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quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Ainda a menina da TV alemã

Nestes meus dias e ausência houve por aí um tema ao qual eu queria voltar. O da menina apresentadora da TV alemã.
A minha 1ª reacção quando me contaram a história foi a de dizer:
E ela foi logo corrida não????
Porque é assim que um alemão pensa. Porque, quer queiramos quer não, os alemães têm esse sentimento. E eu estou à vontade para falar. Nasci na Alemanha, vivi lá, tenho uma mãe e toda a família alemã, convivo com eles diariamente e orgulho-me de, mesmo sendo português no BI, ter essa costela. Antes de ter uma qualquer nacionalidade, eu sou eu.
É certo que esta reacção, a de perguntar se ela não foi corrida, pode até nem ser perceptível para muita gente e eu, a frio, talvez até reagisse de outra forma, mais pensada e mais racional, mas, de facto, esta é a 1ª reacção.
Ouvi por aí, na net, no entanto algumas barbaridades que não podem passar sem um comentário. Não vou, obviamente “fulanizar”, mas há coisas que só se compreendem se tiverem os dados culturais todos e nesse caso uma análise política não é eficaz nem acertada.
É um facto que a questão do holocausto foi amplamente debatida na classe política alemã e até nalguma sociedade, mas não deixa de ser facto relevante que o comum mortal, não quer ouvir falar do holocausto e da 2ª Guerra. Não que o negue, mas porque é uma página da história que ainda não foi virada. Esteve prestes a sê-la por volta de 1990, no aparecimento de uma nova geração muito liberta quer pela vivência quer pela história desta guerra, mas a sociedade internacional fez questão de não o deixar, porque o muro de Berlim caiu e quem não se lembra da quantidade de documentários feitos na altura sobre a Guerra, sobre o pós guerra, sobre a 1ª Guerra, sobre o ressurgimento de uma potência que tanto mal tinha feito ao mundo. Perdeu-se uma oportunidade e, pior, acantonou-se uma nova geração para um canto onde já estavam outras que, disfarçadamente, ainda pediam desculpas quase com medo ou vergonha de serem alemães.
A minha avó e tios ainda hoje não querem ouvir falar na Guerra.
Hoje estamos noutra geração. Diferente sem dúvida. Vou aqui relatar dois episódios que eu vivi que demonstra um pouco aquilo que está a ser o “Grito do Ipiranga” alemão.
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Em 2006, estive na Alemanha em trabalho e aproveitei para ver a meia-final entre França e Portugal no estádio Arena de Munique. No dia antes, jogaram Alemanha e Itália, em Dortmund (este facto tem toda a importância dado que se trata de uma região centro sul, industrial, fortemente marcada quer ideológica quer economicamente pelo Nacional Socialismo) e o jogo foi decidido nos últimos momentos do prolongamento. Dramático, portanto. No final com todos os jogadores caídos no relvado e um estadio emudecido gritou-se numa das bancadas:
“Steh auf und sing wen du Deutcher bist”, o que quer dizer em português “levanta-te e canta se és alemão”. Parece pouco não é? No sítio onde eu estava a ver o jogo todos se levantaram e acompanharam o estádio a gritar isto repetidas vezes, e, ao meu lado, um senhor de 50 e poucos anos deixou cair umas lágrimas enquanto me abraçou e disse “Os anos que eu esperei para voltar a ter orgulho e gritar que sou Alemão.”. No dia seguinte, já eu tinha aterrado em Munique e estava na Karlsplatz, sempre composta com os seus chafarizes e cheia de turistas da bola a comerem salsichas e a beberem canecas de litro quando 8 ou 9 franceses iniciaram a Marselhesa. A frase do dia anterior ecoou de novo, só que desta vez seguida do hino alemão cantado com as 3 estrofes por inteiro. Para quem não sabe, o hino alemão actualmente cantado de forma oficial foi manietado de parte de uma das suas estrofes. Porque poderia ser mal interpretado por outros. No fim, vi orgulho. Pela 1ª vez os franceses foram vencidos no que eles tinham de melhor. O seu orgulho nacional. E vi alemães felizes.
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Podem-me dizer que isto foi futebol. De facto. Mas mostra muito do que vai naquelas almas. Estes são apenas dois exemplos do que é um orgulho ferido a ponto de se sentir vergonha. Por isso, há frases que não se dizem. Porventura não se compreende quando nunca se esteve em Aschwitz ou em Potsdam. Quando nunca se conviveu com quem e para quem esta frase representa todo o seu horror de uma vida. Não há desculpas que se aceitem depois disto e acreditem que não vai haver memória que apague isto. É um facto que há hoje uma nova geração que está a mudar mas as feridas ainda estão abertas. Não se trata de pagar uma dívida que essa os alemães já a pagaram no corpo com a miséria os dois pós guerra em que os amigos aliados os sugaram até á medula e onde um povo passou fome. É tão só uma ferida que ainda está aberta e que nenhum poderio económico conseguiu até hoje curar.

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5Comenta Este Post

At 2/07/2008 10:56 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Daniel, li o teu post atentamente. Aliás, na altura em que escrevi o meu, tive pena de não ter tido acesso a um qualquer "juíz em causa própria" que sabia que tu serias.
Mas com o que li do teu post mantenho a minha conclusão. Tu dizes que o povo alemão ainda não virou a página...eu escrevi que o povo alemão ainda se envergonha do seu passado.
O que eu dúvido é que episódios como o do afastamento da senhora façam parte desse grito de Ipiranga de que falas quando os alemãos ousam cantar o hino sem recearem que lhes lembrem Hitler...

Como dizes no teu post é uma ferida que continua aberta...o que eu escrevi é que nem sempre as nossas feridas abertas nos deixam ser solidários com as feridas dos outros e lembrei o povo palestiniano. E que nem sempre as feridas abertas, nos servem de lição para ensinar outros a não as abrirem. E lembrei a complacência (motivada pela culpa?)com Israel.

 
At 2/08/2008 4:23 da tarde, Blogger ilha_man escreveu...

Concordo em geral com o texto principalmente quando diz que a comunidade internacional não deixa que as feridas se apaguem. A única parte do texto em que discordo é: "Não se trata de pagar uma dívida que essa os alemães já a pagaram no corpo com a miséria os dois pós guerra em que os amigos aliados os sugaram até á medula e onde um povo passou fome."...Coitadinhos dos alemães,a alemanha federal nem foi ajudada pelos EUA no pós segunda guerra...Quem sofreu na pele, e até à bem pouco tempo, as grandes políticas aliadas do pós guerra foram os países do Pacto de Varsóvia, que depois de 5 anos em guerra levaram com 45 anos de ditadura comunista.

 
At 2/08/2008 4:56 da tarde, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Isabel, mas eu não discordei do teu texto. No que discordo de ti é que se veja a questão como uma coisa política ou ideológica.

Ilha, basta olhar a história para ver o porque da acsenção de Hitler no pós 1ª Guerra. Foi de facto devido ao que o povo alemão estava a passar.

 
At 2/08/2008 5:10 da tarde, Blogger ilha_man escreveu...

Eu sei Daniel, por isso disse "no pós segunda guerra"...

 
At 2/09/2008 2:20 da manhã, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Ilha, mesmo aí na 2ª Guerra o povo alemão não sentiu essas ajudas que de facto fortaleceram a economia e os grupos económicos mas a realiade é que o povo andou ás casaca durante anos.
A minha avó vivia no campo e fazia das tripas coração para sobreviver.
Par ateres uma ideia a carne do batizado da minha mãe foi cão porque eram mais baratos e fáceis de encontrar. Mas na altura enganava-se a fome assim.

 

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