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sábado, fevereiro 14, 2009

Dos baús

Penso que já se aperceberam todos que ando um bocado alterada...quando ando alterada, ouço música , leio livros, vejo filmes, tiro fotos a semáforos, digo vezes sem conta gosto de ti, não para me convencer ou pra convencer, mas porque gosto sempre de dizer a verdade actualizada, passo noites a partir nozes com o meu filho e outras noites a sonhar...tudo menos as coisas más, dos maus dias.
Quando não ando alterada vejo filmes novos, leio livros novos e ouço músicas novas. Quando ando alterada não. Vou aos baús.
Ontem à noite, enquanto o meu filho estudava afincadamente código da estrada para o exame de amanhã, vi pela 325º ou 524ª, perdi-me nas contas, Os amigos de Alex. Não me perguntem se o considero um bom filme, que isso não vem nada para o caso. Os Amigos de Alex não têm que ser um bom ou um mau filme. Aliás até podiam não ser um filme, que eu me estava nas tintas para isso. São Os Amigos de Alex e ponto. Vi e cumpri o ritual. Choro nas mesma cenas, danço, mas dançar mesmo, com pés e tudo, com as mesmas músicas. E já faço isso por antecipação porque já sei as cenas de cor e salteado. Aquela cena da namorada do Alex a levar o meu Williamzinho para a casinha do quintal dá cabo de mim....lembrei-me que já tinha escrito isso há anos. Fui repescá-lo ao baú do Afixe. Tem quase 5 anos (fiz uma ou duas alterações)...e olhem, desculpem lá qualquer coisinha. Como dá para ver o post velhote não é sobre os Amigos de Alex, apesar de já ter visto Os amigo de Alex as tais 829 vezes (já na altura a coisa era grave e foi há quase quatro anos, imaginem)...é sobre o meu Williamzinho (onde andas tu, meu lindo, não há direito que me tenhas abandonado...a isso chamar-se-ia maldade se não fosse crime...).

"Acho que me apaixonei por ti nos Amigos de Alex. Ao longo dos anos, fui devorando todos os teus filmes. Diziam-me os amigos, dizia a crítica, que és sempre igual. Tens sempre os mesmos tiques, os mesmos gestos, o mesmo sorriso e o mesmo olhar. Não te preocupes. No cinema, parece-me que tenho gostos diferentes aos da vida. Gosto de actores (engraçado, só me lembro de homens) que sejam sempre iguais. Prefiro o Jack Nicholson ao Roberto de Niro, por exemplo. E não me digam que não se pode fazer este tipo de comparações, porque me apetece e pronto. Parece que, quando vou ver um filme destes actores são os gestos sempre iguais que procuro. Não vou, essencialmente, para ver um filme. Vou para matar saudades. Cada vez que te vou ver, vou, pois, matar saudades tuas.
Vi as Noites Escaldantes, O Beijo da Mulher Aranha, os Filhos dum Deus Menor, o Turista Acidental, a Alice, a Edição Especial, o Mistério de Gorki Park, o Até ao fim do Mundo, as Viagens Alucinantes, dezenas de vezes. Sem nunca me cansar do teu sorriso, desse teu ar desajeitado, do teu olhar perdido...
Perdi a conta às vezes que vi os Amigos de Alex e o Fumo. O teu ar de coitadinho, de quem pede uma festinha na cabeça, de quem não sabe por onde nem para onde vai, que procura uma mãozinha, ou sabe-se lá que mais, ainda me dá volta à cabeça.

Parece que anda com problemas graves com o álcool, que está cada vez mais igual, que está gordo, que quase não filma, que está velho. E eu continuo aqui cheiínha de saudades. E com vontade de lhe fazer aquela festinha na cabeça, que o fizesse sorrir daquela maneira desajeitada, que usava quando a Geena Davis lhe ensinava a passear o cão ou a Kathleen Turner o convencia a matar o marido. Isto para não falar naquele arzinho que fazia quando a namorada do Kevin Costner, ou seja do Alex (deve ser porque, no fim do filme, acaba por ficar com ele, na casa do quintal, que sempre me recusei a decorar-lhe o nome...) recentemente passado para os anjinhos por conta própria, lhe pegava na mão para o levar para o escuro.

Com a tua imagem de indefeso e aquela tua madeixa de cabelo alourado, quem é que tem tempo para reparar naqueles pormenores todos que a crítica usa para te chingar o juízo, meu lindo? Quem é que pode resistir e não continuar embevecida, estes anos todos depois daquela busca desesperada pelos drunfozitos, no porta-luvas do automóvel, no caminho do funeral do Kevin Costner? E como te poderia ter ajudado, então, a descobrir, uma porra dum pilulazita qualquer...ou quem sabe algo mais...

Desculpem o desabafo, mas sou capaz de, esta tarde quente, ir ver pela 23º vez o funeral do dito, a amiga que empresta o marido à amiga para tentar fazer a criancinha, a amiga que volta a dar uma voltinha com o amigo para reviver os tempos antes de casar com um chato dum gajo que nunca fumou charros e sabe lá pois o que é a vida, o amigo que tenta entrar no carro pela janela como faz nos filmes...para poder encontrar aquele arzinho infeliz a enrolar o tal do charrito ( e como eu teria precisado de ti para isso, meu lindo...eu, que sempre que fumei um charro na vida tive que recorrer a ajuda externa para o enrolar, porque depois de meia hora, quarenta minutos, de tentativas vãs, a mortalhita estava toda coitadinha e o charro continuava por enrolar...como me terias feito um jeitão, também para isso, meu lindo!).
A gente não manda na vontade. Ponto final. Viva o meu Williamzinho. Prometo que te vou continuar a ver a matar maridos, a fumar charros e a passear cães."

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3Comenta Este Post

At 2/15/2009 12:31 da tarde, Blogger Sin escreveu...

:) E que tal acrescentar o Mr. Brooks à lista? Ele nesse filme é mais uma vez uma alma atormentada... Mas acho que não suscita grande simpatia aí. Afinal, talvez seja melhor não o acrescentar... Para quê dismistificar algo que guardamos como sendo tão belo? **

 
At 2/15/2009 7:30 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Sin, quando o post repescado.foi feito, ainda não havia Mr. Brooks...ainda bem. Gosto mais dele assim desamparadito :)))

 
At 2/16/2009 7:30 da manhã, Blogger cereja escreveu...

Há alguns filmes que «envelhecem» (mesmo assim a gente gosta de os ver...) mas este ainda se aguenta muito bem! Ficou a modos que um símbolo, há quem fala «nos amigos de Alex» como uma expressão.

 

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