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domingo, setembro 16, 2007

Isto é só rir VIII

Uma história verídica na rubrica "Isto é só rir"? Pois é. Infelizmente ou talvez não o ser humano tem esta capacidade de se rir com a desgraça alheia. Eu pelo menos não consegui deixar de o fazer. Se não gostarem podem sempre não ver ou achar que isto é uma espécie de humor inglês muito do norte.
A verdade é que este programa acabou com a carreira deste apresentador. Divirtam-se e tenham um bom domingo.
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33Comenta Este Post

At 9/16/2007 12:33 da tarde, Blogger Isabel Faria escreveu...

Até eu me fartei de rir...e o pior é que não sei se foi com a voz do homem ou com o facto de o apresentador não conseguir parar de rir e as desgraças que daí viriam...o ser humano é mesmo mauzito.
Ah, e também me ri com a tradução...e mais uma vez não sei se com a tradução se me ri de quem escreve assim. Enfim, não somos perfeitos é o que é.

 
At 9/17/2007 2:33 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
Links:
O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
Links:
O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=492

9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=438

9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=497

23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
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24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=499

26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=501

28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:33 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
Links:
O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=492

9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=515

22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
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24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
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26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=501

28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:33 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=514

19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
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24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
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26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:34 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
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24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
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26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:34 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=493

10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=510

13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=511

14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=512

16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=498

24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=499

26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:34 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=491

3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=438

9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=493

10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=510

13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=511

14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=512

16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=498

24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=499

26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=501

28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:34 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=510

13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=511

14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=512

16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=498

24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=499

26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=501

28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 2:35 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

INSTRUMENTUM MENSIS APRILIS
PRO LECTURA MAGISTERII SUMMI PONTIFICI BENEDICTI XVI
PRO EVANGELIZATIONE IN TERRIS MISSIONUM


Annus II – Numerus IV, April A.D. MMVI



Para o Santo Padre Bento XVI, o mês de abril foi marcado pelos últimos dias da Quaresma, cujo ápice foram a Semana Santa e Santa Páscoa, dias densos de oração. Papa Bento XVI presidiu a Via Sacra no Coliseu, a mesma Via Sacra para a qual, um ano atrás, escreveu as meditações. Na mensagem proferida antes da benção Urbi et Orbi, no balcão central da basílica vaticana, além de recordar que a Ressurreição de Cristo é o mistério central da fé cristã, o Papa Bento XVI fez um convite solene à Comunidade Internacional, pedindo atenção e ajudas para as populações mais atingidas pela pobreza e a violência. “Que o Espírito do Ressuscitado – disse o Pontífice na Mensagem de Páscoa – leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestino a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”.



• SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
2 de abril de 2006 – Angelus
2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II
3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim em visita Ad Limina
5 de abril de 2006 – Audiência geral
9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa de Domingo de Ramos
9 de abril de 2006 – Angelus
10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma
13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa “in Coena Domini”
14 de abril de 2006 – Discurso na conclusão da Via Sacra no Coliseu
16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e saudações aos povos e nações
17 de abril de 2006 – Regina Coeli
19 de abril de 2006 – Audiência geral
22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
23 de abril de 2006 – Regina Coeli
24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana em visita Ad Limina
26 de abril de 2006 – Audiência geral
28 de abril de 2006 - Telegrama de pêsames pelas vítimas do atentado em Nassiriya

• VERBA PONTIFICIS

Deus está próximo
Educação
Dia Mundial da Juventude
João Paulo II
Missão
Sacerdotes
São Francisco Xavier
Semana Santa
Sofrimento

• INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão – um grupo de sacerdotes celebra 10 anos de ordenação sacerdotal, a maior parte dos quais, na evangelização da área rural
São Francisco Xavier – “Francisco Xavier encarnou com inaudito radicalismo a obediência ao mandato confiado pelo Senhor a seus Apóstolos: “Ide e tornai os povos meus discípulos”: o Card. Rouco Varela, Legato Pontifício, preside a celebração do V centenário do nascimento de São Francisco Xavier
São Francisco Xavier - “São Francisco Xavier: um grande dom de Deus para Navarra mas também para a Igreja universal e toda a humanidade”: Carta pastoral do Arcebispo de Pamplona

• QUAESTIONES

VATICANO – Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: São Vicente de Paulo
VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
VATICANO – AS PALAVRAS DA DOUTRINA de Pe. Nicola Bux e Pe. Salvatore Vitiello. “Pertença eclesial e caridade”



SYNTHESIS INTERVENTUUM

1 de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”
VATICANO - “O homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio”: Papa Bento XVI aos participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI recebeu esta manhã na Sala Clementina, no Vaticano, os participantes do Seminário promovido pela Congregação para a Educação Católica, provenientes de cerca de 50 nações, que debateram o tema: "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”. No seu discurso, o Papa recordou que o Seminário levou em consideração “a contribuição que as Universidades européias, ricas de sua longa tradição, podem oferecer à construção da Europa do terceiro milênio, levando em consideração que toda realidade cultural é, ao mesmo tempo, memória do passado e projeto para o futuro”. O Papa Bento XVI prosseguiu: “A esta reflexão, a Igreja pretende dar sua própria contribuição, como já fez no decorrer dos séculos. Constante foi, com efeito, a sua solicitude para com os Centros de estudo e as Universidades da Europa, que com "o serviço do pensamento" deixaram e continuam a deixar às jovens gerações os valores de um peculiar patrimônio cultural, enriquecido por dois milênios de experiência humanística e cristã”.
Olhando para o "velho" continente, o Santo Padre evidenciou como seja fácil constatar “quais desafios culturais a Europa hoje deve enfrentar, sendo empenhada na redescoberta da própria identidade, que não é somente de ordem econômica e política. A questão fundamental hoje, como ontem, permanece aquela antropológica. Ou seja, trata-se de esclarecer qual seja a concepção de homem que está na base dos novos projetos”. O Seminário se perguntou, com efeito, a serviço de qual homem a Universidade deve estar: “de um indivíduo fechado na defesa dos seus únicos interesses ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com os outros, na busca do verdadeiro sentido da existência? Pergunta-se, além disso, qual seja a relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica”. O Papa Bento XVI reiterou: “É preciso dizer com força que o ser humano nunca pode ser sacrificado em prol dos sucessos da ciência e da técnica: eis o motivo pelo qual aparece em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros da tradição humanística fundada sobre valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que encontraram nas Universidades européias autênticos laboratórios de pesquisa e de aprofundamento”.
Recordando o que afirmou o Papa João Paulo II na Exortação pós-sinodal “Ecclesia in Europa” (n.26), o Papa Bento XVI disse: “A Igreja trabalhou para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura européia. Mas o homem não pode compreender a si mesmo de modo pleno se prescinde de Deus. Esta é a razão pela qual não pode ser ignorada a dimensão religiosa da existência humana no momento em que se toca a construção da Europa do terceiro milênio. Emerge aqui o peculiar papel das Universidades: na atual situação, pede-se que não se acontente de instruir, mas de se empenhar também para desempenhar um atento papel educativo ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao patrimônio de ideais e valores que marcaram os milênios passados. A Universidade poderá, assim, ajudar a Europa a conservar a sua "alma", revitalizando aquelas raízes cristãs que a originaram.” (S.L.) (Agência Fides 1/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=487

2 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - O Papa Bento XVI recorda no Angelus João Paulo II: “Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz” - O convite a aderir ao jejum e à oração pela paz no Iraque e no mundo
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Em 2 de abril do ano passado, num dia como hoje, o querido Papa João Paulo II vivia nestas mesmas horas a última fase de sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou uma marca profunda na história da Igreja e da humanidade”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou o seu discurso antes de rezar o Angelus de domingo, 2 de abril. Dirigindo-se aos numerosos fiéis reunidos na Praça S. Pedro, o Papa recordou os últimos dias da vida terrena de João Paulo II, e a bênção Urbi et Orbi concedida no dia de Páscoa somente com o gesto da mão: “Morreu como havia vivido, animado pela indomável valentia da fé, abandonando-se em Deus e encomendando-se a Maria Santíssima”.
“O que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milênio?”, perguntou Bento XVI. “Sua herança é imensa, mas a mensagem de seu longo pontificado pode-se resumir nas palavras com as quais o quis inaugurar, aqui, na Praça de São Pedro, em 22 de outubro de 1978: «Abram as portas a Cristo!». João Paulo II encarnou este chamado inesquecível com toda sua pessoa e toda sua missão de sucessor de Pedro”. Em particular, visitando os países de todo o mundo, encontrando multidões, comunidades eclesiais, governantes, chefes religiosos e as diversas realidades sociais, “realizou algo como um único e grande gesto de confirmação das palavras iniciais. Sempre anunciou Cristo, propondo-O a todos, como havia feito o Concílio Vaticano II, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça, de paz. Cristo é o Redentor do homem --gostava de repetir--, o único Salvador de toda pessoa e de todo o gênero humano… Sua morte foi o cumprimento de um testemunho coerente de fé, que tocou o coração de muitos homens de boa vontade.”
Depois da oração mariana, o Papa Bento XVI convidou todos a unirem-se à iniciativa dos Bispos do Iraque (veja Fides 27/3/2006) pela paz naquela terra e no mundo inteiro, com essas palavras: “O Patriarca de Babilônia dos Caldeus, Sua Beatitude Emmanuel III Delly, e os Bispos iraquianos lançaram um apelo aos fiéis e aos homens de boa vontade, para que em 3 e 4 de abril - amanhã e depois - se unam na oração e no jejum para pedir a Deus o dom da paz e da concórdia no Iraque e no mundo inteiro. Convido todos a aderirem à iniciativa dos nossos irmãos daquele martirizado País, confiando tal intenção à intercessão de Maria Santíssima, Rainha da Paz”. Dirigindo-se, por fim, aos peregrinos em italiano, o Santo Padre recordou a trágica conclusão do seqüestro de Tommaso, convidando à oração: “Fomos todos atingidos pelo caso do pequeno Tommaso, barbaramente assassinado: rezemos por ele e por todas as vítimas da violência”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
Links:
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=488

2 de abril de – Vigília mariana em memória de João Paulo II
VATICANO - Milhares de fiéis na praça S. Pedro para a Vigília mariana, no primeiro aniversário da morte de João Paulo II. Papa Bento XVI: “Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No primeiro aniversario da morte do Servo de Deus Papa João Paulo II, a Diocese de Roma promoveu uma Vigília mariana que se realizou na Praça S. Pedro na noite de domingo, 2 de abril. Milhares de fiéis romanos, aos quais se uniram numerosos peregrinos de outras nações, lotaram a praça, que foi inundada pelas luzes das velas acesas. A Vigília teve início com a leitura de alguns textos de Karol Wojtyła, intercalados por cantos executados pelo Coro da Diocese de Roma. Às 21h, o Santo Padre Bento XVI assomou à janela de seu escritório para guiar a reza do Terço. No final da oração, por volta da hora da morte de João Paulo II, o Santo Padre dirigiu aos presentes um breve discurso. “Passou um ano da morte do Servo de Deus João Paulo II, ocorrida quase a esta mesma hora - disse Bento XVI -, mas a sua memória continua a ser mais viva do que nunca, como testemunham as muitas manifestações programadas nesses dias em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração, continua a comunicar-nos o seu amor por Deus e o seu amor pelo homem; continua a suscitar em todos, especialmente nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”.
Para tentar resumir a vida e o testemunho deste grande Pontífice, o Papa Bento XVI utilizou duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", ou seja, “fidelidade total a Deus e dedicação sem reservas à própria missão de Pastor da Igreja universal”. “Fidelidade e dedicação que apareceram ainda mais convincentes e comoventes nos últimos meses... A sua doença, enfrentada com coragem, tornou todos mais atentos à dor humana, a toda dor física e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pela sua aparência, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e os gestos, o caro João Paulo II não cansou de indicar ao mundo que, se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se a Ele adere com todo o coração, não lhe falta nada. Pelo contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Justamente porque se aproximou sempre mais de Deus na oração, na contemplação, no amor pela Verdade e a Beleza, o nosso amado Papa pôde fazer-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade inclusive àqueles que estão distantes da fé cristã”.
O Papa Bento XVI exortou “a acolher novamente a herança espiritual que ele nos deixou”: viver buscando incansavelmente a Verdade, que é a única que satisfaz o nosso coração, e não ter medo de seguir Cristo para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. Por fim, o Papa se dirigiu aos fiéis reunidos diante da Cúria do arcebispado de Cracóvia, para Via-Sacra guiada pelo Card. Stanisław Dziwisz, em conexão com a Praça S. Pedro: “Permanece viva em nós a recordação de João Paulo II e não se apaga o sentido de sua presença espiritual - disse Bento XVI em polonês -. Que a memória do particular amor que nutria pelos seus compatriotas seja sempre para vocês a luz no caminho em direção a Cristo”. (S.L.) (Agência Fides 3/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=489

3 de abril de 2006 – Santa Missa em sufrágio de João Paulo II
VATICANO - Papa Bento XVI na homilia da Missa em sufrágio de João Paulo II: “Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar, sem medo, na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Esta noite, o nosso pensamento retorna com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo, o coração é impulsionado a olhar adiante. Sentimos ressoar na alma os seus reiterados convites para avançar sem medo na estrada da fidelidade ao Evangelho para sermos arautos e testemunhas de Cristo no terceiro milênio. Nos voltam à mente as suas incessantes exortações a cooperar generosamente para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos agentes de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo sobre Cristo, "o mesmo ontem, hoje e sempre" (Hb 13,8), que guia fortemente a sua Igreja.” Com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI se dirigiu aos milhares de peregrinos que na noite de segunda-feira, 3 de abril, se reuniram na praça S. Pedro para participar da celebração da Santa Missa presidida pelo Papa e concelebrada pelos Cardeais presentes em Roma, em sufrágio do falecido Sumo Pontífice João Paulo II.
“Nesses dias, é particularmente viva na Igreja e no mundo a memória do Servo de Deus João Paulo II no primeiro aniversário da sua morte - disse Bento XVI no início da sua homilia -. Saúdo com afeto, junto aos Cardeais, os Bispos, os sacerdotes e os religiosos, os numerosos peregrinos vindos de tantas partes, especialmente da Polônia, para testemunhar estima, afeto e profundo reconhecimento por ele”.
Comentando as leituras proclamadas e aplicando-as ao Papa João Paulo II, o Santo Padre disse: “Na primeira leitura, extraída do Livro da Sabedoria, nos foi recordado qual é o destino final dos justos: um destino de felicidade superabundante, que recompensa sem medida os sofrimentos e as provas enfrentadas no decorrer da vida”. E prosseguiu referindo-se à missão de João Paulo II: Ele “fez dom a Deus e à Igreja com a sua existência e viveu a dimensão sacrifical do seu sacerdócio especialmente na celebração da Eucaristia… Ele nunca fez mistério sobre o seu desejo de se tornar sempre mais uma só coisa com Cristo Sacerdote, mediante o Sacrifício eucarístico, fonte de incansável dedicação apostólica”. Na segunda leitura, s. Pedro utiliza também ele a imagem do ouro provado com o fogo e a aplica à fé (cfr 1 Pd 1,7). “Com efeito, nas dificuldades da vida, é principalmente a qualidade da fé de cada um a ser provada e verificada: a sua solidez, a sua pureza, a sua coerência com a vida - disse Bento XVI - . Pois bem, o saudoso Pontífice, que Deus havia dotado de múltiplos dons humanos e espirituais, passando através das fadigas apostólicas e da doença, apareceu sempre mais uma "rocha" na fé… Uma fé convicta, forte e autêntica, livre de medos e compromissos, que contagiou o coração de tantas pessoas, graças também às numerosas peregrinações apostólicas em todas as partes do mundo e, especialmente, graças àquela última "viagem" que foi a sua agonia e a sua morte.”
Por fim, a página do Evangelho que apresenta João sob a Cruz ao lado de Maria e Jesus, que os confiou um ao outro, ajuda a compreender um outro aspecto da personalidade humana e religiosa de João Paulo II: “Como o Apóstolo evangelista, também ele quis receber Maria em sua casa… quem abre o coração a Maria, na realidade é por Ela acolhido e se torna seu. O lema marcado pelo estigma do Pontificado do Papa João Paulo II, Totus tuus, resume bem esta experiência espiritual e mística, em uma vida orientada completamente a Cristo por meio de Maria: ‘ad Iesum per Mariam’”. O Papa Bento XVI concluiu a sua homilia confiando à intercessão da Virgem, Mãe da Igreja, para que nos ajude a sermos em todas as circunstâncias, como João Paulo II, “apóstolos incansáveis do seu divino Filho e profetas do seu amor misericordioso”. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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3 de abril de 2006 - Discurso aos Bispos da Costa do Marfim, em visita Ad Limina
VATICANO - “Diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos da Costa do Marfim
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As responsabilidades dos católicos na construção de uma nação e de um mundo de paz e reconciliado foram um dos argumentos principais tratados pelo Santo Padre Bento XVI no seu discurso aos Bispos da Costa do Marfim, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 3 de abril. “A crise que o país vive infelizmente evidenciou as divisões que constituem uma ferida profunda nas relações entre os diversos membros da sociedade - disse o Papa Bento XVI -. As violências que derivaram minaram gravemente a confiança entre as pessoas e a estabilidade do país, deixando atrás de si sofrimentos difíceis de serem sanados. O restabelecimento de uma verdadeira paz será possível somente através do perdão generosamente concedido e da reconciliação efetivamente realizada entre as pessoas e entre os grupos envolvidos”. Para alcançar este objetivo, é necessário prosseguir corajosamente no diálogo para examinar as causas que levaram a esta situação, e encontrar soluções aceitáveis por todos, na justiça e na verdade. “O caminho da paz é longo e difícil, mas nunca é impossível”, exortou o Santo Padre, recordando que os católicos tiveram um papel importante neste processo, “enquanto a construção de um mundo reconciliado nunca pode ser para eles indiferente”.
O Papa Bento XVI recordou a necessidade primária de “recriar a confiança entre os discípulos de Cristo, apesar das divergências de opiniões que podem manifestar-se entre eles. De fato, é primeiramente dentro da Igreja que deve ser vivido um autêntico amor, na unidade e na reconciliação”. Os cristãos devem deixar-se transformar pela força do Espírito, “para serem verdadeiras testemunhas do amor do Pai”. “Em suas Igrejas diocesanas, diante das tensões políticas ou étnicas, Bispos, sacerdotes e pessoas consagradas devem ser para todos modelos de fraternidade e de caridade, e contribuir com suas palavras e comportamentos para a edificação de uma sociedade unida e reconciliada”.
Outra “preocupação principal” indicada pelo Santo Padre diz respeito à formação inicial e permanente dos sacerdotes, com um destaque para a vida espiritual: “O sacerdote tem como missão ajudar os fiéis a descobrirem o mistério de Deus e a abrirem-se aos outros. Para tal fim, é chamado a ser um autêntico homem em busca de Deus, permanecendo ao mesmo tempo próximo das preocupações dos homens…” “Além disso, vivendo fielmente a castidade no celibato, o sacerdote mostrará que todo o seu ser é dom de si mesmo a Deus e a seus irmãos”. Também os leigos necessitam de uma adequada formação e de um aprofundamento da fé, “para poder resistir ao retorno das práticas antigas e das solicitações das seitas, e principalmente para testemunhar a esperança cristã em um mundo complexo que conhece novos e graves problemas”. Em particular, os catequistas devem receber “uma formação que os torne capazes de desempenhar a missão que lhes foi confiada, vivendo ao mesmo tempo sua fé de modo coerente”.
O Papa Bento XVI evidenciou a necessidade de prosseguir a obra de inculturação da fé, tão importante para o anúncio do Evangelho a todas as culturas, que “não deve comprometer a especificidade e a integridade da fé, mas deve ajudar os cristãos a compreender melhor e a viver melhor a mensagem evangélica na própria cultura, e a saber renunciar às práticas que estão em contradição com os compromissos batismais”. Um outro tema importante diz respeito ao sacramento do matrimônio, enquanto são difusas a poligamia e as convivências: “É necessário, portanto, prosseguir sem descanso o esforço que realizaram para que, principalmente os jovens, aceitassem o fato de que o matrimônio é, para os cristãos, uma vida de santidade”.
Por fim, o Santo Padre se congratulou com o desenvolvimento dos movimentos eclesiais, “que contribuem para conferir um impulso missionário renovado às comunidades cristãs”, e convidou os membros desses grupos “a aprofundarem sempre mais seu conhecimento pessoal de Cristo”, e os Bispos a exercitarem “um discernimento iluminado e constante” dessas realidades eclesiais. (S.L.) (Agência Fides 4/4/2006)
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O texto integrale do discruso do Santo Padre, em frances, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=490

