Rescaldo(s)

Não vale a pena optar sistematicamente por encurtar a memória.

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Não é porque os defensores do Não, gastaram os últimos dias da campanha, depois de todas as sondagens lhes mostrarem que o Sim iria ganhar, a tentar baralhar, a fazer golpes de rins, a manipular, a usar os meios de comunicação para transmitir posições, que nos vamos esquecer que estas são opiniões que nunca, ao longo dos anos, defenderam...
Não é porque, na SIC Notícias, directores de jornais e os tais fazedores de opinião publica, para quem deixo os louros de fazerem análise política, afirmaram ontem que a C. Social tinha sido exemplar na isenção com que tratou esta campanha, que nos vamos esquecer do que foi, por exemplo, a actuação da Televisão Pública. Não nos vamos esquecer do Prós e Contras, a pedido de desforra. Não nos vamos esquecer da censura da RDP, não nos vamos esquecer da diferença de tratamento e de tempo das reportagens das iniciativa do Não e das do Sim, não nos vamos esquecer dos tempos de antena semanais de Marcelo Rebelo de Sousa, na RTP 1...
Não é porque os mesmos comentadores falavam ontem da “posição moderada “ da Igreja, que nos vamos esquecer que muitos padres em muitas dioceses deste País, passaram as missas dominicais a chamar assassinas às mulheres que abortaram /abortam, a ameaçar fiéis com a excomunhão, a usar as Igrejas, que deveriam ser lugares de culto, para descarada propaganda política, a usar a Comunicação Social, para Bispos e Padres, apresentarem as suas convicções, morais e legítimas, como dados inquestionáveis...
Não é porque médicos, mais uma vez, vergaram perante a falta de vergonha e de profissionalismo, ao apresentarem, como cientificas, opiniões deles próprios, pejadas de opções (mais uma vez, repito, legítimas) morais, como o caso daquela médica que falava no sentir dor às 10 semanas de vida, ou de tantos outros que inventaram um tal de Sindroma Pós Aborto, que nenhuma organização científica confirma, que nos vamos esquecer que estes médicos nunca se preocuparam com as mortes e com as lesões físicas e psicológias resultantes de abortos clandestinos...

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Os defensores da penalização e da prisão para a mulher que aborta sofreram, ontem, uma pesada derrota.uma pesada derrota.
A despenalização da mulher, o fim do aborto clandestino, o respeito pela capacidade da mulher de escolher o momento de ser ou não ser mãe, a opção pela saúde e pela segurança em detrimento da clandestinidade e das sequelas físicas de abortos feitos sem meios e sem condições, venceram ontem o Referendo, apesar da Comunicação Social, da posição oficial da Igreja, da falta de ética de muitos médicos.
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Para terminar, relembrar a posição hipócrita e mentirosa de Marques Mendes.
Enaltecer a correcção da posição do Bloco que sempre defendeu um novo Referendo (basta recordar algumas palavras dos defensores do Não, que se a Direita voltar ao Poder, farão um novo Referendo para voltar a alterar a Lei, para entender que o seria se a Lei fosse alterada, sem recorrer à opinião do Povo português).
Congratular-me com o facto de, neste ponto, Sócrates ter cumprido os seus compromissos eleitorais.

E lamentar que o PCP tenha demonstrado, mais uma vez, a sua incapacidade em abandonar o seu habitual sectarismo, recusando-se, na grande maioria dos casos, a participar nas acções conjuntas dos outros Movimentos Cívicos pelo Sim. Vi ontem alguns dirigentes do PCP, no Hotel Altis. Soube a pouco. Sobretudo, a tardio.