Querido Governo....
Querido Governo,
Calculo que não me conheçam nem saibam nada da minha vida, mas, mesmo assim, e tendo tido conhecimento da vossa bondade em dar um aval de 20 mil milhões de Euros aos nossos bancos (e eles merecem, não é com nenhum toque de azedume ou inveja que de tão meritórias obras sociais, falo, bem pelo contrário), ouso bater-vos à porta e pedir ajuda.
Passo então, resumidamente, a contar-vos o meu problema.
Comprei uma casa com um empréstimo, dado duma forma altruista e com uma disponibilidade comovente, por uma dessas instituições meritórias que V.Exas, agora, ajudam, fez em Setembro, 11 anos. Entretanto, o valor da prestação não tem parado de subir. Confesso que não tenho dados concretos sobre a diferença entre o que pago hoje e pagava há 11 anos, pois tenho algum receio das consequências que tais contas possam ter para o meu coração e tenho que pensar na minha saúde, pois tenho a obrigação de pagar o tal empréstimo que me foi, em boa hora, concedido. Também não faço ideia quanto devo. Sei que pedi 16000 contos, na altura ainda havia contos, e presumo que neste momento deva dever p'raí três ou quatro vezes mais, mas agora já em Euros. Sei que vou acabar de pagar quando já estiver na reforma, no melhor dos casos, ou quando estiver numa caixinha numa gavetita qualquer (como vamos passar a ser intimos, confesso-vos que resolvi ser cremada para não ter que pagar o aluguer do terreno no Alto de S.João), no pior. Mas, porque sou de boas contas, penso pagar. Nunca deixaria ficar mal aqueles que, duma forma tão desinteressada, me ajudaram a ter um tecto.
Agora o problema está mesmo aí. No tecto. Tenho o tecto a cair por causa de uma infiltração da chuva. É um problema que se tem vindo a agravar com o decorrer dos anos e, para que o céu não me caia em cima, precisava de ter dinheiro para arranjar aquilo.
E aqui entram, V.Exas. O Banco é muito meu amigo, mas também não é parvo. Sabe perfeitamente que, mesmo que eu seja uma pessoa séria e honestazinha, muito menos que qualquer Banco ou banqueiro, mas ainda assim séria e honestazinha, o dinheiro que me fica depois de pagar o empréstimo da casa, mais o resto das coisas que os Bancos sabem que as pessoas precisam para viver, luz, comer e assim, fico sem dinheiro para pagar uma nova prestação. Confesso que tentei poupar dinheiro, durante estes anos e evitar ter que recorrer de novo à sua bondade e amizade, mas não consegui. Meti na cabeça que tinha que comer todos os dias e agora quem se lixa é o tecto...
Preciso, pois, e daí esta carta, que me concedam um aval para que o Banco me conceda um empréstimo para arranjar o tecto. Não precisa de ser tão grande como o que concederam às nossas instituições bancárias de solidariedade social e prometo honrar os meus compromissos. Possivelmente será daqui a umas dezenas de anos, mas, em último caso, deixar-vos-ei como herança umas colheres de prata que eram da minha bisavó. Também acho que tenho uns brincos de quando nasci e aquilo é ouro.
Peço-vos, pois, querido Governo, que assim que tiverem oportunidade me enviem os vossos dados de identificação, BI e número de contribuinte, e que me concedam, então, um aval de 100.000 Euros, necessário para as tais obras. Eu sei que sobrará algum, mas será para ir jantar e mais o meu filho no Gambrinus e comprar uma caixinha de Sheba ao Bono (o nosso gato), apenas, para comemorar o terem-me resolvido o problema do tecto e dado ao meu querido banco a garantia que, mesmo eu já na caixinha dentro da gaveta, haverá uma alma, tão caridosa como a dele, para honrar os meus compromissos - a vossa, meu querido Governo.
