Desabafos de uma reles mortal. Que gaita!!

De vez em quando dou-me conta que sou mortal. Mas mais grave do que isso que posso não ter oportunidade para vos avisar da hora e do lugar e vos convidar para o funeral. E, desculpem lá, mas curtia ter um funeral com bué da gente. Não precisavam de chorar, também não exageremos. Até podiam contar anedotas, só não me apetecia ir muito sozinha, que tenho medo daquilo que me pélo.

Ontem, com o meu filho fora, acabada de chegar do cinema, deu-me assim como que uma coisinha má...meteu falta de ar, palpitações, taquicárdia, tonturas, aperto no peito...já lá tinha começado, na sala do cinema, mas aí eu pensei que era porque tenho alguns ataques de claustrofobia...e como não estava sozinha teria o problema da funerária resolvido e a coisa passou sem, pensava eu, deixar rastos...

Só que...só que, voltou cá em casa.

...

Naqueles momentos, com o coração entre os 5 e os 200 ao minuto, olhei para o telemóvel e quase, quase, que não me contive em pedir, senão ajuda, pelo menos, um pouco de companhia para enfrentar a gaja...mas qual quê, entre as que sabia longe e que não chegariam a tempo e as que sabia longe e não teriam tempo; entre as que não queria preocupar e as que não poderia preocupar porque estavam na vida delas, lá me convenci que as pessoas importantes da minha vida nunca chegariam a tempo ou não teriam tempo ou espaço para chegar e que o melhor era sair de casa, just in case...assim haveria de encontrar alguém que soubesse o número da funerária ou que tivesse um burro...e era menos uma preocupação que tinha.

Talvez por causa disso, de me ter livrado da preocupação da funerária ou do burro e, talvez, do ar frio, passou a falta de ar e o resto quase todo. Só se manteve o aperto no peito. Mas presumo que não tenha nada a ver com o de ontem. Possivelmente é dos que veio para ficar.