Sem título
Há momentos em que me invade uma sensação estranha. Não estranha de desconhecida. Estranha de não lhe saber dar nome.Nostalgia era um nome, que, mais coisa menos coisa, era capaz de a definir. O que me custa nela, na sensação que talvez se possa chamar nostalgia, é que nunca me decido se é do passado, e então vence o aperto na garganta, se é do futuro, e, então, vence o olhar perdido para lá do muro teimoso do Instituto.
...Costuma acontecer em dias em que fui feliz.
..."Quero voltar! Não sei por onde vim...", escrevia Florbela Espanca sobre a dita. Pelo menos, ela não se importava que fosse a do aperto na garganta que ganhava a corrida.
...Eu é que tenho a mania de que fui feita para ter dúvidas. Depois queixo-me.
Etiquetas: Isabel Faria
Publicado por Isabel Faria às 6:05 da tarde
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Descobri há dias que "nostalgia" é afinal uma palavra de que não gosto (nunca gostei do som dela, mas isso é outra coisa). Foi inventada no séc. XVIII, é uma palavra artificial. E "algia" quer dizer "doença", ou "dor sentida por quem está doente". Quem a inventou achava que esse olhar para além do muro não é o de uma pessoa "saudável".
Mas, sim, é isso mesmo como dizes.
Olha, Goldmundo, essa foi maldade. Eu gostava da palavra...mas desconhecia a sua origem. E agora já não gosto da palavra. E a culpa é tua e de quem te fez descobrir isso.
Eu até podia chamar à nostalgia, saudade. Mas sempre associei saudade mais à parte do aperto da garganta do que à do muro do Instituto. E era assim como uma nostalgia coxa...claro que tinha a suprema vantagem de ser acompanhada do som da guitarra...
Ok, depois desta maldade inqualificável que fizeste aqui esta noite substituo definitivamente nostalgia por saudade. Mesmo que seja do futuro.
Huuummm...
Sou do contra.
Primeiro gosto da palavra. Das duas, quero dizer - saudade e nostalgia. Acho bonitas.
Para mim são de facto diferentes, referem-se a sentimentos diferentes.|E essa de ela ter sido «inventada» cá para mim, todas foram, e parece-me normal. Se se refere a dor, também está bem e também acho justo. É mesmo uma dor. Pode dizer-se romanticamente que é dor da alma, dor da memória, dor do que já não é, dor do que se deseja, eu sei lá... Mas pode haver dores doces, suaves, não precisas logo de pensar em antibióticos. Se te "costuma acontecer em dias em que foste feliz" é uma boa dor.
Eu cá, gosto de nostalgia - o a aberto, o l muito líquido, e o ia final ao morrer da palavra.
Gosto.
E também da saudade, com certeza, mas isso quem não gosta?
Desculpem meter-me nestas coisas.
Isabel, eu gosto das duas palavras em apreço, sou como tu eras e como é a Emiéle.
Não fiquei convencido com a explicação do Goldmundo e, fui procurar saber mais.
Assim temos: NOSTALGIA, palavra de origem grega, nostós-volta ou tornada + álgos-dor com desejo. - Tristeza causada pela dor de estar ausente, com desejo ardente de voltar.
in, Novo Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa de Rodrigo Fontinha, reveito por Dr. Joaquim Ferreira.
Se isto chegar para voltares a gostar da palavra, fico feliz!
Goldmundo, ENGANASTE-ME!!!!!!!!!
Se o Dr. Ferreira e o Zé Palmeiro têm razão (eu já vou fazer a minha própria busca!!!) então a palavra é bonita outra vez, sim senhor.
Então há alguma coisa mais bonita do que a tristeza de se estar ausente do que se gosta e se quer...aliada`ao desejo ardente de se estar de novo com o que se gosta e se quer? hein?? Há??
Atão, alguma vez um desejo ardente pode ser "não saudável"? Os desejos doentios são os moles e mornos...os ardentes são todos rosadinhos e cheios de bochechas!!
Fizeste-me passar um mau bocado ontem. Quase traí a nostalgia por tua causa. Nem sei bem se mereces o video??!!
Ok, numa última tentativa de te tornar, tal como eu com este comentário, um nostalgicoreconvertido, continua de pé a prenda!!!
Zé, obrigado, conseguiste. Viva a NOSTALGIA e MAIS a SAUDADE!!! com ou sem dor é sinal de que estamos vivos(se bem que com alguus galos na cabeça!!).
Esta é a Isabel que eu gosto!
Ainda bem que a busca, não foi em vão.
Maldade não foi, isabel. É que me parece desapropriada, e as palavras são um campo de batalha com todos os poderes. Já explico...
emiele, nem todas as palavras são artificiais, ou o rasto disso já se perdeu; quem terá "inventado" palavras como lua, amor, negro e mar? E é verdade que "lua" desperta-nos hoje, provavelmente, sentimentos diferentes dos que despertava a um romano... Mas ninguém controla esse processo. As línguas crescem, como as árvores; e às vezes, como nas árvores, pessoas fazem nelas enxertos para melhor controlar os frutos.
O José Palmeiro é que ainda nao me convenceu... Quanto à origem propriamente dita, retiro do Online Etymology Dictionary que a palavra foi usada na língua inglesa pela primeira vez em 1770, com o sentido de (passo a citar) "severe homesickness" (considered as a disease), Mod.L. (cf. Fr. nostalgie, 1802)". E foi cunhada (coined) em "1668 by Johannes Hofer as a rendering of Ger. heimweh, from Gk. nostos "homecoming" + algos "pain, grief, distress."
No sentido moderno de "saudade", diz o mesmo site: "Transferred sense (the main modern one) of "wistful yearning for the past" first recorded 1920."
"algia", como em dezenas de palavras médicas, é apenas "dor" (nada tem que ver com "desejo")
Bom, mas porque tudo isto só interessa para nomear o que a isabel (e todos nós) sentimos: quando há coisas para além do muro, o que está do lado de cá chama-se melancolia (ainda que a história dessa palavra também tenha que se lhe diga). Saudade e nostalgia são saudade e nostalgia de alguém ou alguma coisa; a melancolia está, muito simplesmente. Sem causa e sem antibiótico. E a melancolia (vem do mesmo "mela", "negro", que há na melanina das praias de Verão...e olha como isso se liga com os miudos góticos, ou com coisas que se calhar nem eles sabem que existem) é a face interior da liberdade.
E saudade do futuro parece-me bonito. Embora sejam poucos os fados que a cantem...
O que se aprende aqui!!!
:)))))))))
"aqui" é um sítio bom. Pela minha parte, obrigado ao Daniel e à Isabel.
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