Definição precisa-se
O texto que está a seguir foi publicado por mim num jornal local. O "Notícias do Seixal". Dadas as reacções que já recebi devo avisar antes que esta posição é uma posição minha e não vinculada ao partido a que pertenço. Este anuncio deveria ser desnecessário mas dados os antecedentes achei por bem fazé-lo. Afinal um artigo de opinião é isso mesmo. Uma opinião inividual.
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As incongruências são do pior que pode haver na vida política, porque descredibilizam e, acima de tudo, porque dão a ideia aos cidadãos de que a palavra dos políticos de pouco ou nada vale. Tal como a banalização das palavras, ao sabor das marés do momento. Assistiu-se a isso há muito pouco tempo e quero crer que tal facto só passou despercebido por estarmos em período de férias embora não consiga compreender como a vida política de um qualquer país civilizado se pode dar ao luxo de ir a banhos, como que colocando um letreiro nas fronteiras: “Fechado por motivo de férias” ou melhor “Abandonado por motivo de férias”.
Mas voltemos então às palavras e aos sentidos e, nesse particular, a direita política tem algumas de que gosta particularmente e das quais destacaria a palavra Vida e Família. O seu uso é comum e banal e serve para qualquer coisa. Nem que seja para não dizer nada. Por exemplo, ainda hoje, a data que escrevo este texto, a Direita exulta com o veto presidencial à lei do divórcio. Em nome da família, claro, e do seu elo mais fraco. Leia-se a mulher. Porque aqui é bom usar a família para vingar o seu lado mais machista e patriarcal da doutrina defendida. É preciso que nada mude para que tudo fique como está. Com os casos de famílias destroçadas por relações, que já acabaram há muito, mas que devem ser mantidas a todo o custo, mesmo que isso acarrete consequências dramáticas para aquilo que a Direita apelida do elo mais fraco. Mas não se ficam por aqui. Usam a família no seu júbilo para dizerem que o casamento não pode ser visto como um mero contrato. Mas esquecem-se que, legalmente, o casamento é isso mesmo, mas a visão claustrofóbica e religiosa da Direita não quer reconhecer isso. Afinal, para essa mesma Direita, o casamento é um meio para atingir o fim das verdadeiras uniões, que é a procriação. Nada mais do que isso e é por isso que se recusam determinantemente a reconhecer que os homossexuais têm direito, também eles, a terem uma família, a assinarem um contrato e a desfrutarem desse enorme bem que é a família no sentido mais lato do termo.
E a Vida. De há muito tempo acho que o conceito de vida para a direita é o somatório de nascemos, respiramos e estamos, sem mais. O como se vive não é importante de todo. Relativiza-se ao ponto de se achar que um feto indesejado tem vida própria mas que um presidiário merece a tortura e a morte em Guantamamo, por exemplo. Sei que a comparação é difícil mas falamos de vida no seu mais lato sentido e da relativização da mesma. Vi uma Direita e um Governo que, exultantemente, chamou de sucesso a condenação à morte de uma pessoa e à tentativa de condenação de outra porque eram sequestradores e assaltantes. Confesso que, no meu sentido de Vida, não consigo dar mais valor à vida dos sequestradores ou à dos sequestrados. A justificação de que é preciso matar um para salvar outro não me convence de modo nenhum, até porque nada me prova que tal iria acontecer. Mas, mais, a Direita exultou, embora nunca o dizendo, porque foram dois imigrantes que foram baleados e um deles morto. Afinal são para eles uma espécie de vida menor. Mas o que de facto me custou em tudo isto foi o silêncio envergonhado de uma Esquerda que teve medo de ir contra a corrente e dizer aquilo que deveria ter sido dito. Que a morte nunca se justifica e que aquilo não era forçosamente um caso extremo.
