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domingo, março 11, 2007

O vazio que fica quando saem...

José Mário Branco escrevia há tempos que as Revoluções deixavam de ter piada quando perdiam o Romantismo. Agora, depois de um período de afastamento crescente do BE, acabou por sair. Ou, segundo ele, foi o Bloco que saiu dele.
Ontem, um amigo falava-me destas duas frases do Zé Mário e eu fiquei com vontade de continuar com ele mais um pouco aqui ao lado. De abrir o Troll e ouvi-lo.
Como eu compreendo as duas frases do Zé Mário. E o pior, é que se insistir em prolongar o pensamento, acabarei por o alargar a muitas mais “coisas da vida”. E custa.

Não faço ideia se o 25 de Abril foi uma Revolução. Em mim, entrou como tal. Muito antes de eu sair dela, ela foi saindo de mim. Aos poucos. Mas irreversivelmente. À medida que ia perdendo o Romantismo.

Algumas vezes, olho para o Bloco e sinto-o assim. A perder romantismo. Como deixei que acontecesse à Revolução. Ainda não lhe permiti que saísse de mim, como aconteceu com o Zé Mário, mas vou, de quando em vez, tendo que correr atrás, não do Partido, mas dele em mim. Para que não o perca, ou a mim dele, numa qualquer esquina. Numa palavra que não esperava ouvir. Numa atitude que não esperava ver. Numa opção que não esperava encontrar. Correspondem sempre estas correrias, às vezes que o vou sentindo perder as rosas vermelhas, as caixas de bom-bons e as frases sem sentido, ou melhor, a que só eu (e o Zé Mário e assim, que o temos cá dentro), sentimos o sentido. Nas vezes em que o Bloco perde o romantismo eu corro atrás dele. Ainda. Como fiz com a Revolução. Aí perdi a corrida. E ela saiu de cá de dentro. Às vezes, volta. Mas só às vezes.

Quando se alarga o pensamento, então, a frase do Zé Mário, também se entranha noutros lugares. Ou não? Se entranha, mas os lugares são os mesmos? Sei lá.
As paixões perdem-se, também, quando se perde o romantismo delas. E nelas. Quando os gestos sem sentido escasseiam, as palavras ditas sem razão se perdem, as não ditas não se inventam, os olhares, aos poucos, não se cruzam tanto, não se vestem de rosas vermelhas, nem de cravos, nem se escondem em caixas de chocolates, não nos arrepiam com um sms enviado fora de horas (as revoluções e os partidos têm os seus SMS próprios, isso vos garanto eu). Aí, a gente, tal como nas revoluções e nos partidos, corre atrás. Às vezes, muito. Não queremos sair delas, primeiro. Quem é que desiste, assim, de livre vontade, de rosas vermelhas enroladas em pôres-de Sol?

Nas paixões assim como nas revoluções e nos Partidos o mau é quando eles saem de dentro de nós. Fica-se vazio, acho.
Faço umas guerras enormes para não ficar vazia. Já perdi algumas. Não sei se demasiadas. Mas Partidos, Revoluções e paixões, sem Mar em forma de corações de chocolate é que não...

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17Comenta Este Post

At 3/11/2007 2:57 da tarde, Blogger Leal Franco escreveu...

Isabel
Admiro-te quando, como agora, encarnas a nossa reserva revolucionária nacional que está guardada, em segredo, no nosso território. Sei que tens umas chaves e uns mapas secretos para a encontrar. Vai dizendo-nos coisas destas...

 
At 3/11/2007 3:27 da tarde, Blogger a.pacheco escreveu...

Li os teus pensamentos, e se bem que em teoria sejam muitos bonitos, ficou-me um sabor estranho de alguem que se desiludiu, mas não percebi em quê.

Falas de um Zé Mario, será o José Mario Branco, se é sinceramente desconhecia que ele era militante do Bloco, conheci-o em França,encontramo-nos na UDP, vibrei com o GAC, para mim o Zé Mario é uma das referências da mùsica portuguesa, mas desconhecia completamente que ele fosse militante do Bloco, será que percebi mal...

Ou estamos a discutir outra coisa...

Será que recusas o pragmatismo que todos os partidos politicos e militantes conscientes devem ter.

Atenção eu falo em pragmatismo , não em oportunismo, como ainda recentemente a Refundação Comunista deu provas em Italia.

Será que julgas que o Bloco se aburguesou, e já não é uma força aglutinadoura e alternativa de esquerda....

Será que pensas que o Bloco já não tem razão de ser...

Desculpa se interpretei mal o que escreveste, mas não gosto de meias palavras.

