Contra a demissão do Gerúndio
Li agora na edição on line do DN, este artigo de Ferreira Fernandes (pela sua importância, mas, sobretudo, pela revolta que me causou, o artigo e a medida, publico-o na integra - também é pequenote):
"Há dias, José Roberto Arruda, governador de Brasília, decretou (decretou mesmo, não foi decretando), o seguinte: "Decreto n.º 28314. Art. 1º - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal." Medida acertada. O gerúndio é a modos que um tempo verbal que não faz, vai fazendo. "- Você está pronta, meu bem? - Estou indo..." O gerúndio apanha uma carroça ronceira de cada vez que vai a algum lado. Aliás, já vimos, não vai. Vai indo. Daí o movimento "Chega de Gerundismo" que se criou no Brasil e de que o cortante decreto foi expressão. Que um governante rape da caneta para acabar com as modorras é de aplaudir. Sou a favor do combate a todas as muletas que arrastam a palavra (reparem, não abri esta crónica com "Há dias atrás..."). E não venham com "a língua não vai lá com decretos", eu e o governador sabemo-lo. O facto é que uma provocação - que vai direito ao assunto - muda. Não vai mudando."
Eu gosto de gerundio. Acho muito mal que se demita o gerúndio. E isto de ser dos documentos do Governo é apenas o primeiro passo para a sua ilegalização. Ainda acho muito pior que alguém concorde com um decreto que demita o gerúndio como faz o articulista.
A sério, em Portugal há muito que quase acabámos com o pobrezito - ninguém diz "estou comendo" , mas sim "estou a comer". "Estou trabalhando", mas sim "estou a trabalhar".
Ok, pronto em verbos sem muita importância como comer ou trabalhar, ainda vá, até se passa sem o gerundio. E já nos habituámos, os brasileiros acabarão por se habituar.
Mas nos outros, nos importantes?
É a mesma coisa "estou-te amando" ou "estou a amar-te". Não, desculpem, não é a mesma coisa. Nalgumas coisas um tempo verbal que "não faz, vai fazendo" é um bom tempo verbal.
Amar, não é um verbo em que uma carroça ronceira dá um jeitão do caraças? Ou dormir, para usar uma coisa mais do dia a dia "eu estou a dormir". Mas não se dorme deitado?...a preposição não dá um movimento à coisa que quando se dorme serenamente não deveria ser permitido? O gerúndio não é mais calmo, mais lento, mais suave, mais continuado. Mais duradouro. Como dormir e amar devem ser???
Pobres brasileiros, estou pensando que a esta hora devem estar um pouco tristes por estarem perdendo a hipótese de dizer: Fica quietito, que eu estou-te amando...Assim, com tempo. Acho que o Lula devia pensar duas vezes antes de permitir que se demitam tempos verbais. Eu estou avisando!!
"Há dias, José Roberto Arruda, governador de Brasília, decretou (decretou mesmo, não foi decretando), o seguinte: "Decreto n.º 28314. Art. 1º - Fica demitido o Gerúndio de todos os órgãos do Governo do Distrito Federal." Medida acertada. O gerúndio é a modos que um tempo verbal que não faz, vai fazendo. "- Você está pronta, meu bem? - Estou indo..." O gerúndio apanha uma carroça ronceira de cada vez que vai a algum lado. Aliás, já vimos, não vai. Vai indo. Daí o movimento "Chega de Gerundismo" que se criou no Brasil e de que o cortante decreto foi expressão. Que um governante rape da caneta para acabar com as modorras é de aplaudir. Sou a favor do combate a todas as muletas que arrastam a palavra (reparem, não abri esta crónica com "Há dias atrás..."). E não venham com "a língua não vai lá com decretos", eu e o governador sabemo-lo. O facto é que uma provocação - que vai direito ao assunto - muda. Não vai mudando."
Eu gosto de gerundio. Acho muito mal que se demita o gerúndio. E isto de ser dos documentos do Governo é apenas o primeiro passo para a sua ilegalização. Ainda acho muito pior que alguém concorde com um decreto que demita o gerúndio como faz o articulista.
A sério, em Portugal há muito que quase acabámos com o pobrezito - ninguém diz "estou comendo" , mas sim "estou a comer". "Estou trabalhando", mas sim "estou a trabalhar".
Ok, pronto em verbos sem muita importância como comer ou trabalhar, ainda vá, até se passa sem o gerundio. E já nos habituámos, os brasileiros acabarão por se habituar.
Mas nos outros, nos importantes?
É a mesma coisa "estou-te amando" ou "estou a amar-te". Não, desculpem, não é a mesma coisa. Nalgumas coisas um tempo verbal que "não faz, vai fazendo" é um bom tempo verbal.
Amar, não é um verbo em que uma carroça ronceira dá um jeitão do caraças? Ou dormir, para usar uma coisa mais do dia a dia "eu estou a dormir". Mas não se dorme deitado?...a preposição não dá um movimento à coisa que quando se dorme serenamente não deveria ser permitido? O gerúndio não é mais calmo, mais lento, mais suave, mais continuado. Mais duradouro. Como dormir e amar devem ser???
Pobres brasileiros, estou pensando que a esta hora devem estar um pouco tristes por estarem perdendo a hipótese de dizer: Fica quietito, que eu estou-te amando...Assim, com tempo. Acho que o Lula devia pensar duas vezes antes de permitir que se demitam tempos verbais. Eu estou avisando!!
Etiquetas: Isabel Faria
3Comenta Este Post
Só para deixar aqui claro que este Arruda não tem nada a ver comigo.
Não sei não, uma vez disseste-me que havia Arrudas nos Açores...sei lá se algum foi para o Brasil demitir o Gerúndio!!
"A sério, em Portugal há muito que quase acabámos com o pobrezito"
Não no Algarve.
Enviar um comentário
<< Home