A minha rua ao fim da tarde
Hoje vi o anoitecer da minha janela da sala. Os dias são bem mais pequeninos e mal nos apercebemos da rapidez com que a noite cai sobre o Castelo de S. Jorge a as árvores do Instituto se enchem de sombras. Durante mais de dez minutos não passou ninguém estranho à minha rua. Durante a noite, a minha rua já é, apenas, a minha rua e a dos meus vizinhos. As poucas pessoas que aqui trabalham já saíram e a rua fica igual à rua da minha casa de menina. Como era a minha rua de menina quando eu era menina.
Há o gato que olha o Bono do outro lado da rua, encavalitado no muro do Instituto, parado e como que tivesse alguma tristeza no olhar (eu acho que os gatos também sentem a injustiça social. E sabem que há os gatos de 1ª que têm uma casa, comem croquetes de gato e dormem nos pés dos donos. E eles. Os sem-abrigo. Que não sabem o que são croquetes de gato nem nunca adormeceram juntinho ao calor do corpo de alguém), há o som do casal de baixo que passa a vida toda a brigar, como se cada dia fosse mais um dia de uma guerra interminável da qual fizeram as suas vidas, há o vizinho do condomínio da empregada de avental e rendinha na cabeça, que espera impaciente, no seu BMW cinzento escuro, que o portão se abra, talvez pensando que deveria haver qualquer coisa no Código de Trabalho que penalizasse os portões que demoram a abrir, há o arrumador de sempre, que começa cedinho, por volta das 8 já ele anda a arrumar os carros de sempre, e que nunca tinha dado conta que acabava tão tarde e que me diz para a janela, até amanhã D. Isabel, durma bem, há o som constante das ambulâncias que passam para S. José, mais longe há um som mais difuso, o som da cidade que se apressa a ficar vazia e a expulsar os seus habitantes de dia, que a voltarão a encher amanhã ao amanhecer. E um cheiro qualquer, que vem da casa de um dos vizinhos e que parece de peixe frito.
Fui interrompida pela campainha da porta. A minha vizinha vinha-me trazer, num pratinho, duas chamuças e, nun saquinho de plástico, três limões. É muito para mim, disse. Contou-me da dor na perna e da filha da cabeleireira que teve um acidente de carro. Mas não foi nada de grave. Só chapa.
...
Trando a parte das ambulâncias, do som de fundo da cidade quuando fica vazia e de uma senhora de oitenta e tal anos usar tão famliarmente o termo chapa para falar nun carro que bateu...tudo o resto poderia ser a minha rua de menina.
..
Penso que é por isto que costumo dizer, que eu, nómada durante anos, que corri lugares e lugares de malas às costas, me voltei, finalmente, a sentir em casa aqui. A sensação é tão forte e tão reconfortante, que, por momentos, até penso que conseguiria sentir ainda os sonhos de então. Senti-los como se de sonhos não se tratasse, quero dizer. Senti-los como se os realizasse todos já amanhã ou o mais tardar na próxima semana... Senti-los como se ainda tivesse o tempo todo e a vida toda.
Etiquetas: Isabel Faria
15Comenta Este Post
Ola Isabel tenho algumas ideias, senão repara:
1 - Para o Bono e o seu gato amigo, envio-te as duas simpaticas (e belas) gatas que os meus pais têem. (uma a branquinha, até trouxe uma vez um passarito vivo da rua, na boca. Ainda esta na gaiola). De certeza que os gatos dai vão amar. Acho que se vão dar todos bem.
2 - Não te preocupes com o casal de velhotes que passa a vida a brigar, concerteza alguns amigos teus também já te contaram cenas de bvizinhos que passavam a vida a brigar ao mesmo tempo que a cama rangia.. :-)
3- Sobre o sem abrigo recordo-te este poema:
"Sei que pareço um ladrão
Mas ha muitos que eu conheço
que não parecendo o que são
são aquilo que pareço
Ves?? é giro e dedicado ao sem abrigo da tua rua e também aos gananciosos de wall streat.
4- Quando a tua vizinha te ofereçer chamuças lembra-te EU ADORO CHAMUÇAS.. (adoro mesmo)
5- Continuo à espera que me apresentes a tua amiga da fotografia de cabeçeira..
:-)
António
Ola Isabel tenho algumas ideias, senão repara:
1 - Para o Bono e o seu gato amigo, envio-te as duas simpaticas (e belas) gatas que os meus pais têem. (uma a branquinha, até trouxe uma vez um passarito vivo da rua, na boca. Ainda esta na gaiola). De certeza que os gatos dai vão amar. Acho que se vão dar todos bem.