Mas para mim o Bloco tem toda a razão de ser, com novos combates, com novas bandeiras, mas tambem com uma visão que tem de ter em conta o periodo que atravessamos

Um abraço.

 
At 3/11/2007 3:31 da tarde, Blogger a.pacheco escreveu...

Desculpa a pergunta;

Já há uns dias que não consigo aceder ao esquerda.net, nem ao lisboa é gente, sabes o que se passa?....

 
At 3/11/2007 4:54 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

A.Pacheco, também não gosto de meias palavras. Entende, no entanto, que há alturas em que as palavras não saem meias, mas só nos saem a metade Não é o mesmo, garanto-te...). Nada a fazer. Mais do que isso ser-nos-ia de tal forma doloroso que temos o direito de nos persrvar. Afinal, para além das paixões, temos que estar vivos e mais ou menos inteiros para viver o resto...
Não preetendi transmitir pensamentos bonitos. Apenas fiz algo que faço desde sempre. Escrever o que me vai cá dentro...seja lá o cá dentro o que fôr...

Quanto ao Bloco. Por agora, e peço-te que respeites isso, apenas queria dizer o que disse. Quero guardar o Bloco dentro de mim. Algumas vezes o sinto a querer sair. Não me apetce escrever aqui porquê, neste momento. Pela mais simples das razões: porque farei tudo para impedir que saia.
De todas as tuas questões: a certeza de que à última: "Será que pensas que o Bloco já não tem razão de ser..." responderei ainda e sempre, Não. O BLoco tem toda a razão de ser.´

E sim, era do José Mário Branco que falava.

Quanto ao Esquerda.Net, só hoje me apercebi. Ontem não tive tempo e não tentei lá entrar. Hoje tentei e não funciona. Vou tentar saber o que se passa.

Obrigada, Franco. Terei?

 
At 3/11/2007 5:30 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

A.Pacheco, o problema do Esquerda. net é um problema grave do servidor. Foi-me dito que porque o servidor é holandês, só deverá ficar resolvido amanhã.
Quanto ao Lisboa é Gente, não consegui contactar ninguém. Possivelmente é o mesmo caso. Não sei se o servidor é o mesmo. Não percebo muito disso.

 
At 3/11/2007 6:47 da tarde, Blogger cereja escreveu...

Isabel, muitas vezes escreves posts intimistas sobre «coisas mesmo íntimas». Amores, filho, pais, juventude, recordações, Lisboa, músicas, eu sei lá. Agora saiu-te um post intimista sobre uma 'sensação' política, o que é natural que cause surpresa a quem passe por aqui.
Eu não. Isabel, para mim sabe-me a 'dejá vu'. E sinto-me tão velha... Mas muitas vezes são ondas grandes que escondem o sol. A Primavera está quase aqui, e talvez isto passe. Quero acreditar que sim.

 
At 3/11/2007 7:10 da tarde, Blogger António P. escreveu...

Pois é cara Isabel,
O romantismo como forma de vida é possivel se esquecer a revolução.
As duas não andam juntas.

 
At 3/11/2007 7:42 da tarde, Blogger a.pacheco escreveu...

Vi agora nas ruas de Lisboa, cartazes do PSD, a denunciar o aumento do desemprego, a denunciar o aumento dos impostos, contra as reformas na saude e a denunciar o aumento do preço dos medicamentos.

Pasmei, o PSD acusa o PS das medidas que eles PSD tomariam na mesma situação, denunciam as medidas que na pratica executariam se estivessem no governo.

Tentam cavalgar o descontentamento que estas politicas de direita postas em pratica pelo governo PS provocam.

É preciso topete.

É nesta fase dificil, em que um governo PS com uma maioria absoluta, põe em prática uma politica de direita, que uma alternativa clara encabeçada pelo Bloco de Esquerda mais se faz sentir.

Quem militou muitos anos pelos seus ideais, quem se empenhou diariamente nas batalhas, que teve vitorias e derrotas, é natural que em determinados momentos possa ter periodos de derrotismo e de desânimo , somos todos humanos, e por mais couraçados que estejamos contra a adversidade, isso não impede que por vezes nos perguntemos , o que andamos a fazer, será que a nossa luta virá algum dia a obter os resultados porque sempre ansiámos, mas apesar disso continuamos o combate.

Respeito acima de tudo o teu direito de optares, mas julgo que este não é o momento de abandonar o barco.

Se o Zé Mario o fez , penso que fez mal, mas essa é simplesmente a minha opinião , o Zé Mario é e continuará a ser um HOMEM DE ESQUERDA, esteja ou não filiado ( como te disse desconhecia TOTALMENTE a opção Bloco do Zé Mário talvez tenha andado DISTRAIDO).

