A libertação de Ingrid Betancourt
Não vale a pena discutir o que separa a organização terrorista de hoje, as FARC de 2008, da organização revolucionária dos anos 60.
Seria uma discussão algo inglória discutir o que separa a violência revolucionária do terrorismo.
Também não vale a pena, hoje, discutir se pode ter credibilidade uma organização que sobrevive à custa do tráfico da cocaína.
O facto do regime colombiano aparecer hoje, após a libertação de Ingrid Betancourt e de mais 14 reféns, como herói da liberdade e como catalizador da esperança, é a prova da falência das FARC e da justeza de quem não aceita e não justifica os seus métodos.
Etiquetas: Isabel Faria
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Apesar de estar de acordo consigo no essencial.
Julgo que esta libertação foi consentida, e preparada entre Uribe, Chavez e sectores da propria Farc.
As FARC foram declaradas "organização terrorista" pelo governo americano - o maior centro de terrorismo do mundo. Pl'os vistos a Isabel assina por baixo o que sai da Casa Branca. Deve ser influência da televisão... Como não sabe, vou-lhe explicar: na década de 80 "os terroristas" das FARC encetaram negociações com o governo colombiano, assinaram um cessar-fogo e criaram uma plataforma eleitoral para disputar as eleições. As razões porque voltaram a tomar o caminho da luta armada foi que, nesse cessar-fogo e "abertura democráctica", o governo narco-traficante da Colômbia começou a assainar sistematicamente os activistas da União Democrática e militantes das FARC. Claro que a Isabel ignora tudo isso, porque pensar dá trabalho e é mais fácil seguir as parangonas da imprensa
Anónimo das 19.48h, não sei se foi ou não preparada como diz...mas quem sai credibiliado de tudo isto é Uribe e o seu exército, não sectores das FARC ou Chavez...
E para que é Chavez chamado a esta história? Por acaso não apelou já ao fim da guerra na colômbia e não tentou a libertação da Ingrid? Faça os trabalhos de casa
A posição do PCP, vide nota de imprensa no site do PCP.
É mais uma "inclinação consensualizada", nem uma palavra de alegria pela sua liberdade.
"Em resposta a várias solicitações dos órgãos de comunicação social sobre a posição do PCP a propósito da operação de resgate de Ingrid Bettencourt por parte do exército nacional na Colômbia, o PCP considera o seguinte:
1. O resgate de Ingrid Bettencourt após um período em que esteve prisioneira na selva colombiana, coloca em evidência a gravidade da situação em que se encontram centenas de prisioneiros em ambos os lados do conflito e a necessidade de encontrar uma solução humanitária entre as partes.
2. Os complexos problemas em presença, exigem uma solução política e negociada de um conflito que se arrasta há mais de 40 anos sem solução, situação que é em si, inseparável da política de agravamento da exploração e de terrorismo de estado praticada pelo governo neo-fascista de Uribe, conforme tem vindo a ser denunciado pelas forças progressistas e democráticas da Colômbia.
3. O Povo colombiano poderá continuar a contar com a solidariedade dos comunistas portugueses na sua luta contra a opressão e exploração, pela justiça social, pela democracia e soberania nacional."
Não sabe - ou não quer saber o JM Faria que existem prisioneiros de guerra dos dois lado?
Não sabe - ou não quer saber do assassinato sistemático (3 dezenas só este ano) de sindicalistas e activistas de esquerda às mãos dos paramilitares, narcotraficantes e do governo colombiano?
Não sabe - ou não quer ler que no comunicado do PCP se apela a uma solução pacífica e negociada do conflito?
Deseja se calhar que os 15.000 guerrilheiros das FARC se entreguem para serem assassinados como sucedeu nos anos 80?
E que tal deixar os preconceitos no congelador?
Muito obrigado por mais uma demonstração doentia de ódio ao PCP
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Para quem estava a morrer de hepatite há umas semanas atrás... e aparece sem uma ruga, sem um cabelo branco, sem uma grama a mais ou a menos, a agradecer a Deus, à virgem e aos militares colombianos, ao Uribe ... há que reconhecer que é uma "causa" ocidental com direito a avião presidencial Sarkozyano, recepções no Eliseu e Câmara de Paris e sabe-se lá mais aonde. Talvez também no Vaticano? Casa Branca?
Papa Bento XVI receberá Ingrid Betancourt na próxima semana
O Papa Bento XVI receberá a ex-candidata presidencial colombiana Ingrid Betancourt na próxima semana, informou na quinta-feira a ex-refém das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
«O santo papa Bento XVI vai receber-nos na semana que vem. Bendito seja Deus, é um encontro que não se pode perder», disse a franco-colombiana de 46 anos, que passou seis anos em poder da guerrilha.
