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sexta-feira, abril 24, 2009

Abril é hoje

Este texto foi escrito para o notícias do Seixal e foi hoje publicado. Mas queria partilha-lo com vocês.
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Para alguém que tem 35 anos, falar do 25 de Abril de 1974 não pode ser um exercício de memória. Pelo simples facto de não haver memória desse tempo. Há apenas uma sucessão de factos históricos e de outros relatados por quem viveu essa data. E já agora os relatos do que, e como se vivia em Portugal antes dessa data.
Mas uma pessoa de 35 anos está perfeitamente á vontade para falar do que fizeram com esse ideal chamados liberdade, justiça e fraternidade. Ou para pegar na versão metafórica de Sergio Godinho da canção “Liberdade”. A paz, o pão, a habitação, a saúde e a educação. Porque sou da geração a quem não permitiram viver o sonho de Abril. Porque sou de uma geração que assistiu ao cair do R passando o 25 de Abril de Revolução a evolução. Que assistiu primeiro ao meter do socialismo na gaveta e depois mais recentemente, até os cravos ficaram por lá fechados e guardado por Cavaco Silva que nem o simbolismo da data suporta. Porque sou da geração que assistiu a que muito do que foi sendo conquistado por quem fez o 25 de Abril fosse sendo perdido, ainda por cima com um sentimento de impotência que não poderia nunca existir.
Por isso o 25 de Abril há muito que deixou de ser apenas uma data festiva para passar a ser um misto de sentimentos. Por um lado de gratidão a todos os que lutaram durante décadas para que esse dia fosse possível e a todos aqueles que no terreno o tornaram realidade. Mas ao mesmo tempo de revolta contra todos aqueles que destruíram o sonho de Abril. Por um lado o prazer em festejar a liberdade e por outro a amargura de ter de usar esse dia para lutar, para não a perder de novo.
Falar do 25 de Abril hoje, 35 anos depois não é possível sem falarmos do Código de Trabalho seja ele na versão Bagão Félix ou na revista e piorada de Vieira da Silva. Porque é uma regressão social que viola o espírito de Abril.
Falar do 25 de Abril hoje, não é possível sem falarmos da pobreza escondida ou evidente que cada vez mais grassa os lares portugueses.
Falar do 25 de Abril hoje, não é possível sem falarmos do desemprego, da ausência de protecção social, da discriminação de género, dos ordenados de 500 Euros, do serviço Nacional de Saúde que não temos, da educação que deveríamos ter, da fome ou da miséria. Falar do 25 de Abril hoje, não é possível sem nos lembrarmos das formas veladas de censura que os nossos sucessivos governantes têm tentado exercer sobre os média e que a cada dia que passam vão tendo mais um expoente máximo com este (des)governo da nação. Ou da nova polícia de costumes chamada ASAE que qual força policial do antigamente nos tenta formatar a uma visão neo-liberal da nova sociedade florescente. Não podemos falar de Abril sem lembrar a guerra que esta data quis acabar sem logo nos lembrarmos que novamente temos tropas em cenários de guerra que nada têm a ver connosco, com os valores que defendemos ou com a constituição que Abril viu nascer. Não podemos falar hoje de Abril e alhear-nos da crise que nos fustiga e atormenta sem pensarmos que os responsáveis por ela ainda estão sentados nos lugares de decisão e preparam-se alegremente para novos mandatos.
Por isso neste ano de tantas e decisivas eleições é altura do povo saber dar a resposta adequada e a fazer renascer o espírito de Abril. Em 1974 homens e mulheres deste país deram um exemplo heróico ao país, á Europa e ao Mundo ao fazer uma revolução quase sem sangue que correu do poder com quem tanto mal nos faz. Hoje por muito que uma nova revolução seja necessária e urgente ainda temos uma arma e que em tempos foi definida como sendo a arma do povo. O voto. Usemo-la para varrer dos lugares de decisão que tudo tem feito para matar Abril. Usemo-lo para por fim ao rotativismo doentio em que os partidos do centrão tornaram a nossa democracia. Usemo-lo para fazer renascer Abril.
Porque só haverá “liberdade a sério quando houver liberdade de mudar e decidir”.

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