Se nós podiamos, porque é que eles não podem???
Ontem os telejornais entraram-me pela casa adentro com manifestações de estudantes do Secundário, ovos atirados a secretários de estado, em falta da Ministra, acusações de Associações de Pais e de secretários de estado que os estudantes estavam a ser manipulados, que não sabiam ao que iam, porque não tinham idade para saber ao que iam, que não eram daquela escola, vieram de outras escolas. De outras escolas onde os jovens são manipuláveis ou sabem ao que vão, não entendi bem.
Não sei se todos aqueles jovens conhecem o estatuto do aluno e sabem exactamente quem é a Ministra. Não sei se eram daquela ou de outra escola. Não sei se sabem que estatuto querem e porque não querem aquele. Mas, se me recordar do que eu sabia, queria, fazia, na idade deles, recuso-me a alinhar nas tentativas de imbecilização de que são alvos.
Quando se deu o 25 de Abril eu tinha 14 anos. No dia a seguir, fugi de casa dos meus avós com quem, então, vivia, por os meus pais serem emigrantes, e fui cercar o quartel da GNR que era também o covil da PIDE. Dei pontapés a cadeiras e mandei-as pela escada. Ajudei a despejar gavetas e a queimar jornais. Tinha 14 anos, menos do que têm muitos destes jovens, fugi de casa e sabia o que era a PIDE. Se, então, me perguntassem que Polícia queria, gaguejaria tanto como aqueles putos a quem as cãmaras das televisões perguntavam que estatuto querem. Se me perguntassem que mundo queria, então, nem deveria gaguejar. Possivelemente fugia. Fazia lá eu ideia que mundo queria. No entanto, ninguém me manipulou para ir queimar os jornais dos Pides. No entanto, sabia o que ali estava a fazer e sobretudo, sabia que era aquilo que queria fazer.
Nos meses e nos anos a seguir, com a idade destes putos que hoje se manifestam nas ruas e encerram escolas a cadeado, saí para a rua para exigir a liberdade, para lutar pela justiça, para desfraldar bandeiras em que falava de revolução. Possivelmente, ainda aí, não sabia que revolução queria. Não fui manipulada, não me impuseram lutas, não me fizeram lavagens ao cérebro. Tive, apenas, a sorte dos meus pais e daquela época me terem permitido ter 14, 15 ou 16 anos e poder crescer a contestar, a lutar, a ser ingénua, a ser radical, a ser inconsciente, a ser utópica, a ser idealista, a não medir os riscos todos dos actos todos, a ser incoerente.
Possivelmente grande parte dos miudos que hoje contestam a Ministra não sabem bem porque o fazem. Possivelmente eu também não sabia bem porque lutava contra os exames...possivelmente alguns daqueles putos mandam ovos por pura infantilidade. Possivelmente eu também, quando ainda antes do 25 de Abril, enchia as ruas de Santarem a colar auto-colantes depois do assasssinato de Ribeiro Santos, sem imaginar os riscos que eu corria e que corria quem mos tinha dado.
Não sei se todos aqueles jovens conhecem o estatuto do aluno e sabem exactamente quem é a Ministra. Não sei se eram daquela ou de outra escola. Não sei se sabem que estatuto querem e porque não querem aquele. Mas, se me recordar do que eu sabia, queria, fazia, na idade deles, recuso-me a alinhar nas tentativas de imbecilização de que são alvos.
Quando se deu o 25 de Abril eu tinha 14 anos. No dia a seguir, fugi de casa dos meus avós com quem, então, vivia, por os meus pais serem emigrantes, e fui cercar o quartel da GNR que era também o covil da PIDE. Dei pontapés a cadeiras e mandei-as pela escada. Ajudei a despejar gavetas e a queimar jornais. Tinha 14 anos, menos do que têm muitos destes jovens, fugi de casa e sabia o que era a PIDE. Se, então, me perguntassem que Polícia queria, gaguejaria tanto como aqueles putos a quem as cãmaras das televisões perguntavam que estatuto querem. Se me perguntassem que mundo queria, então, nem deveria gaguejar. Possivelemente fugia. Fazia lá eu ideia que mundo queria. No entanto, ninguém me manipulou para ir queimar os jornais dos Pides. No entanto, sabia o que ali estava a fazer e sobretudo, sabia que era aquilo que queria fazer.
Nos meses e nos anos a seguir, com a idade destes putos que hoje se manifestam nas ruas e encerram escolas a cadeado, saí para a rua para exigir a liberdade, para lutar pela justiça, para desfraldar bandeiras em que falava de revolução. Possivelmente, ainda aí, não sabia que revolução queria. Não fui manipulada, não me impuseram lutas, não me fizeram lavagens ao cérebro. Tive, apenas, a sorte dos meus pais e daquela época me terem permitido ter 14, 15 ou 16 anos e poder crescer a contestar, a lutar, a ser ingénua, a ser radical, a ser inconsciente, a ser utópica, a ser idealista, a não medir os riscos todos dos actos todos, a ser incoerente.
Possivelmente grande parte dos miudos que hoje contestam a Ministra não sabem bem porque o fazem. Possivelmente eu também não sabia bem porque lutava contra os exames...possivelmente alguns daqueles putos mandam ovos por pura infantilidade. Possivelmente eu também, quando ainda antes do 25 de Abril, enchia as ruas de Santarem a colar auto-colantes depois do assasssinato de Ribeiro Santos, sem imaginar os riscos que eu corria e que corria quem mos tinha dado.
Não sei se os miudos sabem exactamente porque é que lutam e pelo que lutam. Eu também não sei se na idade deles sabia.
A única coisa que lamento é que, com a idade deles eu quisesse mudar o Mundo e eles se pareçam contentar em mudar o estatuto do aluno...
Tudo o resto acho que faz parte do crescimento deles como cidadãos. E, apenas, espero, que tenham a mesma determinação, mesmo dispensando os ovos, quando chegar a sua altura de tomarem em mãos este País. A minha geração, a que partiu as cadeiras da Pide e colou autocolantes contra o fascismo e quis mudar o mundo, não teve. Não tem.
As lágrimas de crocodilo irritam-me. Ser-se jovem é ser-se assim. Nós fomos assim e venha o primeiro de nós que diga que se arrepende de ter sido assim.
E que venha o primeiro que aceite que se diga que havia alguém que puxava os cordelinhos e que nós, tais robertos da casinha de madeira da praia, iamos, gritávamos, contestávamos, lutavamos porque nos manipulavam.
Se eu tiver um ovo à mão e houver alguém que tivesse tido 14 anos no 25 de Abril e me disser isso...sou bem capaz de o usar.
Etiquetas: Isabel Faria
2Comenta Este Post
APOIADO!
"Não sei se os miudos sabem exactamente porque é que lutam e pelo que lutam. Eu também não sei se na idade deles sabia."
De certeza que não sabias! E sabes porquê? É que ainda hoje não sabes.
Trata-te que ainda estás a tempo.
Vai de vez em quando ao médico, psiquiatra de preferência, e não deixes de tomar a medicação. Vais ver que isso passa-te.
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