Notas sobre o tema dos últimos dias
Perante as notícias da onda de criminalidade do último mês, acho que a Esquerda, tem algumas obrigações/desafios:
- Não esconder ou fingir que não vê a inquietação que as notícias da violência dos últimos dias acarreta.
- Recusar o alarmismo e denunciar a forma tablóide como a nossa comunicação social trata a delinquência.
- Não recear olhar os números de frente, com receio de, fazendo-o, estar a pactuar com as paranóias securitárias e repressivas da Direita.
- Lembrar que a criminalidade tem causas sociais e que essas causas são resultado de políticas (anti) sociais.
- Não "escolher" entre violências. Toda a violência, nomeadamente, sobre seres indefesos e mais fracos é sempre criminosa e como crime tem que ser tratada.
- Não "escolhendo" entre violências, denunciar as tentativas de branqueamento dos crimes que não abrem Telejornais e que vão da violência doméstica, seja sobre conjugues, sobre idosos, sobre filhos ou sobre pais, normalmente escondida pela vergonha e pelo preconceito, até à violência da corrupção e da extorsão capitalista (se entenderem o termo como chavão, confesso que não me incomoda muito).
- Recusar e denunciar as tentativas de juntar ao apelo pela segurança e à compreensivel preocupação, atitudes racistas e xenófobas.
- Recusar os "pensos rápidos e milagrosos". Sejam em forma de alterações ao Código Penal, de mais prisões preventivas, de mais polícias na rua ou de ordem para matar. Afinal, convém lembrar os de curtíssima memória, que o "êxito" da operação do BES, contrariamente ao que a Direita, a CS, o Governo de Direita e grande parte da opinião pública acreditaram ou quiseram fazer acreditar, não deminiu criminalidades nem aumentou sentimentos de seguança.
- Não se deixar cair na tentação da desculpabilização, recorrendo à chamada "descriminação positiva".
- Relembrar que a criminalidade tem causas sociais, resultado de políticas (anti) sociais e que, a ser real o crescimento verificado nos últimos tempos, isso não é alheio ao momento de instabilidade social, de carência económica, de desnorte moral, de alheamento intelectual que o País vive e que o neo-liberalismo provoca, incentiva, cala, consente ou ignora.
...
Etiquetas: Isabel Faria
13Comenta Este Post
ah este post percebe-se.
n é como o "artigo" do Dr. Daniel.
a isabel acha este coment como deve de ser, o daniel n.
Eh pá. Aí está um tema bem apanhado.
Bom post. Toma e bem posição mostrando como se não deve ser encurralado pela direita sobre ceros temas.
Assim se expressa a opinião, e muito bem. Aqui, não há equivocos, é mesmo assim.
A Isabel que explique melhor a justificação das causas sociais para o acréscimo da criminalidade violenta.
Escrever dessa forma é um lugar comum, todos os crimes têm uma causa social próxima.
Já agora lanço-te um desafio (se aceitares claro!).
Se e segundo a tua perspectiva, a onda de crimes tem a sua origem bem definida e expressa em causas sociais, qual a fórmula que preconizas para reduzir os números de criminalidade violenta neste país?
Concordo quando escreves que a imprensa tem excedido largamente o tempo de antena que concede aos criminosos em detrimento de um outro tipo de criminalidade que não abre os telejornais.
Agora a verdade é que as pessoas sentem na pele e na subtracção dos seus bens as investidas dos criminosos, e não pretendem saber a origem, pretendem é que seja posto fim a isto.
Se o estado não consegue impor a sua autoridade e proteger os cidadãos e os seus bens como é sua obrigação, não me espanta que a breve trecho, os cidadãos se comecem a organizar para defender os seus pertences individuais e colectivos.
Por muito que ideologicamente nos custe, não podemos pactuar com a indiferença e com o assobiar para o lado, quando as pessoas são constantemente vitimas de energúmenos desprovidos de escrúpulos.