5 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO - “Os apóstolos e seus sucessores são os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade”, afirma o Papa Bento XVI na catequese de quarta-feira, e recorda os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No decorrer da audiência-geral de quarta-feira, realizada na praça São Pedro em uma manhã de forte vento, o Papa Bento XVI prosseguiu a nova série de catequeses sobre o tema “O serviço à comunhão”. O Santo Padre explicou: “Queremos considerar as origens da Igreja para compreender o desígnio originário de Jesus, e deste modo compreender o essencial da Igreja, que permanece com o passar do tempo. Queremos compreender também o porquê do nosso ser na Igreja e como temos que nos comprometer a vivê-lo no início de um novo milênio cristão.”
O Papa Bento XVI evidenciou dois aspectos da Igreja nascente: o primeiro, aprofundado principalmente pelo santo Irineu de Lyon, destaca que existe “uma relação íntima entre o Espírito Santo e a Igreja”. O segundo aspecto especifica que esta relação “não anula nossa humanidade com toda sua fraqueza e, deste modo, a comunidade dos discípulos experimenta desde o início não só a alegria do Espírito Santo, a graça da verdade e do amor, mas também a provação, constituída sobretudo pelos contrastes entre as verdades da fé com as conseguintes lacerações da comunhão”. “Portanto, sempre existe o perigo - prosseguiu o Papa -, nas vicissitudes do mundo e também nas debilidades da Igreja, de perder a fé, e assim, de perder também o amor e a fraternidade. Portanto, é um dever preciso de quem crê na Igreja do amor e quer viver nela reconhecer também este perigo e aceitar que não é possível a comunhão com quem se afastou da doutrina da salvação”. A Igreja nascente estava bem consciente dessas possíveis tensões na experiência da comunhão e, de fato, no Novo Testamento, é evidenciada com força “a realidade e o dever do amor fraterno entre os cristãos”, assim como é expressa a severidade para com aqueles que foram membros da comunidade e agora não o são mais: “A Igreja do amor é também a Igreja da verdade, entendida antes de tudo como fidelidade ao Evangelho confiado pelo Senhor Jesus aos seus”.
A família dos filhos de Deus, “para viver na unidade e na paz, necessita de alguém que a custodie na verdade e a guie com sábio e autorizado discernimento: isto é o que está chamado a fazer o ministério dos Apóstolos... A Igreja é totalmente do Espírito, mas tem uma estrutura, a sucessão apostólica, que tem a responsabilidade de garantir a permanência da Igreja na verdade doada por Cristo, da qual também procede a capacidade do amor”. Nos Atos dos Apóstolos, é representada a vida da Igreja nascente: “A comunhão nasce da fé suscitada pela pregação apostólica, alimenta-se da fração do pão e da oração, e se expressa na caridade fraterna e no serviço”. O Santo Padre destacou: “Os apóstolos e seus sucessores são, portanto, os custódios e as testemunhas autorizadas do depósito da verdade entregue à Igreja, e são também os ministros da caridade: dois aspectos que vão juntos. Deve-se pensar sempre no caráter inseparável deste duplo serviço, que na realidade é o mesmo: verdade e caridade, reveladas e doadas pelo Senhor Jesus… A verdade e o amor são duas faces do mesmo dom: que procede de Deus e que graças ao ministério apostólico é custodiado na Igreja e nos chega até o nosso presente!”
No final da audiência, dirigindo-se aos peregrinos de língua espanhola, o Santo Padre recordou em particular a figura de São Francisco Xavier com essas palavras: “No dia 7 de abri, celebram-se os 500 anos do nascimento do grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho nas terras da Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a esta celebração agradecendo ao Senhor por este grande dom a sua Igreja. Enviei o cardeal Antonio Maria Rouco para presidir os atos no Santuário de Xavier, em Navarra, na Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a tão insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quem dedica sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (S.L.) (Agência Fides 6/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 – Homilia do Domingo de Ramos
VATICANO - Papa Bento XVI abre os ritos da Semana Santa: “O domingo de Ramos diz-nos que o autêntico grande «sim» é precisamente a Cruz, que a Cruz é a autêntica árvore da vida. Não alcançamos a vida apoderando-nos dela, mas dando-a. O amor é a entrega de nós mesmos e, por este motivo, é o caminho da vida autêntica simbolizada pela Cruz”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Há vinte anos, graças ao Papa João Paulo II, o Domingo de Ramos tornou-se de modo particular o dia da juventude o dia em que os jovens do mundo inteiro vão ao encontro de Cristo, desejando acompanhá-lo pelas suas cidades e pelos seus países, a fim de que Ele permaneça no meio de nós e possa estabelecer a sua paz no mundo”: com essas palavras, o Santo Padre Bento XVI iniciou a homilia durante a solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor na Praça S. Pedro. O Santo Padre abençoou as oliveiras e os ramos no obelisco e guiou a procissão em direção ao sagrado da Basílica, onde celebrou a Santa Missa da Paixão do Senhor. Da celebração tomaram parte muitos jovens de Roma e de outras dioceses, por ocasião do XXI Dia Mundial da Juventude. No final da Santa Missa, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia (Alemanha) àqueles provenientes de Sidney (Austrália), onde em 2008 se celebrará o XXIII Dia Mundial da Juventude.
Na sua homilia, o Santo Padre explicou os acontecimentos do Domingo de Ramos e o seu significado para cada tempo: “Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento”. O Papa falou de três aspectos anunciados pelo profeta quanto ao rei futuro. Em primeiro lugar, ele será sempre um rei dos pobres, um pobre entre os pobres e para os pobres: “A pobreza, no sentido de Jesus no sentido dos profetas pressupõe sobretudo a liberdade interior do desejo da posse e da avidez do poder. Trata-se de uma realidade maior do que uma simples repartição diferente dos bens que, todavia, permaneceria no campo material, tornando aliás os corações ainda mais duros. Trata-se, em primeiro lugar, da purificação do coração, graças à qual se reconhece a posse como responsabilidade, como dever em relação aos outros, colocando-se sob o olhar de Deus e deixando-se orientar por Cristo que, sendo rico, se fez pobre por nós (cf. 2 Cor 8, 9)”.
Como segundo aspecto, o profeta mostra que este rei será um rei de paz: “Ele exterminará os carros de guerra da terra e os cavalos de batalha, quebrará os arcos de guerra e proclamará a paz. Na figura de Cristo isto concretiza-se mediante o sinal da Cruz. Ela é o arco quebrado, de certa maneira o novo e autêntico arco-íris de Deus, que une o céu e a terra e lança uma ponte sobre os abismos e entre os continentes. A nova arma, que Jesus coloca nas nossas mãos, é a Cruz sinal de reconciliação e de perdão, sinal do amor que é mais forte do que a morte. Cada vez que fazemos o sinal da Cruz devemos recordar que não podemos opor-nos a uma injustiça com outra injustiça, a uma violência com outra violência; devemos recordar que só podemos vencer o mal com o bem, jamais retribuindo o mal com o mal”. A terceira afirmação do profeta é o pré-anúncio da universalidade: “O reino do rei da paz estende-se «de mar a mar... até os confins da terra»… o espaço do rei messiânico já não é um determinado país que em seguida se separaria necessariamente dos outros e portanto, de modo inevitável, tomaria uma posição também contra os demais países”.
“As três características anunciadas pelo profeta - pobreza, paz, universalidade - estão resumidas no sinal da Cruz - concluiu Bento XVI -. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz.”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
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9 de abril de 2006 - Angelus
VATICANO - No Angelus, a entrega da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney: “Maria Santíssima foi a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No final da solene celebração litúrgica do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, presidida pelo Santo Padre Bento XVI no sagrado da Basílica Vaticana, houve a passagem da Cruz do Ano Santo e da Imagem da Bem-aventurada Virgem Maria dos jovens de Colônia aos jovens de Sidney, onde se celebrará em 2008 o XXIII Dia Mundial da Juventude. Antes desta entrega e da oração do Angelus, o Papa recordou que esta “é a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade… A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição.”
Por este motivo, como explicou o Papa Bento XVI, a Cruz é acompanhada por uma imagem da Virgem Maria “Salus Populi Romani”, venerada na Basílica de Santa Maria Maior. “A Cruz e o Ícone marianos das Jornadas da Juventude, - anunciou o Santo Padre - depois de terem feito etapa nalguns Países de África, para manifestar a proximidade de Cristo e da sua Mãe às populações daquele Continente, provadas por tantos sofrimentos, a partir do próximo mês de Fevereiro serão acolhidos em diversas regiões da Oceânia, para atravessar depois as dioceses da Austrália e, por fim, chegar a Sidney em Julho de 2008. Trata-se de uma peregrinação espiritual que vê envolvida toda a comunidade cristã e sobretudo os jovens”.
Dirigindo-se aos jovens nas diversas línguas, o Papa recordou a importância da Cruz de Cristo e saudou em particular o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colônia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que estavam presentes na celebração. Depois da entrega da Cruz e da Imagem, o Santo Padre convidou a rezar ao Senhor “para que esta Cruz e esta Imagem sejam instrumentos de paz e de reconciliação entre as pessoas e os povos”, e invocou a intercessão da Virgem Maria sobre a nova peregrinação, “para que seja rica de frutos”. (S.L.) (Agência Fides 10/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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10 de abril de 2006 – Audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV
VATICANO - Papa Bento XVI aos jovens participantes do Encontro UNIV 2006: “Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Caros jovens, permitam-me repetir o que disse a seus coetâneos reunidos em Colônia em agosto do ano passado: Quem descobriu Cristo não pode não levar outras pessoas também a Ele, já que uma grande alegria não deve ser mantida para si, mas comunicada. Esta é a tarefa para a qual o Senhor os chama; este é o “apostolado da amizade”, que s. Josemaría, Fundador da Opus Dei, descreve como "amizade ‘pessoal’, abnegada, sincera: face a face, de coração a coração".” Com esta exortação, o Papa Bento XVI se dirigiu a cerca de 6.500 jovens participantes da 39ª edição do encontro UNIV, reunidos em 10 de abril na Sala Paulo VI, com professores universitários e familiares.
Citando o tema do UNIV 2006 - “Projetar a cultura: a linguagem dos meios de comunicação” - o Santo Padre evidenciou que “nem sempre neste nosso tempo as novas tecnologias e os meios de comunicação de massa favorecem as relações pessoais, o diálogo sincero, a amizade entre as pessoas; nem sempre ajudam a cultivar a interioridade da relação com Deus”. Falando sobre a amizade, tão importante para os jovens, o Papa Bento XVI continuou: “É necessário que considerem Jesus como um de seus melhores amigos, ou melhor, o primeiro. Verão então como a amizade com Ele os conduzirá a abrir-se aos outros, que considerarão irmãos, entretendo com cada um uma relação de amor sincero”.
“Cada cristão - prosseguiu o Santo Padre - é convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair a Ele os próprios amigos. O amor apostólico se torna deste modo uma autêntica paixão, que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda S. Josemaría a recordar-lhes algumas palavras-chave deste seu itinerário espiritual: “Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor””.
O Papa assim concluiu o seu discurso: “Se cultivarem a amizade com Jesus, se forem assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, vocês serão capazes de se tornar a ‘nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e prontos a difundir em todos os lugares o Evangelho'”.
Os encontros UNIV, organizados pelo Instituto para a Cooperação Universitária (ICU), nasceram em 1968 por inspiração de S. Josemaría Escrivá. Desde então, todos os anos os participantes - estudantes universitários provenientes de 30 universidades italianas e de mais de 200 universidades em todo o mundo - são recebidos pelo Pontífice. Os participantes trabalham durante uma semana o tema proposto pelo ICU nas diversas atividades culturais que se realizam em Roma: conferências, colóquios, mostras, debates, grupos de estudo e mesas-redondas. (S.L.) (Agência Fides 11/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre está em:
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13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa Crismal
VATICANO - Durante a Santa Missa Crismal na Basílica Vaticana, Bento XVI recorda que “o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo”.
Città del Vaticano (Agência Fides) – O Santo Padre Bento XVI celebrou esta manhã com Cardeais, Bispos e presbíteros – diocesanos e religiosos – presentes em Roma, a Santa Missa Crismal. Na Celebração Eucarística, deposi de renovadas as promessas sacerdotais, foram abençoados o ólio dos catecúmenos, o óleo dos enfermos e o crisma.
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta”: com estas palavras, o Papa iniciou a sua homilia. “O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”.
Em seguida, o Papa convidou a refletir sobre “os sinais em que o Sacramento nos foi concedido. No centro encontra-se o antiquíssimo gesto da imposição das mãos, com o qual Ele tomou posse de mim, dizendo-me: "Tu pertences-me". O Papa falou então sobre o trecho do Evangelo em que Jesus diz “Já não vos chamo servos, mas amigos: nestas palavras poder-se-ia chegar a ver a instituição do sacerdócio. Somente assim, podemos falar realmente in persona Christi, embora a nossa distância interior de Cristo não possa comprometer a validade do Sacramento. Ser amigo de Jesus, ser sacerdote, significa ser homem de oração. É deste modo que O reconhecemos e saímos da ignorância dos simples servos. Assim aprendemos a viver, a sofrer e a agir com Ele e por Ele. A amizade com Jesus é, por antonomásia, sempre amizade com os seus. Só podemos ser amigos de Jesus na comunhão com Cristo inteiro, com a cabeça e o corpo; na videira exuberante da Igreja, animada pelo seu Senhor. Somente nela a Sagrada Escritura é, graças ao Senhor, Palavra viva e actual. Sem o sujeito vivo da Igreja, que abraça todas as épocas, a Bíblia fragmenta-se em escritos frequentemente heterogéneos e assim torna-se um livro do passado. Ela só é eloquente no presente, onde há a "Presença" onde Cristo permanece nosso contemporâneo: no corpo da sua Igreja”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=510

13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa “in cena Domini”
VATICANO – O Papa Bento XVI foi à Basílica catedral de São João de Latrão para a concelebração da Santa Missa “in cena Domini”. Nesta liturgia, o Papa realizza o rito da lavanda dos pés a doze homens. Durante a cerimônia, são recolhidas ofertas para as vítimas dos desabamentos ocorridos na Diocese de Maasin (Filipinas).
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao estremo” (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo”. Iniciou-se com estas palavras a homilia proferida esta tarde pelo Santo padre Bento XVI, na Missa “in cena Domini” por Ele presidia na basília de São João de Latrão, Catedral de Roma. “Ele – disse Bento XVI – ama até o fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer”.
“Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (P.L.R) (Agência Fides 13/4/2006)
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O texto integral da homilia do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=511

14 de abril de 2006 – Discurso no final da Via Sacra nop Coliseu
VATICANO – “Na "Via Crucis" não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira”: foram as palavras do Santo Padre Bento XVI ao término da Via Sacra, no Coliseu.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Esta noite, Sexta-feira Santa de 2006, às 21,15h, o Santo Padre presidiu, no Coliseu, o pio exercício da Via Sacra. Os textos das meditações propostas este ano foram compostos por Dom Angelo Comastri, Vicário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano, Presidente da Fábrica de São Pedro. Ao término da Via Sacra, o Papa dirigiu aos fiéis presentes e aos que o acompanharam através do rádio e da televisão, um breve discurso improvisado, no qual refletiu sobre o significado da Via Sacra. “Acompanhámos Jesus na "Via Crucis". Acompanhámo-lo aqui, pelo caminho dos mártires, no Coliseu, onde tantos sofreram por Cristo, deram a vida pelo Senhor, onde o próprio Senhor sofreu de novo em muitos. E assim compreendemos que a "Via Crucis" não é uma coisa que pertence ao passado, a um determinado ponto da terra. A Cruz do Senhor abraça o mundo; a sua "Via Crucis" atravessa os continentes e os tempos. Na "Via Crucis" não podemos ser apenas espectadores. Estamos incluídos também nós, por isso devemos procurar o nosso lugar: onde estamos? “Na Visa Sacra – disse o Pontífice – não existe a possibilidade de ser neutral. Pilatos, intelectualmente céptico, procurou ser neutral, ficar de fora; mas, precisamente assim, tomou uma posição contra a justiça, devido ao conformismo da sua carreira. Devemos procurar o nosso lugar. No espelho da Cruz vimos todos os sofrimentos da humanidade de hoje.
Na Cruz de Cristo hoje vemos o sofrimento das crianças abandonadas, abusadas; as ameaças contra a família; a divisão do mundo na soberba dos ricos que não vêem Lázaro diante da porta e a miséria de tantos que sofrem fome e sede. Mas vimos também "estações" de conforto. Vimos a Mãe, cuja bondade permanece fiel até à morte, e além da morte. Vimos a mulher corajosa que está diante do Senhor e não tem medo de mostrar a solidariedade com este Sofredor. Vimos Simão, o Cireneu, um africano, que carrega, com Jesus, a Cruz. Por fim, vimos através destas "estações" de conforto que, assim como os sofrimentos não terminam, também as consolações não terminam. Vimos como, no "caminho da Cruz", Paulo encontrou o zelo da sua fé e acendeu a luz do amor. Vimos como Santo Agostinho encontrou o seu caminho: assim São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, São Maximiliano Kolbe, Madre Teresa de Calcutá. E também nós somos convidados a encontrar a nossa posição, a encontrar com estes grandes, corajosos santos, o caminho de Jesus e para Jesus: o caminho da bondade, da verdade; a coragem do amor”.
Enfim, o Papa Bento XVI disse: “Compreendemos que "a Via Crucis" não é simplesmente uma colecção das coisas obscuras e tristes do mundo. Também não é um moralismo que se revela ineficiente. Não é um grito de protesta que nada muda. A "Via Crucis" é o caminho da misericórdia, e da misericórdia que limita o mal: assim aprendemos do Papa João Paulo II. É o caminho da misericórdia e o caminho da salvação. E desta forma, somos convidados a ir pelo caminho da misericórdia e, com Jesus, a limitar o mal”. (P.L.R) (Agência Fides 14/4/2006)
O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=512

