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sábado, setembro 15, 2007

Uma morte estúpida e desnecessária

Segundo a TSF e o Público houve hoje uma ambulância que ficou retida na A28, ou perto dela, cerca de 20 minutos porque os agentes de autoridade fizeram dois testes de alcoolémia ao condutor da ambulancia. Até aqui nada de mais. Os bombeiros são condutores como os outros. O problema é que a ambulância ia em marcha de emergência porque levava duas pessoas para o hospital, de urgência. Emergência e Urgência, leram bem. Tanta urgência que uma está internada e a outra morreu, possivelmente, por causa desse atraso. Eu nem ponho em causa que o condutor da ambulância pudesse estar com um grão na asa. O que eu não compreendo é que a ambulância tenha ficado retida a ponto de provocar uma morte. Nem porque ao fim do 1º teste não se aferiu se o condutor estava ou não em condições. Nem porque é que tratando-se de uma emergência e se o bombeiro não estava em condições de conduzir, o agente da GNR não pegou na ambulância e a levou para o hospital. Mas pelos vistos o bombeiro até estava em condições como provou o segundo teste.
Nenhuma dessas explicações vale, no entanto, a quem morreu, possivelmente, por excesso de zelo de um GNR. Eu diria que é negligência do GNR. Merda de agentes de autoridade estes que tanto clamam pela dignificação da classe mas todos os dias nos dão exemplos de como nem eles se dignificam a eles próprios. Seja quando estão na tasca a beberem copos ou quando vão á caça à multa de quem não gostam. Ou quando abusam da sua farda. O que me espanta é que os verdadeiros profissionais não se revoltam contra isto. Como é que eles deixam que o seu nome também fique manchado pela incompetência de uns quantos papalvos que poluem as nossas forças de autoridade. E as associações sócio-profissionais? Qual será a reacção delas hoje? Claro. Vão defender a classe, para a dignificar.
Eu não vejo a floresta por algumas árvores, mas quando as árvores não se demarcam são engolidas pela floresta e passam a ser todas iguais. Pela dignificação da classe façam uma limpeza na GNR e na PSP.

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At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:36 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:37 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:38 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:39 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 
At 9/17/2007 2:40 da manhã, Anonymous Anónimo escreveu...

MARIA E A EUROPA
(Primeira Parte)

por N. Bux e S. Vitiello



INTRODUÇÃO

PRINCIPAIS SANTUÁRIOS MARIANOS DA EUROPA

ÁUSTRIA:
- SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA

BÉLGICA:
- NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
- NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX

BULGÁRIA:
- SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI

FRANÇA:
- NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
- NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES

ALEMANHA:
-CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
- NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
- SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU

GRÃ-BRETANHA:
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
-SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD

GRÉCIA:
- NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
- SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS


INTRODUÇÃO

Com este trabalho pretende-se mostrar alguns elementos históricos relacionados com a origem e o desenvolvimento dos principais santuários da Europa dedicados à Bem-aventurada Virgem Maria. O que determinará a escolha dos locais, além da estreita relação que existe sempre entre o desenvolvimento e a visibilidade destes Sancti Locii com a espontaneidade do coração do povo de Deus, será também a busca de salientar o aspecto da adesão livre e autêntica já demonstrada e que ainda se demonstra no mundo como manifestação do sensus fidei, através do imediato movimento «peregrino» que sempre a acompanha.
A partir do momento que não é possível indicar qualquer proeminência de um Locus Mariae sobre um outro, pois é ela quem solicita, com suas aparições milagrosas ou indicações, o surgimento de cada santuário, analisaremos os principais dentre estes, seguindo o critério de sua localização geográfica no território europeu, segundo os países em ordem alfabética e procurando individuar aqueles aos quais existe maior afluência do povo de Deus.
A peregrinação, que é indissociável da existência do próprio santuário e um explícito reconhecimento dele como local privilegiado de encontro com o Mistério, exprime em seu próprio ser o grito do homem. Ela nasce de sua necessidade de uma resposta, que apenas a relação com Deus pode dar ao coração do homem, que seja capaz de abraçar toda a sua existência, toda a sua vida, o próprio quotidiano. A peregrinação faz do quotidiano um movimento em direção ao Cristo.