Um amigo meu perguntava-me em conversa noutro dia se eu achava que se os assaltantes fossem portugueses a reacção da opinião pública teria sido igual. Respondi-lhe que tinha dúvidas. Mantenho essa opinião. A opinião pública embarcou maioritariamente na onda dessa Direita reaccionária e xenófoba, vinculada à exaustão pela Comunicação Social. Mas o verdadeiramente grave, é que não houve uma voz de Esquerda a publicamente denunciar essa onda. A Esquerda tinha a obrigação de assumir publicamente que os crimes e os criminosos são julgados em Tribunal.
Mas voltemos então às palavras e aos sentidos e, nesse particular, a direita política tem algumas de que gosta particularmente e das quais destacaria a palavra Vida e Família. O seu uso é comum e banal e serve para qualquer coisa. Nem que seja para não dizer nada. Por exemplo, ainda hoje, a data que escrevo este texto, a Direita exulta com o veto presidencial à lei do divórcio. Em nome da família, claro, e do seu elo mais fraco. Leia-se a mulher. Porque aqui é bom usar a família para vingar o seu lado mais machista e patriarcal da doutrina defendida. É preciso que nada mude para que tudo fique como está. Com os casos de famílias destroçadas por relações, que já acabaram há muito, mas que devem ser mantidas a todo o custo, mesmo que isso acarrete consequências dramáticas para aquilo que a Direita apelida do elo mais fraco. Mas não se ficam por aqui. Usam a família no seu júbilo para dizerem que o casamento não pode ser visto como um mero contrato. Mas esquecem-se que, legalmente, o casamento é isso mesmo, mas a visão claustrofóbica e religiosa da Direita não quer reconhecer isso. Afinal, para essa mesma Direita, o casamento é um meio para atingir o fim das verdadeiras uniões, que é a procriação. Nada mais do que isso e é por isso que se recusam determinantemente a reconhecer que os homossexuais têm direito, também eles, a terem uma família, a assinarem um contrato e a desfrutarem desse enorme bem que é a família no sentido mais lato do termo.
E a Vida. De há muito tempo acho que o conceito de vida para a direita é o somatório de nascemos, respiramos e estamos, sem mais. O como se vive não é importante de todo. Relativiza-se ao ponto de se achar que um feto indesejado tem vida própria mas que um presidiário merece a tortura e a morte em Guantamamo, por exemplo. Sei que a comparação é difícil mas falamos de vida no seu mais lato sentido e da relativização da mesma. Vi uma Direita e um Governo que, exultantemente, chamou de sucesso a condenação à morte de uma pessoa e à tentativa de condenação de outra porque eram sequestradores e assaltantes. Confesso que, no meu sentido de Vida, não consigo dar mais valor à vida dos sequestradores ou à dos sequestrados. A justificação de que é preciso matar um para salvar outro não me convence de modo nenhum, até porque nada me prova que tal iria acontecer. Mas, mais, a Direita exultou, embora nunca o dizendo, porque foram dois imigrantes que foram baleados e um deles morto. Afinal são para eles uma espécie de vida menor. Mas o que de facto me custou em tudo isto foi o silêncio envergonhado de uma Esquerda que teve medo de ir contra a corrente e dizer aquilo que deveria ter sido dito. Que a morte nunca se justifica e que aquilo não era forçosamente um caso extremo.
Um amigo meu perguntava-me em conversa noutro dia se eu achava que se os assaltantes fossem portugueses a reacção da opinião pública teria sido igual. Respondi-lhe que tinha dúvidas. Mantenho essa opinião. A opinião pública embarcou maioritariamente na onda dessa Direita reaccionária e xenófoba, vinculada à exaustão pela Comunicação Social. Mas o verdadeiramente grave, é que não houve uma voz de Esquerda a publicamente denunciar essa onda. A Esquerda tinha a obrigação de assumir publicamente que os crimes e os criminosos são julgados em Tribunal.
Etiquetas: Daniel Arruda
10Comenta Este Post
Daniel, desculpa, mas escreveste muito e pouco disseste.
Esta coisa de tentar bombardear todos os alvos ao mesmo tempo dá nisso - não se acerta nenhum como deve ser.
