"Tenho um vestido às florinhas..."
O Esquerda.Net faz a reportagem. Eu que estive lá, guardo os rostos. Não propriamente os que nos acompanharam na visita. Os outros. Os que espreitavam nas janelas daquelas casas cinzentas e que, vistas de fora, parecem todas assustadoramente iguais. As pessoas que vão ficando para tràs, vão-me contando histórias. De como era quando para lá foram. De quem paga ainda a sua renda. Mas não faz ideia a quem. De quem não paga. Porque também não faria ideia a quem. Das desconfianças entre uns e outros. Dá a ideia que os de um lugar não conhecem os de outro. Só que os de um lugar são da casa ao lado dos de outro. Partlham o mesmo cinzento. Não há um banco no que poderia ser um jardim "para os velhotes se sentarem". A entrada de um suposto parque de estacionamento está repleta de entulho.
"A Sra daquela casa ao pé da carroça, tá a ver menina? Foi fazer operação ao coração e quando voltou..."
Os que vão ficando para tràs contam-me as suas histórias. Cada pequeno grupo tem as suas histórias próprias.
Em comum têm o cinzento das casas. O abandono das zonas envolventes. O abandono das casas por dentro não dá para ver. Não há luz nas escadas...Nós já estamos habituados a subir ás escuras...o pior são ...Este era outro grupo. E falava de outras histórias. Em comum o cinzento.
"Tenho um vestido às florinhas como o teu, mas é mais bonito é côr-de-rosa". Os olhos verdes quebravam o cinzento. Imagino que quando ela passa nos seus 5 anos (só falta um mês para ser assim...uma mão e o dedo da outra...), o cinzento desapareça por uns momentos. Depois volta.
Cá fora constrói-se agora um condomínio. Enorme. Não é cinzento. Possivelmente as pessoas que lá vão viver terão as suas histórias. Deverão ser diferentes. Terão electricidade. Jardins e bancos. O prédio não deverá ser cinzento. Não pode ser cinzento. Para além de lá irem viver pessoas aquele prédio também tem outra função. O Portugal Novo, ainda se verá menos da rua. Poderá, portanto, continuar a ser cinzento. Sem incomodar quem passa. Com a excepção de quando a menina de olhos verdes veste o vestido das florinhas côr-de-rosa. Mas quem no condomínio que ali se constrói alguma vez conhecerá a menina dos caracóis que faz 6 anos daqui a mês?
Etiquetas: Isabel Faria
3Comenta Este Post
Bem perto do centro de Lisboa, próximo do Areeiro, fica este bairro oculto da vistas de quem passa e quase nada vê.
Venham ver. Por detrás da urbanização Fernando Martins das Olaias, ali ao lado da Afonso Costa, como estão as pessoas ao deus dará. E deus não dá pelos vistos. Nem a camara de lisboa, nem o estado, nem os governantes.
Até quando?
Apressem-se partidos a "área" do poder: PS, PSD e CDS. Façam uma competição para ver quem vai resolver o problema deste bairro, destes bairros. Dêem soluções. Resolvam. Mas não ponham cá os pés em campanha eleitoral que a gente não perdoa...
Claro que não basta mudar a cor...mudar a cor era uma metáfora...que nem como metáfora quem detém o poder nesta cidade usa...
Enviar um comentário
<< Home