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quinta-feira, setembro 28, 2006

O fio





É um carta tocante, disse o Presidente italiano. É, sobretudo, uma carta de um amor enorme à vida. Como deve ser vivida. Fala do direito de não se querer viver sem vida. Fala da memória que não nos permite continuar se não a pudermos prolongar, fala do direito a escolher. A forma e a altura em que se corta o fio, que o destino ou seja lá o que se lhe queira chamar, tornou ténue, dolorosamente ténue e inútil. É o direito a escolher o fim de um corpo que como Piergiorgio Welby diz já não lhe pertence.

Tocam-nos as palavras. A mim, pesssoalmente, também me toca o facto de estarmos, em Portugal, tão longe da discussão destes assuntos. Como se, aqui, a nossa vida, fosse apenas feita de orçamentos...como se aqui a nossa vida estivesse longe de ter alma e de ter corpo.
A urgência da situação económica. a falta de condições de vida dignas para muitos portugueses não nos pode alhear nem deve adiar outras discussões. Outras preocupações. O próximo referendo sobre a despenalização da IVG deveria seria aproveitado para lançar as bases para outras discussões. A do direito a cortar o fio da não vida, por exemplo.

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3Comenta Este Post

At 9/28/2006 1:47 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

Normalmente, acredito que as dificuldades nos são apresentadas com o intuito de aprender e crescer a nível intelectual. Disse normalmente. Tenho por excepção os casos de prolongado sofrimento físico - não auto infligido, em que não há escolha possível e que só o egoísmo alheio exerce a sua supremacia. Puderia incluir também os casos de decisão pessoal de gerar uma nova vida ou não, mas sobre esses nem em direito de opinião creio. Devia ser respeitada a liberdade de escolha consciente em qualquer acto individual! A sociedade é composta de individuos, mais valias físicas e intelectuais, tem de ter regras básicas de convivência, até aqui ponto aceite. Isso jamais deveria ser pretexto para limitar e controlar o único em cada um de nós...

Em modesta opinião
Saudações

 
At 9/28/2006 11:05 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

António, vamos por partes.
1- Claro que é uma decisão irrevesível. Por isso deverá e só poderá ser tomada conscientemenete. E a lei terá que salvaguardar essa consciência.

2 - Não entendo a que caixa de horrores te referes. Mas, para mim, alguém que seja obrigado a não viver , a saber da irreversabilidade dessa não vida e a suportar, muitas vezes dores inimagináveis, deverá conhecer um significado para a expressão.

Por isso, não posso nem sei discutir as tuas alineas. A eutanásia teria que ser regulada por uma Lei, a lei teria que ser cumprida. A Lei teria que salvaguardar um sujeito, o próprio. E uma condição a consciência. Tudo o resto de que falas é um filme de terror e, desculpa que te diga, apela ao medo irracional contra a razão.

Claro que a Lei teria que salvaguardar o direito aos médicos se recusarem a executá-la. Não se deverá poder obrigar ninguém a agir contra a sua própria consciência. E este princípio é válido para o doente e, claro, para o médico.
E claro que a Lei teria que salvaguardar muitas outras coisas. A consulta de mais que um médico, por exemplo. Que atestasse a vontade consciente do doente e a irreversabilidade da doença.
Mas as Leis são feitas para isso...o que eu não penso é que a nossa consciência possa e deva servir de Lei. E se possa ou deva sobrepôr á dos outros. Quando o que está em causa é o seu direito a escolehr livremente o fim do seu sofrimento.
Se aquele homem, o da carta,por exemplo e os outros todos, se pudese mexer, certamente escolheria o seu fim e encontra-lo-ia por ele. Não pode...pede-nos ajuda. Quem sou eu para julgar? E para impedir? E para negar?

Anefertiti, revejo-me completamente nas suas palavras.

Émiéle, também não entendo do que fala o António. Como escrevi lá em cima.
A decisão da eutanásia só pode ser de quem pretende cortar o fio...a Lei só pode servir para o salvaguardar.
Tudo o resto é especulação...
quando entras num hospital o médico pode achar que para racinalizar custos o melhor é não gastar dinheiro contigo...não fazer exames, poupar os medicamentos.Afinal,ele sabe, que aquele é um processo irreversível...não vale a pena o esforço...até te pode mandar para casa e esperar que a doença faça o seu caminho, sem custos para o Estado...o médico pode? E nisso verdadeiramente que acreditamos?
Não é necessário ir a casos extremos para fazer filems de terror. Podemos fazê-los logo dos casos do dia-a-dia. Mas não suportariamos a vida se o fizessemos. Porqu~e fazê-los então?

 
At 9/28/2006 11:15 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

Zabelinha, como eu vi o "Mar Adentro" e por outro lado, já vivi, na pele, uma situação que se aproxima, de muito longe, do padecimento do cidadão italiano, entendo perfeitamente a problemática.
Deixa-me só, para além de concordar com o que foi dito pela Emiéle, referir as sábias palavras do Presidente Italiano, Sr.Giorgio Napolitano: "Só o silêncio sobre este assunto, será injustificável."

 

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