Um filme e uma letra de canção
Logo pela manhã passei, ao vir para o trabalho, por um espaço arrelvado junto da Cruz de Pau, concelho do Seixal e olhei para ver se o mesmo "velho" iria estar onde sempre está, por volta das 7 da manhã. Sentado num murinho de pedra vendo os carros passar, fumando o seu cigarro. Não sei o que ele faz ali, se é um hábito adquirido. A única coisa que sei é que todos os dias, exceptuando quando está a chover muito, ele está ali. Todos os dias passo por ali e só há muito pouco tempo reparei nele e, em conversa, comentei com uma pessoa amiga. Disseram-me que já são muitos anos que está ali. Que espera o dia em que o levem para junto da sua mulher, num cemitério algures na margem sul. Que é uma figura já conhecida da zona exactamente por isso, por estar ali. À espera.
Hoje para ele e para todos os velhos que indiferentes esperam o passar dos dias até ao último. Para todos os que ficaram indiferentes à sociedade e aos quais a sociedade ficou indiferente fica aqui um filme e uma letra de uma canção. O filme é da Pixar e o poema da Mafalda Veiga.
Porque todos vamos um dia chegar a velhos e acho que não vamos querer ser indiferentes ou indiferenciados.
..
O Velho
Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado
Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim
Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim
O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim
Etiquetas: Daniel Arruda
1Comenta Este Post
È estranho como a tristeza pode ser bela, não é???
Um poema lino e triste. (o filme não dá para ver aqui...).
E um post lindo também...a vida é cheia de contradições não é???
Um post lindo sobre a solidão...que raio de incongruência!!
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