As promessas são para cumprir
Há anos que luto pela despenalização do aborto. Nunca tive dúvidas que as mulheres não deveriam ser penalizadas por decidirem interromper uma gravidez. E sempre acreditei que as mulheres o fazem duma forma consciente.
Não tinha pensado muito na necessidade de uma consulta prévia anterior à realização do aborto, apesar de sempre ter considerado indispensável o acompanhamento posterior.
Mas isso sou eu.
Durante a campanha para o Referendo do passado Domingo, José Sócrates assumiu que contemplaria, caso o Sim ganhasse, o aconselhamento pré-aborto, um período de reflexão e um acompanhamento pós aborto, dando para o efeito o exemplo da Alemanha, como modelo a seguir. Ainda no último Domingo, Sócrates, já após conhecer os resultados, voltou a falar no aconselhamento prévio.
Hoje, no início das jornadas parlamentares do PS, Alberto Martins, declarou que o aconselhamento prévio nunca seria obrigatório, pois isso seria desvirtuar o resultado do Referendo.
Sejamos claro, uma consulta prévia não implica que não seja a mulher a optar e, logo, não me parece contrário ao resultado do Referendo. Mesmo que se lhe chame aconselhamento. Claro que aconselhamento não pode querer dizer tentativa de dissuação. Mas isso cabe aos moldes em que se regulamenta a Lei, serem claros.
Sejamos ainda mais claros. Eu não precisei desta promessa para votar Sim. Eu, Isabel Faria. Não faço idéia de quantas pessoas votaram Sim, acreditando nessa promessa eleitoral de que haveria um processo ante e pós aborto.
Sejamos, finalmente, ainda mais claros, as promessas eleitorais são para cumprir. Não tenho legitimdade para criticar o PS por ter prometido alterar o Código de Trabalho (só para dar o exemplo que, mais rapidamente, me veio à memória) durante a campanha para as Legislativas e não ter honrado as suas promessas e não lhe exigir o mesmo, neste caso. Não há promessas para cumprir e outras não, conforme achemos mais ou menos necessário e correcto o seu objectivo. Há uma semana Sócrates fazia uma promessa eleitoral. Não interessa a nossa opinião sobre ela. Temos a obrigação de lhe exigir que a cumpra. Em nome da credibilidade dos agentes políticos que não podemos arriscar que se continue a perder, sob pena de estarmos a desvirtuar e a arriscar a Democracia.
Etiquetas: Isabel Faria
6Comenta Este Post
a única coisa que se votou foi que se concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado. mais nada
Caro anónimo, se ler o meu post entenderá de que não estou a falar do que foi referendado. Estou a falar das promessas eleitorais que Sócrates fez.
E que se não cumprir, tal como não tem cumprido muitas outras qe fez durante a campanha eleitoral, deverá ser por isso questionado.E criticado. Eu conto fazê-lo. Ainda sou do tempo em que a palavra das pessoas valia alguma coisa. Na vida pessoal, do dia a dia. Na vida pública...e não me apetece nada mudar.Feitios.
a única coisa que se votou foi que se concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado. mais nada
Qual democracia?
Voçês deviam beijar os pés do Sócrates por vos ter dado o sabor de uma coisa que raras vezes podem sentir... a vitória!
Afinal parece que a montanha pariu um rato pois o BE e o PCP já se manifestaram contra as consultas de aconselhamento prévio...
Informem-se!
Anónimo, essa do rato nao entendi: O que é que eu tenho a ver com isso?
Até posso concordar e tudo...ou não. E isso muda o quê? O PS fez uma promessa que não está a cumprir. O que é que isso tem a ver com eu concordar, o PCP concordar ou o BE concordar ou não, com o tal aconselhamento?
Repito o que escrevi: eu até posso ser contra tal aconselhamento, mas a partir do momento em que o PS assumiu na campanha que o contemplaria, só tinha que o contemplar. Mantenho o título do post.
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