A Invenção do Amor
O último post da Isabel fez-me vir à memória um outro conjunto de palavras. Exactamente algumas das que não alteraria pois foram durante a minha adolescência uma descoberta e um alargar de horizontes que me ajudou muito a poder encontrar-me como um ser individual e humano. Fez-me lembrar a poesia do Daniel Filipe, " Invenção do Amor", "Manuscrito na garrafa" entre outros. Muita da sensibilidade que se acoita em mim, mesmo escondida, pode ser encontrada por mim próprio, dentro de mim, por via das palavras daquele ser humano excepcional, Cabo-Verdiano, que deu pelo nome de Daniel Filipe e que já havia morrido quando eu o comecei a ler. E foi também divulgado aos portugueses na voz do Manuel Freire. Deixo aqui alguns versos daquele poema.A invenção do amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor
Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana
Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperado
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterrâneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo ...
...
Daniel Filipe
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Agora , depois de apgar o lixo, deixa-me diser-te do prazer de ler estas palavras. Há muito que as tinha pedido no tempo.Soube muito bem reencontrá-las.
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