Brincadeiras
Em grupo, muitas vezes, não somos nós. Ou para não sermos postos de parte. Ou olhados de lado. Ou isolados. Ou alvo de chacota, dizia ontem uma psicóloga na Televisão.
Com álcool transformamo-nos. Começamos por fazer do álcool uma festa. Às tantas, do álcool um hábito. Muitas vezes torna-se doença. E só aí, a sociedade, a família, os amigos parecem começar a preocupar-se. Aí, quando nós próprios já não temos capacidade para nos preocuparmos.
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O caso do homem morto numa aldeia perto da Covilhã é simtomático desta impunidade e desta desresponsabilização individual e colectiva.
Uma vizinha da casa em frente diz que não estranhou a "algazarra" porque a "algazarra" é habitual. Eram três da manhã. E às três da manhã os vizinhos não estranham a algazarra de tão habitual. E ninguém mexe uma palha. Nem que seja para dizer que tem o direito de descansar.
No grupo de quatro homens que foram detidos preventivamente, há dois jovens de 17 anos. E ninguém estranha que, às três da manhã, haja dois jovens de 17 anos ( e um de 20) na rua, completamente bêbados. Nem os pais os procuram. Nem os vizinhos o tentam evitar. Nem os donos dos cafés alertam. Ninguém mexe uma palha.
Ontem, algumas pessoas da aldeia falavam em brincadeira. Ninguém fez aquilo por mal. Foi uma brincadeira. São boas pessoas. Todos. O homem que morreu. Quem o matou. A aldeia toda que sabe destes e doutros casos - não era a primeira vez que faziam brincadeiras destas, acrescentaram aos jornais. São todos boas pessoas.
Pelo que se dz o homem estava tão bêbado que aceitou ser crucificado. Os outros estavam tão bêbados que o fizeram. E foram embora dali.
Se nada tivesse acontecido para o próximo fim-de-semana lá estariam todos a "brincar" à porta do café até às três e tal da manhã. Assim, há um homem que morreu. Quatro homens que possivelmente serão condenados, entre eles dois jovens de 17 anos. Mas daqui a uns tempos, com outros protagonistas, talvez, a brincadeira vai continuar.
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Não se trata de não entender o funcionamento dos grupos. Trata-se de encarar esse comportamento como algo "normal", inocente, mesmo quando implica violência e morte.
Trata-se de desculpablizar um tipo de drogas e demonizar outras. Como reagiriam os vizinhos e a aldeia se em vez de bêbados se tratasse de "drogados"? A morte de um homem continuaria a ser uma brincadeira?
Etiquetas: Isabel Faria
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Pois é.
Continuamos em sintonia, mas há coisas onde tem mesmo de ser. Como tu, chocou-me nesta história entrarem miúdos ainda tão novos e já a apanharem bebedeiras dessas. Aliás a «indiferença» dos vizinhos que por outro lado devem estar saturados das barulheiras mas resignam-se «porque sim». Lá no meu blog houve quem recordasse que noutros países também assim é, o que não ajuda nada...
Ah, ainda vou ali abaixo ao post do Daniel, que também 'pegou' num tema do Pópulo... Ele há dias assim!
:)
Ainda o que preciso perceber...
Não podias estar mais certa. Li hoje qualquer coisa no CM do café, mas fiquei sem perceber o que tinha a acontecido.
Sabes, Isabel, tudo se tornou válido. Não há limites. Não há respeito pelo outro. A mim custa-me muito viver todos os dias, porque todos os dias sou confrontada com esta realidade.
Um abraço.
Emièle houve um tempo em que is sempre ao Troll antes....just in case...agora de vez em quando esqueço-me...
Sabes, até porque tenho um filho com 17 anos, essa é a parte que me faz mais confusão...porra, é normal um puto da idade do meu entrar em casa bêbado? Numa aldeia pequena em que todos se cohecem ninguém faz nada? nem pais, nem vizinhos, nem donos dos cafés, nem polícias???
Eu, penso que não entendi...eu que escrevo bué...acho que me perco em frases curtas :))))
Isabela, não sei se viste um video que aqui publiquei a semana passada, e que as televisões transmitiram, duma agressão, creio que em Barcelona, a uma jovem imigrante sul-americana?
Feita por um puto, sob o olhar indeiferente de outras pessoas, ao mesmo tempo que gritava asneiras e ameaças ao telemóvel...uma semana depois vimos esta notícia e agora como então, não sei se o que me choca mais é a falta de respeito de que falas, se a impunidade, a infiferença diária por essa falta de respeito.
No video aventávamos que a não reacção podia ser consequência do medo..e aqui?
Lá era uma pessoa, ali ao lado, e mais 3 ou 4 um pouco mais longe...não se sabe se o rapaz está armado...se terá companheiros tão violentos como ele...se se vai vingar...
Então e aqui? È uma comunidade inteira contra uma dúzia de homens que se embebedam todos os fins-de-semana e que fazem "brincadeiras" e que não deixam ninguém dormr...Medo? não me parece...
(PS: coisa gira que aconetceu agora...andava eu a passear pelo teu Blog (a preguiça de escrever comentários dá cabo de mim...) quando ao voltar ao Gmail lá está um comentário teu à espera de autorização (nada a fazer, temos una malucos de estimação) Não sei como isto se chama...telapatia não será...Blogopatia?)
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