2 - Não te preocupes com o casal de velhotes que passa a vida a brigar, concerteza alguns amigos teus também já te contaram cenas de bvizinhos que passavam a vida a brigar ao mesmo tempo que a cama rangia.. :-)
3- Sobre o sem abrigo recordo-te este poema:
"Sei que pareço um ladrão
Mas ha muitos que eu conheço
que não parecendo o que são
são aquilo que pareço
Ves?? é giro e dedicado ao sem abrigo da tua rua e também aos gananciosos de wall streat.
4- Quando a tua vizinha te ofereçer chamuças lembra-te EU ADORO CHAMUÇAS.. (adoro mesmo)
5- Continuo à espera que me apresentes a tua amiga da fotografia de cabeçeira..
:-)
António
António, veio em duplicado...posso responder só uma vez?
Não quero cá as tuas gatas. Desculpa mas não tenho dinheiro para andar a comprar tapetes novos nem, sequer, para comprar croquetes de gato para uma família inteira. Podes cá trazê-las para se conhecerem e beberem chá juntos, mas depois levas de volta.
Não são velhotes...e isso é que assusta. Será que vão levar a vida toda assim?
O meu arrumador vive num quarto...o gato é que é sem abrigo. Para quem é o poema?
Tá bem quanto às chamuças...confesso que não gosto muito. Aceito para ela não ficar triste.
A minha amiga está em periodo de reflexão, pós fotografia em cima da mesa de cabeceira. Assim que terminar, ela avisa-me e eu aviso-te. Pode ser?
Ah e toma um beijo, faxavor.
Dizeres que o arrumador vive num quarto deixou-me ainda + bem disposto
antónio
Bem minha querida,ha que anos,hehehehe,que saudades tuas,ja tinha perdido a esperança de te encontrar,o que vale é que quem é vivov sempre aparece,como dizia a minha Avó, e eu acho que era uma mulher sabia,loool.
Gostei aqui do teu cantinho,vou ser uma visita,mas muito mais de saber que andas por ai,e bem.
beijos cheios de saudade
Gandalf(J.C.)
António, estás melhor da gripe??
Sim, é o nosso arrumador (ok, esta do nosso para uma descatda/peoa militante é anedota) particular há nos e sem abrigo mesmo só o gato do Instituto.
JC, não faço ideia há quantos...mas sei que há muitos. Descobri-te através de uma amiga comum...e vamos ter que pôr a conversa em dia. Presume que deve demorar horas...
Também me soube bem reencontrar-te virtualmente e vai-me saber melhor reencontrar-te.
Até lá, vai passando que eu faço o mesmo.
Será que ainda tens o meu número?
O teu foi num telefone qualquer que se perdeu pelo caminho...
Beijos também cheios dessa coisa!!
Linda,claro que não te posso dar o numero por aqui,depois eram só fans a telefonar-me,hehehehe,e eu não tenho tempo,mas faz o seguinte quando me "visitares" la no blog esta o meu mail,manda-me o teu que eu dou-te o meu numero,boa?loool.
Gostei dos beijos cheios dessa"coisa",hehehehe.
beijos bons :o)
Claro que compreendo o problema de me dares o número aqui...compreende que o meu é o mesmo!!LOL
Vou enviar-te um email para marcarmos uma forma quaqluer de matar a coisa...claro que estou a falar da coisa do beijo. A saudade, it self!!!
sem comentarios! este site transformou-se em site de engate.
é o daniel viajar e isso vira esta bagunça
Arménio, sou apologista de engates a cores e ao vivo. Os virtuais não me enchem as medidas.
A minha rua é mais urbana pessoas que passam apressadas, carros parados que trazem e levam meninos, e o cruzar de quem se vê e nem se conhece (será do nº 4? Não deve ser do 9 pois mora do outro lado).
Bem um fim de semana á porta e vou abrir de deixar entrar
Nando, eu tinha-te dito que ainda havia mais pedacinhos de Alentejos na cidade.
Bom fim-de-semana. Deixê-mo-lo entrar, pois.
somos vizinhos. ai somos somos...
Posso continuar a sentir-me segura?? :))
É que até me podes ter roubado o nome do Blog, mas por favor não me mandes um vaso à cabeça, nem me roubes o gozo de viver ali...nem me faças mal ao gato...nem me metas cascas de banana no chão... Deixa lá manter a guerra sossegada aqui neste mundo virtual (se a quiseres manter...) e curtamos a Pena, no outro Mundo!
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