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terça-feira, janeiro 27, 2009

Nada disto faz sentido

As palavras não saem. Há uma impossiblidade de dizer algo que sirva para alguma coisa. O nó da garganta, o aperto no peito, é uma mistura explosiva de mágoa, impotência, medo, insegurança, terror.
Ao aperto no peito de ontem por razões que desconheço junta-se hoje o aperto por razões que não queria conhecer.
Queriamos entender, queriamos que alguém, alguma coisa, nos desse a garantia que estamos a salvo, que eles estão a salvo. Apetece-nos correr para casa e ficar perto deles, com eles presos em nós, para sempre. Não perdoamos ao mundo. Não nos perdoamos a nós. Mas não sabemos o que não perdoamos a um e aos outros. E não sabemos o que fazer disso.
Tentamos exorcisar os fantasmas, afastar o horror, falando, contando histórias, levantando memórias, até tentamos usar um blog para ver se, aqui escritas, as palavras deixam de fazer ou passam a fazer sentido.
O que não suportamos mesmo é o não entender. As teclas, pensamos nós, podem fazer milagres. Fazer uma luz qualquer. Mas a luz não vem.
Se nada podemos fazer, ao menos, que alguém, alguma coisa, nos desse a entender que estamos a salvo. Numa conversa há dois ou três dias, o assunto veio à baila. Na altura fica-se surpresa. Agora, perante, os factos e as palavras que não saem, e as explicações que não se têm, e os gritos de dor, fica-se aterrorizado. Como se está a salvo? Do que se tem que estar a salvo?
Liga-se para casa...não há razões para se ligar para casa quatro vezes numa manhã...não se pode dizer do medo. Não se pode, pois, justificar, as chamadas. Como é que se explica que o que interessa é apenas ouvir a voz ensonada, a voz...como é que se explica que o aperto se torna insuportável se não se fizer a chamada...como??
E queriamos apenas descobrir as palavras certas. Mas não há palavras.
...
Depois, nem nos perdoamos por não ser capazes de vencer o nosso medo, quando temos amigos a viver a maior dor do mundo...mas não somos. O medo torna-nos egoístas. Fecha-nos.
Logo, ao fim da tarde, vamos ter que vencer o medo e que vencer o egoísmo. Não temos o direito de o não fazer. E vamos ter que encontrar senão as palavras, algum gesto.
...
Se, ao menos, soubessemos a razão...se, ao menos, houvesse razão!

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At 2/04/2009 12:07 da tarde, Blogger Sin escreveu...

Ouvi dizer, e acredito piamente, que não há dor maior que a dum pai que perde um filho. Ouvi isto numa mesa sobre o suicídio e fez-me todo o sentido, uma vez que contraria a ordem natural das coisas, e não há amor maior que o de um pai por um filho.
Mas agora que penso nisso... também não deve ser nada fácil ver os filhos crescer e quererem ser independentes. Um vínculo tão forte que dura tantos anos não pode ser fácil de quebrar. E se for, não é bom sinal.
Não sei o que é tar no lugar de pai, apenas conheço o de filha. Enquanto filha sinto que há uma altura em que temos de quebrar esse vínculo parental porque senão não conseguimos sair para o mundo, ver o que há lá fora e fazer escolhas. Escolhas pela nossa cabeça, não pela dos pais, que por muito que queiram o nosso bem e não nos queiram ver sofrer, não são eles que vivem a vida por nós. Imagino que deve ser difícil ver um filho entrar num beco sem saída, mas ele tem de vê-lo por ele próprio, caso contrário não tira daí nenhuma lição, não aprende. Infelizmente, a minha experiência pessoal é a de ter sido super-protegida, e hoje tenho um número que diz que sou adulta e no entanto sinto-me uma adolescente assustada com o mundo e com a dor, que existe em cada esquina que contorno.
Ser pai é um papel ingrato. Por muito que se esforcem nunca lhes damos razão. Chateio-me com os meus pais se se preocupam demais e se não se preocupam de todo. É um equilíbrio difícil de ser conseguido. E enquanto não existe... «pobres pais e coitados dos filhos» Lol

 
At 2/05/2009 10:00 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

Sin, há as coisas para as quais estamos preparados...e há as outras.
Ver os filhos sair da casca é uma inevitabiliadde para a qual, apesar de eles não terem vindo com livro de instruções (nem nós, como pais deles), desde o 1º dia nos vamos preparando. Até porque desde o 1º dia, primeiro em sentido literal, depois figurado, os flhos vão sainda da "nossa" casca.
Agora, acredita há coisas para as quais nunca se está preparado.
Algumas delas recusamo-nos até, a não ser em momentos em que nos batem à porta, a conseguir imaginar.Por uma questão de sobrevivência.
O caso que deu lugar a este post foi um desses casos. Não se consegue, nunca se conseguirá colocarmo-nos naquele lugar. Ou não conseguiriamos sobreviver.
Esse equilibrio de que falas é muito dificel de alcançar. Não sei se algum sortudo o consegue. Não acredito em pais perfeitos. Nem em seres humanos perfeitos.
Quando a minha mãe me fez, me faz uma porrada de coisas...fico possessa. Quando dou por mim a fazê-las ao meu flho fico envergonhada...
Mas sabes isto é assim no resto da vida. Nunca se encontra a medida certa de amar, de nos apaixonarmos, de viver, de nos darmos. Mas também te digo, amor com livro de isntruções e acompanhado de uma copinho daqueles que medem os líquidos e o arroz...nã...não tinha piada nenhuma!!
E talvez seja normal que nos assustemos com o que as esquinas escondem...ser cautelosos nunca fez mal a ninguém. Apenas precisamos que a cautela não nos tolha os passos. Afinal não dá para fugir às esquinas.
Tinha alguma piada ser mãe, filho, amante, namorado...sempre em linha recta??!

 
At 2/09/2009 12:29 da tarde, Blogger Sin escreveu...

Sim, há de facto coisas para os quais é impossível estar preparado. E essas são as mais dolorosas, as que não conseguimos antever. Apesar de não ser mãe, não consigo imaginar a dor que deve ser para um pai ver um filho sofrer. Se já sofro por pequenas coisas, embora não as consiga ver como pequenas, não consigo conceber o que será ter um amor tão grande por alguém, que está dependente de nós, e observar essa pessoa atormentada. É algo que me ultrapassa e talvez tenha sido um erro ter falado do que não sei...

O que sei é que não é nada fácil viver-se atormentado. Quando a capacidade de amar é sentida como a maior qualidade que se possui, e depois não conseguir que o objecto de amor se deixe ser amado e ame de volta... é complicado. Estar dependente de que gostem de nós para se gostar de si próprio é angustiante. Porque há sempre pessoas que não vão gostar, pelo menos não da forma que precisamos. E saber que isso implica que não consigo gostar de mim, não verdadeiramente, não como deveria, é... dilacerante.
Malditas depressões! Só não desejo que as perturbações psicológicas sejam erradicadas do mapa humano porque depois não teria trabalho e sentiria ainda mais que ando cá só a ocupar espaço lol
Peço desculpa pelo desabafo e pela carga que ele tem e obrigada por me fazer pensar que existe uma outra forma de ver a vida.

 

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