Porque começo a ficar farto de ouvir putos dizerem que afinal o Salazar até nem devia ser assim tão mau
O museu dedicado a Salazar ainda vai dar que falar, embora a mim não me sobrem muitas dúvidas sobre a sua função. Pretende ser uma exaltação à vida durante o Estado Novo. Se dúvidas havia ficariam desfeitas com esta frase do Presidente da Camara de Sta Comba Dão, o Sr. João Lourenço.
Mas o que me assusta mais é a questão cultural que assim se pretende recuperar. Será que vamos fazer uma exaltação aos valores que todos os Domingos vimos nessa excelente sério da RTP "Conta-me como foi" e que mostra de uma forma desapaixonada e (parece-me) muito séria a vida de Lisboa nos anos 60 onde o medo, a repressão e o atraso/ignorância está sempre presente? Será que vamos exaltar o teatro censurado que se fazia ou a música que se ouvia? Será que se vai fazer o contraponto ao quanto estávamos fechados ao resto do mundo? Será que vai mostrar o cinema de Vasco Santana (por muita piada que lhe ache) comparado com os Filmes que eram proibidos em Portugal por serem subversivos? Será que vai mostrar as obras de Salazar em contraponto com as mortes nesses mesmas obras devido ao trabalho escravo? Será que vai mostrar a vida nas colónias em contraponto com a discriminação racial e a miséria que se vivia nos bairros negros? Será que vai mostrar as mortes às mãos dos bufos e da polícia política? Será que vai, como já tentou fazer o programa Grandes Portugueses, recuperar a imagem de Salazar e dar-lhe um ar de avozinho simpático e não mostrar as suas tiranias?
Um Museu sobre o Estado Novo poderia, mas acima de tudo deveria, falar de todas as vertentes do Estado Novo. Não me parece que este o vá fazer, a fazer fé nas palavras dos seus promotores e nâo apenas nestas do Presidente da Câmara. O que este pseudo museu prevê é a exaltar as virtudes do Estado Novo e assim fazer aquilo que a nossa Constituição proíbe que é a exaltação dos valores da extrema direita, fascista por natureza e vocação, totalitarista e anti democrática, desconhecedora dos direitos fundamentais do ser humano.
Faz falta um museu sobre o Estado Novo em Portugal. Claro que faz. Mas não será certamente um que mostre cartas de "Amor" de Salazar ou que nos mostre que ele, embora não o parecesse era um ser vivo que até fazia a barba com um pincel recuperado pelo sobrinho neto. Falar de um Museu sobre o Estado Novo, sem fazer referência à Guerra, à Fome, à Emigração, às Torturas, à Censura, à PIDE, ao Atraso que o País viveu, às relações premiscuas com a ICAR, ao Tarrafal e a Peniche não é sério e não pode ser premitido.
Etiquetas: Daniel Arruda
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