O até sempre ao Chico Martins
(imagem Público on line)Raramente nos encontrámos. Mas sempre conheci o Chico Martins.
Uma vez o meu pai disse-me, tempos antes do 25 de Abril, que tinha tido as primeiras dúvidas quando um dia alguém lhe falou da notícia do Avante que impediu o regresso de Chico Martins (ler esta entrevista em catalão em que Francisco Martins Rodrigues conta os pormenores da sua vida na clandestinidade). Lembro-me que sempre lhe custou a acreditar...aliás, penso mesmo que só acreditou muitos anos depois, quando ouviu Chico Martins de viva voz falar da traição.
A realidade ultrapassava as convicções. Traía as convicções. ...
...Depois, fui conhecendo o Chico Martins por lutas onde eu estava...nunca devo ter subscrito muitas das suas convicções. Mas sempre aprendi que a Esquerda à Esquerda do PCP, alternativa ao PCP, se fez com ele. E nessa, desde muito cedo, eu me revi....
Nestas alturas a melhor homenagem é a promessa que não se abdica da(s) luta(s).
Não é necessário ter passado pelo PCP, ter acreditado na China de Mao, ter passado pela UDP para nos termos cruzado com o Chico Martins. Basta ter um dia aprendido a acreditar que era possível mudar o Mundo.
Ao reler hoje algumas das suas entrevistas, vejo como em questões decisivas estivemos longe ao longo dos anos. Mas a história não falará da distância entre o Chico Martins e algumas pessoas de Esquerda. Ou parte da Esquerda. A História falará de um homem de coragem. Lutador. Coerente. Que nunca abdicou daquilo em que acreditava e cujo percurso acaba por ser, em muitos momentos, paradigma das certezas, das traições, dos dogmas, dos recuos, da entrega, da abnegação, das lutas e das dúvidas da Esquerda na luta pela emancipação dos trabalhadores e pela construção do Socialismo.
...
O funeral realiza-se amanhã às 13.30 no cemitério do Alto de S.João.
Etiquetas: Isabel Faria
Publicado por Isabel Faria às 5:10 da tarde
8 Comentários
8Comenta Este Post
Eu vi o fransisco Martins algumas vezes nestes últimos anos mas nunca falei com ele. Não deixava no entanto de ser um referencia da esquerda portuguesa e como tal a nossa história ficou mais pobre
Apesar de ter militado numa organização m-l ( a OCMLP) e na UDP nunca me cruzei com o Xico Martins. Mas recordo sempre o fascínio que esse homem exercia em todos nós. Um comunista, um revolucionário, um anti-fascista e um pensador marxista a sério. As minhas homenagens também.
Não pude estar hoje presente no funeral do Chico Martins. Gostaria de lhe ter prestado a minha última homenagem. Espero que o façamos honrando a sua luta contra o fascismo e, mesmo que não nos revamos em muitas das suas opções. honrando a sua luta por uma sociedade mais justa.
Tive o prazer de conhecer o Xico pessoalmente e de com ele conviver algumas vezes, ultimamente discordave dele, tive a oportunidade de lhe dizer à uns meses quando esteve em minha casa mais a sua companheira Ana, foi-me impossivel ir ao seu funeral aqui deixo a minha homenagem ao revolucionario, ao comunista sincero.
Tive o prazer de conhecer o Xico pessoalmente e de com ele conviver algumas vezes, ultimamente discordave dele, tive a oportunidade de lhe dizer à uns meses quando esteve em minha casa mais a sua companheira Ana, foi-me impossivel ir ao seu funeral aqui deixo a minha homenagem ao revolucionario, ao comunista sincero.
Alguns amigos e povo anónimo estiveram hoje no crematorio do Alto de S. João na despedida ao Chico Martins.
Foi uma cerimónia simples, e espartana como a sua vida sempre foi.
Algumas figuras conhecidas do Bloco, e velhos militantes anti-fascistas estiveram presentes.
O filho leu um dos ultimos escritos da Politica Operaria, onde o Chico de sempre, escrevia com palavras claras, aquilo que pensava, e prestava homenagem a outro grande vulto da esquerda, o Francisco Miguel.
"Seremos poucos hoje, mas não desistimos dos nossos ideais."
Apesar das muitas divergências que nos ultimos anos tive com ele, o Chico , foi (é) ,a grande referência da minha geração.
E é um dos casos em que se pode dizer, manteve-se o mesmo militante empenhado até ao limite e até ao fim , naquilo em que acreditava, e não pactuava com tudo o que achava trair os seus principios.
Talvez por isso não fossem tantos os que estiveram presente como ele merecia, talvez por isso nenhuma televisão tenha tido disponibilidade para lhe dar uns parcos segundos, talvez por isso ainda hoje, alguns velhos conhecidos, não sabiam da morte do Chico.
Mas é assim que Portugal sempre pagou( salvo raras excepções) aos seus grandes homens.
E Francisco Martins Rodrigues foi ( é ) um deles
Até sempre companheiro.
Xico Martins e o João Pulido Valente, foram dos camaradas que me marcaram mais na minha iniciação na vida politica, pois estive na formação da UDP, como militante de base. Foi uma referência para mim e tentava acompanhar as posições que na “Luta Operaria” ele tomava. Presentemente tinha discordâncias com o caminho ideologico que ele defendia, mas não tenho duvida que a esquerda em que hoje me revejo, lhe deve muito.
Eu lia-o na Politica Operária.
Não o esquecerei.
Enviar um comentário
<< Home