ÁUSTRIA

A Santa Mãe de Deus, a quem o povo austríaco atribui o título de Magna Mater Austriae, sempre acompanhou a história destas terras, sendo invocada como Maria Hilf, Auxílio dos cristãos. A população da região foi educada à devoção mariana pelos primeiros comerciantes cristãos vindos do norte da Itália. Sucessivamente foi enriquecida pelos ensinamentos do santo bispo Ambrósio, que enviou ali os primeiros missionários, empenhados na educação que conduz a Maria, como mãe terna e afetuosa com os próprios filhos, sólida resistência contra as forças do mal.
A milagrosa liberação da cidade de Viena do cerco dos 200 mil soldados turcos durante o verão de 1683 foi atribuída à intercessão da Bem-aventurada Virgem. Para agradecer à Divina Auxiliadora os troféus de guerra foram enviados ao santuário de Passou, atualmente cidade da Alemanha, e nessa ocasião o papa Inocêncio XI instituiu a festa do Santo Nome de Maria, que é celebrada todos os anos no dia 12 de setembro em toda a Igreja.
O mérito do grande avanço do culto mariano deve-se às ordens regulares beneditinas primeira e cisterciense, premonstratense, franciscana e depois a dominicana, que difundiram por toda parte os nichos, capelas, igrejas e santuários dedicados à Santa Mãe de Deus.
No mosteiro beneditino de Lambach, edificado no ano de 1032 por santo Adalberto, dentre os afrescos aparece a Bem-aventurada Virgem sentada majestosamente no trono, semelhante à Nicopeia bizantina. Na igreja conventual de Seckau predomina, desde o século 12, uma miraculosa imagem de Maria. Em Rein, no mais antigo mosteiro cisterciense da Áustria, mandado construir em 1129 por Leopoldo I, margrave de Stiria, a imagem mostra a Virgem sorridente e coroada de espigas de trigo, semelhante àquela existente em Santa Maria delle Grazie, em Milão. Na igreja dos escoceses, em Viena, desde 1158, os fiéis são atraídos pela Domina, imagem de pedra, trazida de Ratisbona pelos monges beneditinos escoceses e irlandeses.


SANTUÁRIO DE MARIAZELL – STIRIA
Considerado o mais famoso da Europa central e o lugar religioso e espiritual predileto das populações católicas da região do Danúbio, o santuário mariano de Mariazell, localizado entre as montanhas da Stiria, tem sua origem na cela do monge Magnus. Proveniente do mosteiro beneditino de Sant Lambert, em torno ao ano de 1157 ele vem se estabelecer em meio àqueles montes, trazendo consigo uma estátua mariana feita de madeira de tilho, que a tradição considera que foi esculpida por ele mesmo. A santidade de vida do monge, além da notoriedade dos milagres que ocorreram ali, determinaram o movimento de numerosos peregrinos. Além disso, no ano de 1200, o príncipe Henrique Vladislav de Moravia, em agradecimento pela cura de uma grave doença, fez construir a primeira igreja dedicada a Mariazell, a Mãe da gente eslava.
Dois séculos mais tarde, em 1370, o santuário recebeu a atenção de um outro importante benfeitor, o rei da Hungria, Luís d’Angiò, que em agradecimento por uma inesperada vitória militar, como ex voto fez construir uma suntuosa capela, na qual é venerada ainda hoje a antiga imagem, colocada ao centro da igreja, como a Santa casa de Loreto. A notoriedade do Locus Sanctus em meio às montanhas da Stiria e o conseqüente afluxo do povo de Deus se desenvolveram bastante a partir do século 17, quando a própria corte imperial organizava a grandiosa peregrinação anual de Viena. O aspecto atual do santuário e sua rica decoração interna datam do mesmo período: da igreja gótica precedente se conserva o portal, com a torre que se ergue sobre ele, e a capela do rei Luís. No tempo do imperador José II e com as guerras napoleônicas que se seguiram, a peregrinação a Mariazell foi muitas vezes impedida e o santuário sofreu várias espoliações, mas sempre voltou a florir.
O importante reconhecimento e a devoção por Maria Mãe da gente eslava por parte de tantos peregrinos, particularmente das autoridades temporais, e o conseqüente interesse destas na progressiva construção do santuário, testemunham a universalidade da infinita necessidade do homem, como mendicante de Cristo. Também atestam que na única plena correspondência a essa necessidade está o Cristo mendicante do coração do homem, sempre através da contínua intercessão de sua santa mãe, pois, como escreveu Dante Alighieri, «quem quer a graça e a ti não recorre, deseja voar sem asas» .
Todo homem é destinado a encontrar Jesus Cristo e nele se realizar, através de sua santa vontade. O Senhor age na história, vindo ao encontro do coração do homem, sem solicitar nenhum pressuposto, senão a própria natureza humana. «Consenti em ser encontrado por aqueles que não me procuravam; a uma nação que não invocava o meu nome eu disse: “Eis-me aqui! Eis-me aqui!”» (Is. 65,1). Toda consciência da própria indigência infinita é ainda posterior à resposta do Cristo, que apenas «revela o homem ao homem». Assim, não há pressupostos para o encontro com a pessoa de Jesus de Nazaré, nenhuma «predisposição moral» e muito menos condição social, mas ele se manifesta gestis verbisque, e através dos rostos de todos aqueles que o amam. A principal meta do Corpo Místico do Cristo na história, a Santa Mãe Igreja, é a salus animarum, a salvação das almas.
Como é grande a alma do homem, e maior do que ela tem somente Deus (santa Teresa d’Ávila).