16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi e augúrios de Páscoa aos povos e nações
VATICANO – “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição”: a Mensagem do Santo Padre Bento XVI, antes da benção Urbi et Orbi no dia de Páscoa.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – Às 12h do Domingo de Páscoa, do Balcão central da Basílica Vaticana, antes de conceder a Benção Urbi et Orbi aos fiéis presentes na praça São Pedro e àqueles que o ouviam através do rádio e da televisão, o Santo Padre Bento XVI proferiu a Mensagem Pascal. “Christus resurrexit! - Cristo ressuscitou! – foram as primeiras palavras de Bento XVI. “A grande vigília desta noite – prosseguiu o Pontifice – fez-nos reviver o acontecimento decisivo e sempre actual da Ressurreição, mistério central da fé cristã. Círios pascais sem conta foram acesos nas igrejas para simbolizar a luz de Cristo que iluminou e ilumina a humanidade, vencendo para sempre as trevas do pecado e do mal”. O Papa disse, em seguida: “A sua ressurreição, graças ao Baptismo que a Ele nos «incorpora», torna-se a nossa ressurreição. Tinha-o predito o profeta Ezequiel: «Eis que abrirei as vossas sepulturas e vos farei sair delas, ó meu povo, e vos reconduzirei ao país de Israel» (Ez 37, 12). Estas palavras proféticas assumem um valor singular no dia de Páscoa, porque hoje se cumpre a promessa do Criador; hoje, mesmo nesta nossa época caracterizada pela ansiedade e a incerteza, revivemos o acontecimento da ressurreição, que mudou a expressão da nossa vida, mudou a história da humanidade. Aguardam a esperança de Cristo ressuscitado, às vezes mesmo inconscientemente, os que ainda estão oprimidos pelos laços de amargura e de morte”.
O Papa reocrdou também as populações que ainda, em várias partes do mundo, sofrem por pobreza e violencia: “na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas. O Papa rezou pela paz “para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa”, e convidou “a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos”. “A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado – continuou o Papa suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (P.L.R) (Agência Fides 16/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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17 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO – O Papa reza a oração do Regina Coeli em sua residencia de Castelgandolfo, “feliz por renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, Aleluia!”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “Na luz do Mistério pascal, que a liturgia nos faz celebrar em toda esta semana, sinto-me feliz por me encontrar de novo convosco e por vos renovar o anúncio cristão mais bonito: Cristo ressuscitou, aleluia!” assim, o Papa Bento XVI saudou os tantos fiéis reunidos no pátio da residência pontifícia de Castelgandolfo para rezar junto a ele o Regina Coeli de segunda-feira do Anjo, que segue o domingo de Páscoa. Bento XVI está em Castelgandolfo trascorrendo alguns dias de descanso. “O típico carácter mariano deste nosso encontro - explicou o Santo Padre - leva-nos a viver o gozo espiritual da Páscoa em comunhão com Maria Santíssima, pensando em qual terá sido a sua alegria pela ressurreição de Jesus. Na oração do Regina caeli, que se recita neste tempo pascal no lugar do Angelus, nós dirigimo-nos à Virgem convidando-a a alegrar-se porque Aquele que ela trouxe no seu seio ressuscitou: "Quia quem meruisti portare, resurrexit, sicut dixit". Maria guardou no seu coração a "boa nova" da ressurreição, fonte e segredo da verdadeira alegria e da autêntica paz, que Cristo morto e ressuscitado nos conquistou com o sacrifício da Cruz. Pedimos a Maria que, assim como nos acompanhou nos dias da paixão, continue a guiar os nossos passos neste tempo de alegria pascal e espiritual, para que possamos crescer cada vez mais no conhecimento e no amor do Senhor e tornar-nos testemunhas e apóstolos da sua paz”.
Em seguida, o Santo Padre recordou um “há 500 anos, precisamente a 18 de Abril de 1506, o Papa Júlio II colocava a primeira pedra da nova Basílica de São Pedro, que o mundo inteiro admira na imponente harmonia das suas formas. Desejo recordar com gratidão os Sumos Pontífices que quiseram esta obra extraordinária sobre o túmulo do Apóstolo Pedro. Recordo com admiração os artistas que contribuíram com o seu génio para a edificar e decorar, assim como estou grato ao pessoal da Fábrica de São Pedro que sabiamente se ocupa da manutenção e da salvaguarda de uma obra-prima de arte e de fé única. Que a feliz celebração dos 500 anos desperte em todos os católicos o desejo de ser "pedras vivas" para a construção da Igreja viva, santa, na qual resplandece a "luz de Cristo", através da caridade vivida e testemunhada perante o mundo”. (P.L.R) (Agência Fides 17/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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19 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – Na primiera audiência geral depois da Páscoa, o Papa Bento XVI ricordou seu primeiro ano de Pontificado: “Gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – “No início desta Audiência geral, que se realiza no clima jubiloso da Páscoa, gostaria de agradecer juntamente convosco ao Senhor, que depois de me ter chamado exactamente há um ano para servir a Igreja como Sucessor do apóstolo Pedro, - obrigada por sua alegria, obrigada por sua aclamação - não deixa de me assistir com a sua ajuda indispensável.
Assim o Papa Bento XVI se expressou no início da audiência geral, hoje, na Praça São Pedro. “Como passa depressa o tempo! Já transcorreu um ano desde quando, de modo para mim inesperado e surpreendente, os Cardeais reunidos em Conclave quiseram escolher a minha pessoa para suceder ao saudoso e amado Servo de Deus João Paulo II. Recordo com emoção o primeiro impacto que tive da loggia central da Basílica, logo após a minha eleição, com os fiéis reunidos nesta mesma Praça. Permanece impresso na minha mente e no coração aquele encontro, ao qual se seguiram muitos outros, que me proporcionaram a ocasião de experimentar como é verdadeiro quanto disse durante a solene concelebração com a qual iniciei solenemente o exercício do ministério petrino: "Sinto viva a consciência de não ter que carregar sozinho o que na realidade nunca poderia carregar sozinho". É para mim um apoio insubstituível a celeste protecção de Deus e dos santos, e conforta-me a vossa proximidade, queridos amigos, que não me fazeis faltar o dom da vossa indulgência e do vosso amor. Obrigado de coração a todos os que de vários modos me acompanham de perto ou me seguem de longe espiritualmente com o seu afecto e a sua oração. Peço a cada um que continue a apoiar-me rezando a Deus para que me conceda ser pastor manso e firme da sua Igreja.” (P.L.R) (Agência Fides 19/4/2006)
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22 de abril de 2006 – Discurso à peregrinação promovida pela Companhia de Jesus
VATICANO – Peregrinação dos Jesuítas ao túmulo de São Pedro. O Papa Bento XVI recorda a figura de São Francisco Xavier: “permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Em 22 de abril de 1541, Inácio de Loyola e seus primeiros companheiros emitiram os votos solenes diante da imagem de Maria naa Basílica de São Paulo fora dos Muros. Nesta data, e no Ano Jubilar do 450º aniversário da morte de Santo Inácio de Loyola e do 500º aniversário de nascimento de São Francisco Xavier e do Bem-aventurado Pedro Favre, a Companhia de Jesus promoveu uma peregrinação ao túmulo de São Pedro. Ao término da Santa Missa, celebrada pelo Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, na Patriarcal Basílica Vaticana sábado, 22 de abril, o Santo Padre Bento XVI desceu à Basílica para encontrar-se com os participantes da peregrinação. O Papa disse: “A vossa visita de hoje oferece-me a oportunidade de agradecer juntamente convosco ao Senhor ter concedido à vossa Companhia o dom de homens de extraordinária santidade e de excepcional zelo apostólico, como Santo Inácio de Loiola, São Francisco Xavier e o beato Pedro Fabro. Eles são para vós os Pais e os Fundadores: por isso, é justo que neste ano centenário os recordeis com gratidão e olheis para eles como guias iluminados e seguros do vosso caminho espiritual e da vossa actividade apostólica.”
Santo Inácio de Loiola foi antes de tudo um homem de Deus, que colocou no primeiro lugar da sua vida Deus, para sua maior glória e serviço; foi um homem de oração profunda” – recordou o Papa Bento XVI, exortando os Jesuítas a seguir seu exemplo de serviço à Igreja em suas necessidades mais urgentes e atuais. sue necessità più urgenti e attuali. “Entre elas parece-me importante assinalar o compromisso cultural nos campos da teologia e da filosofia, tradicionais âmbitos de presença apostólica da Companhia de Jesus, assim como o diálogo com a cultura moderna, que se por um lado se orgulha pelos maravilhosos progressos no campo científico, permanece fortemente marcada pelo cientismo positivista e materialista”. O Santo Padre evidenciou também outra preocupação de Santo Inácio: a educação cristã e a formação cultural dos jovens. “Continuai, queridos Jesuítas, este importante apostolado mantendo inalterado o espírito do vosso Fundador”.
“Falando de Santo Inácio não posso deixar de recordar São Francisco Xavier, - prosseguiu o Santo Padre - do qual no passado dia 7 de Abril se celebrou o quinto centenário do nascimento: não só a sua história se entrelaçou durante longos anos entre Paris e Roma, mas um único desejo poder-se-ia dizer, uma única paixão os moveu e amparou nas suas diferentes vicissitudes humanas: a paixão de conferir a Deus-Trindade uma glória sempre maior e de trabalhar pelo anúncio do Evangelho de Cristo aos povos que o ignoravam. São Francisco Xavier, que o meu predecessor Pio XI de venerada memória proclamou "padroeiro das Missões católicas", sentiu como sua a missão de "abrir novos caminhos" ao Evangelho "no imenso continente asiático". O seu apostolado no Oriente durou apenas dez anos, mas a sua fecundidade revelou-se admirável nos quatro séculos e meio de vida da Companhia de Jesus, porque o seu exemplo suscitou entre os jovens jesuítas muitíssimas vocações missionárias, e ainda hoje ele permanece uma chamada para que se continue a acção missionária nos grandes Países do continente asiático”.
O beato Pedro Fabro trabalhou nos países europeus. “Homem modesto, sensível, de profunda vida interior e dotado do dom de estabelecer relacionamentos de amizade com pessoas de todos os géneros, atraindo desta forma muitos jovens para a Companhia, o beato Fabro transcorreu a sua breve existência em diversos Países europeus, especialmente na Alemanha, onde por ordem de Paulo III participou nas dietas de Worms, de Ratisbona e de Espira, nos colóquios com os chefes da Reforma. Teve assim a ocasião de praticar de modo excepcional o voto de especial obediência ao Papa "em relação às missões", tornando-se para todos os jesuítas do futuro um modelo a ser seguido.” O Santo Padre concluiu seu discurso com a seguinte invocação: “Maria continue a vigiar sobre a Companhia de Jesus para que cada um dos seus membros leve na sua pessoa a "imagem" de Cristo Crucificado para participar da sua ressurreição”. (S.L.) (Agência F! ides 24/4/20060
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em italiano, está em:
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23 de abril de 2006 – Regina Coeli
VATICANO - Papa Bento XVI recorda que “O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor: “O culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) – As aparições de Jesus Ressuscitado aos discípulos e o culto da divina misericórida, que esteve no centro do Pontificado de João Paulo II, foram os temas elaborados pelo Santo Padre Bento XVI antes de rezar a oração mariana do “Regina Cæli” com os numerosos fiéis que lotaram a praça São Pedro, domingo, 23 de abril. “Neste domingo o Evangelho de João narra que Jesus apareceu aos discípulos, reunidos com as portas fechadas no Cenáculo, na noite do "primeiro dia depois do sábado", e que se lhes mostrou de novo no mesmo lugar "oito dias depois”. O Santo Padre prosseguiu: “Desde o início, portanto, a comunidade cristã começou a viver um ritmo semanal, marcado pelo encontro com o Senhor ressuscitado”.
“Nas duas aparições no dia da Ressurreição e oito dias depois o Senhor Jesus mostrou aos discípulos os sinais da crucifixão, bem visíveis e tangíveis também no seu corpo glorioso (cf. Jo 20, 20.27). Aquelas sagradas chagas, nas mãos, nos pés e no lado, são fonte inexaurível de fé, de esperança e de amor da qual todos podem haurir, especialmente as almas mais sequiosas da Divina Misericórdia. Tendo isto em consideração, o servo de Deus João Paulo II, valorizando a experiência espiritual de uma humilde Irmã, Santa Faustina Kowalska, quis que o Domingo depois da Páscoa fosse dedicado de modo especial à Divina Misericórdia; e a Providência dispôs que ele morresse precisamente na vigília deste dia, nas mãos da Divina Misericórdia. O mistério de amor misericordioso de Deus esteve no centro do pontificado deste meu venerado Predecessor”.
Papa Bento XVI recordou em seguida, de modo especial, a Encíclica “Dives in misericordia” e a dedicação do novo Santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia. “As palavras que ele pronunciou nesta última ocasião foram como que uma síntese do seu magistério, evidenciando que o culto da Divina Misericórdia não é uma devoção secundária, mas dimensão integrante da fé e da oração do cristão”.
O Santo padre invocou a intercessão de Maria Santíssima, “Mãe da Igreja, à qual agora nos dirigimos com o Regina Caeli, obtenha que todos os cristãos vivam em plenitude o Domingo como "páscoa da semana", apreciando a beleza do encontro com o Senhor ressuscitado e haurindo da fonte do seu amor misericordioso, para serem apóstolos da sua paz”.
Após a oração mariana, Bento XVI dirigiu seu pensamento aos “nossos irmãos das Igrejas do Oriente que celebram hoje a Páscoa. O Senhor ressuscitado leve a todos os dons da sua luz e da sua paz. Christos anesti! Christos vaskries! E no clima jubiloso deste dia não posso deixar de recordar que muitas destas populações, na Sérvia, Roménia e Bulgária, sofrem por causa das inundações dos dias passados. Estou-lhes próximo com a oração e desejo vivamente que, graças ao contributo de todos, possam superar rapidamente estes momentos difíceis”. (S.L.) (Agência Fides 24/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em várias línguas, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=498

24 de abril de 2006 – Audiência aos Bispos de Gana, em visita Ad Limina
VATICANO - “para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”: a exortação do Papa Bento XVI aos Bispos de Gana, recebidos em visita Ad Limina
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Estou consciente de que o corrente ano é um Jubileu especial para a Igreja que peregrina em Gana. Com efeito, precisamente ontem, 23 de Abril, foi celebrado o centenário da chegada dos primeiros missionários à região setentrional do vosso país. Rezo de modo especial para que o zelo missionário continue a realizar-vos, bem como o vosso amado povo, fortalecendo-vos nos esforços em vista da propagação do Evangelho”. É a exortação que o Santo Padre Bento XVI dirigiu aos Bispos de gana, recebidos em visita Ad Limina Apostolorum segunda-feira, 24 de abril, na Sala do Consistório do Palácio Apostólico.
“Nos últimos anos, - disse o Santo Padre em seu discurso - o vosso país deu passos enormes na luta contra o flagelo da pobreza e a favor do fortalecimento da economia. Apesar deste progresso louvável, ainda há muito a realizar para superar esta condição, que representa um impedimento para uma vasta porção da população. A pobreza extrema e alastrada termina muitas vezes num declínio moral generalizado, que leva ao crime, à corrupção e aos ataques contra a santidade da vida humana ou mesmo ao regresso das práticas supersticiosas do passado. Em tal situação, as pessoas podem facilmente perder a confiança no futuro. No entanto, a Igreja resplandece como um farol de esperança na vida dos cristãos. Uma das formas mais eficazes da sua acção, neste sentido, consiste em ajudar os fiéis a adquirir uma melhor compreensão das promessas de Jesus Cristo. Por conseguinte, existe a necessidade especial e urgente de que a Igreja, como farol de esperança, intensifique os seus esforços em vista de oferecer aos católicos, programas de formação que sejam compreensíveis e que os ajudem a aprofundar a própria fé cristã, e assim os tornem capazes de assumir o lugar que lhes compete na Igreja de Cristo e na sociedade.
O Santo Padre exortou também a importância do papel do catequista, expressando gratidão “aos numerosos homens e mulheres comprometidos que, abnegadamente, servem a vossa Igreja local desta forma”, permanecendo “intrépidos mensageiros do júbilo de Cristo”. E exortou os Bispos a “realizar tudo quanto for possível para assegurar que estes evangelizadores recebam o auxílio espiritual, doutrinal, moral e material de que têm necessidade para cumprir a sua missão de modo apropriado”.
“Os jovens constituem praticamente metade da população. A Igreja que está em Gana é jovem. A fim de alcançar os jovens contemporâneos, é necessário que a Igreja aborde os problemas da juventude de maneira franca e amorosa. Um fundamento catequético sólido confirmará os jovens na sua identidade católica e oferecer-lhes-á os instrumentos necessários para enfrentarem os desafios das realidades económicas em transformação, da globalização e das enfermidades. E ajudá-los-á também a responder às argumentações frequentemente levantadas pelas seitas religiosas”. Outros temas enfrentados pelo Santo Padre durante seu discurso, foram a família e o matrimônio cristã: “Muitos de vós estão preocupados com a celebração apropriada do matrimónio cristão em Gana. Compartilho a vossa solicitude e, por conseguinte, exorto os fiéis a colocar o Sacramento do Matrimónio no centro da sua vida familiar. Enquanto procura sempre respeitar as veneráveis tradições das culturas e dos povos em geral, o cristianismo procura também purificar as práticas contrárias ao Evangelho. Por este motivo, é essencial que toda a comunidade católica continue a frisar a importância da união monogâmica e indissolúvel entre o homem e a mulher, consagrada no santo matrimónio. Para os cristãos, as formas tradicionais de casamento jamais podem substituir o matrimónio sacramental”.
Enfim, o Papa se deteve na formação dos futuros sacerdotes: “O sacerdócio nunca deve ser considerado um modo de melhorar a própria condição social ou o padrão de vida pessoal. Se for assim, então o dom presbiteral da própria pessoa e a docilidade aos desígnios de Deus cederão o passo aos desejos individuais, tornando o sacerdote ineficaz e insatisfeito. Por conseguinte, encorajo-vos a dar continuidade aos vossos esforços para assegurar a idoneidade dos candidatos ao sacerdócio e garantir a oportuna formação presbiteral àqueles que estão a estudar para o sagrado ministério.” (S.L.) (Agência Fides 25/4/2006)
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O texto integral do discurso do Santo Padre, em inglês, está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=499

