Uns são muito mais iguais que outros
Quase dois anos depois, afinal não são todos iguais, é possível lá estar e não fazer o mesmo, não se trata só de mudar de insectos, apesar de nem sempre insectos diferentes serem suficientes para mudar o resto e valeu a pena o trabalho de “lá ir”. Mudou alguma coisa.
Claro que a cidade continua suja e abandonada. Claro que o trânsito continua um caos. Claro que a imoralidade e a corrupção foi, apenas, aflorada, claro que a incompetência e o desleixe continuaram soberanos, claro que o Túnel trouxe mais milhares de carros para Lisboa, como se Lisboa precisasse de carros e não de gente, claro que o Terreiro do Paço continua escavado e encravado à espera do metropolitano porque tal como no Túnel do Marquês, valores mais altos se levantaram e não foram denunciados a tempo, claro que, à noite, Lisboa continua uma cidade abandonada e com gente idosa que se esconde do medo e da solidão por detrás das cortinas amareladas pelo tempo, claro que em Lisboa continuam os Portugais Novos e os condomínios de Alcantara ou da António Maria Cardoso, claro que a situação financeira da Câmara piorou.
Depois de tudo tão claro e porque não somos cidadãos nem distraídos nem invisuais, temos, no entanto, nomes para quem tentou que tudo continuasse na mesma...e para quem tentou meter a tal pedra no sapato de que fala Carmona.
E ficam algumas perguntas:
O que fez cada um de nós, dos que acham que é tudo igual e que o melhor é não nos darmos ao trabalho de "lá ir", pela sua rua, o seu bairro ou a sua cidade?
Quem ousou ser cidadão de Lisboa (não Deus, que nisto da vida e da Política, os Deuses só mesmo com muita, muita fé) e denunciou o que julgava mal, apresentou propostas para o que julgava ter que ser modificado, denunciou imoralidades e mentiras, chamou os bois pelo nome e lhes pegou pelos cornos? Quem, de entre nós, trocou a segurança do emprego e a paz da casa, pela incerteza da luta e a turbulência das convicções?
Quem, de entre nós, cidadãos de Lisboa, que aqui vivemos e que aqui criamos os nossos filhos, que escolhemos esta cidade para presente e para futuro, quem, de entre nós, fez algo por ela?
Quem, de entre nós, se resolve a desistir de uma vez de ser Velho do Restelo? A deixar de estar sempre pronto a atirar pedras, a fazer insinuações, a desconfiar do´outro e sempre disponível para não se chatear muito e optar por deculpabilizar, assobiar paro o lado, fingir que não vê, não exigir responsabilidades. Escolher a má língua e a insinuação em detrimento da responsabilização dele próprio e do outro.
Não sei se o que não perdoamos é que sejam todos iguais ou que haja quem nos queira provar que há uns mais iguais que outros...e que não lhes perdoemos as insónias que isso nos dá.
Claro que neste post não entram as campanhas da Comunicação Social. Essas têm um nome claro e não enganam ninguém. Chama-se dinheiro. E serve para comprar quase tudo. Até porque me atrevo a julgar que elas são muito menos perigosas do que o bichinho que cruza braços e fecha olhos. Dantes chamavamos-lhe alienação. Hoje chamo-lhe qualquer coisa. Que se lixe o nome.
Não lhe descubrimos, parece, é o antibiótico...e ja lá vão uns anos bons desde os clássicos...
Etiquetas: Isabel Faria
7Comenta Este Post
Um post cheio de força. Ao teu estilo! O estilo que faz falta (sem qualquer tipo de trocadilho!)! Bom post!
Mas olha que o trcadilho teve piada!!
Obrigada,Farpas. Ando um bocado irritadiça com alguns comodismos mascarados de sobrancerias e de superioridades morais...
(mais uma vez obrigada por continuares a desempenhar tão bem o teu papel de Anjo da Guarda da nossa coluna musical...e das outras!!!O Troll seria um Blog mudo sem ti!! LOL).
Pois é mas tambem se vê desta vez muito mais desinteresse, que se pode reflectir num record de abstenções.
Mas a Portugal ainda não chegou a maxima daquele presidente americano, adaptada ao momento.
Não perguntes o que é que Lisboa pode fazer por ti, mas sim o que é que tu podes fazer por Lisboa.
E até sexta-feira vamos á luta.
Como diz o povo até ao lavar dos cestos é vindima.
Desta vez Isabel, receio muito a abstenção. Há muitos motivos para ela. A campanha tem sido fraquinha, são só 2 anos, há as férias marcadas (e afinal «isto são só umas intercalares de um município») e as pessoas andam claramente desanimadas.
De resto sabes que também penso como tu, e sobretudo não podemos esperar que os outros resolvam os problemas que são de todos, se nós lavamos as mãos deles.
Eu tenho conhecimento que muita gente dá de férias!
Eu tenho conhecimento que muita gente dá de férias!
Eu tenho conhecimento que muita gente já está de férias!
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