Desde já vos agradeço a disponibilidade e contem comigo para tudo o que necessitarem. Se preciso for posso distribuir Magalhães, durante as horas que sobrarem das 60 semanais que V.Exas me querem pôr a trabalhar.
Um beijinho
Isabel Faria
PS: Em anexo seguem os meus contactos.
Etiquetas: Isabel Faria
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Querida Zabelinha.
Depois do que disseste, só me resta concordar pois, como tu, tenho sido um contribuinte mensal desse roubo imenso que a banca faz a quem dela necessita, não podendo ter outra opinião que a tua. Talvez apareça outro Magalhães que não o dos computadores, que descubra uma nova passagem, para uma vida mais honesta e simples que esta.
Li até ao fim.
Tá fisce...
1 conhcer conhecem, descansa;
2 a carta é tão querida, poucos governo são tratados com tanta ternura;
3 muito gostaria de vir a conhecer a resposta.
Tambem quero,tambem quero...e acreditem que eu tambem sou muito boa pessoa e honesto e ando ha anos a descontar pontualmente todos os meses para VExªs.
Podem depositar na mesma conta da minha amiga ,para evitar mais burocracias que a gente depois trata da divisão.
Atentamente,+um contribuinte.
P.S.Isabel ja sabes depois o deposito é dividido que eu tambem tenho ai umas coisas a pagar,lool
bjs
O aval é só para bancos, pois são estes os motores da economia. A sra. não passa de uma trabalhadora por contra de outrem. É empresária, cria emprego e por consequência riqueza, não.
E então queixa-se de quê. Vá lá trabalhar para a revolução que nós tratamos de si.
Do Ministério das Finanças com o aval do PM.
Zé, não digas isso da banca, que depois o Governo ouve, fica zangado comigo e não me dá o aval.Por favor faz um comentário a dizer que quam escreveu aquilo fou um gajo quaqluer que te usurpou a identidade. Please!!!
Anónimo, obrigado. ESte Governo inspira-me sempre.
FJ, achas que me conhecem? E achas que devo ter alguma espreança que me vão dar o aval para o tecto?
Será que gostaram de me despedir com um beijinho?
Tantas dúvidas, Deus meu...
Gandalf, tudo bem que usem a minha conta, mas terás que pagar um 2º jantar, seja lá onde for, porque fui eu que lhes toquei no coração...
Querido Ministério das Finanças com aval do nosso querido Engenheiro:
Não seja injusto. Eu ofereci-me para vender Magalhães. E posso pensar nessa parte da Revolução, se me aumentar o aval...além do tecto, gostaria de comprar uma casita ao pé do mar, um monte no Alentejo, um veleiro, um carro com motorista e fazer uma viagem no Expresso do Oriente...também preciso de um ferro de engomar novo, que aquele já não deita vapor, tadinho. Apeoveitava para pagar o resto desta de uma vez, porque gosto muito de viver em Lisboa. Talvez também mudasse de iedias quato á cremação, que aquilo deve ser um bocado quente de mais para o meu gosto...
Como deve saber, pelo contacto diário com os nossos queridos e solidários empresários, tudo tem o seu preço. Até a Revolução...
Obrigado e um beijinho para si também.
posts grandes n leio isabel, ja devias saber. mas como te esforçaste tanto fica aqui a minha salva de palmas.
clap clap clap
Arménio obrigado. S.BES ou S.BCP ou S. Santander te pagem!!!
Te pagem??? Te paguem!!! porque raio é que eu sou completamente disléxica teclar e como letras e troco-as todas???
Gosto de ler o que escreve minha cara....tem graça quando escreve...o que é dificil nos dias de hoje no nosso pais...vou passar por aki dado que entre madrid e lisboa a distancia é alguma prometo ver PORTUGAL com seus olhos..."gostei do querido governo" e olhe que o governo tb vai gostar....aceite uma chavena de chocolate pelo bem que me soube a sua escrita....arte
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