Há alguém que desminta El Solitário?
Desculpem voltar ao mesmo tema desta manhã. Mas relendo agora, com mais calma, extractos da entrevista que o prisioneiro espanhol Jaime Giménez Arbe, deu ao jornalista Matias Antolín, das duas uma, ou são afirmações falsas e alguém as tem que desmentir ou são informações verdadeiras e alguém tem que ser responsabilizado pelas actuações que elas denunciam.
...
A dada altura relata o prisioneiro: "O conceito de segurança máxima significa, na prática, o sequestro e a incomunicação; permite-se aos guardas prisionais qualquer tipo de tratamento vexatório, chegando a bater impunemente nos prisioneiros". Com mais ou menos credibilidade que meraçam aos Juizes a outros responsáveis pelo Sistema Prisional ou pela Justiça em Portugal, há aqui uma acusação que, ou é desmentida, ou, não o sendo, se presume verdadeira. Isto é, os prisioneiros são espancados. Impunemente, significa sem castigo nem responsabilização. Como também ninguém desmente, presume-se que os prisioneiros são espancados e ninguém é por isso responsabilizado. Até aqui parece claro, ou não?
....
Logo a seguir relata o prisioneiro, relembre-se ainda não julgado, logo, ainda, presumivelmente, inocente:"...os presos sobrevivem fechados 23 horas por dia, com direito a apenas uma hora de pátio: um espaço exíguo gradeado por cima, a que chamam "gaiola de pássaros". Não podem usar a Internet, tocar um instrumento musical, estudar ou ouvir música."
Como também ninguém desmente, presume-se que, de facto, os prisioneiros se encontram fechados 23 horas em 24, presume-se que a tal reinserção social a que supostamente terão direito e se lhes cobrará dever depois de cumprir a pena, não poderá contar com qualquer aprendizagem durante a reclusão, nem mesmo que passe por ouvir uma notícia ou ler um livro. Presume-se também que tocar um instrumento musical deverá ser considerado um prazer e que a um prisioneito para além de cumprir a sua pena, que a sociedade legitimamente lhe impõe como punição pelo crime cometido, ou, ainda apenas, supostamente cometido, é vedado o direito a qualquer tipo de prazer. As condições mínimas de dignidade de que falava o Sr Juíz do post anterior não passam, portanto, por ter direito a tocar um instrumento musical ou ler um livro.
...
A seguir o recluso acusa os guardas de violarem a correspondência e de roubarem o dinheiro que familiares ou amigos lhes enviam. Mais uma vez nem um desmentido...Mais uma vez, a pergunta, quantos prisioneiros estarão nas prisões portuguesas acusados de roubo? O que se chamará a ficar com dinheiro alheio?
..Depois de denunciar que têm direito a dois telefonemas de cinco minutos por semana, Jaime Arbe, faz ainda uma outra gravíssima acusação: "Quando querem anular-nos psicologicamente obrigam-nos a despir e chegam, inclusive, a tocar-nos nas partes nobres" e aqui, vêm-nos à memória aquelas imagens, que correram mundo e que encimam este post. E que nos envergonham a todos.
...
E recoloca-se a pergunta: se ninguém desmente, apenas se tapando por uma insensata acusação de falta de credibilidade dos "criminosos" ou "preumíveis criminosos", é legítimo pensar que El Solitário fala verdade? É legítimo pensar-se que, em Monsanto, aqui mesmo ao nosso lado, os prisioneiros são espancados e humilhados? E se assim for é legitimo não nos surpreendermos se ninguém fizer nada?
..
Creio que é na forma como tratamos as pessoas mais vulneráveis que se vê a humanidade e a dignidade de uma sociedade. A forma como tratamos os nossos idosos, as nossas crianças, os nossos doentes, mas também os nossos prisioneiros. À luz da Justiça com maíscula, um prisioneiro é um ser humano que cometeu um crime pelo qual está a pagar e, após a pena cumprida,voltará a ser um cidadão livre na posse de todos os seus direitos e deveres.
...
Se ninguém desmentir a afirnações do El Solitário, devemos todos envergonharmo-nos pela sciedade que criámos, ou não? E pela Justica que (não) temos, ou não?
Etiquetas: Isabel Faria
2Comenta Este Post
Dizes bem Isabel. E as tuas palavras abrem um pouco a cortina (melhor - a muralha) com que estas coisas são escondidas. E abrem também a possibilidade de alguns cidadãos distraídos reflectirem um pouco sobre o que se passa nas "nossas" prisões. Quando se fala em prisões grande parte dos portugueses costuma arreganhar uma ignorância suprema sobre o assunto e costuma condimentá-la com grunhidos estilo: "casa, comida e roupa lavada", "não têm que fazer nenhum", "boa vida", "não vergam a mola". Faltava apenas que outro tipo de cidadãos (neste caso um juiz) viesse rosnar os argumentos do hotel de luxo e coisas do género. Afinal aos sádicos portugueses não restam grandes hipóteses a não ser integrar a guarda prisional e demais polícias mas, os de elevado gabarito como esse juiz, poder dizer tais bojardas deve dar um prazer do caraças!!!
Confesso que para mim têm tanto valor as palavras de um e de outro. São dois criminosos com a diverença que um há-de ser julgado e o outro não. Este responsável pela prisão deve ter na consciencia mais mortos que Bonny e Claide juntos.
Enviar um comentário
<< Home