O racismo tem tantas caras...
Há uns tempos na sala de convivio da minha empresa, um colega perguntava no meio de uma sala cheia, se sabiamos porque é que não se encontram campas de chineses nos cemitérios portugueses "já que eles são mais que as mães a viverem cá", acrescentava. Perante o nosso olhar incrédulo, dava, então, a resposta. Vão aos restaurantes chineses e ficam a saber...basta pedir pratos com carne... ainda tentei alertar para o ridiculo e o perigo de se espalharem "anedotas" destas, mas já ninguém me ouvia...
Hoje o DN traz esta notícia.
São boatos que de tão rídiculos parecem inocentes...mas serão mesmo? O medo do diferente, o receio do que não se conhece, a tentativa de uniformização, a que os chineses fogem, até porque são, de facto, uma comunidade isolada, que vive muito para dentro de si própria, não se deixando facilmente impregnar dos nossos hábitos e da cultura dominante não são só ridiculos. Normalmente são sinais perigosos de intolerância, de desconfiança, de racismo. Que, em relação aos cidadãos chineses ainda não atingiu mais do que estes boatos mais ou menos impregnados de humor negro...mas que um dia, quem sabe, poderá bastar qualquer rastilho para incendiar a palha.
Ninguém questiona como podem vir produtos àqueles preços...isso seria entender que os chineses que cá estão vêm a fugir dos seus países, onde os baixos salários, o trabalho sem direitos e sem horários, o trabalho infantil, imperam.
Apenas se espalham boatos. Ridiculos e potencialmente perigosos.
O medo do outro, da diferença, é sempre uma atitude intolerante e cobarde. E a intolerãncia e a cobardia quando misturadas com uma dose qb de racismo e muita ignorância, costumam fazer misturas explosivas.
Etiquetas: Isabel Faria
8Comenta Este Post
Isabel só te alerto para o seguinte.
Tentativa de uniformização , ou guetização.
Eu prefiro uma comunidade chinesa que não perdendo a sua riquissima cultura ancestral, no entanto SE INTEGRE sem problemas em Portugal, do que chinatowns, tipo americano, que se regem por leis proprias e à parte dos paises onde vivem.
Posso dizer-te sem medo de ser contrariado, que muita desta falta de integração, é fomentado por máfias, que têm assim maneira de explorar e escravizar, chineses que procuram na Europa o el-dourado, que não encontram na China.
Quanto aos boatos, depois dos restaurantes, dos defuntos, vêm agora o trafico de orgãos humanos.
Tudo isto cheira a extrema-direita neo-nazi, mas que tem eco, porque muitos comerciantes têm dificuldade em entender, a proliferação do comercio chinês, e a sua concorrência.
E eu tambem por vezes tenho dúvidas, de como pode algum comercio subsistir, pagando impostos e contribuições, e salários legais, com artigos ao preço da chuva, e lojas em zonas de comércio de luxo.
Mas isso é assunto para a fiscalização economica, e se ela não actua, algo está mal.
A.Pacheco, concordo contigo. Mas eu também não procurei justificar esse isolamento. Nam sequer explicá-lo.Muito menos afirmar que é benéfico para os próprios imigrantes.
Apenas tentei alertar para que os boataos, por mais ridiculos que sejam, acabam por se tornar perigosos, quando aparecem em conjunto com a desconfiança e o medo da diferença.E que com este tipo de boatos imbecis, se um dia há um acidente qualquer...daqueles que há todos os dias em todas as comunidades, poderão tornar-se bem mais perigosos do que agora parecem.
Eu também me questiono sobre a forma como esses negócios por aqui proliferam...e também acredito que para além dos preços que a mão de obra barata permite que os produtos sejam comprados, talvez não seja a explicação toda...mas como dizes. isso cabe à Inspecção Económica averiguar. Mas se ela funcionar como a IGT...pode-se esperar sentado.
Isso! Entretenham-nos com o perigo amarelo! Assim nem temos tempo de acordar a tempo de reagir ou enfrentar os verdadeiros problemas que nos lançam e aos quais demoramos a responder...
Ao contrário do Bancário, concordo com a reflexão da Isabel, bem definida pelo comentário do a. pacheco.
Só acrescento que, há mais tempo, nos debatemos com a comunidade cigana, exactamente com o mesmo problema e, até hoje, ainda não sabemos conviver com ela e eles comnosco.
Concordo com a Isabel e o A. Pacheco. Parece-me que, se eles não se integram, grande parte da culpa é nossa. Aliás, a culpa nunca é só de um dos lados...
No entanto, estamos em "nossa casa", e o papel de abrir a porta em primeiro e receber quem cá chega é nosso. Somos nós que temos primeiro que mostrar não sermos racistas para eles poderem em seguida abrir um pouco a comunidade.
Uma pessoa que está numa terra estranha, cujos modos de vida não compreende bem nem conhece, que se sente mal vinda, pode eventualmente ter a força de fazer um primeiro esforço de integração. Se fôr discriminada e perceber que contam anedotas, que há desconfianças por onde passe, etc., volta a fechar-se no seu canto e acaba a tentativa de integração.
Por isso, o esforço de integraçnao tem que partir sempre de quem está numa posição priveligiada: quem recebe e está no seu meio, integrado, tem todas as coordenadas dos modos de vida, de como se defender, de como estar.
Tanto disparate e nem todos inofensivos. Essa história dos cemitérios pode ter um fundo de verdade, porque o culto dos mortos é muito complicado e não sei se eles aceitariam ser enterrados em cemitérios como os nossos. Não me admiro que enviem os seus mortos para a terra dos antepassados...
Mas o boato de que deixas o link já é muito grave. Tenho lido na net coisas incríveis, que a levar-se a sério o melhor seria barricarmo-nos em casa e não se abrir a porta a ninguém!!!
A semelhança com os ciganos não está mal vista, quando a dificuldade de integração, mas com uma diferença abossal: os ciganos não têm realmente pátria, e os chineses têm uma, imensa, da qual tem enorme orgulho. São um povo complicado, e não bastará nós mostramos não sermos racistas, porque.. eles são-no.
Mas há tanto para dizer que vou daqui escrever um post no meu blog...
A Emiéle tem razão no que diz referente ao povo cigano, mas se o referi foi somente porque, para alé da reciporcidade, também, grande parte da sociedade ter atitudes xenofobas, relativamente a eles e no diz que disse, o cigano é normalmente o culpado de tudo e o senhor de todos os males.
A mim preocupa-me é que hajam mentalidades que ainda acreditem nestas coisas. Ainda aqui no Barreiro, me estavam a dizer que na 6ª feira houve um aparato junto a uma loja de chineses e a história era igualzinha. Quem não se lembra da miuda que foi ao cinema e foi abordada por uma velhota que lhe pediu ajuda para ir ao WC e depois saiu a cambalear para ficar sem os rins? As pessoas que acreditam nesses "mitos" são as mesmas que ficam até às 2H da manha acordadas para atrasarem o relogio para a 1H para depois se irem deitar...
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