Apenas retribuo um pouco
Alterei o tarifário e voltei a tentar que lesses um sms a confirmar a operação. Havia uma tristeza imensa na tua voz porque, com a distância que nos separa, não te podia pegar na mão e explicar...ou apenas pedir-te que olhasses a minha. Uma tristeza imensa na tua voz quando perguntavas "quantas vezes já me ensinaste isso, querida?'". Agora, desde há uns tempos, há sempre uma emoção qualquer que te embarga a voz quando me chamas querida.
Vá, comecemos de novo. Só mais uma vez, vá lá.
Não resultou e a tua voz tornou-se ainda mais triste.
Houve tempos, em que me sentava ao teu colo, no quintal ao lado da oliveira, e sabias as estrelas todas de cor (tem a quem sair o nosso menino, no seu fascínio pelo céu). Nessa altura, tentavas, sem nenhum sucesso, ensinar-me que o mi vinha a seguir ao ré. Tinhas sonhado que, um dia, eu saberia tocar. Nessas alturas contavas-me as histórias da guerra do avô e dizias o nome de todos os outros que com ele tinham partido. Nunca decorei quem era filho de quem, nem de quem o Sr. Marcelino era tio.
Tenho a certeza que, então, eu não saberia ler um SMS e tu terias aquela paciência imensa para me levar a mão e a mente a percorrer as teclas dum telemovel. Não havia telemóveis. Percorriamos, pois, as estrelas do céu e as letras do Barranco de Cegos. E em ambos me ensinavas a ler as mensagens.
"Tem paciência para mim, querida" (na tua voz, volta eese aperto de agora, sempre que me chamas querida).
Não tenho paciência. Retribuo-te apenas o teu amor. Não te sento ao meu colo, mas, se me quiseres levar a contar as estrelas, leva-me no teu, querido.
Podes nunca aprender a ver um SMS, mas ensinaste-me a ser eu.
Agora, se ligasses, ouvirias na minha voz, aquele apertito que ouço na tua quando me chamas querida. Até isso me ensinaste. Choramos por tudo e por nada...e nunca, mas nunca, tivemos vergonha das lágrimas que chorámos.
Etiquetas: Isabel Faria
6Comenta Este Post
É tão pessoal e íntimo este post, que entro aqui em pontinhas dos pés. Nem sei o que te diga.
Tentei falar-te mas não consegui...
Vou ligar de novo.
Um beijo.
Eu nem sei porque carga de água é que vou dizer o que segue mas ele há um certo tipo de gentinha que fica admirada ao ver como pessoas de esquerda conseguem ter assim uma ligação tão próxima, tão cúmplice com alguém da sua própria família, neste caso com a sua mãe, mas esta é a pura da verdades.
Em política, a esquerda sempre representou, o que de mais humano existe nas relações entre as pessoas! E é por isso que questões como a saúde, as pensões, a maternidade, as crianças, os idosos, a luta contra a pobreza e contra as restantes formas de sofrimento e opressão parecem ser e continuar a ser apanágio da Esquerda apenas por muito dor de corno que as direitas tenham a este respeito.
A Isabel surpreende muitas vezes porque consegue exprimir muito bem o ser humano autêntico de carne e osso que todos aprendemos a ser.
è por isso que eu lhe tenho dito que ainda hás-de ir longe rapariga! Não desanimes nem te canses com as curvas da estrada. É bem verdade que a fartura de curvas entontece qualquer um. Mas bem pior que isso são as rectas que nos fazem deixar dormir ao volante...
»A Isabel surpreende muitas vezes porque consegue exprimir muito bem o ser humano autêntico de carne e osso que todos aprendemos a ser.«
Nem mais,subscrevo na totalidade!
Émièle, entretanto já falámos.
Mas tens razão, foi um momrnto muito prssoal. Às vezes tento controlar-me a usar o Blog para isso. Mas parece que quando o faço, me liberto um pouco de algumas nuvens. E acabo por usar
Leal, o post era sobre o meu pai. A minha realção com a minha mãe, apesar de sempre ter sido muito próxima, é um pouco menos cumplice do que a que criei com o meu pai. Também porque a minha mão tem tido problemas de saúde graves, que me leva a ter outro tipo de preocupações com ela.
Quanto ao resto, agradeço muito as tuas palavras. Mas acho que é por seres meu amigo...
Anónimo, obrigado.Amanhã corroboras isso com um pastel de nata!! :)))
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