Mas olha o que se passa em Espanha a direita responsável pela Matança de Atocha, a direita que com Aznar se pôs a reboque de Bush e das sua politicas que conduziram á invasão do Iraque, mobiliza na VESPERA DO 11 DE MARÇO, uma multidão para protestar contra o terrorismo da ETA,mas nunca pediu perdão aos espanhois pelos crimes do Franco, nem se penitenciou por ser a principal responsável da matança do 11 de Março.

Continuaremos a nossa troca de impressões se a isso estiveres disposta, penso que este blogues tambem para isso podem ser uteis.

 
At 3/11/2007 8:20 da tarde, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Isabel, aí está um post que eu nunca poderia escrever. Por muito que me reveja nas tuas palavras não concebo quebrar o meu centralismo democrático auto imposto por mim, a mim.
Mas compreendo-te. E bem.

 
At 3/11/2007 8:37 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Émiéle, também não a primeira vez que sinto essa "sensação". Aqui, os anos também já contam...ale´m disso costumam dizer-me que não tenho jeito nenhum para escrever documentos políticos...deve ser por isto. Na política também não abdico das sensações. nem dos sentimentos.

A.Parente, não sei não...ainda não me convence (totalmente).É aquela história do burro velho não aprender línguas...

A.Pacheco, não penso abandonar o barco. Como escrevi, e garanto que não era figura de retórica,algumas vezes sinto é o barco a fugir de mim...e, como dizes, por mais que as couraças funcionem, já não corremos a maratona como antigamente.
Este post foi um desabafo. Um destes dias voltarei, talvez, ao assunto. Uma coisa gostaria de deixar clara para que não fiquem dúvidas nem mal entendidos. Concordo contigo que a alternativa à política de direita do PS, e à falta de vergonha da direita quando denuncia a política que podia ser sua, passa pelo Bloco. É o Bloco.
Posso ter dúvidas quanto a muitas coisas...não tenho dúvidas quanto a uma: o Bloco é a alternativa de Esquerda ao PS.E eu estou no Bloco, ou com o Bloco nessa alternativa.

 
At 3/11/2007 8:45 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Daniel, gostei do ter centralismo democrático auto-imposto...e na volta, dou-te razão. Também o deveria ter. Mas não sou capaz. Como sou mais velha que tu, durante muitos mais anos tenho lutado arduamente contra centralismos deocráticos...e nem os meus escapam.
E depois se falo tantas vezes nas minhas dúvidas quanto a tantas coisas, coisas da vida que não fazem ideia que existe esse bicho imposto ou auto-imposto de que falas...porque não nestas?

 
At 3/11/2007 9:13 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Vou só tentar escrever a minha opinião, sobre o que escreveste. Muitas coisas foram ditas e compreendem-se.
Voltemos ao post. Desconhecia por completo, tanto a opção do Zé Mário, em ser do Bloco, como de, deixar de sê-lo. Reconheco o Zé Mário como elemento do GAC, ligado à UDP, homem de esquerda, e espero que se mantenha. O Bloco é uma experiência nova, e como o próprio nome indica é um "bloco" que só funcionará como "parede", se a "massa" fôr, verdadeiramente aglutinadora. Depois, quem faz a "massa" umas vezes põe cimento a mais e areia a menos, outras vezes o contrário. Por outro lado há que ter cuidado com a água, não pode ser a mais, fica pouco espessa, ou de menos, demasiado dura e difícil de aplicar. Compreendo o que escreveste e a forma como o fizeste. É bom só obedecermos a nós próprios, pois se nós erramos, os outros também o fazem, logo é melhor desobedecermos aos outros que a nós próprios, pois está em causa a nossa "verdade", e essa é que nos define. Deixa-o ir, que ao menos, faça aquilo que tão bem sabe fazer, cantigas. Nós cá estaremos para as cantar. E fico-me por aqui, pois não tenho dados que me permitam outras análises.