26 de abril de 2006 – Audiência geral
VATICANO – A meditação do Papa na Audiência geral: “A Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade” - Apelo pela paz no XX aniversário de Chernobyl.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “A comunhão no tempo: a Tradição”. Sobre este tema, o Santo Padre Bento XVI meditou durante a Audiência geral de quarta-feira, 26 de abril. “A comunhão eclesial é suscitada e alimentada pelo Espírito Santo, guardada e promovida pelo ministério apostólico – explicou o Santo Padre. E esta comunhão, a que nós chamamos Igreja, não se alarga só a todos os crentes de um certo momento histórico, mas abraça também todos os tempos e todas as gerações”. “Assim, graças ao Espírito Santo, a experiência do Ressuscitado, feita pela comunidade apostólica nas origens da Igreja, poderá ser sempre vivida pelas gerações sucessivas, porque transmitida e actualizada na fé, no culto e na comunhão do Povo de Deus, peregrino no tempo… nesta transmissão dos bens da salvação, que faz da comunidade cristã a actualização permanente, na força do Espírito, da comunhão originária, consiste a Tradição apostólica da Igreja”.
O Santo Padre epxlicou ainda que esta “é chamada assim porque surgiu do testemunho dos Apóstolos e da comunidade dos discípulos no tempo das origens, foi entregue sob a guia do Espírito Santo nos textos do Novo Testamento e na vida sacramental, na vida da fé, e a ela a esta tradição, que é toda a realidade sempre actual do dom de Jesus a Igreja refere-se continuamente como ao seu fundamento e à sua norma através da sucessão ininterrupta do mistério apostólico”.
“Depois, o Ressuscitado confia explicitamente aos Apóstolos (cf. Lc 6, 13) a tarefa de fazer discípulos de todas as nações, garantindo a sua presença e a sua ajuda até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 19s.). O universalismo da salvação exige, entre outras coisas, que o memorial da Páscoa seja celebrado sem interrupção na história até à vinda gloriosa de Cristo. A atualização da presença salvífica do Senhor Jesus mediante o ministério dos apóstolos e de toda a vida do apóstolo da nova aliança ocorre por obra do Espírito Santo. “Graças à acção do Paráclito os Apóstolos e os seus sucessores podem realizar no tempo a missão recebida do Ressuscitado… Portanto, é o próprio Espírito que, mediante a imposição das mãos e a oração dos Apóstolos, consagra e envia os novos missionários do Evangelho”.
O Santo Padre destacou em seguida que “No momento das decisões solenes para a vida da Igreja, o Espírito está presente para a guiar” e prosseguiu: “Esta actualização permanente da presença activa de Jesus Senhor no seu povo, realizada pelo Espírito Santo e expressa na Igreja através do ministério apostólico e a comunhão fraterna, é aquilo que em sentido teológico se quer dizer com a palavra Tradição: ela não é a simples transmissão material de quanto foi doado no início aos Apóstolos, mas a presença eficaz do Senhor Jesus, crucificado e ressuscitado, que acompanha e guia no Espírito a comunidade por ele reunida”.
“A Tradição é a comunhão dos fiéis à volta dos legítimos Pastores no decorrer da história, uma comunhão que o Espírito Santo alimenta garantindo a ligação entre a experiência da fé apostólica, vivida na originária comunidade dos discípulos, e a experiência actual de Cristo na sua Igreja.… Graças à Tradição, garantida pelo ministério dos Apóstolos e dos seus sucessores, a água da vida que saiu do lado de Cristo e o seu sangue saudável alcançam as mulheres e os homens de todos os tempos. Assim, a Tradição é a presença permanente do Salvador que vem encontrar-se connosco, redimir-nos e santificar-nos no Espírito mediante o ministério da sua Igreja, para glória do Pai”. Concluindo sua meditação, o Santo padre resumiu sua catequese: “a Tradição não é transmissão de coisas ou palavras, uma colecção de coisas mortas. A Tradição é o rio vivo que nos liga às origens, o rio vivo no qual as origens estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade”. No fim da audiência, o Papa fez o seguinte apelo: “Recorda-se precisamente hoje o vigésimo aniversário do trágico desastre que aconteceu na central nuclear de Chernobyl. Nesta circunstância, sinto o dever de expressar o meu profundo apreço às famílias, às associações, às administrações civis e às comunidades cristãs que, no decorrer destes anos, se comprometeram em hospedar e de cuidar adultos e especialmente de crianças atingidas pelas consequências deste doloroso acontecimento. Enquanto rezamos mais uma vez pelas vítimas de uma calamidade com consequências tão amplas e por quantos levam no seu corpo as marcas da mesma, invocamos do Senhor a luz para quantos são responsáveis pelo destino da humanidade, para que com um esforço comum se ponham todas as energias ao serviço da paz, no respeito pelas exigências do homem e da natureza”.
(S.L.) (Agência Fides 27/4/2006)
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O texto integral da catequese do Santo Padre está em:
http://www.evangelizatio.org/portale/adgentes/pontefici/pontefice.php?id=501

28 de abril de 2006 - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya
VATICANO - Telegrama de pesar do Santo Padre pelas vítimas do atentado de Nassiriya: “firme reprovação pelo novo ato de violência, que constitui um ulterior obstáculo no caminho da concórdia e da recuperação daquele país”.
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - O Santo Padre Bento XVI, por meio do Card. Angelo Sodano, Secretário de Estado, enviou ao Ordinário Militar para a Itália, Dom Angelo Bagnasco, um telegrama de pesar pelas vítimas do atentado ocorrido em 27 de abril, contra um veículo militar italiano em Nassiriya, no Iraque.
“Estes militares italianos – sublinha Bento XVI – perderam a vida, juntamente com o seu camarada romeno – no generoso exercício de uma missão de paz”. O Pontífice exprime a sua “firme reprovação por mais este acto de violência que se vem juntar a outras ferozes acções perpetradas no Iraque, constitui um ulterior obstáculo na via da concórdia e da retoma daquele atormentado país.
O Santo Padre “deseja exprimir a sua profunda proximidade espiritual aos familiares das vítimas por tão grave luto, que atinge as Forças Armadas Italianas e romenas e a totalidade das respectivas comunidades nacionais”.“Ao mesmo tempo que assegura fervorosas orações de sufrágio por estas jovens vidas truncadas”, Bento XVI invoca “o conforto celeste para todos os que choram a trágica morte e a todos envia uma especial bênção apostólica com um particular pensamento no que diz respeito aos feridos e a todos os que, civis e militares, se encontram empenhados”. (S.L.) (Agência Fides 28/4/2006)

VERBA PONTIFICIS

Deus está perto
"Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13, 1): Deus ama a sua criatura, o homem; ama-o também na sua queda e não o abandona a si mesmo. Ele ama até ao fim. Vai até ao fim com o seu amor, até ao extremo: desce da sua glória divina. Depõe as vestes da sua glória divina e reveste-se com as do servo. Desce até à extrema baixeza da nossa queda. Ajoelha-se diante de nós e presta-nos o serviço do servo; lava os nossos pés sujos, para que possamos ser admitidos à mesa de Deus, para que nos tornemos dignos de nos sentarmos à sua mesa o que, por nós mesmos, nunca podemos nem devemos fazer. Deus não é um Deus distante, demasiado distante e grande para se ocupar das nossas insignificâncias. Porque Ele é grande, pode interessar-se também pelas coisas pequenas. Porque Ele é grande, a alma do homem, o mesmo homem criado para o amor eterno, não é uma coisa pequena, mas grande e digna do seu amor. A santidade de Deus não é só um poder incandescente, diante do qual nós nos devemos retirar aterrorizados; é poder de amor e por isso é poder que purifica e restabelece. Deus desce e torna-se escravo, lava-nos os pés para que possamos estar na sua mesa. Exprime-se nisto todo o mistério de Jesus Cristo. Nisto se torna visível o que significa redenção. O banho no qual nos lava é o seu amor pronto para enfrentar a morte. Só o amor tem aquela força purificadora que nos tira a nossa impureza e nos eleva às alturas de Deus. O banho que nos purifica é Ele mesmo que se doa totalmente a nós até às profundidades do seu sofrimento e da sua morte. Ele é continuamente este amor que nos lava; nos sacramentos da purificação o baptismo e o sacramento da penitência Ele está continuamente ajoelhado diante dos nossos pés e presta-nos o serviço do servo, o serviço da purificação, torna-nos capazes de Deus. O seu amor é inexaurível, vai verdadeiramente até ao fim”. (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Massa “In cena domini”) PRIMEIRO, SEGUNDO E TERCEIRO PARÁGRAFOS

Educação
“Ilustres Senhores e gentis Senhoras, ao dirigir um rápido olhar ao "velho" continente, é fácil constatar quais são os desafios culturais que hoje a Europa está a enfrentar, uma vez que está comprometida na redescoberta da sua identidade, que não é apenas de ordem económico-política. A questão fundamental, tanto hoje como ontem, permanece a antropológica. O que é o homem? De onde provém? Aonde deve ir? Como deve ir? Isto é, trata-se de esclarecer qual é a concepção do homem que se encontra na base dos novos projectos. E, justamente, vós perguntais ao serviço de que homem, de que imagem do homem a Universidade deseja colocar-se: de um indivíduo fechado na defesa exclusiva dos seus próprios interesses, de uma única perspectiva de interesses, de uma perspectiva materialista, ou de uma pessoa aberta à solidariedade para com o próximo, na busca do verdadeiro sentido da existência, que deve ser um sentido comum, que transcende as pessoas individualmente? Além disso, interrogais-vos sobre qual é a autêntica relação entre a pessoa humana, a ciência e a técnica. Se nos séculos XIX-XX a técnica conheceu um crescimento extraordinário, no início deste século XXI foram dados outros passos igualmente importantes: graças à informática, o desenvolvimento tecnológico assumiu também uma parte das nossas actividades mentais, com consequências que comprometem o nosso modo de pensar e podem condicionar a nossa própria liberdade. É necessário dizer com determinação que o ser humano nunca pode, nem deve, ser sacrificado aos êxitos da ciências e da técnica: eis por que motivo se manifesta em toda a sua importância a chamada questão antropológica que, para nós, herdeiros de uma tradição humanista fundamentada sobre os valores cristãos, deve ser enfrentada à luz dos princípios inspiradores da nossa civilização, que puderam encontrar nas Universidades europeias autênticos laboratórios de investigação e de aprofundamento. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUARTO PARÁGRAFO
“Da concepção bíblica do homem, a Europa tirou o melhor da sua cultura humanista observava João Paulo II, na sua Exortação Apostólica pós-sinodal Ecclesia in Europa e... promoveu a dignidade da pessoa, fonte de direitos inalienáveis" (n. 25). Desta forma a Igreja acrescentava o meu venerado Predecessor contribuiu para difundir e consolidar os valores que tornaram universal a cultura europeia. Todavia, o homem não pode compreender-se a si mesmo de maneira plena, se prescindir de Deus. É por este motivo que a dimensão religiosa da existência humana não pode ser descuidada, no momento em que se começa a construção da Europa do terceiro milénio. Aqui sobressai o papel peculiar das Universidades como universo científico, e não apenas como um conjunto de diferentes especializações: na situação actual, pede-se-lhes que não se contentem com instruir, com transmitir conhecimentos técnicos e profissionais, que são muito importantes mas insuficientes, mas que se comprometam também no desempenho de uma atenta função educativa ao serviço das novas gerações, fazendo apelo ao património de ideais e de valores que caracterizaram os séculos passados. Deste modo, a Universidade poderá ajudar a Europa a conservar e a reencontrar a sua "alma", revitalizando as raízes cristãs que lhe deram origem”. (1º de abril de 2006 – Audiência aos participantes do Seminário "The Cultural Heritage and Academic Values of the European University and the Attractiveness of the Europea Higher Education Area”) QUINTO PARÁGRAFO
Dia Mundial da Juventude
“Irmãos e irmãs, daqui a pouco uma delegação de jovens alemães entregará aos coetâneos australianos a Cruz das Jornadas Mundiais da Juventude. É a Cruz que o amado João Paulo II confiou aos jovens em 1984 para que a levassem pelo mundo como sinal do amor de Cristo pela humanidade. Saúdo o Cardeal Joachim Meisner, Arcebispo de Colónia, e o Cardeal George Pell, Arcebispo de Sidney, que quiseram estar presentes neste momento tão significativo. A passagem da Cruz, depois de cada Encontro mundial, tornou-se uma "tradição", no sentido próprio de uma traditio, uma entrega altamente simbólica, que deve ser vivida com grande fé, comprometendo-se a percorrer um caminho de conversão no seguimento de Jesus. Esta fé é-nos ensinada por Maria Santíssima, a primeira que "acreditou" e carregou a sua própria cruz juntamente com o Filho, gozando assim com Ele da alegria da ressurreição. Por isso, a Cruz dos jovens é acompanhada de um ícone da Virgem, que reproduz Maria Salus Populi Romani, venerada na Basílica de Santa Maria Maior, a mais antiga Basílica dedicada a Nossa Senhora no Ocidente”. (9 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO

João Paulo II
“No dia 2 de Abril do ano passado, precisamente como hoje, o amado Papa João Paulo II estava vivendo nestas mesmas horas, e aqui nestes mesmos aposentos, a última fase da sua peregrinação terrena, uma peregrinação de fé, de amor e de esperança, que deixou um profundo sinal na história da Igreja e da humanidade. A sua agonia e a sua morte constituíram como que um prolongamento do Tríduo pascal. Todos nós recordamos as imagens da sua última Via-Sacra, na Sexta-Feira Santa: dado que não podia ir ao Coliseu, acompanhou-a da sua Capela particular, com uma cruz nas mãos. Depois, no dia da Páscoa, concedeu a Bênção Urbi et Orbi sem poder pronunciar uma palavra, somente com o gesto da mão. Jamais esqueceremos aquela bênção. Foi a bênção mais dolorosa e comovedora, que ele nos deixou como extremo testemunho da sua vontade de cumprir o ministério até ao fim. João Paulo II morreu como tinha sempre vivido, animado pela indómita coragem da fé, abandonando-se em Deus e confiando-se a Maria Santíssima. Esta noite recordá-lo-emos com uma vigília de oração mariana na Praça de São Pedro, onde amanhã à tarde celebrarei a Santa Missa por ele!. (2 de abril de 2006 - Angelus) PRIMEIRO PARÁGRAFO
“A um ano da sua passagem da terra à casa do Pai, podemos perguntar-nos: o que nos deixou este grande Papa, que introduziu a Igreja no terceiro milénio? A sua herança é imensa, mas a mensagem do seu longuíssimo Pontificado pode resumir-se nas palavras com que ele o quis inaugurar, aqui na Praça de São Pedro, no dia 22 de Outubro de 1978: "Abri de par em par as portas a Cristo!". João Paulo II encarnou este apelo inesquecível, que ainda sinto ressoar em mim como se fosse ontem, com toda a sua pessoa e com toda a sua missão de Sucessor de Pedro, especialmente com o seu extraordinário programa de viagens apostólicas. Visitando os países do mundo inteiro, encontrando-se com as multidões, as Comunidades eclesiais, os Governantes, os Chefes religiosos e as várias realidades sociais, ele realizou como que um único grande gesto, como confirmação daquelas suas palavras iniciais. Anunciou sempre Cristo, propondo-O a todos, como o Concílio Vaticano II já tinha feito, como resposta às expectativas do homem, expectativas de liberdade, de justiça e de paz. Cristo é o Redentor do homem ele gostava de repetir o único Salvador autêntico de cada pessoa e de todo o género humano. (2 de abril de 2006 - Angelus) SEGUNDO PARÁGRAFO
“Nos últimos anos, gradualmente, o Senhor despojou-o de tudo para o assimilar completamente a Si. E quando já não podia viajar, e depois nem caminhar, e por fim nem sequer falar, o seu gesto, o seu anúncio reduziu-se ao essencial: ao dom de si mesmo até ao fim. A sua morte foi o cumprimento de um testemunho de fé coerente, que sensibilizou o coração de muitos homens de boa vontade. João Paulo II deixou-nos no dia de sábado, dedicado particularmente a Maria, a quem ele alimentou sempre uma devoção filial. Agora, peçamos à celestial Mãe de Deus que nos ajude a valorizar quanto este grande Pontífice nos concedeu e ensinou. (2 de abril de 2006 - Angelus) TERCEIRO PARÁGRAFO

“Já transcorreu um ano depois da morte do Servo de Deus João Paulo II, que se verificou quase nesta mesma hora eram 21.37h mas a sua memória continua a estar viva como nunca, como testemunham as numerosas manifestações programadas nestes dias, em todas as partes do mundo. Ele continua a estar presente na nossa mente e no nosso coração; continua a comunicar-nos o seu amor a Deus e o seu amor ao homem; continua a suscitar em todos, sobretudo nos jovens, o entusiasmo do bem e a coragem de seguir Jesus e os seus ensinamentos”. (2 de abril de 2006 – Vigília mariana em memória de João Paulo II) MEADOS DO PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Como resumir a vida e o testemunho evangélico deste grande Pontífice? Poderia tentar fazê-lo, usando duas palavras: "fidelidade" e "dedicação", fidelidade total a Deus e dedicação sem limites à própria missão de Pastor da Igreja universal. Fidelidade e dedicação que se mostraram ainda mais persuasivas e comovedoras nos últimos meses, quando encarnou em si quanto escreveu em 1984 na Carta apostólica Salvifici doloris: "O sofrimento está presente no mundo para desencadear o amor, para fazer nascer obras de amor para com o próximo, para transformar toda a civilização humana na "civilização do amor"" (n. 30). A sua doença enfrentada com coragem fez com que todos se tornassem mais atentos ao sofrimento humano, a cada sofrimento físico e espiritual; deu ao sofrimento dignidade e valor, testemunhando que o homem não vale pela sua eficiência, pelo seu aparecer, mas por si mesmo, porque é criado e amado por Deus. Com as palavras e com os gestos o querido João Paulo II não se cansou de indicar ao mundo que se o homem se deixa abraçar por Cristo, não mortifica a riqueza da sua humanidade; se adere a Ele com todo o coração, nada lhe faltará. Ao contrário, o encontro com Cristo torna a nossa vida mais apaixonante. Precisamente porque se aproximou cada vez mais de Deus na oração, na contemplação, no amor à Verdade e à Beleza, o nosso amado Papa pôde tornar-se companheiro de viagem de cada um de nós e falar com autoridade também a quantos andavam afastados da fé cristã. (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) SEGUNDO PARÁGRAFO

