Sous le pavés, la plage ...

... ou uma posta dedicada ao grunho que num jornal não sabia o que queria dizer isto e a todos os anónimos da blogosfera em geral e em particular aos nossos.

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Já algum tempo que não publicava aqui artigos que vou publicando a Comunicação Social local. Muitas vezes porque tratam de questões realmente locais e aos quais a maioria dos leitores do Troll passará ao lado. Mas deixo vos este publicado este fim de semana que peço que comparem com algum do sectarismo que grassa nas nossas caixas de comentários. Eu não tenho problemas em falar em esquerdas enquanto outros falam no partido (seja isso lá o que for). Eu dou a cara. Muitos me conhecem. A minha opinião pode ser debatida. Refutada. Por isso admiro quem dá opinião. Mesmo não concordando com ela. Porque é um exercício que nos leva a criar por vezes inamizades. Mas eu gosto de dar opinião. Boa ou má é a minha e não a de outra pessoa. Tenho este defeito de pensar pela minha cabeça.

Nos últimos tempos tem sido comum ouvir-se falar da Europa e do Mundo a propósito das crises que nos assolam. Curioso é que antes ninguém nos falou da conjuntura favorável que levou a que países como a nossa vizinha Espanha tivesse excedentes orçamentais ou que países como a Irlanda ou mesmo os países chamados de leste tivessem aproveitado para desenvolver os seus países e a criar condições de minimizar os impactos da famosa crise tantas vezes anunciada. Mas o que fazia então Portugal nesses tempos de “conjuntura favorável” seja isso lá o que seja. Em Portugal, Durão Barroso falava da tanga em que o país estava depois de Guterres ter estado no governo para depois Sócrates falar da pesada herança que Durão e Santana lhe tinham deixado. Isto sempre acompanhado de medidas que visavam pôr os portugueses a fazer sacrifícios para resolver os problemas. Ora quando chegamos a esta altura já não há mais cinto para apertar pois já sobra cinto e falta corpo. Chegámos ao ponto em que as nossas famílias estão endividadas a 129% do seu rendimento, em que os tribunais entopem com execuções judiciais, em que cada vez sobra mais més no fim do dinheiro, em que a classe média está a desaparecer para sermos todos pobres e remediados. Chegámos ao ponto da asfixia. Todos com excepção de umas elites que se julgam acima de todo o resto.

É por isso urgente dizer basta! O rotativismo do centrão não é solução e se dúvidas houvesse as “primárias” no PSD retiram-nas. A preocupação do centrão não é o país. É a sua quinta. Tal como a preocupação do PS é de como manter o poder para poder continuar com esta política sem respeito pelos cidadãos. Por isso as sondagens e os estudos indicam que a solução está á esquerda. Na base de militantes do PS que ainda são de esquerda e que não se revêem nesta política ultra liberal de Sócrates. Nos partidos de esquerda que apresentam soluções diferentes para os problemas e que não vêem os portugueses como meros instrumentos. Ser-me-ia fácil defender a minha dama, o meu partido mas o país não precisa de mais quintas, precisa isso sim, de soluções e essa está na sociedade civil que se vai ter de mobilizar e lutar pelos seus direitos. Vai ter de ser assim no combate ao aumento dos combustíveis, vai ter de ser assim na reforma do código de trabalho, vai ter de ser assim para acabar com esta política vergonhosa em geral.

Estão por estes dias a acabar as “comemorações” dos 40 anos do Maio de 68 e não me parece obra do acaso ou mero simbolismo dos 40 anos que estas tenham sido, um pouco por toda a Europa as mais vincadas e politizadas comemorações desta importante data. Foram-no porque um pouco por toda a parte há o sentimento que um outro mundo é possível. Que os cidadãos não têm de ser um mero joguete nas mãos das classe política, banqueiros agentes económicos em geral. A greve dos pescadores iniciada na 5ª feira é disso um exemplo. Um bom exemplo de como os trabalhadores europeus unidos podem fazer ouvir a sua voz e é por essa via que podemos afrontar quem tão mal nos tem tratado. Não será certamente nos gabinetes de S. Bento, Belém ou Bruxelas. É na rua.
Em Maio de 98 dizia-se “Sous le pavés, la plage” (debaixo da calçada, a praia) referindo-se á areia das praias do Sena que estavam debaixo da calçada que os manifestantes arrancavam. Hoje em 2008 basta pensarmos na praia como aquele ponto onde queremos chegar são e salvos, homens e mulheres íntegros, com direitos e com dignidade para nos predispormos a derrubar as pedras que nos impedem de ter a vida que qualquer pessoa merece. Basta-nos não ter medo de lutar pelo que é nosso.