BÉLGICA

Dentre os países onde a devoção à Santa Mãe de Deus encontrou os corações mais férteis, está a Bélgica, que em torno do 3º e 4º séculos registrou o fenômeno da cristianização das festas pagãs, como conseqüência da evangelização dos povos bárbaros.
Gratia non tollit naturam sed eam perficit. Na realidade, a cristianização não pretendeu eliminar a celebração das festas que já existiam, mas lhes deu um novo significado, realizando exatamente aquilo que o Cristo opera no coração de cada um. Ele «não nos salva de nossa humanidade, mas através dela» (Bento XVI, mensagem Urbi et Orbi, Natal de 2005).
A festa do mês de maio foi desta maneira dedicada à Bem-aventurada Virgem, que através da edificação no interior do país, principalmente nas florestas, de capelas e nichos marianos, purificou as práticas supersticiosas e crenças pagãs locais.
Entre os anos de 625 e 750 surgiram progressivamente nas terras da antiga Bélgica, cerca de 45 mosteiros beneditinos, fontes visíveis do inesgotável amor pelo Cristo e por sua santa Mãe.
Dentre as muitas confrarias que diversificaram a vida religiosa no país depois do primeiro milênio, cujo surgimento está ligado a alguns santuários marianos, três delas merecem uma atenção particular. Parece que a mais antiga seja a confraria de Nossa Senhora de Tongres, que surgiu junto ao santuário de mesmo nome, em 1093. Cerca de três séculos mais tarde, na região dos Flandres, nasceram as confrarias do rosário e da Bem-aventurada Virgem das Sete Dores.

NOSSA SENHORA DE BEAURAING – BEAURAING
Em Beauraing, província de Namur, diante de quatro meninas e um menino, de 2 de dezembro de 1932 a 3 de janeiro de 1933, a Virgem apareceu sobre um espinheiro no jardim de uma casa de repouso para religiosas, apresentando-se como «Mãe de Deus» e «Rainha do céu», e prometendo a conversão dos pecadores em troca de orações, da construção de uma capela e de uma peregrinação a esta. Assim como em Fátima, a Virgem mostrou o próprio coração, não coroado de espinhos, mas coberto de ouro e demonstrando ser glorificado e cintilante do amor por Deus e pela humanidade. Os efeitos desta manifestação foram imediatamente visíveis: dezenas de milhares de pessoas participaram das últimas aparições, transformando aquela casa de repouso em uma importante meta de peregrinação.
Como muitas vezes acontece, em seguida a um tal apelo do sensus fidei, foi feito o reconhecimento dos fatos desta aparição: o jardim com o espinheiro se transformou em um santuário a céu aberto, estendendo-se em um segundo momento ao longo das terras do antigo castelo de Beauraing, com o respectivo parque e cobrindo parte da esplanada, com um edifício em desnível destinado a proteger do tempo os peregrinos doentes.
O bispo de Namur permitiu o culto público em 1943 e em 1948 reconheceu a autenticidade das aparições e de duas curas feitas nos primeiros tempos.