Cumprimentos,
Comentador espantar não espanta,s da , é mesmo uma das muitas causas de tudo isto, mas este é um a das coisas em que a direita não mexe.A quem pertence a segurança "privada", quem é para lá recrutado e, simultâneamente, para organizações mesmo públicas.
Agora ver!' Dá umas voltas por lisboa e porto, e verás as condições de exclusão por muitos sítios. Basta-te abrir mais os olhos.
ò meu caro(a) fj,
Mais cego é aquele que não quer ver.
Infelizmente não são só nos bairros do Porto e Lisboa que a exclusão social salta à vista, aliás essa situação nem sequer é de agora.
O que acontece é que não nos podemos resignar como se fosse uma questão inevitável.
Atribuir esta onda de crime violento apenas à exclusão social, é fechar os olhos ao crime violento organizado.
Os assaltos a bancos, a comerciantes de ourivesaria, a estações de abastecimento de combustível, estações de correio, etc, etc, etc, não são feitos por "ladrões de meia tigela", resultam isso sim de um sentimento de facilidade e impunidade por parte das estruturas do estado, que são bem exploradas pelos criminosos.
Não vale a pena atalhar caminho em demarcações ideológicas, isso sim é cegueira, e pior do que o cego é aquele que não quer ver.
Cumprimentos,
Isabel
Pões o dedo nas feridas certas.
De qualquer modo, estou bem desconfiado de que esta grande encenação e campanha de "promoção" do crime violento e da insegurança, está a servir para para obrigar os cidadãos a engolir e ainda agradecer, todas as medidas que por aí vêm e que colocam em causa liberdades e direitos que muito custaram a conquistar.
Quando se abre um noticiário anunciando "Mais um crime violento!" e depois o que se passou, foi um assalto a um mini-mercado, às 3 da manhã, para roubar a caixa multibanco... e ninguém viu ninguém, alguma coisa cheira a propaganda.
Todo o tempo que se perca até começar a discutir seriamente este fenómeno, será muito grave.
Abreijos
P.S. Hoje foi a minha vez de "respingar" no Troll, ali no post do Daniel Arruda... mas não foi para me vingar de ti :)))
Vereador da CDU no Seixal, perde 6 milhões por manifesta incompetência, no blog JuventudeSeixal.blogspot.com
Caro Daniel Geraldes, o comentário fica por cá mas quando quiseres publicitar o teu blog fa-lo de modo a que pareça um comentário. De outra forma da próxima vez apagamo-lo.
Amigos e visistantes e assim-assim, desculpemmas as respostas ficarão para amanhã. Estou completamente KO.
Apenas uma ao Samuel, para dizer que já vi o raspanete...e que os teus raspanetes são tão bem tartados no Troll como acredito que trataste o meu no Cantigueiro
E ao Comendador, que prometo não esquecer a clarificação que me pede.
Amanhã devo ter recuperado.(esperoeu!!!)
Comendador, vamos então com um pouco mais de tempo e menos de cansaço.
As causas sociais, penso que não têm muito que ser explicadas. Aumenta o desemprego, aumenta o endividamento, resultante em grande parte do aumento desenfreado das taxas de juros, e da imagens de consumos desenfreado que a nossa "cultura" vende, vamos pela calada da noite montes de homens e mulheres a dormir nas ruas e a "catar" os caixotes do lixo dos sepermercados. Junta-se a isto o resultado (há sempre um tempo necessário para a fermentação) de erros urbanisticos graves. De opções políticas erradas que enfiaram em ghetos gentes vindas de lugares diferentes com formas de vida diferentes, gente que o tal aumento do desemprego, cada vez mais concentra nas ruas,tempos inteiros, dias e noites inteiras, lugares extensos onde a polícia não entra. Por falta de meios, de articulação, por medo, por inércia, por ingenuidade, sei lá...mas onde a polícia não entra.
