O enforcamento de Saddam
Ontem, coloquei um pequeno post com a notícia da condenação à morte de Saddam Hussein. E deixei claro que sou contra a pena de morte, seja em que circunstâncias fôr e em nome do que fôr.
Mas há outros três pontos que gostaria de aqui deixar.
Quem responde pelos crimes contra a humanidade cometidos, no Iraque, desde a invasão?
Quem responde pelos crimes contra a humanidade de quem durante anos apoiou e armou Saddam Hussein? Quem responde com Saddam, pelas centenas de milhares de iraquianos e iranianos mortos na Guerra com o Irão, por exmplo? Quem o apoiava, nessa época?
E finalmente: a pena de morte é sempre um acto desprezível. Mas a pena de morte, agora anunciada, assume aspectos de vingança e de regresso às catacumbas da era medieval, que impressionam, pelo seu despudor, pela sua crueldade e pela sua irracionalidade. Morto por enforcamento (possivelmente deverão ter chegado à conclusão de que a guilhotina mata mais depressa...) e depois de ser recusado um pedido do próprio Saddam para ser fuzilado. Não faço ideia o que significará simbolicamente o fuzilamento (será que a ele se associa honra, que os juízes se recusam a aceitar?), mas não há dúvida que, em questão de espectáculo, o "enforcamento" vende mais. Enforcado até morrer, diz o acórdão. As televisões e os jornais transmitirão as imagens e os "defensores da segurança", respirarão de alívio.
...
Entretanto, no Iraque, continuar-se-á a morrer. Só que já não às mãos de Saddam.
Etiquetas: Isabel Faria
7Comenta Este Post
Bem vindos ao mundo real!!!
É este que temos e não outro! Assim se pratica a justiça: por criminosos e contra criminosos!
É a democracia a funcionar, como tiveram hoje o desplante de dizerem Bush-Blair.
Aliás como funcionou no Afeganistão, após a derrota soviética, e a tomada do poder pelos talibans de Bin-Laden apoiados pelos americanos.
Pelo menos desta vez concordo com o Gil Costa
Gil, tenho muito pouco de ingénua. Sei que é este o Mundo real.
Tenho uma dose razoável de idealista, é contra ele que luto. Se não puder fazer mais que isso. pelo menos, denunciando-o.
Pois é A.Pacheco, no dia em que Sócrates canta aqueles louvores todos aos EUA, apraz ouvir Bush falar no seu conceito de Democracia.
Mas é claro que há vários pesos (não são dois são muitos) e várias medidas. Os «maus» merecem todos os castigos por mais medievais que sejam. Os «bons» se comentem uns errozitos, enfim foi sem querer, e até era por bem.
Que indiscutivelmente como ontem já te disse no post, Saddam foi um criminoso, um grande criminoso, e merece um castigo exemplar. Não estava era sozinho, e custa ver esses tais dois pesos e duas medidas...
O Saddam foi um criminoso como muitos outros o foram e são. Mas curiosamente apresenta uma característica que não posso deixar de realçar: comporta-se com dignidade. Não é para qualquer um dizer que prefere ser fuzilado!
Já da parte do Bush não consigo descobrir nem um pingo de dignidade, nem um vislumbre de humanidade e de grandeza então está mesmo fora de questão.
Que dizer então daqueles que dizem que os Estados Unidos (quer dizer o govrno Bush) são um exemplo de defesa deos direitos humanos? Nem devem pertencer a nenhuma espécie de vertebrados.
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