Memória (s)
Ainda guardo alguns lá num cantinho qualquer da arca das recordações. Houve uns que me passaram ao lado. Naqueles tempos as "lutas" eram mesmo a sério. Não éramos propriamente muito abertos...Tinhamos muitas mais certezas que dúvidas. Fazia parte dos dias...em mim, também fazia parte da idade. Aos 15 ou 16 anos, não se conhece o verbo duvidar.
Dos primeiros, mesmo, tenho o "Luta Popular". Jovem estudante no Liceu de Santarém, ou se estava na UEC ou no MRPP...
Um dia, numa reunião obrigaram-me a fazer uma autocrítica pública porque tinha ido namorar em vez de aparecer para fazer umas colagens...aos 15 ou 16 anos, não me pedissem para decidir se a Revolução era mais importante do que namorar...ou vice-versa.
Depois comecei a comprar o Revolução...no PRP podia juntar as duas coisas. Era a festa. Namorava e no intervalo saía à rua...ou o contrário? Não sei. Com os anos as coisas boas misturam-se tanto...as más, não. Essas desaparecem. Ou adormecêmo-las.
Na arquinha guardo o "Revolução" e guardo alguns "Esquerda Socialista". Apesar de hoje não saber bem em que momento foi a "cura", nunca consegui encaixar em mim (ou encaixar-me a mim) noutro "ismo" que não o "marxismo". Até hoje, mais de 30 anos depois...
Jovemzita de 15 anos, devo ter interiorizado, que ao longo da vida, fossem outros os "ismos" e teria que escolher entre, já não, talvez, a revolução, mas a política e o prazer...ou os afectos. E eu que, ainda hoje, trinta e tal anos depois, não consigo fazer uma sem os outros...por mais que me acusem que isso seja "personalizar"...ou que seja não discutir "política a sério".
No dia 25 de Abril, à noite, ao rever o último concerto do Zeca no Coliseu, ficaram-me as suas palavras, num dado momento "o sempre assumido PREC...o nunca desmentido PREC".
Quando uma criança aprende a andar, cai. Esfola os joelhos. Parte coisas em casa. Não são erros. São passos. Está a crescer.
Na altura dos jornais que aqui podem espreitar, tinhamos todos apenas um par de anos...Não vale a pena vermo-nos hoje à luz do que aprendemos em trinta. É injusto virem-me pedir contas, hoje, pela jarra da mesa de cabeceira que parti, quando achei que era capaz de me pôr em pé para pegar no colar da minha mãe.
A minha mãe ficou sem a jarra...mas eu aprendi a andar.
E deixem-me dizer que assumidamente nunca desmentirei que o colar era muito bonito!!! E que até nem tenho assim tanta pena de ter partido a jarra...
12Comenta Este Post
para esta ter cinco ou dezasseis anos é tudo igual aos litro e diz isto quase nos cinquenta. há gente que nunca cresce
Margarida, obrigada pela visita...
volta sempre.
Pois é faltou-te ler uns quantos Voz do Povo, ou do Bandeira Vermelha.
O que é preciso é sobretudo não renegar os principios, nem os adaptar ás conveniências do momento.
Mas ter tambem um espirito aberto para as novas realidades.
A.Pacheco, é impressão minha ou "sinto" um ar crítico nesse "pois é..."?
È assim tão importante ter sido leninista ou troskista???
Para não renegar princípios e ter um espírito aberto???
Zabelinha, dói-me ver hoje, a esquerda ter o espírito manifestado pelo a. pacheco. Coisas assim é que furaram todo o espírito de união, necessário para a vitória de valores, que uns defendem e outros dizem defender. O meu espírito anarquista, levou-me a passar por coisas concrectas como a LUAR e depois desta ter sido extinta pelo PRP, e nunca entendi esse divissionismo protogonizado pela UDP e pelo PCR-R.
Aplaudo o que disseste, porque sei que,como José Régio, "sei por onde vou... Sei que não vou por aí...
