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sexta-feira, setembro 05, 2008

Negros tempos

Ao ler o último post do Leal Franco, creio que todos os que já passaram por qualquer ORT (Organização Representativa dos Trabalhadores) numa empresa, não podem deixar de associar a muitos dos momentos que diariamente lá se vive, sobretudo nos últimos tempos, a um de dois estados de espírito: un cansaço enorme, tal qual andassemos diariamente num constante e ininterrupto combate de box – mas não boxe a sério, sem batotas, daquele em que um fica KO, e qualquer um pode ficar KO, e a partida acaba. Não, boxe sempre viciado, em que o derrotado é sempre anteriormente conhecido, sendo que para não ser definitivo e se manter a dignidade, exige uma enorme disponibilidade e um constante golpe de rins.
Ou uma frustração enorme, porque nem sequer as Leis, cada vez mais criadoras de injustiças e de desigualdades, são cumpridas (coisa estranha e amarga esta, a de passarmos dias e dias da nossa vida a exigir o cumprimento de uma Lei que combatemos...).
Porque entre os nossos colegas há colegas de 1ª (por imposição das alterações às leis de trabalho e por pressão das entidades patronais, cada vez menos de 1ª), os que ainda restam do tempo em que as empresas ainda aceitavam que o trabalho também fosse uma carreira, os de 2ª, contratados a prazo, sem saberem o dia a seguir ao contrato, com a vida a prazo de 3, de 6 ou de 12 meses, sem criarem raízes, sem poderem criar futuro e os outros...os de uma categoria que nem categoria é. Os pau para toda a obra. Os das empresas de outsourcing, os extras (nome duro e aviltante este), sem horários, a ganhar menos que o ordenado minimo, com a justificação de que trabalham menos que oito horas...trabalhando as horas por dia que as empresas que os contratam decidem e que as empresas que contratam as empresas que os contratam exigem.
E uma frustração ainda, e porque não confessá-lo, porque muitas vezes nos sentimos sozinhos nos cornos dos bois todos e nos falta forças para fazer pegas como antigamente...

As empresas sabem que vivem muito melhor sem trabalhadores...primeiro contratam, pois, escravos, depois chamam-lhes colaboradores a ver se pega, finalmente tentam isolar, afastar, vencer as résteas de resistência que a vida, o empréstimo da casa e mais os outros todos, e o desencato e o cansaço, apesar de tudo, ainda não apagaram. Sabem que nestes e, porque foi para isso que os trabalhadores lá os colocaram, as ORTs e nomeadamente as Comissões de Trabalhadores, são alvos a abater. Primeiro, tentam-se comprar, a seguir tentam-se isolar, a seguir tentam-se ignorar, finalmente tentam-se vencer pelo desgaste. A ordem até pode não ser esta, as etapas são estas.

E um dia, um trabalhador que não conseguimos ajudar, perde as suas maiores batalhas - a da dignidade ou a da vida (ou ambas, em diferentes mais ou menos próximos momentos), e é um enorme sentimento de derrota que nos assola.
Não somos vitimas. Estamos aqui por opção e por opção consciente. Mas reconheçamos que muitas noites, ao adormecer ou de manhã, quando temos que recomeçar o combate de boxe de novo, não deverá haver nenhum trabalhador que, numa empresa, represente trabalhadores que não se questione: valerá a pena?
Felizmente que muitos de nós ainda vamos vencendo a pergunta. E o KO é um KO do qual nos levantamos sempre. Ou quase sempre, para ser realista.

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12Comenta Este Post

At 9/05/2008 4:12 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

porque este blog chama-se "troll-urbano"?
podem explicar?

 
At 9/05/2008 4:36 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Arménio, só numa tentativa de entender o seu raciocínio (as suas intenções, sinceramente, não me preocupam muito), essa pergunta vem a propósito de quê, num post que fala da selva em que as nossas empresas se teimam em tornar?
Ou eu escrevo assim tão mal que você não entendeu sobre o que era o post

 
At 9/05/2008 7:24 da tarde, Blogger Daniel Arruda escreveu...

Isabel, só quem nunca esteve numa ORT é que não pode compreender este post.
De qualquer forma de facto é o paradoxo de combatermos algo que temos de usar no dia a dia e muitas vezes agarrar-mo-nos a ele. ~
Poderá haver quem digaque este é o maior paradoxo do sindicalismo ou activismo. Lutar para mudar e transformar se no entanto poderes abdicar das ferramentas do sistema.

 
At 9/05/2008 7:25 da tarde, Blogger Daniel Arruda escreveu...

sem no entanto poderes abdicar das ferramentas do sistema.
Assim está correcto

 
At 9/05/2008 9:14 da tarde, Blogger Leal Franco escreveu...

Seria muito importante mesmo, arranjarmos um bom texto sobre o assunto

 
At 9/06/2008 11:41 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

conheço bem esta realidade - melhor do q julgam.
perguntei por perguntar. ha um post indicado para perguntar o pq do nome?

 
At 9/06/2008 12:17 da tarde, Anonymous Anónimo escreveu...

Pelo menos vales a pena, e de certeza outros tambem há. Mas a dureza que não saiba adivinha!

Um pedido a arménio:por favor continuo os teus comentários. Trazes aqui um pingo de frescura e de humor queirosiano que tanto faltavam.Mas por favor explica porque te chamas arménio (Não acredito que escondas o teu nome ).

 
At 9/06/2008 1:50 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Armémio, como calcula não faço mesmo ideia do conhecimento que você tem ou não tem sobre o assunto do post. Tendo, espero que seja um dos que como eu, e apesar de muitos KOs ainda nos levantamos sempre, apesar de com algumas mazelas, pensos rápidos, nódoas negras e olhos inchados.

O Troll "nasceu" antes de mim no Troll. Encontra a história do Troll no 1º post feito no 1º dia. SE entrar no Museu do Troll que o leva ao primeiro post, lá encontra a explicação.
Pela minha parte gosto do nome...muito. E quando um dia descobri a imagem do amarelo de Lisboa que usamos no template, ticvemos a certeza que o Troll...nunca poderia chamar-se ou ter-se chamado algo de diferente.

 
At 9/06/2008 1:53 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

FJ, vale a pena? Sim vale. Mas não está nada fácil.Nestes últimos tempos devo sair de lá com o ar do Mickey Rourke no último filme que ainda não vi e não me lembro o nome...mas cujas imagens correm pelo Google...acho que se parece algo comigo.

 
At 9/06/2008 1:53 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

FJ, vale a pena? Sim vale. Mas não está nada fácil.Nestes últimos tempos devo sair de lá com o ar do Mickey Rourke no último filme que ainda não vi e não me lembro o nome...mas cujas imagens correm pelo Google...acho que se parece algo comigo.

 
At 9/06/2008 1:54 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Daniel, pois essa é a questão. Para quem acreditou na Revolução amanhã...ter que lutar pela aplicação do Código de Trabalho do Bagão, pois a ausência disso é a selva, é duro.

 
At 9/06/2008 1:55 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Leal, mãos à obra...temos material que chegue. Basta um bocadito de tempo e de disponibilidade.

 

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