 
At 3/11/2007 9:32 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Nos momentos de desalento era a José Mário Branco que recorria. Entre quatro paredes e ao ritmo das 33 rotações por minuto, passava horas a ouvir aquele homem. Enfim isto para dizer-te que compreendo as tuas inquietações.
Eu debato-me com as minhas próprias contradições.
Por um lado, quero um partido maior, mais aberto, mais plural, um partido das esquerdas, um partido de governo, para fazer políticas sociais. Isso implica fazer concessões políticas, ideológicas, ter de lidar com oportunismos, vaidades pessoais, carreirismos, cortes de funcionários, de assessores, DE AMIGOS dos chefes, dos funcionários, dos assessores, eu sei lá, que não deixarão de ser ainda maiores e inevitáveis.
Mas esse é o risco que corre quem pensa que não há outra saída para mudar a vida dos mais desfavorecidos, que não seja OFERECER uma alternativa CREDÍVEL de poder. Mas prefiro esse risco do que estar a "alimentar" vícios, vaidades pessoais, carreiras políticas a sete, oito, ou vinte deputados e mais uma corte de assessores e amigos, perfeitamente confortáveis e acomodados nesses papeis. Para isso não contam comigo.
O que não é admissível, Isabel, é aparentemente, "toda" a gente estar contra as políticas de Sócrates e este (e se não for o PS há-de ser o PSD) continuar a ter o apoio largamente maioritário do povo português. E porquê? Porque a esquerda à esquerda do PS não consegue capitalizar estes descontentamentos? Porque é que esta esquerda continua a ser residual, com crescimentos que podem dar mais uns votos ou mais uns deputados, mas não mudam políticas? Porquê? Será que não conseguimos perceber isto? Ou não queremos perceber? Se o Bloco quiser ir crescendo assim, mais um ou dois deputados nas próximas eleições, mais uns não sei quantos autarcas, controlar um ou outro sindicato, regozijar-se com a eleição de uns quantos camaradas para uma CT, se o caminho for este, pessoalmente sinto-me "atraiçoado".

O tempo dos grupos, já foi há muitos anos. O Bloco não é um fim. O Bloco é um instrumento, uma alavanca para grandes alterações na forma de fazer política, para construir alternativas consequentes para mudar o país.

É este o meu romantismo. Foi este o romantismo que me trouxe ao Bloco. É este romantismo que ainda me prende ao Bloco. É por causa deste romantismo que vou tolerando algumas atitudes e comportamentos. Em nome de interesses maiores. Contribuir para mudar a sociedade.

Se o Bloco na próxima convenção não der este sinal, para mim é o fim. Já li algumas reflexões do Miguel Portas,(e gostei do que li) espero pelas do Francisco Louçã. Penso estar essencialmente nas mãos destes o futuro do Bloco.

São as palavras do Jorge Palma que agora me acompanham. Espero não ter de lhe dar razão.

...
E agora, que a lua escureceu
e a guitarra se partiu
D. Quixote foi-se embora
com o amigo que a tudo assistiu
as cores do teu arco-íris
estão todas a desbotar
e o que te parecia uma bela sinfonia
é só mais uma banda a passar

A chuva encharcou-te os sapatos
e não sabes p’ra onde vais
tu desprezavas uma simples fatia
e o bolo inteiro era grande demais
agarras-te a mais uma cerveja
vazia como um fim de verão
perdeste a direcção de casa
com a tua sede de perfeição

Tens um peso enorme nos ombros
os braços que pareciam voar
tu continuas a falar de amor
mas qualquer coisa deixou de vibrar
os teus sonhos de infância já foram
velas brancas ao longo do rio
hoje não passam de farrapos
feitos de medo, solidão e frio

 
At 3/12/2007 7:59 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

o louçã já enterrou dois partidos e quem enterra dois enterra três

 
At 3/12/2007 8:43 da manhã, Blogger António P. escreveu...

...até porque um "partido" que junta trotsiquistas com estalinistas ( e provenientes de ee-ml's e ex-pc's ) não promete nada de bom!

 
At 3/12/2007 9:56 da manhã, Blogger Isabel Faria escreveu...

Creio que não fui clara neste post e lamento.
Não penso sair do Bloco. Nem concordo nada que o Bloco não tenha futuro. Muito menos sei do que fala o Anónimo sobre os dois Partidos com que FL acabou. Disse (ou pretendi dizer) que as coisas que se fazem com paixão, se perdem o romantismo acabam por sair de dentro de nós. Quando o romantismo acaba. Revoluções, Partidios e paixões, mesmo.
Algumas vezes me deparo com um BE qua não me parece o meu...e aí tenho imensas dúvidas sobre o que fazer.
Mas essas dúvidas penso ultrapassá-las dentro do Bloco. Até porque como também escrevi não quero sair...nem quero que ele saia de mim. Mas se um dia isso acontecer, também não morre ninguém. O Bloco continuará sem mim, não tenho dúvidas. E eu continuarei a ser de Esquerda com o Bloco.

Como escreveu o Fernando, eu também espero que esta Convenção que se vai realizar em Junho seja clarificadora. Possivelmente, essencialmente para mim.

 
At 3/12/2007 9:27 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

LCI, PSR...

 

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