NOSSA SENHORA DOS POBRES – BANNEUX
Ainda como testemunho da eficácia histórica da ação divina no tempo e no espaço, à maneira da encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo, imediatamente depois da 2ª Guerra surgiu e se desenvolveu uma grande cidade, Banneux, pouco distante de Liège, na região oeste do país, cujas origens estão ligadas de maneira indissociável às aparições da Rainha do Céu, e ainda hoje é comumente indicada com o título de «Cidade mariana».
Ali, por oito vezes, de 15 de janeiro a 2 de março de 1933, imediatamente depois da última manifestação de Beauraing, Nossa Senhora aparece circundada e coroada de luz a uma menina de 11 anos, Mariette Beco, filha de pais pobres e honestos, mas que não praticavam nenhuma religião. Naquela tarde de janeiro, enquanto estava à janela esperando a volta do irmão Julien, a menina viu pela primeira vez a Santa Mãe celeste, mulher vestida de luz, contrastando com a obscuridade do inverno.
Nas aparições seguintes, a Senhora a convidou a colocar suas mãos em uma pequena fonte de água gelada, cujo sacrifício daria conforto aos doentes.
Em seguida às aparições foi edificado em breve tempo, no próprio jardim de Beco, o principal santuário mariano belga, dedicado a Nossa Senhora dos Pobres. Ele não se constitui de uma basílica, mas de uma capela, por explícita indicação daVirgem, ao lado de uma série de edifícios e tendo ao centro uma grande esplanada para acolher as celebrações, à qual acorre um incontável número de fiéis. Em efeito, desde 1933, apesar das desconfianças locais em relação às peregrinações, Banneux acolheu aproximadamente 120 delas, provenientes de toda a Europa.
O título de santuário nacional da Bélgica, no entanto, é atribuído à igreja de Nossa Senhora de Hal, situada no caminho que leva de Mons a Bruxelas. Ele mereceu este título depois de ter visto, aos pés de seus muros e sob a proteção da Virgem Maria, muitas batalhas determinantes pela independência do país. A estátua representando a Santa Mãe, sentada em um trono e que ao mesmo tempo amamenta o menino Jesus, foi uma doação da rainha da Hungria, santa Elisabeth, à sua filha Sofia, que foi para a Bélgica para se casar, sendo exposta à veneração pública desde o século 13, em 1257. Nos séculos 14 e 15 foram construídas a magnífica igreja em estilo gótico e a capela, onde é venerada a santa imagem. A fama dos milagres, escrupulosamente documentados, obtidos por intercessão de Nossa Senhora de Hal, foi tão grande que muitas cidades, também na França, foram dedicadas a ela.

BULGÁRIA

A escolha do rei Boris (882-889) em aderir definitivamente ao Patriarcado do Oriente em 885, cujo centro era Constantinopla, hoje Istambul, certamente determinou a orientação da história religiosa da população búlgara, que foi em direção à confissão ortodoxa.
Neste país, o culto mariano, que tem grande importância na liturgia eslava e foi introduzido no mesmo período por discípulos de são Cirilo e são Metódio, foi o veículo privilegiado para a transmissão da fé e pedra fundamental da espiritualidade popular, principalmente no período da ocupação turca, iniciada em 1393 e que se prolongou até a independência do país, em 1878.
A invasão turca foi de tal modo maciça que na prática determinou o desuso da língua búlgara. No entanto, a cultura nacional e mesmo a língua foram conservadas unicamente nos mosteiros do país, através da fidelidade à celebração litúrgica em eslavo e a constituição de grandes bibliotecas, em particular nos mosteiros de Rila e de Trojan e naquele de Zograf, sobre o Monte Athos. As escolas destes mosteiros, às quais foram admitidos também os leigos, mostraram plenamente a própria riqueza, pois foram as únicas a dar uma resposta à necessidade do ensino, determinante no ressurgimento da consciência popular nacional no século 19.
A Bulgária conheceu ainda a tentativa ideológica de sujeição da própria Igreja ao poder político, quando entrou na órbita do regime comunista soviético. Mas, ainda nessa ocasião, o profundo senso popular de pertencer ao mesmo país, à mesma cultura, foi suficiente para não permitir sua destruição.

SANTUÁRIO DA MÃE DE DEUS PROTETORA – RILI
O primeiro mosteiro búlgaro data do início do 10º século, fundado em Rila pelo santo eremita João Rilski, a quem é atribuído o título de patrono da nação búlgara e cujos restos são conservados ali até hoje. O lugar, dedicado à Mãe de Deus Protetora, representa o coração não apenas do cristianismo, mas também da cultura do país. O cristianismo, de fato, revelou e ainda revela ao mundo o fato de ser o único e autêntico custódio da verdade sobre o homem, de sua autêntica dimensão pessoal, de sua própria história, capaz de responder à sua necessidade de infinito. Se em algum momento, algum aspecto da existência humana mereceu a sua censura, no entanto, todo detalhe e cada instante dela encontrou e encontra ainda a sua plena realização em Cristo Senhor.
O mosteiro de Rila, ao qual o povo é particularmente ligado por causa de sua fundamental função de salvaguarda da cultura nacional durante a dominação turca, foi destruído por um incêndio em 1833. Imediatamente foi iniciada uma campanha nacional para a sua reedificação, restituindo-lhe assim o seu antigo esplendor. O ícone da Bem-aventurada Virgem Maria, venerado ali, foi uma doação do imperador bizantino Miguel Comneno, no século 13, e recebeu com razão a denominação de Protetora.