No primeiro aniversário do seu regresso à Casa do Pai somos convidados esta noite a acolher de novo a herança espiritual que ele nos deixou; somos estimulados, entre outras coisas, a viver procurando incansavelmente a Verdade, a única que satisfaz o nosso coração. Somos encorajados a não ter receio de seguir Cristo, para levar a todos o anúncio do Evangelho, que é fermento de uma humanidade mais fraterna e solidária. João Paulo II nos ajude do céu a prosseguir o nosso caminho, permanecendo discípulos de Jesus para sermos, como ele mesmo gostava de repetir aos jovens, "sentinelas da manhã" neste início do terceiro milénio cristão. Por isso invocamos Maria, a Mãe do Redentor, em relação à qual ele sentiu sempre uma terna devoção (2 de abril de 2006 - Vigília mariana em memória de João Paulo II) TERCEIRO PARÁGRAFO
“Estimados irmãos e irmãs, esta tarde o nosso pensamento volta com emoção ao momento da morte do amado Pontífice, mas ao mesmo tempo o coração é como que impelido a olhar para a frente. Sentimos ressoar na nossa alma os seus reiterados convites a progredir sem medo pelo caminho da fidelidade ao Evangelho, para sermos anunciadores e testemunhas de Cristo no terceiro milénio. Voltam à nossa mente as suas incessantes exortações a cooperarmos com generosidade para a realização de uma humanidade mais justa e solidária, a sermos promotores de paz e construtores de esperança. Que o nosso olhar permaneça sempre fixo em Cristo, "o mesmo ontem, hoje e pelos séculos" (Hb 13, 8), que orienta solidamente a sua Igreja. Nós acreditámos no seu amor, e é o encontro com Ele "que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo" (Deus caritas est, 1). Queridos irmãos e irmãs, a força do Espírito de Jesus seja para todos, como foi para o Papa João Paulo II, um manancial de paz e de alegria. E a Virgem Maria, Mãe da Igreja, nos ajude a ser em todas as circunstâncias, como ele, apóstolos incansáveis do seu Filho divino e profetas do seu amor misericordioso”. (3 de abril de 2006 – Santa missa em sufrágio de João Paulo II) ÚLTIMO PARÁGRAFO

Missão
“Queridos jovens, permiti que vos repita quanto disse aos vossos coetâneos reunidos em Colónia em Agosto do ano passado: quem descobriu Cristo não pode deixar de conduzir também os outros para Ele, dado que uma grande alegria nunca se deve conservar só para si, mas deve ser comunicada. É para esta tarefa que o Senhor vos chama; é este o "apostolado de amizade", que São Josemaría, Fundador do Opus Dei, descreve como "amizade "pessoal", abnegada, sincera: directamente, de coração a coração" (Sulco, n. 191). Cada cristão está convidado a ser amigo de Deus e, com a sua graça, a atrair para Ele os próprios amigos. O amor apostólico torna-se deste modo uma autêntica paixão que se expressa em comunicar aos outros a felicidade que se encontrou em Jesus. É ainda São Josemaría quem vos recorda algumas palavras-chave deste vosso itinerário espiritual: "Comunhão, união, comunicação, confidência: Palavra, Pão, Amor" (Caminho, n. 535), as grandes palavras que exprimem os pontos essenciais do nosso caminho. Se cultivardes a amizade com Jesus, se fordes assíduos na prática dos Sacramentos, e especialmente dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, sereis capazes de vos tornardes a "nova geração de apóstolos, radicados na palavra de Cristo, capazes de responder aos desafios do nosso tempo e dispostos a difundir em toda a parte o Evangelho" (Mensagem para a XXI Jornada Mundial da Juventude)”. (10 de abril de 2006 – audiência aos participantes da 39ª edição do encontro UNIV) PENÚLTIMO PARÁGRAFO

Sacerdotes
“A Quinta-Feira Santa é o dia em que o Senhor confiou aos Doze a tarefa sacerdotal de celebrar, no pão e no vinho, o Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue, até à sua volta. O cordeiro pascal e todos os sacrifícios da Antiga Aliança são substituídos pela dádiva do seu Corpo e do seu Sangue, pelo dom de Si mesmo. Assim, o novo culto fundamenta-se no facto de que, em primeiro lugar, Deus nos oferece um dom e nós, repletos deste dom, tornamo-nos seus: a criação regressa ao Criador. Deste modo, também o sacerdócio se tornou algo de novo: já não é uma questão de descendência, mas um encontrar-se no mistério de Jesus Cristo. Ele é sempre Aquele que doa e, no alto, nos atrai a Si. Somente Ele pode dizer: "Isto é o meu Corpo isto é o meu Sangue". O mistério do sacerdócio da Igreja encontra-se no facto de que nós, pobres seres humanos, em virtude do Sacramento, podemos falar com o seu Eu: in persona Christi. Ele quer exercer o seu sacerdócio através de nós. Este mistério comovedor, que em cada celebração do Sacramento volta a tocar-nos, nós recordamo-lo de maneira particular na Quinta-Feira Santa. A fim de que a vida quotidiana não desperdice o que é grande e misterioso, temos necessidade desta lembrança específica, precisamos de regressar à hora em que Ele impôs as suas mãos sobre nós e nos tornou partícipes deste mistério”. (13 de abril de 2006 – Homilia da Santa Missa do Crisma) PRIMEIRO PARÁGRAFO

“Ser sacerdote significa tornar-se amigo de Jesus Cristo, e isto cada vez mais com toda a nossa existência. O mundo tem necessidade de Deus não de um deus qualquer, mas do Deus de Jesus Cristo, do Deus que se fez carne e sangue, que nos amou a ponto de morrer por nós, que ressuscitou e criou em Si mesmo um espaço para o homem. Este Deus deve viver em nós, e nós nele. Esta é a nossa vocação sacerdotal: somente deste modo o nosso agir presbiteral pode dar fruto. Gostaria de concluir esta homilia com uma palavra de Andrea Santoro, daquele sacerdote da Diocese de Roma, que foi assassinado em Trebizonda enquanto rezava; o Cardeal Cè transmitiu-a a nós durante os Exercícios espirituais. A palavra diz: "Encontro-me aqui para habitar no meio deste povo e permitir que Jesus o faça, emprestando-lhe a minha carne... só nos tornamos capazes de salvação, oferecendo o nosso próprio corpo. Temos que suportar o mal do mundo e compartilhar o sofrimento, absorvendo-os no nosso corpo até ao fim, como fez Jesus". Jesus assumiu a nossa carne. Entreguemos-lhe a nossa para que, deste modo, Ele possa vir ao mundo e transformá-lo.
Amém!” (13 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Crisma) ÚLTIMO PARÁGRAFO

São Francisco Xavier
“No próximo dia 7 de Abril celebram-se os 500 anos do nascimento de São Francisco Xavier, o grande missionário jesuíta que pregou o Evangelho em terras de Ásia, abrindo muitas portas a Cristo. Uno-me a essa celebração agradecendo ao Senhor este grande dom à sua Igreja. Enviei o Cardeal Antonio María Rouco Varela para presidir as cerimónias no Santuário de Javier, em Navarra, Espanha. Uno-me a ele e a todos os peregrinos que irão a esse insigne lugar missionário. Ao contemplar a figura de São Francisco Xavier, sentimo-nos chamados a rezar por quantos dedicam a sua vida à missão evangelizadora, proclamando a beleza da mensagem salvadora de Jesus”. (5 de abril de 2006 – Audiência geral) SEGUNDO PARÁGRAFO

Semana Santa
“Para compreender aquilo que aconteceu no Domingo de Ramos e descobrir o que isto significou não só naquela época, mas também o que significa para todos os tempos, revela-se importante um pormenor, que se tornou inclusive para os seus discípulos a chave para a compreensão deste acontecimento quando, após a Páscoa, eles voltaram a percorrer com um novo olhar aqueles dias tumultuosos. Jesus entra na Cidade Santa montado num jumento, ou seja, o animal das pessoas simples do campo, e além disso num jumento que não lhe pertence, mas que Ele, para essa ocasião, pede emprestado. Não chega num majestoso carro de luxo, nem a cavalo, como os poderosos do mundo, mas montado um jumento que tinha pedido emprestado. João narra-nos que, num primeiro momento, os discípulos não O compreenderam. Somente depois da Páscoa entenderam que Jesus, agindo deste modo, estava a cumprir os anúncios dos profetas, compreenderam que o seu agir derivava da Palavra de Deus e que a levava ao seu cumprimento. Recordaram, diz João, que no profeta Zacarias se lê: "Não temas, Filha de Sião, olha o teu Rei che chega sentado na cria de uma jumenta" (Jo 12, 15; cf. Zc 9, 9). Para compreender o significado da profecia e, deste modo, do próprio agir de Jesus, devemos ouvir todo o texto de Zacarias, que continua assim: "Ele exterminará os carros de guerra da terra de Efraim e os cavalos de Jerusalém; o arco de guerra será quebrado. Proclamará a paz para as nações. O seu império irá de um mar ao outro, e do rio às extremidades da terra" (9, 10). Com isto, o profeta afirma três coisas sobre o rei que há-de vir.”. (9 de abril de 2006 – Homilia Domingo de Ramos) SAUDAÇÕES EM ESPANHOL
“As três características anunciadas pelo profeta pobreza, paz e universalidade são resumidas no sinal da Cruz. Por isso, justamente, a Cruz tornou-se o centro das Jornadas Mundiais da Juventude. Houve um período que ainda não foi totalmente superado em que se rejeitava o cristianismo precisamente por causa da Cruz. A Cruz fala de sacrifício dizia-se a Cruz é sinal de negação da vida. Nós, contudo, desejamos a vida inteira sem limites e sem renúncias. Queremos viver, somente viver. Não nos deixamos condicionar por preceitos nem por proibições; nós desejamos a riqueza e a plenitude assim se dizia e ainda se diz. Tudo isto parece convincente e cativante; é a linguagem da serpente que nos diz: "Não vos amedronteis! Comei tranquilamente de todas as árvores do jardim!". Porém, o Domingo de Ramos diz-nos que o verdadeiro grande "Sim" é precisamente a Cruz, que a Cruz é a verdadeira árvore da vida. Não encontramos a vida apoderando-nos dela, mas entregando-a. O amor é um doar-se a si mesmo, e por isso é o caminho da vida verdadeira, simbolizada pela Cruz. Hoje a Cruz, que ultimamente esteve no centro da Jornada Mundial da Juventude em Colónia, será entregue a uma especial delegação, para que comece o caminho rumo a Sidney onde, em 2008, os jovens do mundo inteiro tencionam reunir-se de novo à volta de Cristo para construir juntamente com Ele o reino da paz. De Colónia a Sidney um caminho através dos continentes e das culturas, um caminho através de um mundo dilacerado e atormentado pela violência! Simbolicamente, é o caminho indicado pelo profeta, o caminho que vai de um mar ao outro, e do rio até às extremidades da terra. Trata-se do caminho daquele que, no sinal da Cruz, nos comunica a paz e nos faz ser portadores da reconciliação e da sua paz. Estou grato aos jovens que agora levarão pelos caminhos do mundo esta Cruz, na qual podemos como que tocar o mistério de Jesus. Peçamos-lhe, contemporaneamente, que Ele nos toque também a nós e abra os nossos corações a fim de que, seguindo a sua Cruz, sejamos mensageiros do seu amor e da sua paz. Amén!”. (9 de abril de 2006 – Homilia na Santa Missa do Domingo de Ramos) ÚLTIMO PARÁGRAFO
Sofrimento
“Que o Espírito do Ressuscitado leve alívio e segurança na África às populações do Darfur, que se encontram numa dramática situação humanitária já insustentável; às da região dos Grandes Lagos, onde muitas chagas ainda não estão curadas; aos povos do Corno de África, da Costa do Marfim, do Uganda, do Zimbábue e doutras nações que anseiam pela reconciliação, pela justiça e pelo progresso. No Iraque, sobre a trágica violência, que impiedosamente continua a ceifar vítimas, prevaleça finalmente a paz. E paz desejo vivamente também para os que estão envolvidos no conflito da Terra Santa, convidando a todos a um diálogo paciente e perseverante que remova os obstáculos antigos e novos. A comunidade internacional, que reafirma o justo direito de Israel a existir em paz, ajude o povo palestinense a superar as condições precárias em que se encontra, avançando para a constituição dum verdadeiro e próprio Estado. O Espírito do Ressuscitado suscite um renovado dinamismo no empenho dos países da América Latina, para que sejam melhoradas as condições de vida de milhões de cidadãos, eliminada a nefasta praga dos raptos de pessoas e consolidadas as instituições democráticas, em espírito de concórdia e de solidariedade real. Relativamente às crises internacionais ligadas ao nuclear, chegue-se a um acordo honroso para todos através de negociações sérias e leais, e reforce-se nos responsáveis das nações e das organizações internacionais a vontade de realizar uma pacífica convivência entre etnias, culturas e religiões, que afaste a ameaça do terrorismo”. (16 de abril de 2006 – Mensagem Urbi et Orbi) QUARTO CAPOVERSO


INTERVENTUS SUPER QUAESTIONES

Missão
Pequim - “Dez anos de sacerdócio são um caminho entremeado de dificuldades, tentações e desafios. Mas, ao mesmo tempo, são dez anos de continuo agradecimento ao Senhor por ter-me escolhido e acompanhado na superação de obstáculos e incertezas”. São palavras comoventes, que saem do profundo do coração de 7 sacerdotes de Pequim, que celebraram, nos últimos dias, 10 anos de sacerdócio na paróquia de Ping Fang, periferia da cidade. Ao lado dos 7, outros 12 sacerdotes co-celebraram juntos. Centenas de fiéis assistiram a Solene Eucaristia. Comentando o evento, um católico local disse: “Estou orgulhoso deles. Pensando num mundo de consumismo, de sucessos fáceis, como o de hoje, estes jovens sacerdotes dedicaram a maior parte de seus dez anos de sacerdócio à evangelização e à pastoral na área rural, onde não existem comodidades materiais nem fiéis ricos, nem fáceis aplausos. Não é nada fácil. Naturalmente, o Senhor os sustentou: receberam força da oração, da vida espiritual, vivida em profundidade”. Como disse o sacerdote que proferiu a homilia, “celebrar dez anos de sacerdócio para estes 7 irmãos é a oportunidade de promover as vocações juvenis e solidificar o caminho sacerdotal dos nossos irmãos sacerdotes”. (Agência Fides 05/04/2006)

São Francisco Xavier
Navarra – “O Cardeal-Arcebispo de Madri, Antonio María Rouco Varela, presidiu esta manhã uma solene Concelebração Eucarística no Castello de Javier, como Enviado Especial de Bento XVI às celebrações do V Centenário de nascimento de São Francisco Xavier. A celebração, à qual assistiram os Reais da Espanha e o Presidente do Governo de Navarra, foi concelebrada por numerosos Cardeais, Arcebispos e Bispos, entre eles o Arcebispo de Pamplona, o Núncio apostólico na Espanha, e o Prepósito-geral da Companhia de Jesus”.
Na sua homilia, o Cardeal recordou que São Francisco Xavier “deixou uma marca indelével na história da Igreja e da humanidade por ter levado o nome de Jesus e o sinal da Cruz a novos mundos e por ter evidenciado a concepção teológica da dignidade do homem, imagem de Deus, pessoa livre, dotada de direitos invioláveis, chamada a realizar na história o pleno amor de Deus”. Para o Cardeal, Francisco Xavier “encarnou com inaudita radicalidade a obediência ao mandato confiado pelo Senhor aos seus Apóstolos: Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos”.
Qual é a chave espiritual da vocação de Xavier?, perguntou-se o Cardeal. “Para Francisco Xavier, como para Paulo, o fato de pregar não é um motivo de orgulho, mas de uma necessidade existencial não suprimível”. A Francisco Xavier interessam acima de tudo “os bens do Evangelho”. Aquilo que lhe importa é “a alma, a sua alma e aquela de todos”; lhe importa “Cristo e a sua vitória na Cruz, que vence definitivamente a morte”, por isso, não hesita em “gastar e consumar a sua jovem vida para levar o conhecimento intimo e transformador daquela Cruz até os confins da terra”; lhe importa “a salvação do homem” e, para isso, se pródiga para que “acedam à fé cristã o maior número possível de pessoas, que busca incansavelmente até os confins mais remotos, lá onde a Boa Nova não chegou”. O Cardeal Rouco Varela destacou a importância de “recuperar a alma na vida pessoal de cada cristão à luz da Boa Nova de Jesus Cristo”, e recuperar a alma também na nova sociedade da Espanha e da Europa, sem a qual é muito difícil “abrir um futuro de vida, de justiça, de solidariedade e de paz”.
O Enviado Especial do Santo Padre concluiu a sua homilia confiando à Virgem Maria “a Igreja e a sua missão ao serviço do amor”, que é “a melhor coisa que podem oferecer a todos a Igreja e os seus Pastores, para um futuro de liberdade, de justiça, de solidariedade e de paz!”.
(RG) (Agência Fides 7/4/2006)

