Já se começou a pagar o que nos deram

Apetece-me começar este post da mesma forma que uma conhecida colunista desportiva começava o dela. A Senhora chama-se Leonor Pinhão e eu sou completamente insuspeito de ter alguma simpatia por ela pois, já várias vezes, desanquei nela apesar da sua cor clubistica ser a mesma que a minha.

"... em suma se não for da nação, da nossa nação benfiquista não leia este texto"

Dito isto, posso começar o post propriamente dito. O desporto em Portugal anda pelas horas da amargura. Não há investimento no desporto escolar, o conceito de alta competição anda desvirtuado e qualquer atleta que se preze de ter esse nome tem de fazer "milhentos" sacrifícios pessoais para tentar umas marcas minimamente aceitáveis para o universo desportivo, leia-se, aqui, minímos olímpicos. O problema é que esses mínimos querem dizer isso mesmo. Mínimos apenas. E por isso difícilmente podemos aspirar a pouco mais do que estar lá. Neste cenário desolador, os clubes fazem de conta que se substituem ao estado na formação desportiva dos nossos jovens, cobrando para isso chorudos subsidios ao estado à conta do seu estatuto de utilidade publica, seja para construir piscinas, polidesportivos ou pseudo pistas de atletismo. O que é pena é que esses subsídios são sempre depois apresentados com um nome de um qualquer avançado brasileiro de 5º categoria. Dito isto, gostaria de separar o trigo do joio. Há muito bom clube pequeno por esse país fora que sobrevive com o seu esforço e com a dedicação dos seus dirigentes. É pena que sejam poucos.

Mas há uma outra categoria de clubes. Aqueles para quem os papéis assinados e os compromissos assumidos são para cumprir. Que sabe que os dinheiros aplicados são de todos e por isso devem ser bem aplicados. O meu clube, o Sport Lisboa e Benfica, recebeu do Estado dinheiro para construir um novo estádio com o compromisso de que o clube iria construir infrastruturas para poder dar boas condições de treino aos chamados atletas das modalidades amadoras e assumiu também o compromisso de, dessa forma, continuar a apostar no ecletismo do clube. Ou seja, o clube recebeu dinheiro para fazer um estádio mas comprometeu-se a dinamizar e construir todo o resto.

Nos últimos 4 anos, o Sport Lisboa e Benfica apostou no ecletismo, reavivando secções moribundas, criando novas e estruturando as existentes. Nessa altura, há 4 anos Luís Filipe Vieira foi alvo de chacota quando apresentou o projecto olímpico do Benfica. Não que os atletas representem o clube, mas sim porque através da visibilidade dos atletas do clube o país ficaria mais bem visto e o Benfica pagaria com juros a dívida que tinha para o estado.

Este Verão, o Benfica começou a pagar a dívida ao estado. Enviando mais atletas que qualquer outro clube aos Jogos de Pequim, ajudando assim a constituir a maior delegação de sempre do COP. E ajudou, acima de tudo, conquistando medalhas que é de facto o que dá visibilidade. Dos 3 medalháveis da Luz só Telma Monteiro ficou aquém das espectativas.

Servirá este facto para o Benfica querer ser cada vez maior e melhor. Mais eclético e mais popular, mas servirá acima de tudo para que os nossos concorrentes se roam de inveja e deveria servir para o Estado escolher melhor a quem entrega o dinheiro. Pois se para uns esse dinheiro é um empréstimo que deve ser devolvido na forma que melhor sabe, ganhando títulos, outros que receberam tanto ou mais que o Benfica, para além de reclamarem sempre mais (veja-se o caso Sporting- CM Lisboa por causa de uns terrenos no Lumiar) não apresentam mais do que uns quanto avançados basileiros de 5ª categoria esquecendo que o seu estatuto de utilidade pública os obrigava a muito mais.