Betancourt é católica e chamou de «milagre» a operação militar que a libertou juntamente com três reféns norte-americanos e 11 militares colombianos.
A mãe de Betancourt, Yolanda Pulecio, foi recebida pelo papa durante a cruzada internacional que ela lançou em busca de apoio para conseguir a libertação da filha.
04-07-2008 12:48:35
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=10&id_news=339235
E sobre os presos das FARC nas mãos do Uribe? Nada? Silêncio sobre as sevícias, a tortura, o aprisionamento sem o minímo de condições ou de dignidade humana... zero? Porque não escrevem sobre a milagrosa taxa de "suicídos" nas prisões políticas colombianas?
Empresas apoiam militares colombianos
Conselheiros israelitas implicados na libertação de Betancourt
04.07.2008 - 10h11 AFP
Os preparativos da libertação de Ingrid Betancourt e 14 outros reféns das FARC tiveram a participação de dois conselheiros israelitas, segundo noticiou hoje a rádio militar deste país.
Não foi fornecido qualquer elemento sobre o papel destes conselheiros, mas a rádio recordou que Ingrid Betancourt comparou a operação dos militares colombianos às do Exército de Israel.
Segundo o diário “Haaretz”, dois oficiais superiores há pouco tempo na reforma, os generais na reserva Israël Ziv e Yossi Kuperwasser, dirigem em Bogotá uma empresa de consultoria que emprega dezenas de antigos membros de unidades de elite e dos serviços secretos de Israel.
Esta empresa, a Global CST, obteve um contrato de dez milhões de dólares (6,37 milhões de euros) na Colômbia, após autorização do Ministério da Defesa para ajudar as forças especiais na luta contra as FARC, conta ainda o “Haaretz”.
“Fornecemos meios sofisticados às forças especiais para combaterem a guerrilha”, disse por seu lado Israël Ziv ao diário “Yediot Aharonot”. Segundo este antigo chefe de operações do Exército israelita, a sua empresa “está profundamente implicada” na ajuda às forças especiais colombianas, mas não nesta operação específica.
Israel não confirma nem desemente
O porta-voz do Ministério da Defesa israelita, Shlomo Dror, não quis confirmar nem desmentir a notícia, invocando à AFP que “o ministério não pode dar qualquer informação sobre a acção dos conselheiros militares israelitas”.
Confirmou no entanto a existência de “empresas privadas israelitas no domínio da segurança a funcionar na Colômbia com a autorização do ministério”, mas disse ignorar os detalhes das suas operações.
As forças especiais colombianas deverão ter equipamento de ponta, como armas de assalto israelitas Tavor com visor holográfico, metralhadoras M-4 e helicópteros americanos Blackhawk.
Estas unidades são aconselhadas por mais de mil boinas verdes americanos, instrutores israelitas e membros das SAS britânicas. Israel vende há vários anos à Colômbia aviões de combates, “drones” (aparelhos aéreos que soam sem transportar piloto) e sistemas electrónicos de detecção.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1334439
Tenho muita dificuldade em ser assertivo sobre realidades tão distantes (na geografia e na política) como a Colômbia. Nestes casos costumo ter a prudência de saber o que dizem aqueles de quem me considero minimamente próximo e que conhecem melhor o objecto da discussão.
Nesse sentido encontrei uma entrevista a um dirigente do PT Brasil, por ocasião do Foro de São Paulo, em Maio último. Diz a insuspeita revista Veja que o que faz o “Foro de São Paulo merecedor de atenção é que muitas das organizações políticas que dele fazem parte estão no poder -- ou formam a base de apoio do governo -- em mais de uma dezena de países da América Latina”.
Vejamos então o que diz Valter Pomar, do PT, sobre as FARC:
“O narcotráfico é um problema para a região e, portanto, também o é para a esquerda. Eu vejo a Colômbia da seguinte forma: o problema lá não são as Farc em si, é a guerra. Trata-se de um conflito que tem como atores o estado colombiano, os paramilitares e a guerrilha. Classificar as Farc de terrorista significa tratá-las como um grupo criminoso, e ninguém negocia com criminosos. Só que para solucionar a guerra na Colômbia, é preciso negociar. Não é a solução que o atual governo colombiano quer, que é matar a todos. A guerra colombiana tem 40 anos e os grupos guerrilheiros estão nesse contexto histórico. Não concordo com seus métodos, mas não se trata de uma guerrilha artificial. Ela tem causas sociais e políticas.”
