Façam um favor

Não gosto da concordia partidária. Dá sempre mau resultado. Porque é sinónimo de ausência de discussão ou porque representa uma paz podre. Não há debate político sem discordancia de nenhuma espécie.

Vem isto a propósito das reacções aos resultados eleitorais por parte dos militantes da esquerda portuguesa. E como ponto prévio dizer que incluo em esquerda portuguesa os militantes e simpatizantes do PCP, BE e alguns (cada vez menos do PS).

Que a comunicação passasse a noite eleitoral e o dia seguinte a querer fomentar uma Guerra BE / PCP eu até compreendo. O que não posso admitir é que numa noite eleitoral como não há memória, em que a esquerda consegue mais de 20% dos votos e onde o governo de direita é completamente desmascarado e desautorizado, essa mesma esquerda se divida e alinhe neste jogo tão do agrado do Bloco Central.

De nada valeram os sucessivos comentários que eu ouvi de Luís Fazenda, António Filipe, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa entre tantos outros a dizerem que não há nenhuma disputa à esquerda. Nos blogs, nos cafés, nos locais de trabalho houve diversas vozes que trataram o resultdo eleitoral como se de um Benfica - Sporting se tratasse. Apesar de continuar a achar que foram mais os militantes do PCP a fazé-lo, não posso ignorar que no BE também os houve. E não posso aceitá-lo. Porque não existe só uma esquerda. A esquerda sem pluralidade nunca será uma esquerda verdadeira e por isso não se pode reduzir a esquerda ao partido A,B ou C.

Numa altura em que corremos o risco de o Bloco Central não ter os 66% da nossa governação, em que a posição da esquerda vai ter de ser ouvida o povo não aceita que nos percamos em guerras inúteis. Numa altura em que nos deram uma (á esquerda) uma força como eu não tenho memória no Portugal Democrático (talves em 75/76 mas não me lembro dessa altura) ninguém compreende que não sejamos capazes de encontrar o que nos une e deixarmos de perder tempo com o que nos separa. Com todas as diferenças que são afinal as riquezas do debate político.

Aqui mesmo nesta casa temos assistido a estes exercícios de sectarismo bacoco. Eu estou-me bem pouco a borrifar para quem é a vanguarda da classe operária, porque na minha ideologia, marxista, a vanguarda são as massas. E essas começaram no domingo a dizer o que querem.

Não tenho paciência para que estas discussões que dizem que o meu partido é mais á esquerda do que o teu. As discussões da insunuação que vai haver coligações em Setembro. Já repararam que até hoje nenhuma das insinuações se confirmaram.

Felizmente os meus camaradas, e aqui englobo todos os de esquerda, aqueles com quem me dou, sejam da esquerda do PS ou do PCP conseguimos pôr as nossas diferenças de parte e levantar algo. Para já foi uma colectividade de cultura e recreio. Para isso precisámos de todos. Incluindo os sem partido. Sem diferenças por uma causa comum. O bem estar de uma comunidade. Se na política a causa comum é o país, façam favor á causa. Entendam-se. E isto não é dirigido às cúpulas dos partidos, pelo menos não só. É aos seus militantes e simpatizantes. Porque só concebo um partido se for assim. De militantes, e é desses que tem de partir a vontade.