FRANÇA

«O reino da França é o reino de Maria». Estas foram as palavras com as quais o papa Urbano II, no final do ano 1000, expressou a própria admiração quando, atravessando o país para a predicação da primeira Cruzada, viu os numerosos testemunhos através da devoção mariana que ornamentava a região.
A França é orgulhosa de seus santuários marianos que datam do 6º século, época da evangelização das populações celtas.
A autêntica majestade francesa deve ser atribuída ao soberano Carlos Magno, criador do Sacro Romano Império. Ele mesmo procurou edificar numerosos santuários e nutriu uma sincera e profunda veneração pela Virgem, tanto que dispôs que queria ser sepultado com uma pequena estátua dela apoiada sobre o próprio peito. Sob o seu reino, em Paris, surgiu ao lado da antiga catedral dedicada ao patrono da cidade, santo Estevão, uma igreja dedicada à Santa Mãe de Deus, cujo culto acaba se sobrepondo àquele do protomártir. Assim nasce a catedral de Notre Dame. Nos dois séculos seguintes se sucederam imperadores e reis profundamente ligados ao culto da Bem-aventurada Virgem, e mesmo o estilo gótico, que se afirmou naquele período, era estreitamente ligado à devoção mariana: as primeiras oito catedrais góticas edificadas no norte da França – Chartres, Paris, Reims, Laon, Rouen, Bayeux, Evreux e Amiens – todas são dedicadas a ela.
A terra dos francos viu o crescimento contínuo do amor pela Santa Mãe de Deus durante o tempo de retorno das Cruzadas, chegando ao reino de Luís XIII, cujas ações políticas foram cada uma delas marcadas por um gesto de piedade. É memorável o ano de 1635, durante a guerra contra a Espanha, com a consagração que este faz do reino à Virgem, ajoelhado em uma pequena igreja semidestruída nas proximidades do campo de batalha. Este gesto, conhecido como o «voto de Luís XIII», teve uma profunda e duradoura ressonância no ânimo dos franceses.
Também, no momento em que mais se procurou, por parte da heresia jansenista e do Iluminismo, minar a devoção a Maria, o Senhor deu à Igreja católica a bela figura de são Luís Maria Grignion de Monfort. A grandeza deste defensor do amor da Santa Virgem Mãe, desprezado e desconhecido por seus contemporâneos, aparece em todo o seu esplendor ainda hoje.
Veículo sempre privilegiado para a custódia e a transmissão da fé, a devoção mariana teve um papel fundamental durante e depois da invasão ideológica operada pela Revolução francesa, durante a qual Notre-Dame foi reduzida a um templo da deusa Razão.
Sucessivamente à queda de Napoleão, ocorreram as aparições marianas do século 19, que caracterizaram a vida espiritual do povo francês e, por intercessão da Santa Virgem, alguns homens de prestígio na sociedade de então se deixaram fascinar pelo Senhor e com a própria vida procuraram oferecer um testemunho de fé, dando novamente vitalidade ao catolicismo do país. Dentre eles pode-se citar Estrade, Carrel, Huismans, Bloy, Claudel e Maritain.
O testemunho e o entusiasmo que acompanharam a primeira Peregrinatio Mariae, durante a qual Nossa Senhora de Boulogne atravessou toda a França para chegar a Lourdes, em 7 de setembro de 1942, suscitaram um novo evento. Em 23 de maio do ano sucessivo, na ocasião da consagração que o episcopado francês fez de toda nação ao Coração Imaculado de Maria, foi organizada uma nova peregrinação. Esta foi acolhida com entusiasmo por Robert d’Aucourt, da Academia Francesa que publicou: «Foram percorridos 30 mil quilômetros, a pé, pelos “servos” de Nossa Senhora do Grande Retorno... No rosto deles, em seus olhares, brilhava a fé das grandes multidões do século 13 em oração». As inúmeras peregrinationes Mariae que foram organizadas em todo o mundo ao final da 2ª Guerra, tiveram como modelo e estímulo aquela de Notre Dame du Grand Retour.
A primeira aparição ocorreu na noite de 18 de julho de 1830, na casa-mãe das Filhas da Caridade, em Paris, diante de santa Catarina Labouré. A Mater Ecclesiae encarregou à então jovem noviça de fazer cunhar e difundir uma medalha, segundo o modelo que lhe mostrara: tinha a figura da Virgem com os braços abertos, dos quais partem raios, e com os pés que esmagam a cabeça da serpente tentadora. Nas bordas se lê a invocação. «Ô Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós». Quem tivesse e expusesse a medalha obteria graças particulares por intercessão da Bem-aventurada Virgem.
A religiosa permaneceria no anonimato por toda a sua vida e seria o padre jesuíta Aladel, o único a quem ela tinha se confiado, que divulgou a mensagem. A difusão da «Medalha milagrosa» suscitou um vasto movimento de apostolado, que ainda hoje permanece vivo.