E acrescenta:
“Nós tentamos deixar claro que a via eleitoral é o caminho. Mas a realidade colombiana é complexa. Os interessados em manter a guerra como está são a direita colombiana, que tem ligações com os paramilitares e o narcotráfico, e os Estados Unidos, que assim tem uma justificativa para sua presença militar na região. É preciso negociar.”
Por outro lado, após a libertação da Betancourt vem o Lula dizer que:
"Eu acho que (as Farc) precisam ter um fim. Aqui na América do Sul e na América Latina não existe nenhuma razão para alguém querer chegar ao poder pela via armada, porque a democracia reina nesse continente. Todas as forças políticas disputam e se organizam em partidos políticos. Eu acho que é uma coisa do passado esse negócio de achar que a via armada é solução para alguma coisa, sobretudo em regime de liberdade".
Perante isto, quem sou eu para classificar as FARC como um grupo de narcotraficantes, negando-lhes o estatuto de guerrilheiros? Porque uma coisa é discordar de alguns métodos das FARC, outra é negar-lhes o estatuto de luta política e colocá-los no domínio do criminal. E também me recuso, como fez João Semedo sobre este caso, a repudiar qualquer violência física na luta política, porque senão amanhã vão querer convencer-me que os palestinianos e os sarauis devem depor as armas!
Mas também, lendo os últimos comentários, o facto de os EUA e Israel serem amigis do Uribe não faz de mim amigo das FARC.
João, eu também...e possivelmente o tom não o confirma. De qualquer forma o post não era sobre o Governo de Uribe. Não tenho nenhuma dúvida sobre as torturas, sobre o desmantelamento dos sindicatos, sobre a prisão de sindicalistas e de homens e mulheres de esquerda, sobre a repressão.
Mas custa-me justificar, mesmo sem grande conhecimento de causa, que uma organização revolucionária, use os sequestro para atingir os seus fins políticos.
Sabes, há muitos anos, inícios dos anos 70, pertenci a uma organição armada...era muito jovenzita mas lembro-me das certezas que nos eram transmitidas e que a prática se encarregou de mostrar que cumpridas. Durante os anos de luta armada, as únicas vitimas foram dois militantes que cometeram um erro técnico qualquer e em que a bomba que se preparavam para despoletar os acabou por matar.
Claro que os anos 70 foram há muitos anos...claro que a Colômbia não é Portugal...claro que sei tudo isso. Mas sempre aprendi que na luta revolucionária o objectivo deve ser o inimigo...e aceitar os métodos do inimigo para a fazer não é nem revolucionário nem humano.
Se eu souber que as FARC têm um batalhão do exército de Uribe sequestrado e prisioneiro, não verás da minha parte qualquer repúdio da acção...mas não é disto que se trata.
Aceito a violência palestiniana legítima e revolucionária contra o exército israelita que lhe ocupa o seu País...nunca aceitarei os bombistas suicidas que se fazem explodir num autocarro cheio de putos israelitas a caminho da escola...
Por iso não subscrevo as palavras do João Semedo..mas efectivamente também não me vejo a defender os métodos das FARC se forem iguais aos métodos de Israel, só porque Israel arma Uribe.
Isabel, as FARC raptam "civis inocentes"? Ingrid Betancourt, candidata presidencial, é uma personagem da vida política colombiana. Mais uma vez sem estar de acordo com os métodos da FARC pf não me venham com a história lamechas da franco-venezuelana a morrer de hepatite com os filhinhos a chorar de saudade, etc, etc, pq eu não sei o nome de um único dos sindicalistas mortos pelo Uribe!
E tb não percebo pq é que o BE não votou da mesma forma as duas moções, ou não apresentou uma terceira a criticar as FARC e o regime colombiano.
João, a Ingrid não é a única refém das FARC...e ser candidata presidencial não me parece exactamente um crime...repito o que aqui escrevi: o aspecto essencial, e era sobre isso o post, é que quem sai a ganhar de tudo isto é, exactamente, o regime que mata sindicalistas dos quais não sabemos o nome...
Quanto à votação do Bloco, também penso que a posição mais correcta teria sido apresentar uma Moção própria em que denunciasse Uribe e não pactuasse os métodos das FARC.
Não conheço a Moção que foi aprovada nem conheço as declarações de voto apresentadas, mas, à priori, parece-me que seria essa a posição mais correcta.
João, ok, vi agora lá em baixo a Moção aprovada. Eu nunca votaria favoravelmente aquela Moção. E acho que o Bloco não o deveria ter feito.
O BE tinha a obrigação de apresentar a sua própria MOção e de se abster nas duas. A do PCP por não beliscar. sequer, os métodos das FARC mas por denunciar e bem, o regime de Uribe. A do PS por não denunciar nem squer criticar en nenhum momento o regime de Uribe.
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