Coisas da idade

A idade incomoda-me. A sério. Não sou hipócrita e não alinho naquela história de que ainda cá estou para as curvas todas. É uma aldrabice pegada. Já não estou cá nada para uma porrada de curvas. Ainda publiquei um post a semana passada a tentar convencer-me, que tinha ido repescar lá atrás, mas foi uma tentativa frustrada. Não sei se convenci alguém que por aqui passe. Se sim, as minhas sinceras desculpas.
Pronto, ainda há coisas que faço e que não se enquadram na idade do BI e da neura. Sei lá, por exemplo, todos os dias ainda me meto de rabo para o ar e cabeça enfiada na almofada, ao acordar, para tentar encontrar uma desculpa convincente para não ir trabalhar. Tipo, tive uma inundação ou o Bono passou mal a noite...Ainda como chocolates belgas às escondiadas e confesso que à caixinha que trouxe para a minha mãe, já lhe faltam quatro e estou a pensar em ir ali à Baixa comprar uns parecidos pode ser que passe ( e se comprasse a caixa inteira??), ainda tenho um medo horrível das aranhas, osgas, jacarés, gafanhotos, fantasmas mal encarados e apetece-me dar porrada nos gajos do Governo, passar rasteiras ao Cavaco e fazer caretas a uma quantidade assinalável de cidadãos, respeitáveis ou não, deste País.

Mas na maioria das coisas a idade já conta.

Perdi a paciência duma forma total, geral, democrática e, diria mesmo, totalitária, para as mentiras. Aliás, quando me mentem, com a idade, descobri que há uma luz no lóbulo da orelha direita do sujeito mentante (gosto deste termo que acabei, presumo, de inventar) que se acende. Mesmo ao telemóvel se vê, por um mecanismo qualquer que, apesar da idade, ainda não sei explicar bem. Depois digo se descobrir.

Apesar da falta de paciência dos anos, há uma parte chata e mázinha: já consigo fazer de conta que acredito. Posso fazer de conta vezes sem conta. Tornei-me, pois, uma impaciente refinada. O que não me agrada, mas também não me tira o sono. Ao contrário das dores das pernas, quando estou muito tempo em pé.

Também perdi a paciência para gente hipócrita. Mas aí não faço de conta. Possivelmente consigo lá chegar antes da reforma, mas, por enquanto, não.

Perdi mais algums paciências. Ganhei outras coisas. Uma dor nas costas e as tais das pernas. Uma porrada de rugas. Celulite. Um dose razoável de jeito para aceitar (melhor, conseguir conviver com) coisas e pessoas que há uns anos correria a pontapé. Uma manta para aquecer os pés no sofá (tenho receio de quando, um dia, chegar a altura de acabar por dormir de peugas de lãzinha para os conseguir aquecer). Umas mudanças de humor que o meu filho (e alguns amigos, apesar destes, passados uns tempos, começarem a esquecer-se de ligar, não vá o Diabo tecê-las e eu estar na fase negra da coisa) tem que aturar com aquele ar calmo que o caracteriza, como se estivesse preparado para tudo...

Também aprendi a conseguir falar em público, considerando público um máximo de cinco pessoas, sem começar pelo "então é assim...", sem me tremerem as mãos e me subir a tensão aos vinte e muitos. Mas, em contrapartida, já não me consigo levantar no dia a seguir a uma saída ao Bairro Alto (mesmo a fechar às duas...), desde que me tenha atrevido a beber duas quaisquer coisas. Creio que a água posso beber três, mas passo a noite a fazer chi-chi. o que dá no mesmo.

Também tenho a ligeira impressão que fechei a loja das paixões. Digamos que gato escaldado de água fria tem medo. E penso que já dei para esse peditório vezes a mais. A partir de agora, Zabelinha, paixões só em tamanho S. Controladitas e que durem no máximo um mês e dois ou três dias. Os dias que passam do mês, é porque ainda costumo chorar bué quando acabam.

Ah, e também já não tiro a carta de condução. Portanto, nem paixões nem carta de condução. Definitivamente está na altura de me desviar das curvas.

Agora só se encontrar o amor da minha vida (eu sei que eram todos...mas isso era porque era nova e ingénua)....e o meu Ambrósio. Pode sempre ser dois em um, se o amor da minha vida souber conduzir, tiver paciência, tempo e vontade de passar o resto dos seus dias a passear-me de carro e a dar-me Ferreros Rochers e se o Ambrósio for moreno, de olhos verdes, não quiser vir cá viver para casa (já agora, para nenhuma outra senão a só dele também dava jeito), souber tocar piano e falar francês, me passar a roupa a ferro, mudar a casa de banho do Bono e fizer a sopa para a semana toda (claro que pode vir cá a casa para isso e mais uns trocos!!).

E se o Ambrósio for um gajo de Esquerda, que, desculpem lá, mas nisso continuo igual ao ante-neuras e ante-dores nas pernas ao chegar a casa. Se alguém se quiser candidatar a meu Ambrósio, tem que ter lido o Capital todinho, a Revolução Traída, o livrinho vermelho do camarada Mao e conseguir explicar a actual crise financeira, a vitória do Obama e o mau momento FCP, à sua (do Capital, da Revolução Traída e do camarada Mao) luz.