NOSSA SENHORA DE LA SALETTE – LA SALETTE
A aparição mariana que se verificou em 1846 a dois jovens, Maximino, de 11 anos, e Melania, de 14 anos, que trabalhavam como pastores, está na origem do santuário de Nossa Senhora de La Salette, a 1800 metros de altitude. Nesta aparição a Virgem Mãe pediu, entre lágrimas, que o povo francês se convertesse, para que se evitasse o castigo de seu Filho, que estava indignado.
Esta aparição, rapidamente reconhecida pela autoridade episcopal local, marcou um inesperado retorno da população francesa à fé católica.
A Imaculada Virgem sempre pede a conversão ao homem, continuando a gerar o Cristo no coração de cada um e a interceder junto ao Pai, para que seja concedido a cada um o tempo necessário para a sua conversão à verdade.

NOSSA SENHORA DE LOURDES – LOURDES
A gruta de Massabielle, onde no dia 11 de fevereiro de 1858 uma Senhora, que dizia ser a Imaculada Conceição, apareceu a Bernadete Soubirous, menina de 14 anos e filha de um trabalhador nos moinhos, hoje em dia recebe milhões de fiéis que a cada ano vêm ali em peregrinação para pedir graças. O santuário de Nossa Senhora de Lourdes se transformou na principal meta de peregrinação mariana da Europa.
Entre 11 de fevereiro e 16 de julho do mesmo ano de 1858 a aparição se repetiu 18 vezes, muitas das quais caracterizadas pela presença silenciosa da Virgem. Na oitava aparição, ela pediu a Bernadete para rezar pelos pecadores e para beijar a terra, em sinal de penitência, e sucessivamente lhe pediu para beber e para se lavar na poça de lama existente no ingresso da gruta. Em poucas horas essa lama se transformou em uma fonte abundante de água límpida. Na 13ª aparição lhe pediu para ir comunicar ao padre o seu desejo de que as pessoas fossem ali em procissão e se construísse uma capela.
Em 1862 o bispo de Tarbes, dom Laurence, reconheceu a veracidade das aparições. Em 1866, a jovem Bernadete ingressa no convento da cidade de Nevers, onde nasce para o céu em 1879, com a idade de 36 anos. O papa Pio XI a incluiu na lista dos santos em 1925.
A inesgotável ressonância que a verdade tem sempre no coração do homem, além do eco que as aparições suscitaram na opinião pública francesa, tudo isso permitiu o imediato desenvolvimento do santuário. O clima espiritual suscitado por este Locus Mariae, a solenidade das celebrações, além da sobriedade e do recolhimento que o caracterizam, fizeram dele um modelo ao qual todos os santuários se inspiraram desde então. A primeira igreja, aquela superior, em estilo neogótico e construída na colina que está acima da gruta, foi inaugurada em 1871. A inferior, chamada do Rosário, em estilo românico-bizantino, surgiu em 1889. Em 1958 se acrescentou uma terceira igreja, em cimento armado, destinada à acolhida de mais de 20 mil pessoas.

ALEMANHA

Durante o reino do imperador cristão do Sacro Romano Império, Carlos Magno, tão ligado à Alemanha como à França, o culto mariano conheceu um momento de grande esplendor em meio ao povo alemão, que ainda hoje se dirige à Santa Mãe de Deus chamando-a pelo título «Unsere Liebe Frau» (Nossa Amada Senhora).

CAPELA PALATINA – AQUISGRANA
Neste período, através de um comissionamento do próprio imperador, é construída a chamada Capela Palatina na cidade de Aachen (Aquisgrana), sede periférica do império, na qual é conservada a sepultura de Carlos Magno e onde durante 700 anos os imperadores germânicos eram coroados. Ali foram colocadas importantes relíquias marianas, provenientes de Constantinopla, e que imediatamente atraíram um grande número de peregrinos. Dentre estas, merece ser mencionada, sem entrar na discussão do difícil problema de sua autenticidade, as vestes da Virgem Maria no momento da Natividade e as faixas que envolviam o menino Jesus. A exibição das relíquias ocorre ainda hoje a cada sete anos e o evento atrai uma grande multidão, vinda de todas as partes.
A arquitetura mariana alemã se expressou principalmente no estilo românico durante os séculos 10 e 11, com a edificação das maiores catedrais do país, dentre elas a de Speyer e a de Mainz, e de muitos mosteiros que se transformaram em metas de peregrinação, como Santa Maria em Capitólio, em Colônia, o de Trier, o de Reichenau, o de Ratisbona e, sobretudo o de Maria Laach, grande construção e célebre por sua ininterrupta tradição de estudos teológicos. No final do ano de 1200, com o início do estilo gótico, se estimulou muito a produção de obras primas arquitetônicas dedicadas a Maria.
A Ordem dos capuchinhos e a dos jesuítas tiveram uma fundamental importância na defesa da autêntica e sã devoção mariana, principalmente durante o período da iconoclastia suscitada pela influência luterana. Estas Ordens tiveram o mérito de purificar o povo alemão das tendências puramente devocionais, com menção particular ao jesuíta são Pedro Canisio.

