Conversas com o meu Jardineiro
O cinema francês não cessa de me espantar, pela positiva. Dois homens que a vida naturalmente separou encontram-se. O rato da cidade que teve a sua conta de drama e superficialidade vem buscar à fonte – a sua infância, o campo – o que lhe poderá dar a inspiração artística. Afastado voluntariamente desde a adolescência, este pintor não pensa encontrar na sua velha casa de família, o segredo da vida, mas o rato do campo faz a sua aparição. Memórias das suas vivências passadas são aqui, alegremente, caricaturadas. Rotina e simplicidade por um lado, mundanismo e tragédia, pelo outro. Cada um leva a vida à sua maneira e questiona-se como é que o outro consegue fazê-lo doutro modo.Ainda que Daniel Auteil seja um pouco velho para encarnar o professor de arte com um fraquinho pelos seus modelos e alunas, e que Jean-Pierre Daroussin seja um camponês um pouco atarantado, a alegria da representação de um texto tão belo ilumina os dois actores. As palavras de Henri Cueco são finas e sedutoras, e o prazer do seu engenho é comunicativo. Entre as lembranças do tempo passado e o encontro das duas artes – a pintura e a jardinagem – Jean Becker desenha o retrato dum pequeno paraíso. Um pouco mais e todos nós partiríamos para o campo a ver a erva crescer.
Mas a realidade não anda muito longe. Divórcio, doença, desemprego... O sofrimento da vida moderna perturba o belo céu azul e a última parte do filme é um pouco mais triste. É na valorização da luz entre as árvores, do jardim que vai ganhando vida, do silêncio e do sopro do vento que o filme consegue os melhores momentos.
Sem surpresas mas muito bem conseguidos, o Sr Dujardin e o Sr. DuPinceau oferencem-nos um vom momento de poesia humana.
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Bom Ano Caros Trolls!
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