O meu desconforto de ontem

Devo confessar que ontem o Prós e Contras me deixou desconfortável.

Verdadeiramente não me sinto confortável perante a mentira descarada. Sem vergonha. Aquela que se usa sem baixar os olhos. Sem um leve rubor nas faces. Sem um ligeiro tremer de voz.

A mentira da televisão pública que convida, sob a capa de melhor esclarecer para o Referendo do próximo Domingo, um grupo de pessoas a fim de lhes dar tempo de antena para vender uma "proposta" que apresentaram na véspera, do tal crime sem castigo, que nada tem a ver com o que está em votação no próximo Domingo.

A mentira de um médico qualquer ( e o qualquer é depreciativo sim, não o consigo nem quero evitar) que, esquecendo o respeito por si próprio, afirma que fazer um aborto é dar uma injecção no coração de um bebé.

Verdadeiramente não me sinto confortável com a falta de ética.

A falta de ética de um médico / de um homem que compara a opção de uma mulher em interromper uma gravidez que não pode ou não quer levar avante, com um jogo de televisão. "Você é o elo mais fraco, adeus".

A falta de ética de uma médica / de uma mulher que passa o programa a dizer que está provado que o embrião sente dor às dez semanas de gestação...porque ela escreveu que o embrião tem dor às dez semanas de gestação.

Verdadeiramente não me sinto confortável com os julgamentos sumários. Extermínio, disse sem pestanejar, o Dr. Manuel Antunes.

Verdadeiramente não me sinto confortável com a hipocrisia de quem afirma que uma mulher a que se acusa de extermínio...não deve cumprir pena de prisão.

Verdadeiramente não me sinto confortável com a falta de vergonha. Envergonha-me.