Educação Sexual
Este é o subtítulo de uma notícia do DN de hoje. Quem, como tanta gente faz, só ler "as gordas" do jornal vai assumir isto com sendo a verdade, embora o corpo da notícia seja sobre algo completamente diferente. A notícia em si fala de algo que já toda a gente sabe. Que a Educação Sexual em Portugal não existe nem se sabe quando vai existir. Que a lei é letra morta porque sectores retrógados, especialmente ligados à Igreja, não querem que esta lei seja aplicada. O que me custa a perceber é qual a dificuldade desta aplicação. Parece-me consensual que só com uma juventude informada se pode evitar males maiores. Doenças infecto-contagiosas, gravidezes indesejadas, sexualidades mal concebidos, estigmas e descriminações. Parece-me ainda consensual que o Estado, através da escola,tem a obrigação de criar consciência. Tal é reconhecido nas questões ambientais, nas questões de cidadania e não se entende porque não nas questões sexuais e de género.
Eu sou pai e felizmente em minha casa as questões da sexualidade não são tema tabú. Aos 7 anos, o meu filho sabe que as crianças não vêm na cegonha de Paris, que o amor pode acontecer entre qualquer pessoa, e que não há homosexuais, heterosexuais ou bisexuais. Há pessoas. Pessoas que são iguais. Sabe que a sua pilinha, um dia, há-de servir para mais que satisfazer as suas necessidades fisiológicas embora ele, esta parte, por ausência de experiência, ainda não sabe bem o que quer dizer. Mas sei que em muitos lares as coisas não são assim. Pelas mais diversas razões e todas elas compreensíveis pelo que o Estado, via escola, deve assegurar esse esclarecimento.
Ainda me lembro dos risos e olhares envergonhados nas minhas aulas de Biologia quando demos o aparelho reprodutor. Mostrar assim os órgãos sexuais e as suas funcionalidades. Coisa nova para muita gente que cresceu a aprender que há coisas das quais não se fala. Raparigas, especialmente estas, que eram proibidas pelos pais de namorarem, sob pena de castigos. Não foi há muito tempo, foi a meio dos anos 80 e até hoje houve muita coisa que não mudou. Não é esta sociedade que eu quero. Porque a conheço e sei o que acarreta.
Mais que inevitável é urgente que se introduza a Educação Sexual nas escolas, e não de uma forma opcional como já ouvi algumas pessoas defenderem, do género Religião e Moral, como disciplina, não sujeita a nota para contagem de reprovação ou aprovação do ano mas com programa e linha condutora. Com professores capazes de darem esta disciplina, sexólogos, psicólogos o que quer que seja que esteja habilitado a dar uma disciplina com especificidades. Porque a nossa juventude merece.
Etiquetas: Daniel Arruda
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Belo post Daniel. A propósito da masturbação fazer mal à saúde, vem-me à memória um pequeno seminário que frequantei quando tinha uns 16 anitos promovido pelo Colégio dos Salesianos onde frequentava o então 6º ano liceal. Nesse seminário aparecia o então jovem cantor José Barata Moura então interprete e autor da tal "caridadezinha". Na altura veio dizer a cerca de uns 30 alunos que a masturbação era uma coisa horrorosa, que fazia mal ao cérebro e que o pessoal se devia guardar para o matrimónio onde então, enfim, poderia tirar a barriga de misérias. Hoje José Barata Moura é reitor da Universidade Clássica de Lisboa e penso que já não pensa assim.
Desculpem, foi Reitor.
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