NOSSA SENHORA DOS VERDES PRADOS – ALTÖTTING
Principal santuário do sul da Alemanha, particularmente da católica Baviera, Nossa Senhora dos Verdes Prados, de Altötting, tem sua origem na obra de são Rupert, apóstolo da região, que transformou um templo pagão em oratório mariano. Ali Carlos Magno fez edificar sucessivamente a Capela das Graças, de forma octogonal, e um mosteiro. Este foi devastado no momento das invasões dos húngaros, ainda pagãos, que, no entanto, deixaram intacta a igreja. Em 1228 o santuário, abandonado por longo período, teve seu antigo esplendor restituído por obra dos duques da Baviera, principalmente os da família Wittelsbach. Os corações dos reinantes desta dinastia ainda são conservados em relicários localizados na Capela das Graças. A imagem que se venera atualmente em Altötting data do ano de 1300 e é uma pequena estátua de madeira de tilho, representando a Virgem sentada e com Jesus nos braços, revestida de vestes luxuosas e colocada ao centro de um altar ricamente decorado.

SANTUÁRIO DE MARIA HILF – PASSAU
O manto da Rainha do Céu se estende ainda em numerosos Sancti Locii da terra alemã. Dentre estes se recorda de maneira especial o primeiro santuário dedicado a Maria Hilf, construído na cidade de Passau no início do ano de 1600, quando o decano da catedral da cidade, por sua particular devoção, mandou executar uma cópia do quadro do famoso pintor Lucas Cranach. Na obra, é representado o menino Jesus, que parece se refugiar nos braços de sua mãe (de onde vem o título Maria Auxiliadora), e foi exposta em uma pequena capela que, com o afluxo dos peregrinos, seria substituída por um santuário. Este é cinco vezes maior do que a capela e testemunha as graças e curas recebidas por intercessão da Bem-aventurada Virgem.

GRÃ-BRETANHA

A indissociável dimensão petrina e mariana da Igreja de Cristo, garantia de unidade para a própria Igreja e de autêntica custódia da inteira verdade, foi frequentemente testemunhada pela história, tanto que cada vez que não se foi fiel ao ministério de alguns sucessores de Pedro, verificou-se também uma inexplicável e obstinada rejeição ao culto da Virgem Maria.
É o que ocorreu com o cisma de 1534, durante o reinado de Henrique VIII, onde a devoção mariana em terras inglesas, transmitida pela evangelização dos povos anglo-saxões, e cuja primeira alta expressão é a obra de santo Agostinho de Canterbury como enviado do papa Gregório Magno, em 597, foi gravemente minada pela supressão de mosteiros e santuários. Estes tiveram seus bens confiscados pela coroa inglesa, sob influência dos ministros pró-protestantes, Thomas Cromwell e Thomas Cranmer.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA SANTA CASA – WALSINGHAM
Somente no início de 1800 foi possível ver uma recuperação do culto a Maria, seja da parte dos católicos, depois da abolição das leis contra eles, seja da parte de numerosos membros da realeza anglicana, que pareciam descobrir na devoção mariana a nostalgia de uma beleza a ser recuperada. Este é ainda um ponto fundamental no processo de reaproximação deles à Igreja católica.
Dentre os primeiros de toda a Europa, o santuário de Walsingham se constitui o maior local de culto mariano em terra inglesa. Segundo a tradição, ele foi fundado por uma mulher chamada Richeldis, em 1061, que recebeu em sonho a ordem de construir ali uma capela imitando a santa casa de Nazaré. No suceder do culto, esta réplica foi conservada em uma suntuosa igreja gótica. Em 1538 ela foi destruída, e somente em 1934 em Walsingham foi reconstruído um santuário, e no seu interior foi colocada a réplica da santa casa de Nazaré. No mesmo ano foi inaugurado o santuário católico na antiga Slipper Chapel, capela das sandálias, que recebeu esta denominação porque normalmente os peregrinos tiravam suas sandálias e ficavam descalços no último quilômetro da peregrinação e ali as depositavam.

SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DA CONSOLAÇÃO – WEST GRINSTEAD
No Sussex, ao sul de Londres, o santuário de Nossa Senhora da Consolação sobreviveu à tempestade reformadora graças à proteção do católico Lord Carylls, constituindo-se assim, além de um centro de culto para os fiéis católicos, também um refúgio para o irredutível clero católico clandestino, fervente custódio da ortodoxia em terra inglesa.
Com a intensificação da perseguição religiosa, a igreja foi demolida e reconstruída em outro lugar, para evitar atrair a violência iconoclasta. Em 1863, depois de ter recolhido ajuda em toda a Europa, o novo capelão, Jean Marie, proveniente da França, construiu uma igreja maior e, como imagem de veneração, levou de Turim, Itália, uma cópia do quadro da Virgem da Consolação. A cada ano, de Westminster se organiza uma peregrinação em agradecimento ao Senhor e à sua Mãe misericordiosa, por terem conservado a fé católica na Inglaterra.

GRÉCIA

A gloriosa Ellade, berço da expressão mais poética da infinita questão do homem, encontrou tanto histórica como culturalmente resposta no cristianismo. Sob o império de Constantino ela passou a fazer parte do Império bizantino. Em seguida ao concílio de Éfeso, em 431, verificou-se um grande e amplo desenvolvimento do culto da Virgem, celebrado em uma igreja mariana que tinha como moto Maria Theotokos, Maria Mãe de Deus. Muitos templos pagãos foram transformados em igrejas cristãs e frequentemente dedicadas a Maria. Dentre estas, a mais importante foi a «conversão» do Parthenon de Atenas, dedicado em 432 à Aghia Sofia, à Santa Sapiência: o Verbo, Cristo, que em 662 passa a ser dedicado a Paniaghia Ateniotissa, à Santíssima de Atenas, sobrepondo-se definitivamente ao culto da deusa pagã Atenas. A história deste país se liga indissociavelmente àquela do Império romano do Oriente, que atraiu à sua capital, Bizâncio, todo o prestígio cultural e político grego. Não aprofundamos o estudo deste aspecto, tratando apenas dos principais locais de culto mariano na península helênica.

NOSSA SENHORA DA ANUNCIAÇÃO – ILHA DE TINOS
Santuário mais célebre e freqüentado da Grécia, situado nesta ilha das Ciclades, tem sua origem no reencontro, em 1823, depois de uma indicação recebida em sonho por uma religiosa, do antigo ícone da Evengherestia, Anunciação. Inicialmente se escavou no lugar indicado, mas não se encontrou nada além dos restos de uma antiga igreja dedicada a são João Batista. Com as pedras recuperadas dessa igreja os operários edificaram no local uma pequena capela dedicada à Virgem e, justamente na conclusão dos trabalhos, uma pomba se chocou contra uma velha mesa, revelando que ela era o ícone inicialmente procurado. A emoção suscitada por um tal acontecimento foi grande a ponto de envolver e dar coragem a toda a população, que estava vivendo o momento da iminente liberação da secular dominação turca, iniciada em 29 de maio de 1453. O momento central da celebração é o da procissão do dia 15 de agosto, todos os anos, quando o ícone esplendidamente revestido de ouro e de pedras preciosas, protegido por um rico baldaquino, é transportado através da ilha, entre cantos e invocações.
Merece uma menção particular os santuários da Santíssima dos Degraus de Ouro (Crissoscalitissa), da Santíssima da Gruta (Nisiros) e especialmente o da Santíssima «Portatissa».


SANTUÁRIO DA SANTÍSSIMA PORTATISSA – IVIRON – MONTE ATHOS
O ícone, dentre os mais venerados do monte Athos, segundo a tradição pertencia a uma viúva de Nicéia, que o conservou protegendo-o da fúria iconoclasta. No entanto, no ano 829, um soldado a descobriu e, com a intenção de destruí-lo, aplicou ao ícone um golpe de espada. Atingida na altura do rosto da imagem, da ferida brotou sangue. Impressionado com o prodígio, o soldado se converteu, mas a viúva jogou o ícone no mar, para evitar que fosse novamente submetido a outros perigos, mas este reapareceu depois de algum tempo em uma praia nas proximidades do mosteiro georgiano de Iviron, um dos 20 maiores mosteiros do monte Athos. O apelativo «Portatissa» é devido à contínua descoberta da imagem mariana na porta de ingresso do mosteiro, apesar das várias tentativas de recolocá-la no interior da igreja. Por essa razão os monges foram constrangidos a edificar a capela onde até hoje o ícone é venerado, exatamente no ingresso do mosteiro. No dia da festa, com uma solene procissão até o mar, se comemora o seu reencontro.

 

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