Navarra - “Uma grande manifestação de reconhecimento e de gratidão para o nosso Santo”, com essas palavras, o Arcebispo de Pamplona (Espanha), Dom Fernando Sebastián, descreve na sua Carta Pastoral intitulada "Quinhentos anos", a celebração de 7 de abril, dia do nascimento de São Francisco Xavier, na sua cidade natal (Javier, Espanha) (veja Fides 6/4/2006).
Dom Sebastián descreve São Francisco Xavier como “um grande dom de Deus para Navarra, mas também para a Igreja universal e para toda a humanidade”. “A partir da sua conversão - continua o Arcebispo - São Francisco foi, primeiramente, e acima de tudo, um discípulo apaixonado por Jesus Cristo... Foi esta dedicação radical de sua vida à seqüela de Cristo e ao serviço da sua Igreja que o fez grande, realmente universal e digno de admiração e de veneração por parte de todos os cristãos do mundo, acima de qualquer outra consideração”.
Justamente para reconhecer a importância desta grande figura, está-se celebrando um Ano Jubilar, “um ano de oração e de renovação”. Os numerosos atos que se celebraram em Javier nesses primeiros meses constituem, segundo o Arcebispo, “uma manifestação do amor e da devoção dos cristãos de Navarra para com o Santo Padroeiro", que todos consideram sua “honra, modelo e intercessor”.
O Arcebispo conclui a sua carta pastoral convidando todos a viverem este dia 7 de abril com especial intensidade espiritual, e a colocarem sob a proteção de São Francisco Xavier “a fé e a vida cristã, a concórdia e a prosperidade... a renovação espiritual dos cristãos, a aproximação e a paz entre Oriente e Ocidente. (RG) (Agência Fides 7/4/2006)

QUAESTIONES

VATICANO - Projetar e construir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O ambão”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - No espaço litúrgico do presbitério, cada decoração é, na realidade, um “local” de encontro entre Deus e o seu povo. Assim se expressa a Sacrosanctum Concilium no n. 7: “Cristo está presente na sua Palavra, porque é Ele que fala quando na igreja se lê a Sagrada Escritura”. Com efeito, o ambão é o local onde Cristo se manifesta aos seus fiéis como Palavra de Deus. Por este motivo, desde a antiguidade, o ambão é uma decoração monumental, como indica o próprio nome (do verbo grego anabáino, subir ao alto), que o qualifica como um local alto e bem à vista.
No livro de Neemias (8, 1-6) se narra que, depois do retorno do exílio, para proclamar a Lei “o escriba Esdras estava sobre um estrado de madeira, construído para a ocasião”. Parece que as decorações presentes nas sinagogas judias para a leitura da Bíblia estejam na origem dos ambões nas igrejas paleocristãs e no alto período medieval, espécies de tribunas de mármore, uma ou duas, com um ou dois degraus de escada e, às vezes, um baldaquino, normalmente delimitados em um espaço dentro da sala, destinado a leitores e cantores (cfr em Roma, as basílicas de S. Clemente e de Santa Sabina).
Na Itália centro-meridional, muitos ambões medievais tem ao lado um candelabro pascal de dimensões monumentais, para indicar que aquele é o local do anúncio da ressurreição, a noite de Páscoa (Exultet). Por este motivo, o ambão é identificado também com o Sepulcro vazio de Cristo e tal simbologia pascal seria confirmada pela freqüente elaboração sobre ele de imagens referidas à ressurreição de Cristo (ciclo de Giona). Em várias igrejas da Itália setentrional, analogamente a outras regiões européias, os ambões eram integrados às divisórias que separavam o santuário da sala, mantendo um grande relevo, até a eliminação de tais estruturas nos séculos XV-XVI, para tornar mais visível o altar e o tabernáculo. No final do período medieval, com o nascimento das ordens pregadoras e principalmente no período tridentino, o ambão foi substituído pelo púlpito, colocado na metade da sala e utilizado somente para a pregação, enquanto as leituras da Missa eram “lidas” pelo sacerdote sobre o altar, in cornu Epistolae e in cornu Evangelii.
Com a reforma do Vaticano II, a renovada atenção à proclamação da Palavra de Deus favoreceu uma reconsideração do ambão no espaço litúrgico. A propósito, assim se exprime o Ordenamento Geral do Missal Romano: “A importância da Palavra exige que exista na igreja um lugar apto do qual esta seja anunciada, e em direção ao qual, durante a liturgia da Palavra, espontaneamente se dirija a atenção dos fiéis” (n. 309).
A colocação do ambão deve, portanto, ser próxima da assembléia, dentro do presbitério ou fora dele; colocado ao lado, deve estar em relação com a sede e com o altar, do qual, porém, não deve ocultar a prioridade e a centralidade, e tornar possível a procissão com o evangeliário, a sua incensação e a colocação das velas; deve ser funcional para a proclamação da Palavra, disposto de modo tal que os ministros sejam bem visíveis e ouvidos pela assembléia.
Deve ser digno, tanto da constituir um sinal eloqüente da Palavra, inclusive quando esta não é proclamada: para tal objetivo, convém que seja fixo, construído em material apto (pedra, mármore, bronze, mas também madeira etc), de forma monumental e artística. Também a decoração pode contribuir ao esplendor do ambão: seja representando os Profetas ou os Evangelistas, seja utilizando imagens referidas à ressurreição do Senhor, é importante que a iconografia seja sóbria e essencial. Durante o Tempo da Páscoa, está prevista a possibilidade de colocar ao lado do ambão o círio pascal: é interessante que este seja posicionado sobre um candelabro pascal realmente digno.
Do ambão é possível proclamar somente as leituras, o salmo responsorial e o preconio pascal; pode ser feita a homilia e pronunciada a oração universal dos fiéis: qualquer outro tipo de leitura e de anúncio, portanto, não devem ser feitos dali. Por fim, é um bem que ao ambão subam somente os ministros ordenados e os leitores instituídos.  Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja. (Agência Fides 4/4/2006)

VATICANO - Progetar e constuir o templo de Deus. Uma contribuição da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, de Dom Mauro Piacenza. “O batistério”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - As escavações na mais antiga Domus Ecclesiae de Doura Europos (Síria), que remonta à metade do século III, evidenciaram um ambiente destinado à celebração da Eucaristia e um menor, mais inteiramente decorado, utilizado para o batismo. A distinção desses dois pólos espaciais permaneceu depois da paz constantinopolitana, com a edificação ao lado das basílicas de um batistério, que normalmente era único e anexo à catedral. No ocidente, os primeiros batistérios conhecidos são o de Lateranense, em Roma, e o anexo à catedral de Santa Tecla, em Milão. A estrutura octogonal, muito difundida, mas não exclusiva, derivante dos mausoléus ou dos edifícios termais, alude ao dia da Ressurreição, o primeiro depois do sábado, e é, portanto, código de Cristo. Dentro de tais batistérios, na noite de Páscoa, os catecúmenos eram ordenados a descer e subir de uma banheira, para indicar que “pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova” (Rm 6, 3-4). A fonte batismal é, portanto, sepulcro do qual ressuscitar, ventre materno do qual renascer (cfr Jo 3, 3-6), lavabo para a purificação e local de iluminação. Depois de ter recebido o batismo e a confirmação, os “neófitos” se dirigiam à igreja para assistir pela primeira vez à Eucaristia.
A partir do período medieval, o abandono do batismo dos adultos comportou não somente o desaparecimento dos batistérios, mas também a abreviação do rito e a sua celebração em qualquer momento do ano. Sendo muitas fontes do Renascimento e do Barroco monumentais e de grande valor artístico (Basílica Vaticana; Santa Maria Maior em Roma), estas geralmente se reduziram de dimensão, assumindo a forma de pia de pedra traspassada por uma tampa de madeira. Posicionadas agora em uma capela, perto da porta da igreja, a água benta que conservam não é “viva”, assim como a teologia destacava do batismo principalmente o aspecto de purificação do pecado original em relação ao do renascimento.
A Sacrosanctum Concilium 64-71, com a retomada do catecumenato e a reforma do rito para o batismo dos adultos (RICA) e das crianças, dispôs a bênção da água em cada celebração (com exceção do Tempo da Páscoa) e pediu que fosse reconsiderada a construção e a disposição da fonte. Abandonada a práxis de um batistério autônomo, entrou em uso um espaço batismal conectado com a sala, com a fonte posicionada no átrio ou perto da porta, para indicar a natureza liminar do batismo em relação à vida cristã, e em cada caso em um local diferente do presbitério. Este pólo litúrgico deve ser posicionado de modo que resulte clara a conexão com os outros pólos previstos pelo rito (ingresso, ambão e altar), facilitando as locomoções. A fonte batismal deve ser em si expressiva dos mistérios que nela se realiza (renascimento, purificação e iluminação). Por tal motivo, a sua conformação, assim como a decoração do espaço batismal, deve ser bem meditada e confiada a artistas de valor. É importante que a fonte seja de mármore ou de pedra e que a água seja corrente, fria e quente, para permitir também o batismo por imersão, ao menos das crianças. Ao lado da fonte, deve ser colocado o círio pascal (exceto no tempo da Páscoa, em que está sobre o presbitério) em um candelabro que seja digno. Deve-se prever neste espaço um sacrário fixo onde colocar os óleos sagrados. Pelo seu valor, deve ser dada muita importância à iluminação, seja natural que artificial.
Quanto ao programa iconográfico, o lecionário do rito oferece uma escolha muito ampla entre as “figuras” do batismo do Antigo Testamento e os episódios batismais dos Atos dos Apóstolos. Deve-se levar em consideração a imagem tradicional do Batismo de Jesus, pelo valor de teofania do mistério de Cristo que, com a encarnação, assume sobre si toda a humanidade para redimi-la com a sua cruz e ressurreição.
Mauro Piacenza, Presidente da Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja.
(Agência Fides 11/4/2006)

VATICANO - “Os Santos da Caridade” da Encíclica “Deus caritas est”: Luisa de Marillac
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - Luisa de Marillac (1591-1660) é uma santa pouco conhecida, que se tornou mais popular graças à citação de seu nome entre os gigantes da caridade na primeira Encíclica do Papa Bento XVI. No entanto, Luisa sempre chamou a atenção dos Pontífices, de Inocêncio X, que lhe enviou o privilegio da Bênção apostólica "in articulo mortis", a Bento XV, que em 1920 a proclamou bem-aventurada, a Pio XI, que lhe conferiu o título de Santa em 1934, a João XXIII, que com um "Breve apostólico" de 10 de fevereiro de 1960 a declarou Padroeira daqueles que se dedicam às obras sociais cristãs. Tal reconhecimento foi motivado pela sua função pioneira no campo social e da saúde, seja como promotora e organizadora, seja como formadora do pessoal encarregado dos numerosos grupos denominados “Caridade” e hoje conhecidos como "A.I.C. - Associations Internationales Charité" e na Itália como Voluntariado Vicentino.
Luisa foi a principal colaboradora do bem mais conhecido S. Vicente de Paulo em todas as suas iniciativas a serviço do próximo, seja aquelas determinadas por misérias gerais (pobreza, velhice, doença, ignorância, infância abandonada...), seja aquelas derivadas por desventuras contingentes (guerra, penúria, epidemias, refugiados). Ela deu a grande contribuição do seu gênio criativo e organizador para obras que podemos considerar como os serviços sociais e sanitários de seu tempo, e é reconhecida como pioneira em todas as atividades reconhecidas hoje como próprias do Serviço Social Profissional.
Luisa formou o pessoal necessário ao funcionamento de tais obras sociais e sanitárias primeiramente inspecionando e aconselhando os vários grupos da “Caridade”, criados por iniciativa de Vicente de Paulo seja no campo como nas cidades da França; a seguir, em 1633, organizando o grupo especial denominado “Companhia das Filhas da Caridade”, que se dedicava ao serviço de Cristo nos pobres, ou seja, ao alívio do próximo, especialmente das pessoas privadas de tudo. As atividades iniciais foram o cuidado dos doentes em domicílio e a instrução das meninas pobres. Acrescentaram-se depois a assistência dos doentes nos hospitais e o cuidado de categorias de pessoas particularmente marginalizadas, como doentes de mente, mendigos, sem-teto, crianças abandonadas, prisioneiros e soldados feridos nos campos de batalha (Sédan, Châlons,Calais).
O lema escolhido para expressar o estilo da nova família foi “Charitas Christi urget nos” e é a este que se inspiram ainda hoje as atuais Filhas da Caridade nas suas escolhas. Sua Magna Charta é ainda hoje a síntese contida em um dos primeiros regulamentos, em que se afirma que as irmãs têm por mosteiro as casas dos doentes, por cela um quarto alugado, por capela a igreja paroquial, por quiosque as ruas da cidade ou os corredores dos hospitais, por clausura a santa obediência, por graça o temor de Deus, por véu a santa modéstia e não fazendo outra profissão para garantir sua vocação para além daquela contínua confiança que têm na Divina Providência e da oferta de tudo aquilo que são e de tudo aquilo que fazem para o serviço dos pobres, por todas essas considerações, devem ter tantas e mais virtudes do que se fossem monjas professas em uma ordem religiosa.
Os primeiros grupos de duas ou três irmãs foram disseminados por toda a França, onde colocaram raízes e tiveram um desenvolvimento extraordinário. Em 1653, três irmãs foram à Polônia a pedido da Rainha, já dama da Caridade em Paris. No século XVIII chegaram à Espanha, mas sua expansão no mundo ocorreu depois de 1830, ou seja, depois das aparições de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, uma irmã na primeira formação na Casa Madre da rue du Bac em Paris. A Companhia das Filhas da Caridade, reconhecida como "Sociedade de vida apostólica", segundo dados de 2005, compreende 21.536 membros, distribuídos em 2.491 comunidades locais espalhadas em 93 países em diversas partes do mundo (28 países da Europa, 21 da África, 21 da América Latina, 18 da Ásia, 3 da Oceania e 2 da América do Norte).
Nota biográfica - Luisa, nascida em Paris em 1591, era uma mulher de cultura superior para a sua época, que foi por 35 anos preciosa colaboradora de Vicente de Paulo. Os seus pais não são conhecidos: sabe-se, com certeza, somente que era filha natural de um membro da família dos Marillac, uma das mais célebres na corte do Rei da França. Foi confiada desde a infância ao mosteiro real das Dominicanas de Poissy para a sua educação religiosa e profana. Em 1613, o seu tutor, o futuro chanceler da França Michel de Marillac, decidiu seu casamento com o secretário da Rainha Maria de' Medici, Antonio Legras. Tiveram um filho, de saúde delicada, que por muitos anos foi a preocupação de sua mãe, até quando se casou felizmente. Em 1625, Luisa ficou viúva e começou a dedicar-se ao serviço dos pobres na Companhia das Damas da Caridade, sob a guia de S. Vicente de Paulo. Faleceu em Paris alguns meses antes dele, em 15 de março de 1660, adoravelmente assistida pelas irmãs que receberam dela uma guia materna e fecunda. (Irmã Rosalba, filha da Caridade)
(Agência Fides 12/4/2006)

VATICANO - AS PALAVRAS DA DOUTRINA de pe. Nicola Bux e pe. Salvatore Vitiello - “Pertença eclesial e caridade”
Cidade do Vaticano (Agência Fides) - “Pertença eclesial e caridade”. Um sacerdote, um missionário, ou melhor, um cristão é tal se atua consciente de ser um ministro, um membro do corpo de Cristo que é a Igreja. O que deve fazer primeiramente? Colocar em prática o incipit do Evangelho de Marcos: “Convertei-vos e creiais no Evangelho”. Um padre que não converte, no sentido que não facilita com a sua palavra e o seu testemunho a obra do Espírito, que converte o coração do homem ao Senhor, deve interrogar-se seriamente sobre a própria vocação. Dedicar-se às situações sociais mais diversas sem desejar conduzir o homem a Deus é como limitar-se a fazer o assistente social, ou melhor, um agente do Estado que, por sua natureza, deve ocupar-se da justiça social e não da caridade.
Ao invés, porque todos os cristãos são chamados a compartilhar globalmente as necessidades dos homens, “estes não devem se inspirar nas ideologias do melhoramento do mundo, - nota o Papa Bento XVI na encíclica Deus Caritas est - mas fazer-se guiar pela fé que no amor se torna operante (cfr Gl 5,6). Devem ser, portanto, pessoas movidas primeiramente pelo amor de Cristo, pessoas cujo coração Cristo conquistou com o seu amor, despertando o amor pelo próximo. O critério inspirador de seu agir deveria ser a afirmação presente na Segunda Carta aos Coríntios: «A caridade de Cristo nos compele» (5, 14). (Deus Caritas est, n. 33).
Realmente é a pertença à Igreja que deve emergir na promoção das obras para “salvar” os jovens da droga, da prostituição e de todas as formas de marginalização. Salvaremos o errante, mas não esqueceremos de estigmatizar o erro, o pecado, para não sermos cúmplices do mal, como diz o profeta. Nesta obra de salvação, os padres principalmente recordarão que são ministros, servos inúteis, e evitarão qualquer protagonismo televisivo e político; preferirão “diminuir para que Ele cresça”, para que se dilate o corpo da caridade que é a Igreja. Eles não se farão dirigir por aqueles que dizem: Cristo sim, Igreja não; não buscarão outras “liberações”, se não aquela que vem da comunhão com Cristo.
O erro de Babel foi o de não ter ouvido antes o Mistério. Este é o verdadeiro drama, porque dele depende a escravidão ou a salvação: para ser salvação para os outros, é preciso ser dependentes do Outro. Eis a diferença entre Babel e a torre de Erma: a Igreja é totalmente relativa a Cristo, o qual “o é” em relação ao Pai.
Von Balthasar dividia o mistério da realidade em duas partes: as coisas conhecidas de Deus, que não podem ser compreendidas e feitas próprias (Romanos 1,19), e aquelas desconhecidas, as quais, para conhecê-las, não temos nenhum meio e que, como conseqüência, não nos dizem respeito. Portanto, com impressionante atualidade, afirmava: “O movimento do pensamento moderno é, portanto, dúplice: antes, aproximar Deus do homem, para que aquilo que traz possa ser assimilado; depois, afastar Deus, de modo que as suas realidades desconhecidas não digam mais respeito ao homem. Os dois movimentos podem acontecer em chave seja cristã, seja atéia. Aproximando Deus do homem leva-se em consideração a encarnação; afastando Deus, se demonstra o verdadeiro respeito que não troca Deus pelos ídolos da razão. Assim em sentido cristão. E em sentido ateu: deve-se aproximar Deus até que coincida com o homem, e afastá-lo até que se dissolva em fumo” (Cordula, pp. 78-79).
Infelizmente, na direção indicada por último - sob a fórmula da ‘reviravolta antropológica’ - também colaboraram uma certa teologia e catequese, sutil e sagaz no método e na linguagem, a ponto de deixar incertos sobre um dado fundamental para a fé: se Jesus Cristo é uma pessoa viva e encontrável hoje.
(Agência Fides 27/4/2006 - righe 42, parole 593)

 
At 9/17/2007 3:01 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:01 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:02 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:03 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:04 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:04 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:04 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:04 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:04 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:05 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 
At 9/17/2007 3:06 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

A DROGA NA ÁFRICA: UM PROBLEMA MUNDIAL

A droga já é um problema na África e representa um ulterior obstáculo ao desenvolvimento do continente. É o que afirmam diversos organismos internacionais encarregados da luta ao tráfico de entorpecentes. Já em 2001, um relatório do Órgão Internacional de Controle das Drogas afirmava que “graças à sua experiência no campo do contrabando de haxixe e de heroína, os cartéis da droga da África ocidental buscam novos contatos na América Latina para estender o tráfico de cocaína a toda a região da África subsaariana”.
Trata-se de uma reviravolta fundamental na estratégia do narcotráfico mundial, que vê a África se tornar uma das áreas “fulcro” para a distribuição de drogas em todo o mundo. Até os primeiros anos da década de 90 do século passado, a África era mantida às margens das rotas da droga. A mudança ocorreu em 1993, quando foram apreendidos na Nigéria 300 quilos de heroína provenientes da Tailândia. É o sinal de uma mudança que vê a transformação de tantos pequenos contrabandistas africanos (a maioria nigerianos) de simples transportadores por conta de terceiros a membros de gangues guiadas por africanos, capazes de tratar no mesmo nível com análogas organizações de outros continentes.
A presença dessas organizações criminais, a forte urbanização, a perda dos valores tradicionais africanos e a difusão de uma cultura hedonista são todos fatores que criaram as premissas para um mercado africano da droga. A África, portanto, não é somente um local de trânsito dos entorpecentes, mas terreno “virgem” para o tráfico de droga.

