Num Hospital deste país à beira-mar
A urgência do Hospital de Faro tem estado animada. Na segunda-feira, só nos corredores, viam-se mais de oitenta macas a monte.
Em cada maca um amigo. Um amigo que só pensa nele. Que resolve chamar o 112 para se pavonear deitado nos corredores do Hospital. Em lugares aprazíveis há quem tenha destas manias.
A directora clínica do Hospital diz que não se atingiu a situação de ruptura. É evidente. Ruptura seria se o bloco da Urgência soltasse amarras e fosse à deriva em direcção à Ria Formosa. Onde cabem oitenta macas nos corredores cabem muitas mais. Basta colocá-las na vertical.
Os médicos da urgência também são uns impertinentes. Querem condições mirabolantes para trabalhar. Então, se não as têm nos corredores, por que não atender os pacientes no jardim? Há mais espaço, árvores frondosas, ar puro. E a chuva até enrija os ossos do doente mais madraço.
A racionalização de recursos do Ministério da Saúde está correcta. Se, no Alentejo, consigo parir na ambulância, a caminho de Espanha, por que não posso espirrar, acamado, à porta do Hospital de Faro? Era o que faltava! Pela nossa saúde! Se o ministro o Diabo seja cego, surdo, mudo e iletrado adoecer nalguma sua deslocação ao Algarve, pode sempre, enquanto se passeia deitado pelo hospital, avaliar a excelência da sua política de Saúde. E, quiçá, ouvir da garganta inflamada do senhor Manel do Patacão, na maca ao lado: Ó Campos, passe-me aí Candida Albicans que tenho aqui Streptococcus Pneumoniae para a troca!. Em caso de doença, sejamos pacientes. E cândidos!
José Alberto Quaresma, Escritor
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