Não aceito lições de esquerdismo ...

Desculpem eu não ser de esquerda. Eu penetencio-me por ser um perigoso direitista. Desculpem-me o facto de afinal eu não ser dos puros, ortodoxos. Da única esquerda que pode existir em Portugal. Eu sei que deveria ter pedido permissão para tentar ser de esquerda. Nunca mais acontecerá. Da próxima vez que eu pensar que sou de esquerda vou á Soeiro Pereira Gomes perguntar o que afinal eu sou. Eles é que sabem. Eles é que decidem quem em Portugal pode ser de esquerda e quem não. Quem reune as bases ideológicas para poder entrar nesse restrito clube dos puros. Só espero é que o clube se torne um dia tão restrito que deixe de ter expressão. Era demasiado mau para o país.

Nota (ou a posta propriamente dita): Qualquer semelhança entre aquilo que é escrito em cima e o que eu penso é mera ficção. Para mim a esquerda há-de ser ser sempre a da pluralidade de opiniões, a da diferença, a do debate e da contestação. A esquerda há-de ser sempre a do povo e não a dos burocratas. Para mim a esquerda só será esquerda se souber juntar comunistas, socialistas, sociais democratas e todos os que lutem contra este mundo capitalista e neo liberal, que saibam e queiram defender uma alter globalização. Por isso milito onde milito, por isso defendo o que defendo. Porque acredito que a esquerda é tudo aquilo que alguns querem negar. Porque não acredito no partido único. Teoria bem expressa no texto linkado em cima. Não acredito em ditaduras nem que estas sejam do proletariado. Não me revejo no modelo falido do leste, nem no modelo Comuno-capitalista da China e muito menos no modelo Monarco-comunista da Coreia. Não quero viver no Laos ou no Vietname. Gosto e quero sociedades plurais onde o socialismo seja poder porque o povo o escolhe e não porque o grande líder o decide. Quero ter um poder que seja corrido nas urnas no dia em que deixar de servir o povo e não um poder que se diz legitimado pelas suas convicções e caprichos. Não há política boa sem o apoio dos povos.

Dizer por fim que não aceito lições de esquerdismo de quem não tem autoridade moral ou intelectual para o fazer. Não aceito lições de esquerdismo de quem conseguiu em 30 anos acabar com o movimento sindical em Portugal. Não aceito lições de esquerdismo de quem boicota todas as lutas sociais em Portugal. Não aceito lições de esquerdismo a quem defendeu a nível europeu, no Partido das Esquerda Europeias, a teoria de ou nós (PCP) ou eles (BE) sendo incapaz de entender a diversidade como factor de construção. Não aceito lições de esquerdismo de quem a nível nacional diz combater a direita e que nas autarquias se alia ao PSD e ao CDS.

Não aceito lições de esquerdismo porque a minha esquerda é com eles, com todos os defeitos que de um lado e de outro possam haver. Não há uma esquerda perfeita, há muitas esquerdas. A minha esquerda é com todos que a queiram construir, sem tentativas de subjugação de ninguém porque todos juntos somos poucos para esta luta. É pena que haja quem em nome dos interesses ainda não tenha percebido isso.