PREMESSA METODOLÓGICA
Os dados apresentados são úteis para analisar a tendência (incremento ou decremento) do tráfico de entorpecentes, apesar de serem muito provavelmente aproximativos.
Segundo um estudo crítico efetuado pela associação ‘Libera’ do pe. Ciotti, com efeito os dados apresentados pelos entes antidrogas internacionais e de alguns Estados não relatam fielmente toda a produção mundial de cocaína. Segundo este estudo (referido somente à cocaína e não a outras drogas), existe uma discrepância entre a estimativa sobre a produção mundial de cocaína efetuada pela ONU e os dados relativos às apreensões e ao consumo de cocaína somente na América.
Segundo os elaboradores do relatório, com efeito, subtraindo das 937 toneladas de produção, indicada pelas Nações Unidas em 2004, as cerca de 450 consumadas nos Estados Unidos, Canadá, México e em toda a América do Sul e as cerca de 490 toneladas apreendidas em todas as Américas, se chegaria a um saldo negativo de 3 toneladas.
“A este ponto, não se saberia mais de onde subtrair as cerca de 99 toneladas de cocaína apreendidas no “resto do mundo”, afirma o relatório. Fazendo-o, se chegaria ao paradoxal saldo negativo de 102 toneladas de cocaína “não resultantes”, não tendo feito frente ainda à demanda de cocaína no “resto do mundo”, estimada em ao menos 300 toneladas, se chega a calcular uma espécie de buraco negro de aproximadamente 400 toneladas de cocaína não resultantes.
Este buraco negro assume proporções ainda mais macroscópicas, cerca de 700 toneladas, se calculado com base nos dados da Agência antidroga norte-americana.
Apesar dos seus limites, os relatórios dos organismos internacionais de luta contra a droga permanecem frequentemente os únicos instrumentos para analisar o fenômeno do narcotráfico.

A HEROÍNA NA ÁFRICA
A apreensão de opiáceos na África registrou um forte incremento nos últimos anos. Segundo dados da ONU, por exemplo, em 2004 ocorreu um incremento da apreensão de heroína de 60% em relação ao ano precedente.
A maior parte deste incremento é devido à apreensão ocorrida na África central e ocidental, que quase triplicou de 2003 a 2004. A heroína que passa pela África é destinada em primeiro lugar aos mercados europeus e, em segundo lugar, aos da América do Norte. A heroína provém dos países do sudoeste e sudeste da Ásia.
A quantia total dos opiáceos apreendida na África permanece ainda modesto (0,3% do total de apreensões em nível mundial). Porém, deve-se levar em consideração que não existem estatísticas confiáveis e que o nível das apreensões não reflete o verdadeiro fluxo de narcóticos que passa pela África por causa da debilidade da polícia local, que tem dificuldade em interceptar as cargas ilícitas.
No que concerne ao uso de opiáceos na África, segundo os dados do Departamento das Nações Unidas para a luta à criminalidade (UNODC), nota-se um aumento de seu consumo no continente africano, em particular na África oriental e naquela austral e em alguns países da África ocidental. Segundo os especialistas das Nações Unidas, o crescimento do consumo de heroína nessas áreas deriva do fato de que são utilizadas como locais de trânsito dos narcotraficantes, os quais, porém, não desdenham em criar um mercado local.
Na África do Sul, um dos poucos países africanos que dispõe de dados confiáveis, até os primeiros anos do novo milênio, o pedido de tratamentos por abuso de heroína representava somente 1% do total dos pedidos de cura por dependência de substâncias entorpecentes (incluído o álcool). Em 2005, esta porcentagem subiu para 7%.
Segundo o relatório do UNODC sobre o tráfico de entorpecentes de 2007, o mercado da heroína está dividido deste modo: a heroína afegã é destinada aos mercados da Ásia central, da Europa, do Oriente Médio e da África; aquela produzida no chamado “triângulo de ouro” alimenta o mercado chinês e o dos outros países asiáticos e da Oceania; aquela proveniente da América Latina serve o mercado norte-americano.
O relatório nota, porém, que “uma parte pequena, mas em crescimento, da produção de opiáceos afegãos é enviada à América setentrional, seja por meio da África oriental e ocidental, seja por meio da Europa”.
O relatório afirma que a demanda global de heroína permaneceu estável, “apesar de importantes incrementos nos países que se encontram no caminho das principais rotas do narcotráfico”.
Entre esses estão também diversos países africanos, afirma o documento, que destaca os efeitos prejudiciais da difusão da heroína e de outras substâncias entorpecentes nas populações já duramente provadas pela pobreza e pela difusão da AIDS.
Os últimos dados do UNODC mostram um forte incremento do uso de heroína em alguns países africanos como Moçambique, Zâmbia, Quênia, Tanzânia e Costa do Marfim, enquanto outros países tiveram um aumento mais contido. Entre esses, África do Sul, Madagascar, Gana, Libéria e Senegal.

DOS ANDES AO KILIMANJARO: UM FLUXO DE COCAÍNA INVADE A ÁFRICA
O dado mais preocupante, porém, é o da cocaína que transita da África em direção principalmente à Europa e, secundariamente, à América setentrional.
A importância da África, e em particular da África ocidental, como ponto de trânsito da cocaína em direção aos ricos mercados ocidentais é demonstrada pelo nível das apreensões registradas nos últimos anos. As apreensões de cocaína em toda a África aumentaram três vezes entre 2003 e 2004, enquanto no mesmo período as apreensões na África ocidental e central aumentaram seis vezes. As apreensões mais importantes no período 2000-2004 se registraram em Cabo Verde, seguido por África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria. Mas as apreensões de cocaína na África representam somente 1% do total mundial das apreensões desta substância entorpecente. Também neste caso, porém, o dado é prejudicado devido à debilidade das polícias locais, incapazes de interceptar a maior parte dos fluxos de cocaína proveniente da América do Sul.
Em 2004, 50% das apreensões de cocaína no continente ocorreram na África ocidental e central. A zona de passagem mais utilizada pelos traficantes de cocaína é o Golfo da Guiné, de onde a substância entorpecente é transportada para a Europa em pequenas quantidades, através dos chamados “mulas”, pessoas que assumem o risco de ingerir óvulos de cocaína com a esperança de superar as alfândegas nos aeroportos de destinação. Nos últimos anos, também na África oriental aumentou a quantia de cocaína apreendida, indicando uma tendência a utilizar em medida crescente esta área como ponto de trânsito para a cocaína destinada à Europa e à Ásia.
Um dos países mais atingidos pelo fenômeno é o Quênia, onde em 2004 foi apreendida uma tonelada de cocaína. Em termos gerais, o crescimento da difusão da cocaína na África é demonstrada pelo fato que dos 32 países africanos que fornecem estatísticas sobre as apreensões de entorpecentes na UNODC, 23 (72%) relataram apreensões de cocaína, contra 34% em 1990.
Os traficantes de cocaína tendem a servir-se da África cada vez mais como ponto de trânsito por dois motivos. O primeiro deriva do melhoramento dos sistemas de inspeção utilizados pelas autoridades locais e por aquelas norte-americanas na área caribenha e centro-americana, tradicional rota utilizada pelos traficantes. Nos últimos anos, por exemplo, surgiram bases de inspeção norte-americanas dos Andes às ilhas caribenhas. Também as autoridades holandesas intensificaram a inspeção com patrulhas aéreas baseadas nas ilhas de Curaçao e Saint Martin.
O segundo fator está ligado à diminuição do consumo de cocaína, que se registrou nos Estados Unidos diante de um aumento da demanda na Europa. Se na América do Norte há o mais alto número de consumidores mundiais (6 milhões e meio, correspondente a cerca da metade do consumo mundial), a tendência é diminuir a demanda.
De 1998 a 2004, de fato, se registrou uma queda de 20% da difusão desta substância. No mesmo período, na Europa ocidental, onde os consumidores de cocaína são 3 milhões e meio (26% do total mundial), se notou um aumento do consumo e da difusão do “pó branco”. Na Espanha e no Reino Unido, este dado é de 2%.
A África, portanto, é uma cômoda e segura rota para alcançar um mercado em crescimento.
Além disso, como efeito colateral criou-se um mercado africano que está registrando nos últimos anos preocupantes aumentos.
A crescente disponibilidade de cocaína se traduz, com efeito, em um aumento do consumo desta substância na África. Segundo os dados do UNODC, no período 1992-2004 o abuso da cocaína na África cresceu em um ritmo mais sustentado do que no restante do mundo. Este incremento é mais remarcado nos países da África meridional e nos da África ocidental.
Se forem analisados os dados das pessoas que recorrem aos tratamentos de desintoxicação, o aumento do consumo de cocaína emerge com evidência. No início dos anos 90, as pessoas em tratamento por abuso de cocaína eram pouquíssimas, no final de 1996 constituíam 1.5% dos casos tratados pelas estruturas de recuperação dos toxicômanos, no biênio 1999-2000 eram 6%. No período 2001-2004, notou-se uma inflexão na porcentagem de pessoas que pediam para ser tratadas da dependência de cocaína (menos de 5%).
A partir do final de 2004, este dado está em crescimento: de 7,5% em 2004 passou-se a 8,5% nos primeiros meses de 2005.

A COCAÍNA NA ÁFRICA OCIDENTAL
O país tradicionalmente mais envolvido no narcotráfico é a Nigéria. Lá, com efeito, em 1993 houve a primeira grande apreensão de cocaína na África e as organizações criminais nigerianas estão perfeitamente inseridas no sistema criminal global e transnacional. A afirmação das máfias nigerianas deriva também da pertença da Nigéria ao Commonwealth, que permitiu abrir estreitas relações comerciais com o subcontinente indiano, produtor de ópio e de heroína, e com o mundo anglo-saxão consumidor.
No final dos anos 80, registrou-se um incremento importante no papel de centro estratégico e, em 1992, as apreensões de cocaína no aeroporto de Lagos foram tão relevantes que as autoridades nigerianas suspenderam os vôos diretos para o Rio de Janeiro. Desde então, os traficantes nigerianos são considerados os principais transportadores da droga, uma verdadeira indústria a serviço do comércio de heroína e da coca. Eles estão presentes em todos os pontos-chaves da produção e do tráfico de drogas. Graças aos compatriotas residentes no exterior, formaram clãs criminais comparáveis aos colombianos, turcos e chineses.
As organizações mafiosas nigerianas, como as outras, se baseiam na solidariedade étnica, de clã e de famílias. Já em 1995 as autoridades norte-americanas estimavam que 50% da heroína circulante em seu país era introduzida pelos nigerianos, os quais usam a Polônia e a Hungria como pontos de trânsito para a cocaína destinada à Europa ocidental.
Um dos países da África ocidental dos quais se têm estatísticas confiáveis sobre o incremento do tráfico de cocaína é Gana. Segundo os dados divulgados pelas autoridades locais, em um único ano as apreensões de cocaína aumentaram 40 vezes, passando dos 15 quilogramas de 2003 aos 617 quilos de 2004. A maior parte da cocaína é destinada ao mercado britânico.
Trata-se de um dado significativo, levando-se em consideração que, em termos porcentuais, as apreensões de cocaína aumentaram 18% em nível mundial e 4.000% em Gana de 2003 a 2004. No mesmo período, na África, as apreensões de cocaína aumentaram 3 vezes, passando das 1,1 tonelada para 3,6 toneladas.
Nos anos sucessivos, emergiram outros fatos que demonstram que Gana se tornou um importante ponto de passagem da cocaína na África ocidental. Em novembro de 2005, a polícia ganense apreendeu 588 quilos no decorrer de uma perquirição em uma habitação em East Lagon. Em abril de 2006, foram descobertos a bordo do navio MV Benjamin, atracado no porto de Tema, 2.310 quilos de cocaína.
Segundo um responsável do UNODC, as organizações de narcotraficantes tendem a fazer transitar a droga por meio da África ocidental porque, até agora, as autoridades alfandegárias européias e norte-americanas controlam com menos atenção as mercadorias e as bagagens provenientes da África em relação àquelas provenientes da América Latina. No caso de Gana, como de outros países da região, o fato de não estar inserido na lista dos países produtores de cocaína significa que as suas mercadorias não são sujeitas a inspeções detalhadas. Mas nos últimos anos, as coisas mudaram e Gana foi inserida na lista dos países “de alta prioridade” de inspeção.
Os traficantes buscam corromper os policiais e a polícia para permitir o trânsito das cargas de entorpecentes. Para investigar casos de corrupção de policiais, o Ministério da Fazenda de Gana criou uma Comissão de investigação, que recebeu o nome da sua Presidenta, Georgina Wood, que desempenhou importantes cargos na polícia e na magistratura local. O “Georgina Wood Committee” nasceu após duas importantes apreensões de cocaína citadas precedentemente, nas quais resultaram envolvidos alguns policiais. Entre as recomendações apresentadas pelo Comitê, está reforçar o patrulhamento das costas do país por meio seja da potenciação dos meios da marinha e da aeronáutica, seja com a criação de um serviço de guarda-costas independente.
A Guiné-Bissau é um outro país que se tornou ponto de trânsito da cocaína da América Latina à Europa, como demonstrado numa recente operação que levou à captura de 674 quilos de cocaína e à detenção de alguns narcotraficantes sul-americanos. Na África ocidental, os países mais envolvidos pelos fluxos de droga, além de Gana, são Costa do Marfim, Senegal e Nigéria.
Os traficantes de cocaína na Guiné-Bissau estão ligados aos que passam através do vizinho Senegal, como emergiu da operação efetuada no final de junho de 2007 pela polícia de Dakar, que levou à apreensão de mais de duas toneladas de cocaína. Parte da droga se encontrava em um veleiro que estava à deriva diante das costas senegalesas, e uma outra em uma habitação na área balneária de Mbour, a sul de Dakar.
No veleiro os investigadores encontraram uma documentação que comprova que os narcotraficantes utilizam a Guiné-Bissau como depósito de trânsito da cocaína proveniente da América Latina e destinada à Europa. Também a nacionalidade dos detidos demonstra o grau de internacionalização das organizações criminais dedicadas ao narcotráfico. Além de três cidadãos sul-americanos (um colombiano, um venezuelano e um equatoriano) e de uma cidadã francesa, a polícia deteve três senegaleses. A partir dos documentos detidos, além disso a polícia senegalesa descobriu que os narcotraficantes efetuaram diversas viagens aos países limítrofes: Serra Leoa, Guiné Conakry, Guiné-Bissau e Gâmbia.
As autoridades senegalesas reiteraram que em seu país não existem depósitos de cocaína, mas admitiram a infiltração de grupos criminais estrangeiros, que utilizam o aeroporto de Dakar para enviar cocaína à Europa. No período de janeiro a junho de 2007, a polícia senegalesa afirma ter apreendido no aeroporto de Dakar 44 quilos de cocaína e detido cerca de 30 “mulas” da droga, a maior parte dos quais nigeriano.
Está em aumento também o número de “mulas” da Guiné-Bissau detidos no momento do embarque para Portugal, onde podem entrar sem visto. Além disso, foram descobertas algumas operações de reciclagem de dinheiro sujo por parte de organizações estrangeiras. A apreensão recorde efetuada pela polícia senegalesa, equivalente ao total de apreensões de cocaína na África ocidental de setembro de 2006 a maio de 2007, é somente o último de uma série efetuada nos primeiros seis meses de 2007 em várias localidades da África ocidental.
Entre essas, há 800 quilos de cocaína recuperados no mar diante das ilhas Canárias, e uma quantia análoga apreendida pela marinha francesa no largo da Costa do Marfim. Além dos navios, as organizações criminais recorrem a aviões para alimentar seus tráficos ilícitos.
Na Venezuela foi bloqueado um avião com 2,5 toneladas de cocaína, que se preparava a partir para Serra Leoa, enquanto em maio de 2007 foram apreendidos 600 quilos de cocaína a bordo de um Cessna, matriculado na Venezuela, que efetuou uma aterrissagem de emergência em Nouadhibou, na Mauritânia.
Segundo um responsável do ONUDC, para a África ocidental o aumento de confiscos das cargas de cocaína na região é devido mais a incidentes de percurso que a uma maior eficácia da polícia.
O funcionário considera que a cada dez expedições de droga em direção à Europa, nove chegam a seu destino sem problemas.

