Mulher
Nunca decorei o nome. Ela bem tentava sempre que nos cruzámos, ela, de esfregona e de balde na mão. Ou enquanto despejava o lixo do escritório. Ou enquanto me contava como eram feitos os nomes próprios e os apelidos na sua terra. "Não Isabel, não é assim. O meu marido é...ov, eu, quando me casei, fiquei...ova. Entendes?". Já tinha entendido, mas gosto do sotaque dela, da forma correcta como usa os verbos em português, das expessões que foi aprendendo "Mas porque raio eu não posso votar, pá!!??".
Trabalha numa empresa de Trabalho Temporário.
Ontem de manhã, disseram-lhe que iriam dispensar as empregadas de limpeza "extras". Ela, antes de partir, despediu-se de nós, um a um. "Sim, eu tenho trabalho noutro lado...mas é começar tudo de novo. Aqui eu conheço vocês, gosto do vosso cheiro e das vossas vozes...", dizia, com os olhos vermelhos e a voz embargada. "Já tenho tantas saudades, Isabel!!".
É imigrante, é precária, foi das melhores pessoas que conheci nos últimos anos, é bonita, é de uma afectividade contagiante, tem uma paciência extrema, que manifestava, sempre que me explicava o nome, veio para Portugal à procura de uma vida melhor, é uma trabalhadora, que qualquer empresa, chamaria de "exemplar": mesmo quando tinha tudo às suas costas, num trabalho, que sabia sem futuro e sem reconhecimento, era de uma entrega total, tem um curso superior na sua terra e aqui limpava o pó das nossas secretárias. É mulher. E o dia de hoje é dela.
Para não lhe chamar aquele nome esquisito, perguntei-lhe se lhe podia chamar Váti...ela disse-me que sim.Com aquele sorriso do tamanho do mundo.
Etiquetas: Isabel Faria
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Lindo.
Muitos beijinhos para ti.
Nunca em Portugal o 8 de Março foi tão bem comemorado como este de 2008.
Na MAnif dos professores a grande maioria era constituída por mulheres.
Novas, velhas, magras gordas, feias, bonitas, todas!
Foi o melhor 8 de março que passei.
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