Discordo do Arménio, em relação ao artigo do Daniel. Não creio nada que o Daniel tenha dito pouco, talvez concorde que por querer dizer muito, não tenha sido suficientemente claro. Até porque, e talvez o Daniel tenha o mesmo problema que eu: com o escrever diariamente num Blog, a nossa escrita acaba por se tornar escrita de post...eu vejo-me à rasca para escrever um artigo e, no entanto, creio conseguir ser clara (ou pelo menos transmitir o que penso) na maioria dos posts que escrevo.
De qualquer forma o que acho importante no artigo do Daniel (juro que escrevi post e só depois emendei) é que à Esquerda cabe ser clarificadora e denunciadora das contradições da Direita, quando esta fala, na maioria (na totalidade?) das vezes hipocritamente de vida e de Família.
Mesmo quando isso, ou sobretudo quando isso, vai contra a maré veinculada por uma Comunicação Social cada vez mais feita ao molde do 24 Horas ou do Correio da Manhã.
O Daniel pode ter querido falar de muita coisa...mas a questão é que no caso do sequestro do BES, por exemplo, a CS e a opinião pública maioritária meteram tudo ao molhe e fé em Deus...e tudo foi, efectivamente, muita coisa.
(Daniel, desculpa, não entendas este comentário como de um advogado de defesa que não precisas, mas apenas como uma clarificação de alguém que te conhece o suficiente para "entender" o que escreves mesmo que possa estar um pouco desarrumado...e de alguém que tem um problema algo grave: especializei-me em linguagem de post...e passo horas quando quero escrever um artigo).
Isabel, estiveste bem, a resposta é essa.
O artigo está como deveria ter estado. Provavelmente o Arménio não tem escrito muitos artigos de opinião ultimamente ou então tem outra forma. Se lerem anteriores meus verão que umas vezes sou propositadamente exaustivo mas noutros como este queis ser propositadamente sintetico.
O texto visa duas palavras, vida e família mas no entanto toda a gente apenas fixa a última frase.
Porque será?
Desculpe lá Dr se não tenho a oportunidade de escrever tantos artigos como o Sr. Dr. ou o Dr. Daniel Oliveira.
Desculpe lá ter dado uma opinião no seu artigo perfeito que "está como deveria ter estado". Não falei nenhuma vez da última frase, mas de facto é a última vez que venho aqui.
Boa vida aos auto suficientes, na verdade são os que têm sorte - conseguem viver sozinhos e não precisam dos outros para nada.
Arménio, não entendo quem o tratou mal, não entendo para que é o Daniel Oliveira para aqui chamado, nem sabia que os Daniéis eram Drs...
Quanto a vir ao Troll, sempre que vier será, obviamente, bem-vindo. Mesmo se discordarmos de si.
Sim, sim, serei bem-vindo.
Por isso que o Dr. Daniel não responde e manda a Isabel responder.
Tenham paciência.
Oh, Arménio eu sou o exemplo acabadinho de gaja para cumprir ordens...aliás, se algum dia você quiser dar o exemplo de alguém que cumpre ordens assim como quem bebe um copito de água, diz logo" Já sei!!1 A Isabel Faria do Troll!!!!!".
Ah e pense lá bem...este comentário é a prova que afinal você voltou...agora se quer pensar que não é bem-vindo, é um problema em que eu não posso ajudar. Você é que sabe...
isabel, por acaso tinha a impressao de que andavas a secretariar o Dr. Daniel.
agora ja n tenho a impressao, tenho a certeza. por acaso também és tu quem escreve os posts do Dr. Arruda e do Dr. Oliveira?
nunca mais me verão aqui, por causa destas bocas.
Arménio, por acaso não andamos a pedinchar comentários e por isso se quiseres vai. Mas de vez. Se ficas comentas como deve de ser.
Fui claro?
comentar como deve ser é comentar como manda a vossa doutrina aqui não é?
este "fui claro" é disso um claro indício.
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