer emergência que o sujeito não quer pensar. Observem o caráter tirânico, narcisista e excludente dessas afirmativas. Todos possuem uma visão que nega outros modos de crer e pensar.
Os partidários do não são o exemplo perfeito disto. Sentem que possuem um mandato de Deus e por isso os outros só têm que aguentar! Servem-se de tudo: argumentam em favor da vida que só tem valor enquanto intra-uterina e enquanto possiblidade, descartando-se da vida adulta e dolorosamente responsável. Tudo serve para fazer prevalecer os seus pontos de vista. A argumentação do partidário do NÃO é, apenas, a sua fé religiosa! É muito pouco! Não é nem necessária e muito menos suficiente.

7Comenta Este Post

At 1/26/2007 1:04 da tarde, Blogger a.pacheco escreveu...

Para se perceber a mentalidade de certos defensores do não, é ver a forma desabrida e nervosa como o sr Cabral da Renascença reagiu á carta CORRECTISSIMA da Helena Pinto, em que o questionava directamente, sobre as más companhias em que anda, no tal blogue do não.

Em lugar de se demarcar das companhias de PNR, neo-nazis, e tropa fandanga facistoide, o senhor Cabral desatou aos berros de que o EXTREMISTA BLOCO DE ESQUERDA , o estava a atacar.

Quem conhece minimamente o sr. Cabral e seu precurso, só pode lastimar a que ponto chegou, quando é confrontado com as suas companhias nada recomendáveis.

Mas enfim são partidários da prisão das mulheres, o que é que se pode esperar.

 
At 1/26/2007 2:54 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Tudo aquilo que está neste post aplica-se a ti e aos outros dois tristes que escrevem neste blog.

 
At 1/26/2007 2:56 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Bela foto!!! THE GOOD OLD TIMES!

 
At 1/26/2007 9:09 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

a imbelicidade destes três tristes continua. só querem mesmo hostilizar parvamente, sectariamente, estúpidamente

 
At 1/27/2007 3:15 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Grandes posts, Franco.

Ontem o cansaço impediu-me de os ler com atenção.
A farse da Marx spbre a religião, mantém-se actual tantos anos depois. O tempo encarregou-se de juntar outros ópios ao ópio. A religião não perdeu terreno. Pelo contrário.
Os fundamentelaismos foram ganhando terreno à medida que a ideologia se foi perdendo pelos meandros do pragmatismo. O sonho de um mundo melhor cá dentro...foi fazendo com que a religião readquirisse protagonismo, com a promessa de mundos eternos e de paraísos, "lá fora".
Juntando-lhe a hipocrisia, os bens materias instalados, chegou-se a este ponto triste que tem sido, por exemplo, a actuação da Igreja na campanha do Referendo.

 
At 1/28/2007 12:46 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A sua argumentação parece-me, a mim, partidário do SIM, extremada e arriscada. Não tolerar a intolerância faz de nós... intolerantes! Veja na opinião contrária uma oportunidade de discussão, não um ataque pessoal. Porque defendo a vida, votarei SIM no referendo, mas cada eleitor que vote NÃO tem tanta legitimidade democrática para o fazer quanto eu. A Democracia (a verdadeira, cuidado com os falsos profetas!) permite a sã convivência entre os diferentes, não discrimina, não julga sem ser nos locais próprios. Compreendo que é um tema fracturante mas não se faça a anti-campanha do último referendo, cheia de populismo e demagogia. Esse é o caminho para a fraca participação! Ou daqui a nada temos uma Democracia à moda da Coreia do Norte...

 
At 1/31/2007 10:49 da tarde, Blogger Leal Franco escreveu...

Agradeço o seu comentário Sonic Mendes. Mas deixe que lhe diga que não me parece extremo. Aquilo que descrevo são apenas transcrições avalisadas e profundas sobre o que é o fanatismo e o fundamentalismo que você pod encontrar em qualquer enciclopédia ou livro de filosofia.
Não é, por isso extremo mas lógico, racional. Quanto ao arriscado já lhe dou uma certa razão. Chamar os bois pelos nomes nunca deu grandes razões para a boa saúde de quem o faz. Mas isso não quer dizer que não deixe de ser verdadeiro. A igreja tem muitas culpas no cartório como toda a gente sabe. E não tem nada que mandar pedras a ninguém! Só mesmo políticos oportunistas é que medem muito bem medidinhas as suas palavras até para conseguir algym apoio desta mesma igreja.

 

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