O SAHEL: NOVA FRONTEIRA DO NARCOTRÁFICO?
Das costas da África ocidental as organizações de narcotraficantes estão progressivamente se expandindo aos países do Sahel, cujo papel estratégico entre o Atlântico e o Magreb, e, portanto o Mediterrâneo, é apreciado também pelos traficantes de seres humanos e, provavelmente, pelo terrorismo internacional. Não se pode excluir a priori uma interconexão entre essas realidades criminais, de que são cúmplices a debilidade dos Estados e a vastidão dos territórios a controlar. Um realidade que suscita o alarme dos governos interessados.
Em abril deste ano, depois da apreensão de três caminhões cheios de droga e armas, o Presidente do Níger, Mamadou Tandja, declarou que o exército local pretende aumentar os esforços para impedir que o seu país seja “circundado” pelos traficantes de armas e de droga, que são uma “ameaça real” para o país.
Também Burkina Fasso não foge ao fenômeno. Segundo o Coordenador do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, o volume das cargas de droga interceptadas nos primeiros três meses de 2007 é “incrível”. O funcionário indica a existência de uma nova rota de trânsito da droga no oeste e no sudoeste do país. No início de abril de 2007, 49 quilos de cocaína, num valor de 10 milhões de dólares, foram interceptados pela polícia de Burkina Fasso na fronteira com o Mali, que é um importante ponto de trânsito para o tráfico de seres humanos. Países como Mali e Níger são há milênios atravessados por vias de caravanas, que agora se converteram num uso criminal: para o tráfico de seres humanos, mas também de armas, droga e cigarros de contrabando. “Nos últimos meses notamos um aumento da utilização dos países do Sahel, como Mali e Níger, para o tráfico de cocaína”, disse Antonio Razzitelli, Diretor do departamento do UNODC para a África ocidental.
Segundo o órgão anticrime da ONU, os traficantes importam a droga por meio das cidades costeiras como Conakry, na Guiné, Dakar, no Senegal, e Lomé, no Togo, e depois a transportam para as cidades do interior, como Bamako, no Mali, e Ouagadougou, em Burkina Fasso. Dessas localidades, a cocaína prossegue a sua viagem até a Europa.
Segundo o responsável do Comitê contra os tráficos ilícitos de droga em Burkina Fasso, é preciso coordenar os esforços entre as polícias dos Estados da região. “Há uma necessidade urgente de reunir todos os entes nacionais antidroga da região para encontrar o modo de cooperar entre si, para tentar deter as redes criminais”, disse, destacando que a escassa cooperação entre as fronteiras dos países do Sahel e a falta de meios das polícias locais constituem problemas adjuntos para uma eficaz ação de contraste às redes criminais.

O MERCADO DA CÂNABIS
Enquanto a África permanece, no momento, somente um local de trânsito e um mercado residual para drogas como cocaína e heroína, a principal produção local de substâncias entorpecentes é representada pela cânabis.
O cultivo da cânabis foi introduzido na África oriental pelos mercantes árabes, pérsios e indianos no século XII. De lá se difundiu primeiramente na África austral, no século XV, e depois no Congo e em Angola no século XIX. Somente depois da Segunda Guerra Mundial a cânabis chegou à África ocidental, levada por soldados nigerianos e ganenses que combateram com as tropas britânicas na Birmânia (atual Mianmar), onde adquiriram o hábito de fumar marijuana. Este fato explica porque nos países onde a cânabis é conhecida há mais tempo, ela é utilizada na medicina tradicional, enquanto na África ocidental é usada para fins “recreativos”. Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção desta substância se divide em três categorias: a erva da cânabis (flores e folhas), resina ou haxixe (secreções emitidas pela planta durante a fase de florescimento) e óleo de haxixe, o menos utilizado. Segundo o World Drug Report 2006, a erva da cânabis é cultivada, sobretudo de modo ilegal, em 176 países em todo o mundo. A África representa 27% da produção mundial e os principais produtores são Marrocos (3.700 toneladas), África do Sul (2.200 toneladas) e Nigéria (2 mil toneladas).
No que concerne ao haxixe, o principal produtor mundial é Marrocos, que fornece os mercados norte-africanos e europeus. Graças ao esforço das autoridades marroquinas nos últimos anos, deu-se a diminuição da produção local da cânabis, à qual corresponde um aumento da produção em outros países, da Ásia ocidental (Afeganistão, Paquistão) à Albânia. O UNODC reconhece que desde 2003 o governo de Rabat conduziu uma campanha para estimar a produção de resina da cânabis no país, em cooperação com a Agência anticrime das Nações Unidas. Segundo uma investigação efetuada em 2003, a produção da cânabis foi de 3.060 toneladas, cultivada em 134 mil hectares de terra na região do Rif (norte do país) por 96.600 famílias de camponeses. A investigação feita em 2004 registrou uma diminuição de 10% das terras cultivas com a cânabis, que passaram a 120.500 hectares, com uma produção estimada de 2.760 toneladas.
Em 2005 notou-se uma ulterior diminuição de 37%, sendo a superfície cultivada com a cânabis de 72.500 hectares, enquanto a produção diminuiu para 1.070 toneladas. Quanto às apreensões da cânabis, nos últimos 12-15 anos se registrou um aumento da porcentagem mundial de apreensões no continente africano desta substância. Enquanto em 1990 16% do total mundial das apreensões da cânabis ocorria na África, em 2002 este dado subiu para 20%, para alcançar 31% em 2004. O aumento das apreensões na África é determinado sobretudo pelo aumento dos controles policiais e alfandegários efetuados pela Nigéria e pela África do Sul.
O principal mercado de consumo da cânabis é a Europa ocidental, e 80% da cânabis consumada na Europa provém do Marrocos, passando pela Espanha e pela Holanda e dali distribuída aos outros países. O terceiro mercado mundial de consumo é representado pelos países do norte da África, onde a cânabis provém principalmente do Marrocos. Parte da cânabis produzida no Afeganistão e Paquistão, além disso, alimenta o mercado dos países da África oriental.
No que concerne às problemáticas sociais ligadas ao consumo da cânabis, é preciso recordar que esta substância é a droga mais difundida e usada em nível mundial. Estima-se que, em 2004, 162 milhões de pessoas a tenham usado, o equivalente a 3,9% da população mundial entre 15 e 64 anos. Em termos relativos (a porcentagem de habitantes que faz uso da cânabis em relação a outras substância entorpecentes), a cânabis é prevalentemente utilizada na Oceania, seguida por América do Norte e África. Desde 1992, na África, notou-se também uma tendência ao aumento do seu consumo, em particular na Argélia, Nigéria e Zâmbia.
É provável que a tendência ao uso desta droga seja subestimada em diversos países da África, que não têm uma capacidade de coleta de dados adequados para seguir o fenômeno. Segundo dados parciais, notou-se nos últimos anos um forte incremento do abuso da cânabis na África ocidental, oriental e no norte da África, em sintonia com a tendência em nível global de uma ulterior expansão do consumo desta substância.
Até os anos 80, porém, a produção africana da cânabis permaneceu limitada. A partir daqueles anos, porém, notou-se um incremento notável da superfície cultivada com a cânabis para fins comerciais.
A produção africana de droga subtraiu terras e recursos à agricultura, isso porque naquele período se registrou uma forte queda dos preços dos produtos agrícolas em todo o mundo. A agricultura africana, já frágil, entrou em crise. Diversos camponeses, portanto, deixaram-se tentar pelo cultivo da cânabis em detrimento do cultivo de produtos lícitos.
Um simples cálculo econômico demonstra o forte poder de atração de uma semelhante produção; já em 1995, na Guiné, um saco de 20-25 quilos de marijuana tinha o valor de aproximadamente a renda anual média de uma famílias de oitos pessoas que se dedica à produção de cultivo lícito. No mercado de Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC), um saco de 25 quilos de marijuana é vendido por mil dólares, enquanto um saco de 80 quilos de mandioca vale somente 10 dólares.
Compreende-se, assim, que o cultivo desta substância entorpecente tem sérias repercussões na auto-suficiência alimentar de diversos países africanos. Segundo a associação de luta à toxicomania de Kinshasa, LIPILDRO, por causa do abandono dos cultivos legais por aqueles da cânabis, até 2010 a maior parte das cidades congolesas será atingida por um crise alimentar.
Além disso, na RDC se verificaram experiências para o cultivo da papoula de ópio (na província do Equador) e da cocaína (na região do Shaba). O mais importante produtor da cânabis na África subsaariana permanece, porém, a África do Sul. Importante produções são sinalizadas também em Lesoto e em Malauí.

DROGAS SINTÉTICAS
A produção de drogas sintéticas é limitada na África, com exceção da África do Sul, onde a fabricação de metanfetaminas e methaqualone aumentou nos últimos anos. Os dados sobre a descoberta de laboratórios clandestinos confirmam esta tendência.
Com efeito, se passou da descoberta à destruição de um laboratório por ano no período 1995-1999, aos 17 no período 2000-2003, até aos 28 destruídos somente em 2004. Um outro dado que demonstra o incremento do uso de drogas sintéticas na África do Sul é o aumento das apreensões de ecstasy: em 2004, houve um incremento de 385% das apreensões em relação ao ano precedente.
Além disso, as drogas sintéticas faziam parte do programa de guerra secreta química e biológica aplicado pelo regime do apartheid. Segundo os testemunhos reunidos durante o processo contra o responsável do programa, doutor Wouter Basson (definido “Doutor Morte” pela imprensa local), no âmbito do chamado “Project Coast”, entre 1992 e 1993 os laboratórios relacionados aos serviços secretos sul-africanos tinham produzido mais de 900 quilos de cristais de ecstasy (correspondente a 73 milhões de pílulas). No ano precedente, uma empresa de serviços do regime do apartheid tinha importado 500 quilos desta substância da Croácia.
Essas quantidades de drogas sintéticas foram importadas e produzidas para serem usadas como agente incapacitador para o controle da multidão (e talvez também para drogar secretamente os líderes da oposição para desacreditá-los, fazendo-os cometer gestos ridículos em público) e para serem distribuídas nas favelas habitadas pela população negra para promover o abuso de droga e a dependência.
O fim do regime do apartheid bloqueou este e outros projetos criminais aplicados no âmbito do “Project Coast”. Antes da queda do regime, porém, o dr. Basson tinha organizado a venda das empresas de cobertura dos serviços secretos sul-africanos, alguns dos quais fabricavam armas químicas e biológicas e drogas sintéticas.
Além disso, desapareceram centenas de quilos de substâncias químicas usadas na produção desses instrumentos de morte.
O dr. Basson é suspeito de ter aberto um empresa privada e, com efeito, quando foi detido em 1997 foi encontrado em posse de pílulas de ecstasy num valor de 20 mil dólares.

ÁFRICA ORIENTAL: UMA SITUAÇÃO PREOCUPANTE
Na África oriental, o Quênia é o principal ponto de trânsito da cocaína. Somente em 2004 foi apreendida 1,1 tonelada de cocaína entre a capital Nairóbi e o centro costeiro de Malindi. No decorrer da operação da polícia, que levou à descoberta desta importante carga de droga, foram detidos diversos funcionários da companhia aérea local (que resultou estranha ao narcotráfico), alguns dos quais foram capturados em Londres.
Das investigações emergiu que a droga que passava pelo Quênia era inserida no mercado britânico com a colaboração de alguns funcionários infiéis da companhia aérea. Além do Quênia, os países da África oriental interessados pelo narcotráfico são Etiópia, Botsuana, Zâmbia e África do Sul. Neste último, segundo o South African Institute of International Affaire, existem 500 mil pessoas que fazem uso de cocaína, enquanto 1/3 dos adolescentes utiliza entorpecentes. Segundo o centro de estudos sul-africano, no país atuam 300 organizações criminais internacionais envolvidas no narcotráfico.
Os países da região se tornaram não somente uma região de trânsito, mas também um novo mercado para os entorpecentes e, em particular, para a cocaína. Na Zâmbia, por exemplo, 80% da cocaína que chega ao país é transferida para a Europa e o restante 20% é consumado localmente.
A Interpol lançou o alarme sobre o crescente consumo de entorpecentes na África. “As drogas não somente transitam nos países, mas permanecem lá”, disse um responsável da organização internacional de polícia diante dos delegados de 150 organismos de polícia de todo o mundo, reunidos para o encontro anual da Interpol no Rio de Janeiro (Brasil). “Já se tornaram habituais as cargas de diversas toneladas de cocaína que passam pela África”, acrescentou.
Segundo um analista presente no seminário, se a tendência ao incremento do uso de entorpecentes continuar avançando, a África deverá enfrentar uma grave crise social derivante da droga.
As condições climáticas da maior parte da África são favoráveis ao cultivo da cânabis. Trata-se de um cultivo que permite um alto lucro para o agricultor e necessita de um trabalho menos intensivo em relação aos outros cultivos.
Inteiras famílias de agricultores podem viver, assim, de modo decente e permitir-se comprar alimento e medicamentos e enviar seus filhos à escola.
A cânabis é cultivada na África principalmente para o mercado local, mas nos últimos anos notou-se um aumento dos tráficos da cânabis originados na África subsaariana. Os maiores cultivos da cânabis se encontram em Comores, Etiópia, Quênia, Madagascar, Tanzânia e Uganda.
No Quênia, o cultivo da cânabis tem uma antiga tradição, mas nos últimos anos se tornou primeiramente uma produção limitada ao mercado local, para depois transformar-se em uma verdadeira empresa comercial ilícita estendida internacionalmente.
A cânabis é cultivada na região ocidental e naquela do Monte Quênia, onde, segundo alguns relatórios, existem cerca de 1.500 hectares cultivados com a cânabis. Os cultivos de droga estão escondidos entre aqueles tradicionais destinados à alimentação, mas há também cultivos menores em algumas áreas protegidas da reserva natural nacional.
Também as regiões costeiras se tornaram produtores da cânabis. Lá, com efeito, se instalaram diversos agricultores provenientes do interior, que lá encontraram áreas férteis e pouco controladas pela polícia, e um mercado constituído pela população local, pelos turistas e pelos residentes estrangeiros que preferem as costas do país.
Quanto ao ópio, no passado foram sinalizados alguns cultivos no Quênia e nas costas de Madagascar. Desde 1993 não foram sinalizados cultivos de opiáceos na África oriental, mas a vastidão do território e os escassos controles das autoridades locais tornam sempre possível uma retomada do cultivo da papoula de ópio.
No que diz respeito à produção local de drogas sintéticas, a África oriental é o ponto de trânsito do methaqualone (Mandrax) proveniente da Índia e destinado ao mercado sul-africano.
Nos últimos anos, a redução do Mandrax proveniente da Índia gerou uma produção local desta substância. Com efeito, foram descobertos laboratórios químicos clandestinos utilizados para a fabricação desta droga sintética em alguns países da África oriental e meridional.
Nos casos dos laboratórios descobertos no Quênia e na Tanzânia, se tratava somente de pequenos centros onde o pó do Mandrax ainda proveniente da Índia era transformado em pílulas, mas em outros casos deparou-se com verdadeiras oficinas para a fabricação do Mandrax com precursores químicos, cuja proveniência permaneceu desconhecida. A este propósito, as substâncias que mais causam preocupação são as efedrinas, as pseudo-efedrinas, o anidrido acético e o ácido N-acetilantranílico (utilizado na fabricação do Mandrax) e o pergamenato de potássio.
O mais famoso cultivo de planta entorpecente local é o khat, que é uma produção legal em diversos países da África oriental. O khat é cultivado na Etiópia e no Quênia e, em medida menos extensa, na Tanzânia, Comores e na parte setentrional de Madagascar. É exportado para os principais mercados da área (Djibuti, Eritréia, Somália e Iêmen), além da Europa e da América setentrional.
O uso do khat continua a expandir-se no Chifre da África e tem um papel-chave na contínua instabilidade da Somália, onde se calcula que a população gasta todos os anos 64 milhões de dólares por ano para comprar o khat. Trata-se de um quantia que é quase o dobro do total das ajudas internacionais doadas ao país. O khat não somente contribui para provocar problemas na sociedade, criando pessoas afetadas pela dependência de entorpecentes, mas tem também um papel na difusão no país de armas leves, frequentemente repassadas em troca de um pouco de droga.
As organizações de narcotraficantes olham com interesse aos países da África oriental e meridional por causa de suas infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, dos comprimentos de suas costas e dos fluxos turísticos.
Todos elementos que permitem esconder os tráficos de droga. O Quênia tem o maior porto comercial da região, Mombasa, que serve a maior parte dos países privados de acesso direto ao mar, enquanto o aeroporto de Nairóbi é um dos mais traficados da área. As redes do narcotráfico utilizam também os portos de Dar-es-Salaam (na Tanzânia), Djibuti, Durban (na África do Sul) e Maputo (em Moçambique) e estão expandindo suas atividades também na Etiópia, Mauritius, Tanzânia e Uganda. Esses últimos países são usados como pontos de trânsito para a droga enviada para o Quênia, a África do Sul e a África ocidental e dessas áreas para a Europa e a América do Norte.
A maior parte das substâncias entorpecentes chega à região via mar, escondida nas cargas dos containers transportados pelos navios mercantis que navegam o Oceano Índico. Em alguns casos, os navios dos narcotraficantes se encontram em alto mar com embarcações menores, que levam para a terra a carga ilícita. Grandes quantidades de heroína chegam assim à região, mas se recorre também a carteiros, homens e mulheres, que chegam com vôos comerciais, e ao envio por correio.
Entre os países da África oriental interessados pelo tráfico e pelo consumo de substâncias entorpecentes, está Uganda.
Segundo um recente relatório do UNODC, “Uganda se tornou o país líder no tráfico e no consumo de droga em relação ao restante dos Estados da África oriental”. Entre as drogas presentes no mercado ilícito ugandense, existem a cânabis, a heroína, a cocaína e o mandrax, além do khat. Segundo a agência anticrime da ONU, o aumento do consumo de substâncias entorpecentes é devido a “duas décadas de conflitos armados e à falta de lei, que prejudicaram gravemente a infra-estrutura policial”.
O relatório observa que as condições climáticas de todo o território ugandense são favoráveis ao cultivo da cânabis: “O cultivo ilícito da planta é, porém, relevante em áreas remotas das regiões meridional, ocidental, central, oriental e norte-oriental. As dimensões exatas dos cultivos da cânabis não são conhecidas, mas se notou um aumento da produção da cânabis sobretudo para a exportação”. O aeroporto de Entebbe é, por fim, utilizado como ponto de trânsito para o envio de heroína e de mandrax ao extremo Oriente e à África do Sul.

CONCLUSÕES
A África é um ponto de trânsito sempre mais importante para as organizações de narcotraficantes, apesar de, no momento, a maior parte das apreensões de entorpecentes ocorrer em outras partes do mundo.
Vista a escassa eficiência das polícias africanas e a relativa recente conscientização do problema por parte dos entes locais e internacionais, pode-se supor que a quantidade das apreensões de droga na África não corresponda à entidade efetiva das cargas que transitam pelo continente.
A África, porém, não é mais somente um ponto de passagem da droga proveniente da América Latina e da Ásia em direção à Europa e à América setentrional, mas já se tornou um mercado ainda talvez “residual”, mas em todo caso que não pode ser ignorado pelas redes de narcotraficantes.
Redes nas quais estão presentes africanos, em particular nigerianos, em papéis não somente de gregários, mas também de organizadores. O crescente consumo de drogas por via endovenosa em diversos países africanos, como Tanzânia e Quênia, agrava o problema da difusão da AIDS.
Na Nigéria, por exemplo, um estudo revelou que o consumo de drogas se expande no mesmo ritmo do aumento das pessoas infetadas com o vírus HIV, em cidades como Kano e Port Harcourt.

 

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