Zabelinha e Zé Palmeiro voçês veem fantasmas onde eles não existem
Estava a brincar , olha sem segundo sentido, até foi proveitoso ler no esquerda net os varios jornais ,faz sempre saudade, e até o Voz do Povo ser só o numero 70 mas ser já depois ao 25 de Novembro, fez-me ver quanto as coisas mudaram desde então.
Mas Zé desculpa lá , divisionismo protagonizado pelo PCP-R e pela UDP, homem a então esquerda revolucionaria era TODA divisionista porque defendia a sua capelinha,posso dizer-te até porque fui militar numa parte desse periodo, que até eram os UDP que mais pontes queriam criar, e na campanha de 76 nos quarteis onde houve muitos GDUP abertamente, apesar da repressão, eram os UDP que restaram depois do 25 de Novembro que foram dos seus principais animadores.
Mas esta conversa é só saudosista , este tempo já passou , para ti, para mim e para a Isabel.
Agora as nossas batalhas são outras e talvez bem mais complicadas, por isso espero que só te estejas a referir a essa época, e esses divisionismo não se refiram a nada actual...
Um Abraço.
Olha lá, A.Pacheco, e quem é que te manda não teres aprendido a meter :))), LOLs, caras de bonecos a rir e a mexer e assim? Para uma pessoa saber que estás a brincar??!!! Nos últimos tempos têm-me acusado tanto de ser tantos istas... que já devo sonhar com ismos...
Bem´, mas a minha ideia de "unidade" da UDP, no PREC, não é assim tão optimista como a tua...mas enfim, tens razão. É memória (mais que saudosismo, creio). Mas lá que deveriamos aprender algum coisa, lá isso...deveriamos, pelo menos, ter aprendido a ultrapassar essa necessidade parva de nos colocarmos rótulos...e essa existe, amigo. E todos o sabemos.
E talvez devessemos ter aprendido a ter um bocado mais de humildade democrática, menos sobranceria política e intelectual, mais solidariedade, menos rancorzinhos, mais tolerãncia...menos disponibilidade para passos dúbios...
Enfim a ser mais democráticos e mais abertos. Do que eramos todos na altura.
Não sei se aprendemos bem a(s) lição(ções), A.Pacheco.
Mas desistir é proíbido.
Olha lá, o Zabelinha é do Zé...mas ké isto????
(agora tou eu a brincar...porra tou com algum enfado da obrigação de me mostrar "séria".)
Depois de ver uma reportagem na televisão deu-me para isto...
" As viúvas do Salazar foram em romaria á cova do ditador....
Têm saudades do CACETE....
Hoje estou para aqui....
Quando em alguns Plenarios em Fabricas da Margem Sul se levava porradade de criar bicho dos sectarios do PCP.
Quando em algumas zonas do Alentejo até homenagens á Catarina Eufemia acabavam á cachaporra provocada pela mesma gente.
Quando em certas regiões do Norte , na Madeira e nos Açores assumir-se como da UDP era sinal de agressão certa por parte da direita e dos saudosos da ditadura , e no minimo dificilimo arranjar trabalho.
Quer queiras quer não isto leva a situações de setarismo.
Não conheço as tuas experiencias de militancia, nas minhas tentei sempre ser o menos sectario possivel, por isso disse o que disse.
E talvez por isso tenho tão pouco espirito de capelinha, e paciência para FRAÇÕES .
Olha Isabel Faria não ligues a rótulos.
Se estás convicta, que aquilo que defendes, é o melhor para o Bloco,vai em frente.
Mas sempre num espirito de UNIDADE.
Pois é. Os rótulos impedem que se veja o conteúdo. E isso, ainda hoje, é o mais importante para muitos.
Falas de coisas que conheci tão bem. No 25 de Abril também estava no liceu de Santarém e vi amigos espalharem-se uns para o PC outros para o MRPP... Fiquei com mais dois ou três, no PRP onde resistimos ao ambiente de guerra PC de Alpiarça.
Obrigado pela memória.
JJ
JJ, eu também vivi essa outra de que falas.
No 25 de Abril ainda não estava no Liceu, acabava o 5º ano. No PREC, sim.
A outra guerra foi a mesma. O lugar e tudo. Só o JJ não me faz chegar lá...vou ter que pensar esta tarde...
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