Ou entra apenas em alturas em que a fermentação provoca as imprescindiveis bolhas e...rebenta.
E depois quando rebenta, à ignorância de que a fermentaçãoo era inevitável, segue-se a "democratização" dos criminosos. Naquele bairro, quando uma bolha rebenta, todos se tornam, aos olhos da Polícia e da opinião pública delinquentes, presentes ou futuros. A maioria das vezes esquecendo-nos que os não delinquentes dos bairros "complicados" são as primeiras vitimas dos delinquentes.
Agora nota que não falei apenas de causas sociais. Juntei-lhes úma era de ausência de valores, em que todos nos tornámos desconhecidos de todos. Em que perdemos objectivos e abdicamos de acreditar que amanhã será diferente. E de lutar por isso.
E claro que há uma Polícia sem articulação, em muitos casos sem meios, humanos talvez, mas penso que, sobretudo técnicos. E há os atrasos da justiça que, ou abusa da prisão preventiva e isso tem custos financeiros (para além de humanos e de justiça, mas deixemos isso para depois) que o Estado não quer ou não pode, sobretudo em altura de crise, suportar.
Ou acaba-se, por não deter em tempo útil (isto é, antes do próximo crime), os delinquentes porque os julgamentos esperam anos nas mesas dos juízes e porque, como vivemos num Estado de Direito, todos são inocentes até prova em contrário.
Ah e claro que também sei que há outro crime. O que a mobilidade e a facilidade de tráfico de armas permite.Mas esse é rsultao da globalização e não me parece que seja um caso nosso.
E claro que o cidadão tem o direito de exigir justiça. Agora o que não aceito é que o cidadão apenas exija justiça quando os seus bens são atacados por delinquentes...e não seja tão exigente quando os seus bens são atacados por especuladores sem ecrupulos, por exemplo.
Enão aceito que os cidadaõs sejam muito mais exigentes a (passe o pleonasmo) exigir justiça para o assassino do dono da ourivesaria do que para o marido que matou a mulher (morre uma por semana em Portugal).
Apesar de tudo ainda não chegamos ao ponto de todas as semanas ser assassinado alguém por assaltos a bancos ou a ourivesarias. Se para lá caminhamos? Possivelmente. Mas há que se ter também uma certa lucidez na forma como se analisa estas coisas....porque um crime é um crime.E uma vida vale infinitas vezes mais que umas centenas de euros.
Por isso concordo no essencial contigo no que escreveste no teu último parágrafo. Mas, passe a pretensão, penso que por essa "não indiferença" que escrevi o post.
Viva Isabel e restante equipa,
reconheço antes de mais que este espaço não será o mais apropriado para poder-mos reflectir profundamente, sobre tudo o que envolve a temática do crime violento no nosso país, e a forma como vem amplificando os seus efeitos no subconsciente dos cidadãos.
Acho que não compreendeste muito bem o que te sugeri.
A explanação que fizeste das causas é mais ou menos evidente para justificar a pequena criminalidade e a violência doméstica, mas não serve para atribuir de forma racional uma causa para o crime violento organizado e passo a explicar o meu ponto de vista:
Quando um GNR é suspeito de ter assaltado três bancos, quando um motorista de uma carrinha de transporte de valores é interceptado e rebentam com explosivos o cofre a carrinha, quando entram meia dúzia de encapuçados numa ourivesaria e se dispõem estrategicamente nas imediações de armas com miras laser nas mãos e ameaçando quem se atreve a olhá-los das janelas de um prédio, não estamos certamente a falar de desempregados, precários ou endividados, pelo menos nos termos em que os defines.
Depois esperava que tivesses apontado algumas soluções para as causas que segundo a tua perspectiva tão bem identificaste.
Não pretendo voltar a este espaço para comentar esta questão, já que fica pouco evidente o contributo que possámos estar a dar para a resolução do problema que não passa certamente pela troca de comentários.
Cumprimentos,
Enviar um comentário
<< Home